Promovido como uma mistura de
Black Mirror com
Parasita, o filme imagina um futuro não muito distante no Brasil onde um governo de extrema direita decide que todos os negros devem ser capturados e mandados "de volta" para a África como reparação histórica pela escravidão. A medida absurda surge como reação a um movimento iniciado pela esquerda, que exigia reparação histórica para os negros, mas na forma de dinheiro (algo que o filme trata como uma medida totalmente sensata e justa). Lázaro Ramos, que dirigiu o filme, parece querer pegar a onda de Wagner Moura e de filmes como
Marighella, mas como cineasta faz um trabalho medíocre, pra dizer o mínimo. O retrato do conflito social é caricato, sem nuances ou observações inteligentes, e não chega nem a divertir como um
Não Olhe para Cima. Apesar de eu discordar do filme politicamente, em alguns momentos me peguei até torcendo pra que ele melhorasse, pois apesar de tudo, detesto ver artistas se constrangendo. Mas o filme tem inúmeros problemas de ritmo, estrutura, tom, montagem, e até atores experientes como Taís Araújo e Seu Jorge conseguem se sair mal em certas cenas (embora nada seja mais bizarro que Alfred Enoch, da série
Harry Potter, tentando se passar por um típico brasileiro com seu sotaque de gringo). Filmes como
Bacurau ou
Que Horas Ela Volta? podem até ser fracos como cinema, mas pelo menos são bem sucedidos na missão de criar discórdia, irritar a direita... Esse aqui acho que nem isso consegue. Fica parecendo que Lázaro Ramos, ao contrário de tantos cineastas brasileiros, não é um militante autêntico, não tem um ódio do "sistema" tão enraizado em sua personalidade, e está fazendo isso mais pela popularidade, pelo prestígio no meio artístico — algo que ele não deve conseguir desta vez.
Medida Provisória / 2020 / Lázaro Ramos
Satisfação: 2
Categoria C: Filme comercial motivado por política e cheio de más ideias
Filmes Parecidos: O Poço (2019) / Marighella (2019) / 3% (2016)
2 comentários:
Uma das maiores frustrações da esquerda brasileira é que fracassaram miseravelmente ao tentar criar um novo George Floyd tupiniquim. E se fracassaram tentando criar revoltas populares como ocorreram nos EUA, não é um filme com uma premissa pra lá de absurda que vão conseguir.
Marielle talvez seja o grande símbolo daqui né.. me surpreende não ter virado longa ainda.
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