Um dia que sempre temi chegou... ou quase. Minha rede de cinema favorita, o Espaço Itaú de Cinema, não existe mais. Eu frequentava o Espaço Itaú/Unibanco desde a metade dos anos 2000 mais ou menos, e com o tempo foi se tornando minha 1ª opção de sala por diversos motivos: a programação era a mais completa, você sabia que eles sempre passariam as principais estreias, tanto para o público mainstream quanto para os cinéfilos. No caso de animações, era frequentemente a única rede com sessões legendadas. A bomboniere tinha preços bem mais razoáveis que de costume (sem aquelas promoções manipulativas que discuti no YouTube), opções melhores, e o atendimento era o mais ágil entre todas as redes (eles não tinham o método ineficiente do Cinemark, por exemplo, que põe 1 pessoa pra cobrar, servir a pipoca e fazer tudo sozinha).
Felizmente, as salas não fecharam de fato — foram assumidas pela rede Cinesystem. O luto é menor, pois pelo menos o "corpo" do cinema ainda está lá. Só resta saber se sobrará alguma alma. O discurso da Cinesystem no momento é que eles irão manter o mesmo estilo de programação. Porém, na minha primeira ida ao cinema após a mudança na administração, alguns sinais me deram a impressão de que esse discurso não se sustentará por muito tempo: as primeiras mudanças na decoração já trouxeram uma estética "fast food" pro ambiente que não cabia antes no Espaço Itaú — funcionários de uniformes coloridos, com logotipos gigantes; a bomboniere decorada com vários baldes promocionais do filme do Garfield etc. Nos telões acima da bilheteria, o marketing super woke/Gen Z divulgava a "Sessão Beijo" com várias pessoas "diversas" se beijando (a promoção dá desconto para casais que se beijarem ao comprar o ingresso), também a "Sessão Pets" que convida o público a ir ao cinema com o cachorro, Sessões Inclusivas especiais para autistas etc. No Instagram da Cinesystem, TikTokers faziam "publis" das novas salas no dia da inauguração... Ou seja, não dou muito tempo até que a Cinesystem esteja totalmente focada nas franquias, nas animações dubladas, e se desvincule da proposta do Itaú.
Condenaria a Cinesystem por isso, ou o Itaú por ter vendido os cinemas? Não. Ao contrário daqueles que estão xingando o Itaú e o capitalismo nas redes sociais, entendo que não há como uma empresa se sustentar por muito tempo se ela não dá lucro; que a culpa no fim é do público, do declínio da qualidade/relevância dos filmes de Hollywood etc. Fico até feliz de ver que alguém ainda viu potencial no negócio e que o espaço continuará sendo um cinema.
O que acho triste é que o Espaço Itaú era uma das únicas redes que ao mesmo tempo em que mirava em um público que leva filmes a sério (o que se refletia não só na programação e nos frequentadores, mas também na estrutura e na estética do ambiente), não deixava de passar os blockbusters, de valorizar o entretenimento e ter um padrão técnico tão bom quanto o dos grandes multiplexes. Era um "multiplex para cinéfilos", o que tornava melhor tanto a experiência de ver os filmes comerciais na rede quanto a de ver os filmes de "arte" — você via filmes alternativos em um ambiente confortável, em salas "stadium" com imagem e som de ótimo nível (em contraste com os cinemas de rua, geralmente mais capengas), e via blockbusters em um ambiente mais tranquilo, com um público mais civilizado (longe dos grupos de adolescentes barulhentos de shopping etc.). Ou seja, o Espaço Itaú pra mim representava, no universo das salas de cinema, aquela união entre arte e entretenimento que eu defendo tanto nos filmes. Mas como essa união é cada vez mais rara na cultura e na sociedade, faz sentido que o mercado exibidor também reflita isso.
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