sábado, 5 de novembro de 2011

O Preço do Amanhã

Imagine o seguinte contexto: no futuro, as pessoas só envelhecem até os 25 anos de idade; após isso, elas precisam trabalhar pra ganhar seu tempo de vida na Terra. Ou seja, o dinheiro foi substituído por "tempo" e as pessoas andam por aí com um painel no braço indicando quanto tempo ($) elas ainda têm de vida. Se o relógio atingir o zero, elas morrem instantaneamente; se elas trabalharem e ganharem mais, poderão até se tornar imortais (um dos furos do roteiro é que ele tenta passar a ideia de que apenas os ricos podem ser imortais; mas, se você seguir a lógica, verá que bastaria alguém acumular 1 minuto por dia pra se tornar imortal; a diferença dos ricos é que eles têm séculos de estoque, mas um pobre também poderia ser imortal, desde que ganhasse mais do que consome). Quem inventaria uma sociedade impossível (e nada prática) como essa? A população aceitou viver assim? Por que não está todo mundo revoltado nas ruas exigindo a remoção do tal dispositivo (ou pelo menos tentando fazer isso clandestinamente)? O mundo inteiro vive dentro desse sistema? O governo cobra impostos? As pessoas não podem ir morar num outro país? Não sabemos. O vilão óbvio numa trama como essa é o governo. O conflito principal aqui é entre o homem e o sistema estatista, que roubou a liberdade do cidadão quando instalou uma bomba relógio no corpo dele. Mas estranhamente, o filme não questiona o sistema - ele vira um ataque contra os ricos! Sim, é tudo um grito de ódio contra aqueles que têm mais - não porque eles roubaram os pobres ou porque ficaram ricos ilegalmente, mas simplesmente pelo fato deles terem mais. Quem criou essa situação toda foi o estado - o governo é o vilão, não o rico. A "crítica" ao capitalismo e às classes altas que o filme faz é burra e contraditória, afinal o capitalismo é um sistema baseado em princípios como liberdade e direito à propriedade. Eles deviam estar lutando pelo capitalismo, não contra ele. Lutar pela liberdade E pelo direito de assaltar os outros é uma contradição absurda (isso me irrita nesse caso pois o filme é pretensioso intelectualmente e leva a sério suas ideias, não se trata de uma aventura tipo Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões, que parte dos mesmos princípios mas não chega a ser ideológico). O filme te pergunta: e se no futuro você fosse imortal? E se no lugar de dinheiro as pessoas trocassem tempo? E se você não pudesse guardar suas economias num banco ou num lugar seguro, mas andasse com tudo à vista pra qualquer um tomar de você num simples aperto de mão? E se o tempo fosse um recurso limitado no mundo e controlado por poucos, de forma que pra uns terem mais, outros precisassem ter menos? E se você tivesse um mecanismo instalado no seu corpo que pudesse te matar? E se você fosse acusado de um crime que não cometeu e não houvesse justiça? Após tantos "e se" que não têm nenhuma relação com a realidade, como é que um filme pode querer fazer parábolas ou críticas a qualquer coisa? (Esse é o mesmo problema de Ensaio Sobre a Cegueira.) Em termos de ideias, é um dos filmes mais confusos e imorais que eu já vi. Nem num nível de "distração" ele funciona muito bem, afinal o casal não tem química e a ação não empolga (há o assalto a banco mais sem graça da história do cinema, além da péssima disputa de "queda de braço" onde Justin Timberlake demonstra uma técnica tão insana que só deve ter lógica na mente desse roteirista - alguém capaz de ter bolado o resto do filme). Aliás, o diretor/roteirista é Andrew Niccol, o mesmo de S1m0ne, Gattaca e do bem superior O Show de Truman (esse último ele só escreveu mas não dirigiu). In Time (EUA / 2011 / 109 min / Andrew Niccol)

Pra quem gostou de: Agentes do Destino, Distrito 9, Filhos da Esperança, Ensaio Sobre a Cegueira, etc.

NOTA: 3.0

4 comentários:

Unknown disse...

gostei da critica, esses filmes pseudo intelectuais são os piores...

Caio Amaral disse...

O filme até é intelectual, no sentido de que discute questões sérias, filosóficas, de maneira bem direta e explícita.. O problema é que eu não GOSTO das ideias, hehe. Acho elas erradas, imorais... Mas não é um filme sem conteudo, sem ideias, que tenta se passar por algo sofisticado. Isso sim seria um filme pseudo-intelectual (e tem MUITOS assim infelizmente, hehe).

Unknown disse...

Eu tomei como crítica no filme,um governo onde tudo e todos pertecem à ele (indústrias, empresas, e as próprias pessoas) sendo assim acredito que o personagem principal está lutando contra aquele sistema que quer tudo centralizado em suas mãos, ou seja contra o socialismo. Ele está lutando pela possibilidade de outras pessoas poderem criar seus negócios, e pararem de serem pau mandando do governo, podemos tirar a famosa frase "É roubo roubar oque já foi roubado?", se referindo ao impostos, tals impostos que defensores do capitalismo condenam...E podemos inclusive fazer um exercício, qual modelo de sociedade que mais prega pelos impostos e por empresas estatizadas como é no filme ?!

Caio Amaral disse...

Bem, mas o filme em algum momento explica que o vilão no caso é o governo? Culpa ele por toda a situação? Eu não me lembro disso.. Lembro que os vilões pareciam os ricos de maneira geral, assim como em Expresso do Amanhã e tantos filmes.. uma luta entre os "haves" e os "have nots".

Nessa postagem eu explico qual o problema em não deixar claro o alvo de sua crítica:

Alerta Vermelho
http://profissaocinefilo.blogspot.com.br/2015/08/alerta-vermelho.html

Abs.