Um dos problemas é que a personagem de Ruby é superficial e não convence como garota dos sonhos. Ela cozinha bem, é extrovertida, gosta de cachorro, mas o que há de tão fora do comum? O filme não mostra. Ela diz para Calvin: "Eu sou uma bagunça". Ele responde: "Eu amo a sua bagunça". O romance tem toda essa atitude "isso é tão complicado e inevitável" - no fim parece um relacionamento desses de 3 meses que todo mundo tem.
A primeira meia hora do filme funciona, mas passado o trecho em que Ruby ganha vida e Calvin aceita que ela é real, a história não encontra um rumo interessante. O casal começa a ter problemas, mas não há nenhuma explicação para isso (é a premissa do universo malevolente, de que as coisas têm que dar errado por algum motivo). O motivo é que Calvin não sabe como seria sua garota ideal, e por isso não consegue escrevê-la direito.
Mais pro final, o filme se torna pretensioso. Calvin resolve escrever um livro - que é exatamente a história do filme que estamos assistindo. O livro é aclamado por todos por sua genialidade. Bem, isso é afirmar que a história do próprio filme Ruby Sparks é genial! É preciso tomar muito cuidado quando você faz estimativas de algo que está contido no trabalho. Se você diz que vai mostrar a mulher mais bonita do mundo, você tem que garantir que será alguém realmente impressionante. O filme faz várias estimativas que não consegue atingir - diz que Calvin é um escritor genial, mas o personagem que mostra parece apenas um garoto inseguro. Diz que Ruby é a namorada dos sonhos, mas o que mostra é uma garota normal. Diz que a história do filme é genial, mas o que vemos é uma versão inferior de um roteiro do Charlie Kaufman (Quero Ser John Malkovich, Adaptação, etc).
A roteirista Zoe Kazan é neta do famoso cineasta Elia Kazan, e é filha de roteiristas (a mãe escreveu Benjamin Button, o pai escreveu O Reverso da Fortuna). Expectativas altas podem ser um fardo pesado pra quem é parente de artistas bem sucedidos, mas é preciso ser realista pra não tentar dar um passo maior que a perna. Zoe escreveu uma história que se autoproclama brilhante, criou uma personagem que pretende ser a garota dos sonhos, e depois se escalou pra interpretá-la! Pretensão tem limite.
Ruby Sparks (EUA / 2012 / 104 min / Jonathan Dayton, Valerie Faris)
INDICAÇÃO: Mais Estranho que a Ficção, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças.
NOTA: 6.0
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