quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Poder Paranormal

Sigourney Weaver  e Cillian Murphy interpretam cientistas especializados em desmascarar pessoas que afirmam ter poderes sobrenaturais. Com poucos recursos pra continuarem com suas investigações, eles veem uma grande oportunidade quando um famoso paranormal (Robert De Niro) ressurge após anos sumido - provar que ele é um charlatão representaria não só a salvação profissional da dupla, mas uma vitória pessoal em muitos níveis. O conflito envolve questões importantes e é muito bem apresentado (imagine James Randi contra Uri Geller) - estes são personagens sérios e ambiciosos numa rota de colisão. Eles não podem ser completamente bem sucedidos sem se enfrentarem - e o sucesso de um requer a derrota do outro.

O diretor e roteirista Rodrigo Cortés (de Enterrado Vivo) sem dúvida fez muita pesquisa antes de escrever o roteiro e isso aparece no filme - e o interessante é que ele ilustra os dois lados do conflito com o mesmo nível de inteligência e respeito (o lado dos céticos e o lado dos crentes) de forma que, mesmo estando do lado dos céticos na história, nunca é possível saber pra que lado ele tombará no final - o que gera um grande suspense pra quem se interessa pelo debate (e quem não se interessa?). Esse posicionamento deve ser reflexo das incertezas do diretor, que disse em entrevista que acha que tanto os céticos quanto os crentes acreditam naquilo que é mais conveniente para eles - ou seja, ele parece não acreditar que existam pessoas de fato racionais, que se baseiam em evidências apenas.


Ainda não sei se o filme faz total sentido e pretendo revê-lo em breve. Mas é importante dizer que há uma diferença profunda entre um filme como este, que é totalmente compreensível em todo o seu percurso, mas que eventualmente apresenta alguns elementos duvidosos e toma certas liberdades com a narrativa - e um filme que já parte de uma premissa mal explicada, que nunca é completamente inteligível pro espectador. O primeiro tipo respeita a racionalidade da plateia e é motivado pelo desejo de tornar a experiência mais interessante. O segundo conta com a confusão da plateia e é motivado pelo desejo de parecer mais esperto que ela.

Recebido friamente pela crítica e pelo público, pra mim foi uma das melhores surpresas do ano. Ótimos atores, ótimos personagens, ótimo tema. Suponho que muita gente tenha problemas com a segunda metade e com o desfecho, que não é exatamente o que o primeiro ato promete (embora não seja desonesto). Eu certamente gostaria de ver um filme inteiro sobre essa primeira parte, porém o rumo que a história toma é interessante em sua própria maneira e a experiência acaba sendo satisfatória de uma maneira inesperada.

Red Lights (EUA, Espanha / 2012 / 113 min / Rodrigo Cortés)

INDICAÇÃO: para quem gostou de A Caixa, O Ilusionista, O Sexto Sentido, Twin Peaks, etc.

NOTA: 8.0

5 comentários:

Tiffany Noélli disse...

Oi, Caio! Então assisti também o filme, achei excelente! O final foi de mais, bem impactante. Li críticas do pessoal que não gostou, vai ver é porque esse não é clichê, não acha? Bjs

Caio Amaral disse...

Pois é Tiffany, fiquei surpreso com a quantidade de críticas negativas ao filme..! Muita gente acusando o filme de não fazer sentido.. Ele faz muito mais sentido do que vários filmes que são aclamados por aí (pegue A Origem, Looper.. são bem mais confusos e ninguém reclama). Acho que é o fato do filme sair muito do convencional.. E esse tema de ciência X fé gera controvérsia também.

renatocinema disse...

Que legal ver sua análise....Estava curioso pelo filme, porém, fui bombardeado por críticas negativas.

Acho que vou arriscar.....e seja o que Deus quiser.

Thiago P. disse...

Achei sensacional, funciona muito bem como suspense e melhor ainda como drama. Me lembrou um pouco A Caixa, justamente pela seriedade com que tratou o tema e isso chega um pouco naquilo que você falou de até onde vai a coragem das pessoas ao criar um filme... em um filme de terror comum seria bem fácil tratar esse tema, mas pouquíssimas pessoas teriam coragem de fazer um filme sério com bons atores e encarar o tema de forma igualmente séria, sem fazer piadinhas ou filme engraçadinho.

Caio Amaral disse...

Veja, Renato!

Verdade Thiago.. Esses dias estava vendo aquele "O Ritual" com o Anthony Hopkins, já viu? Também é sobre um cético que se depara com um homem poderoso que afirma ter poderes sobrenaturais.. Mas a discussão é completamente desinteressante, previsível.. Já começa tendendo pra um lado, sem levar o tema a sério.