segunda-feira, 1 de abril de 2019

Dumbo

Refilmagem em live-action do clássico animado da Disney, vindo na onda de produções como Mogli: O Menino Lobo, Cinderela, A Bela e a Fera (e Aladdin e O Rei Leão que saem ainda este ano). Dirigido por Tim Burton.

ANOTAÇÕES:

- Alguns desenhos da Disney me parecem mais incompatíveis que outros com uma versão live-action. Dumbo é um desses casos - não só pela natureza lúdica da história de um elefante voador, como também pelo desenho ser protagonizado por animais. Agora no filme os animais não podem falar e nem agir como humanos totalmente, então eles tiveram que criar vários personagens humanos pra ajudarem a conduzir a trama, e acabaram tirando muito da essência da história, além de ficarem sem um protagonista claro.

- Mostrar o Dumbo voando logo no começo do filme (em vez de no final, como no original) é simplesmente arruinar o clímax e o elemento de enredo mais forte dessa história.

- O tema de bullying era muito mais forte no original pois ele vinha dos próprios elefantes. Dumbo era excluído da "sociedade" dos elefantes por ser diferente, então o espectador podia traçar um paralelo com o mundo real, suas experiências em sociedade, na escola, etc. Aqui, como não temos animais humanizados, apenas os humanos de fato zombam das orelhas do Dumbo, o que é bem menos impactante. Dumbo não é mais um excluído entre os elefantes. Nem sabemos direito até que ponto ele entende o que os humanos estão falando sobre ele.

- Outra cena preciosa do clássico que foi prejudicada é a do "Baby Mine". Como os animais não são muito humanizados nessa versão, perde-se toda a construção da relação entre o Dumbo e a mãe do primeiro ato - então quando chega a cena da jaula, há muito menos carga emocional.

- Como o filme "gastou" cedo demais a revelação de que o Dumbo voa, o roteiro agora tenta ressuscitar o interesse na trama com a ideia do Dumbo voar com uma mulher nas costas, o que não gera o menor suspense (aliás, a cena da Eva Green em cima do Dumbo pela primeira vez é uma das coisas mais acidentalmente cômicas que vi nos últimos tempos).

- Preguiça dessa crítica ao "capitalismo" que o filme introduz na segunda metade, retratando o dono do parque como um empresário ganancioso e sem alma, transformando Dumbo numa história sobre o pequeno empreendedor versus as grandes corporações - e ainda tiveram a audácia de basear o vilão no próprio Walt Disney ("fazemos o impossível possível", etc).

- Mais uma cena clássica arruinada: a alucinação com as bolhas de sabão. O Dumbo não está intoxicado nessa versão, então por que as bolhas estão tomando aquelas formas? O público do circo está vendo aquilo também? Não faz nenhum sentido.

- O filme fica repetindo o artifício do Dumbo voar e surpreender o público, como se isso fosse gerar múltiplos ápices ao longo da história, esquecendo que pro espectador a ideia já não tem mais força desde que foi desperdiçada no primeiro ato.

- SPOILER: Falta uma motivação convincente pro dono do circo querer matar a mãe do Dumbo. Os conflitos são mal construídos. O plano de resgate também não é nada convincente.

- SPOILER: No fim, o Dumbo ajuda a destruir a "Disney do mal", se livra dos "males do capitalismo", da fama, da civilização - e escapa pra selva com a mãe pra viver de maneira simples, primitiva, no meio de sua "gente", e finalmente ser feliz. Não acho que o filme tenha uma agenda de esquerda consciente como outras animações recentes, mas ele acaba sendo influenciado pelas tendências atuais e subverte totalmente o clássico, que basicamente era um conto motivacional sobre sucesso, pioneirismo, sobre dar a volta por cima usando suas desvantagens a seu favor.

Dumbo / EUA / 2019 / Tim Burton

FILMES PARECIDOS: Mogli, o Menino Lobo (2016) / Cinderela (2015) / Tomorrowland: Um Lugar onde Nada É Impossível (2015)

NOTA: 5.5

4 comentários:

Anônimo disse...

Já não tinha gostado do trailer mostrando que tinham mudado a história para mais um filme de amizade de criança com animal. Mas então foi pior, removeram então o que tinha sido feito certo em 1941 para contar pela milésima ou milionésima vez uma história de vilão ganancioso que explora um inocente. Ao que parece, por preguiça de escrever e pra ir na onda do que já vem sendo feito. E ainda vem críticos para achar maravilhoso, superior ao original, afinal é sombrio, mais que sombrio, é Tim Burton.
Ainda não vi o valor desses remakes live-action de filmes da Disney, feitos só pra ganhar dinheiro fácil em cima de temas já conhecidos. E continuações desnecessárias como o futuro Toy Story 4, com sintomas visíveis de cansaço da fórmula. Fico com a impressão de que o atual staff da Disney não é tão superior assim ao tão criticado Michael Eisner, o "rei da mediocridade", com seus filminhos direct-to-vídeo, que, dizem alguns, teria sido o modelo para o chef Skinner de Ratatouille. O espírito de Skinner parece bem vivo na neo-Disney.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Pior que o filme nem é sobre a criança, nem sobre o animal.. o filme conta a história meio que de fora, sem se aprofundar em nenhum dos personagens..

Os remakes live-action viraram mais uma mina de ouro pra Disney né, assim como os filmes da Marvel.. a coisa mais rara hoje em dia é um filme de grande orçamento que seja uma história nova, criada do zero para o cinema.. abs!

Dood disse...

Depois dessa análise (não li o spoiler) fiquei sem vontade nenhuma de ver este Live Action, mas comprei o DVD pra minha coleção aqui.

Um filme que sempre gostei quando garoto, cheguei a ter o livro de histórias da Abril que vinha com uma fita cassete verde. Assisti na Globo num sábado de tarde.

Bons tempos.

Caio Amaral disse...

Quando era criança o Dumbo era um dos meus desenhos favoritos.. minhas tias dizem que eu chegava a puxar minhas orelhas pra ver se elas cresciam também, hehe. abs!