sábado, 3 de abril de 2021

Godzilla vs. Kong

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.) 

ANOTAÇÕES:

- Em menos de 1 minuto, King Kong já é totalmente revelado sem nenhum drama ou suspense, e além disso agora ele ganhou um verniz meio Deadpool/Guardiões da Galáxia, surgindo ao som daquela música retrô irônica, coçando a bunda ao "levantar da cama", etc. (Idealismo Corrompido já saindo de arrancada.)

- Pra quem leu meu texto sobre 1999, repare na cúpula estilo O Show de Truman ao redor da Skull Island: antigamente os filmes ainda eram sobre pessoas normais vivendo em realidades artificiais; agora já temos o King Kong descobrindo que seu universo é ilusório (!).

- O fato do empresário super-rico ser o vilão é um desses clichês anti-capitalistas comuns nos filmes. É algo tão usado que nem sempre revela uma motivação política por trás da história (MM84 acho que tinha, esse aqui nem tanto, parece mais uma repetição de clichês).

- A primeira aparição do Godzilla também é totalmente repentina, sem drama, sem preparo... O filme não tem nenhuma intenção de criar "awe".

- A "ciência" por trás da história é bem nonsense. Por que uma "inversão gravitacional" iria esmagá-los? Fica mal explicado também por que eles precisam ir até o centro da Terra, por que essa seria a única forma de combater o Godzilla. O Godzilla de fato é uma ameaça? Vai destruir o mundo? Ou esse ataque foi algo pontual, pois ele foi provocado? Quais os riscos envolvidos pro planeta? Nada é bem estabelecido, então embarcamos na história sem entender direito a necessidade de tudo.

- Divertida a ideia do King Kong se comunicar via linguagem de sinais. Pena que o filme não consegue criar boas cenas/reações nesses momentos de surpresa.

- O compromisso com realismo do filme é menor que zero. A batalha no mar é um absurdo após o outro (os navios capotam e continuam navegando normalmente, conseguem aguentar os 2 monstros lutando em cima deles). Filmes de aventura/fantasia sempre foram exagerados, mas costumavam ser exageros que partiam da realidade (o cúmulo da forçação nos anos 90 eram cenas como a do ônibus de Velocidade Máxima conseguindo saltar o vão da ponte)... Aqui é como se os cineastas tivessem crescido num universo de video games, nunca tivessem conhecido o mundo real, então os exageros já fossem feitos em cima de um referencial de games, sem nenhum lastro mais na realidade.

- Não é uma ideia nova, mas acho legal o conceito da Terra Oca, eles descobrindo uma espécie de "Pandora" no centro da Terra, etc. Mas claro que tudo é mal aproveitado, há vários detalhes meio bobos... Por exemplo: como é que existe um Sol no centro da Terra?

- O trio da Millie Bobby Brown e os 2 garotos é péssimo. Coisas assustadoras estão acontecendo, e eles ficam fazendo piadinhas em tom casual, comentários do tipo "Bitch, whaaaaat?", como se nada daquilo realmente estivesse acontecendo, fosse tudo um jogo.

- O Godzilla solta aquele raio da boca e faz um buraco até o centro da Terra, o que já é difícil de comprar... A gente acha que é pra ele descer até lá e ir atrás do King Kong (aliás, como ele saberia onde está o Kong?), mas daí é o King Kong que misteriosamente consegue escalar pelo buraco e sair em Hong Kong em poucos minutos (pelo visto apesar da boca do Godzilla ser relativamente pequena, o raio faz um buraco de dezenas de metros de diâmetro, onde caberiam vários King Kongs).

- Acho desagradável ver os 2 lutando e destruindo uma cidade tão bonita — estou com mais pena de Hong Kong que do King Kong. O filme nem faz referência às milhares de pessoas dentro desses prédios que eles devem estar matando. É como se fosse um cenário de Lego, a ação não tivesse consequência alguma. Tem um momento onde o King Kong pula em cima de um prédio, e o prédio começa a tombar de lado... Mas em vez de mostrar o impacto final, criar um grande momento, o filme corta no meio da queda pra uma outra cena qualquer... É tudo tão irreal, que um prédio desabando com um macaco gigante em cima se torna uma imagem casual, como a de alguém amarrando o tênis, que pode ser cortada no meio.

- SPOILER: No fim, nem King Kong nem Godzilla são tão monstruosos se comparados ao verdadeiro vilão da humanidade: o empresário ganancioso! Depois de destruírem Hong Kong, eles agora vão unir forças pra salvarem a humanidade da pior ameaça de todas: as grandes corporações. Acho simbólico que antes da luta o King Kong receba orientações da garotinha "multicultural", que simboliza o "futuro do planeta", e aprende com ela que o vilão é o Mechagodzilla criado pelo homem, não o Godzilla (dá pra ir longe nas analogias que li na internet, que comparam o King Kong aos políticos de esquerda, o Godzilla aos de direita, etc — mas como disse, não tenho a impressão que o filme seja motivado por política, ele não me parece ter intelecto o bastante pra ter pensado em algo do tipo). 

- SPOILER: Sempre comento que os filmes não sabem mais criar vitórias empolgantes no final, como tudo é sempre solucionado de maneira boba, preguiçosa, esquecível. Mas jogar líquido no computador foi uma das soluções mais ridículas que vi até agora pra derrotar o monstro (talvez soe mais convincente pras gerações mais novas, que já cresceram com a ideia internalizada que derrubar água no teclado é o maior desastre possível).

Godzilla vs. Kong / EUA, Austrália, Canadá, Índia / 2021 / Adam Wingard

NOTA: 2.0

* Tinha planejado ver o filme no cinema, como sempre faço com os lançamentos, mas depois de inúmeros adiamentos por causa da pandemia, resolvi assistir via torrent, o que sempre acho ruim... Por isso tenho me comprometido a comprar os ingressos dos filmes, uma vez que eles são lançados, mesmo quando já assisti (e compro também a pipoca, refrigerante, etc, tudo pelo aplicativo do Ingresso.com, afinal quando você baixa um filme, o cinema está deixando de ganhar com isso também). Acho que poucos irão adotar esse hábito, mas se você de fato iria gastar o dinheiro pra ver o filme no cinema, e só não está indo por causa dessas confusões criadas pelos lockdowns, acho que é uma forma de minimizar um pouco os estragos pra indústria.

8 comentários:

Korvoloco Aspicientis disse...

Eu não vi o filme ainda e estou com pouquíssima vontade de ver. Ok, confesso que quando vi o primeiro trailer me fez despertar aquela criança interior que vibrava quando via filmes e séries japonesas com criaturas e robôs gigantes lutando entre si nos tempos em que passavam isso aos montes no final dos anos 80 e começo dos anos 90, mas depois notei algumas coisas que poderiam ser um problema no filme, como o fato da batalha acontecer em Hong Kong. A princípio poderia ser uma espécie de brincadeirinha pelo fato do gorilão ter o mesmo nome da cidade, mas certamente a ideia é agradar o público chinês, já que virou tendência em Hollywood hoje em dia e levando em conta que as bilheterias lá salvaram os estúdios americanos de levarem prejuízos, como Círculo de Fogo, por exemplo, onde a batalha final aconteceu nessa mesma cidade. E por querer agradar o governo da China, vejo essa crítica anticapitalista um efeito disso. E outra coisa que me incomodou e me fez acreditar que o filme seria uma bela porcaria, é o fato de lançarem um trailer quase todo dia, revelando coisas importantes da trama (apesar de eu só ver o primeiro trailer, o Youtube vivia me indicando outros trailers com detalhes já no título do vídeo...), e se os estúdios mandam vários trailers seguidos, geralmente o filme vai ser ruim.
E é sério que o Godzilla fez um buraco gigantesco até o centro da Terra???? Caramba, com uma criatura com um poder devastador desses na vida real o Kong não teria nem chances de dar um último suspiro. Claro que o Godzilla só usa esse poder por conveniência do roteiro, hehehehe.

E uma coisa que você falou e que realmente eu não havia notado, é que de fato parece haver uma tendência da esquerda se simpatizar mais com o Godzilla enquanto que a esquerda prefere o Kong. E lembrando agora, quando saiu o primeiro trailer de Godzilla vs. Kong, aquelas páginas direitistas sobre cultura nerd começaram a idolatrar o Godzilla e chamando Kong de ''ateu esquerdista'', hahahahaha... Claro que depois dessa não tinha com eu continuar seguindo essas páginas, que nunca eram grande coisa, na minha opinião, mas pelo menos me mantinham informado com algumas notícias do mundo do entretenimento e algumas vezes até faziam algumas análises até boas.
E pelo visto essa onda de separação ideológica e política em cima de coisas que não tem nada a ver é algo que vêm acontecendo há anos. Um bom exemplo é o Xbox vs. Playstation. Pelo que notei os direitistas preferem o Xbox enquanto que o Playstation parece agradar mais esquerdistas (claro que não estou generalizando). Eu já vi muitos donos de Playstation, também chamados de ''sonystas'', chamarem os caixistas (donos de Xbox) de ''bolsominions'' e coisa do tipo (eu jogo no PC, e pelo que vi até agora os que jogam nessa plataforma não são tão militantes). Ou seja, hoje em dia as pessoas encontram qualquer coisa pra criar briguinhas na internet.

Dood disse...

Bom @Korvoloko a associação entre a Sony e Microsoft se dá por coisas distintas:

Na Microsoft existe um grupo chamado Xbox Mil Grau cujo o líder tem o pseudônimo Chief e se envolveu numa treta com grupos raciais naquele período das manifestações do BLM, além de ter sido alvo de um cancelamento devido a sua postura em lives e afins.

Quanto a Sony teve sua polêmica com a continuação de The Last US 2 : cujo um dos protagonistas (o personagem Joel) é morto por uma lésbica e o jogo quer te convencer essa a ser um personagem gostável e quanto o outro personagem era nocivo, porém esse personagem tinha um desenvolvimento que colocava na peça trama do jogo. Além de ter mudado totalmente a personalidade de sua filha adotiva Ellie, que passa a odiar o protagonista falecido jogando fora tudo que foi estabelecido no game anterior.

Existe também outra polêmica referente a censura nos games orientais cujo há a valorização de poses sensuais dos personagens. O que tem levado os fãs da temática irem para o PC e para o Nintendo Switch cujo não permitiram a censura desses games.

Existem mais polêmicas, mas diria que essas são mais ou menos os pontos chave quando tratamos de inserção política nos videogames.

Caio Amaral disse...

O melhor desses filmes costuma ser o pôster e o primeiro teaser.. mas assim que o filme de verdade começa, a animação vai diminuindo, rs.

Isso deles lançarem diversos trailers já revelando tudo é só mais um reflexo daquilo que falei sobre o filme já revelar o King Kong nos primeiros segundos.. em plena luz do dia.. sem criar nenhum senso de espanto, etc.

Pensei nisso também — como o King Kong pode ser páreo para o Godzilla com esses raios? Mas quando ele faz esse furo até o centro da Terra eu já tinha abandonado meu senso crítico fazia tempo.. Na primeira batalha no mar, por exemplo, tem uma cena onde o Godzilla quebra 2 navios no meio de uma vez, apenas dando uma rabada.. o que dá a impressão dele ser muito maior que o King Kong, que está sendo transportado por um navio, e portanto é bem menor que 1 único navio.. mas logo depois, vemos os 2 brigando como se tivessem o mesmo tamanho.. enfim.. não é muito diferente do "vale tudo" dos filmes de super-heróis, onde o Batman poder lutar contra o Superman sem ter poderes sobrenaturais etc.

A esquerda sempre torce pelo mais fraco, pelo mais primitivo, pelo menos elitista.. Macacos são mais "humanos", mais "rústicos" que lagartos.. e com aquele monte de pelo ainda (a esquerda ama pelos), basta um olhar de raiva e indignação moral pra criar um ar de "revolucionário", como o César dos Planeta dos Macacos hehe. Quando vc para pra analisar, há um certo sentido por trás dessas briguinhas, mas que revelam que o posicionamento político de muita gente é guiado por questões emocionais subconscientes, não por teorias econômicas, princípios coerentes etc. abs!

Korvoloco Aspicientis disse...

De fato, Dood, o Chief do Xbox Mil Grau ajudou bastante a rotular ''caixistas'' de direitistas extremistas, nisso não há dúvida. Ainda mais que eles apoiaram bastante o Bolsonaro. Mas parece que não é só no Brasil que colocam esse rótulo nos donos de Xbox, só que lá fora não parecem não misturar tanto ideologia com consoles. Mas certa vez li uma matéria de um site americano que não lembro qual, mas era declaradamente esquerdista, que dizia que jogos exclusivos de Xbox agradava mais o público conservador porque a Microsoft focou mais na temática de tiro, como a saga Halo e Gears of War, o que de certa forma acho que estão certos, em partes. Eu, por exemplo, me considero parte do time dos conservadores, mas não curto jogos de tiro, então há exceções.
E nisso você está certo também sobre os jogos da Sony, principalmente depois do The Last of Us 2. Mas assim, acredito eu que a Sony dá mimos para os jornalistas gamers falarem bem da plataforma, e como jornalistas são na sua maioria esquerdistas, acabam fazendo mais propaganda pros exclusivos.
E pois é, essa coisa de fazerem as personagens com poses sensuais e poucas roupas também geram algumas discussões nas redes sociais. Muitos jogos atuais até fazem mulheres mais feias e com corpos não femininos (como no caso do TLoU2) pra não gerar polêmica com grupos feministas.

Aliás, voltando ao assunto do Chief, ele vivia pegando no pé desses jornalistas gamers, exigindo gamertag e tal pra provarem que jogaram mesmo o jogo que elogiaram ou criticaram, o que não tiro a razão dele, claro que exagerava, praticamente fazia uma caça às bruxas comprando brigas totalmente desnecessárias. Com isso foi só questão de tempo pra acharem uma brecha pra ferrarem o cara de vez. Só que quem fez aquela postagem no Twitter foi o amigo dele e também administrador da Xbox Mil Grau, o tal do Capim. E o Chief até poderia ter se safado se tivesse cortado relações com o Capim e falado algo como ele não fazer mais parte da comunidade XBMG, mas ele foi apoiar o cara e deu no que deu ao ponto de perderem o canal do Youtube e de serem banidos pra sempre do Google e outros lugares, ganhando o título de primeira persona non grata do Youtube brasileiro. Até o Mark Hamill exigiu o cancelamento deles! Hoje em dia o Chief faz live na quase extinta DLive e alguns vídeos publicados na Cost.TV.

Acompanhei atentamente esse caso na época porque tinha curiosidade de saber o desfecho. Eles quiseram usar o Chief como exemplo. Eu não concordava com muitas das opiniões e atitudes grosseiras dele, mas depois desse banimento todo ficou claro que se o produtor de conteúdo quiser causar polêmica, que esteja pronto pra arcar com as consequências e que a internet não é mais um ambiente tão livre assim.

Dood disse...

@Korvoloco Aspicientis

Com certeza pode se extrair uma relação de Caixistas com a direita, principalmente se vermos como é os EUA e o portfólio da empresa. Ela (Microsoft) sempre carregou esse estigma desde 2004 com o primeiro X Box - os jogos americanos tem como base o belicismo, coisa que a esquerda detesta , porém eles sempre foram lançados para plataformas concorrentes em sua maioria.

A Microsoft tentou um flerte com a indústria oriental com o 360 e naufragou, e nem tentou com o One, apesar de boa parte dos jogos com a puxada oriental sairam por aqui, porém esses games no Japão ficaram somente no PS4 e outros consoles. Porém ela teve um grande êxito em emplacar seu console ao público comum ocidental, tanto que se você pegar a apresentação do 360 a este público se deu a um canal a cabo de entretenimento musical para jovens e adultos.

Essa relação política nos games é bem espantalho porque como toda megacorporação ela já flertou com a diversidade pelo menos em ações de engajamento. Tanto que botou símbolo arco íris no XBox numa apresentação da E3 senão me engano, afim de conquistar os LGBTs coisa que o PS4 estava fazendo.


A Sony tem mudado sua política quanto do meado da geração do PS4 pra cá, devido a pressão de militância que está dentro dos setores de games principalmente na imprensa. Tanto que ela mudou sua sede que era no Japão pro ocidente - se não me engano nos EUA. Eles querem muito o público ocidental, mas a censura em seus games não está sendo imposta ao Japão. É algo para o ocidente. Sem contar que a empresa em outros segmentos anda mal das pernas e os games, segundo me disseram, são o ramo a qual dá menos prejuízo a esta.

Uma coisa que o Chief pegava no pé, realmente com razão, é que hoje a imprensa gamer é feita por pessoas que não são gamers na sua maioria: são formandos que ao encontrar uma feroz competitividade no ramo de Jornalismo, abraçam o entretenimento. E assim como produzem muito material recheado de narrativas, acabam pressionando as corporações e estas muitas vezes estão com pessoas que concordam com a narrativa da imprensa. É um combo, você vê que as coisas funcionam em cadeia. O Last of Us 2 foi aclamado pela crítica, mas para o público gamer que consome esse material desde que se conhece por gente e rejeitado.

Quanto ao Chief o cara foi vítima de um cancelamento oriundo de um comentário ruim num cenário atual onde se caça e detona reputações. Hoje o meio Nerd é consumido por todos, mas não se valoriza o arquétipo Nerd: ele continua sendo excluído.

Caio Amaral disse...

aqui estou por fora, hehe.

Dood disse...

Ás vezes acho que aqui acabou-se montando um local com debates diversos dependendo da situação, acho isso ótimo.

Caio Amaral disse...

Sim.. tem postagem que vira quase um fórum, hehe. Acho bom tb.