segunda-feira, 26 de abril de 2021

O pior Oscar da história?

O Oscar 2021, se não foi o pior da história, foi certamente o pior que eu vi em mais de 20 anos que não perco uma transmissão. Em termos de indicados e vencedores, as últimas edições já estavam praticamente no mesmo nível de ruindade — não é novidade que hoje é tudo sobre política, sinalização de virtude, diversidade, não sobre talento e mérito — então nem vou comentar isso. Mas essa foi a primeira vez que os "AIs" conseguiram destruir a cerimônia em si. Nos outros anos, os premiados eram fracos, mas em termos de evento, o Oscar ainda parecia o Oscar — uma inconsistência que foi resolvida na festa de ontem.

O maior choque pra mim foi perceber que a cerimônia se passaria inteira na Union Station, não apenas parte da festa como tinha sido anunciado. O teatro Dolby é enorme, então desde o início eu não estava entendendo a necessidade de um segundo local para apresentar parte da cerimônia, pois seria perfeitamente possível fazer distanciamento social no Dolby Theatre (já que os convidados seriam limitados a indicados e apresentadores). Mas se no fim a festa acabou sendo apresentada praticamente inteira em 1 local só, qual foi o sentido então de fazê-la na Union Station? Tudo aquilo que vimos não poderia ter ocorrido no Dolby Theatre? A resposta está na atitude que descrevi no texto sobre a Pandemia: o Dolby Theatre é um símbolo de luxo, glamour. Uma estação de trem é mais humilde, low profile, é um lugar do "povo". Como já vimos, nada disso é sobre saúde, segurança, lógica — é sobre sacrifício, sobre mostrar que vivemos um "novo normal", é sobre o desejo de destruir a felicidade, o prazer, o conforto, em nome de um falso bem coletivo.

A festa não teve host, não teve o tradicional espetáculo de abertura, não teve as apresentações musicais (que foram jogadas pro pré-show), a orquestra foi substituída por um DJ, não havia telões e palcos grandiosos, e as poucas tentativas de humor foram tímidas e deslocadas. Não vimos prêmios honorários, prêmios para inovações técnicas, nem montagens épicas celebrando a história do cinema — em compensação, tivemos dois prêmios humanitários.

O prêmio de Melhor Filme (logicamente, o grand finale de toda cerimônia) não foi apresentado no final, mas foi anunciado antes dos prêmios de Melhor Atriz e Melhor Ator pela primeira vez, gerando um anti-clímax, um momento de "desconstrução", que parecia querer dizer de que há algo de "ultrapassado" em hierarquias, que nada é tão importante assim, então pra que gerar expectativas?

Quando Nomadland ganhou melhor filme, tivemos também a visão bizarra da Frances McDormand uivando como um lobo no palco, mais um ato de niilismo que, sob um manto de irreverência e descontração, atende o desejo coletivo de degradar a premiação, de colocar uma figura animalesca e primitiva num podium que deveria representar o auge da sofisticação, do desenvolvimento profissional e artístico do ser humano.

A "cereja do bolo" foi deixar o Oscar de Melhor Ator por último, sendo que já era possível prever que os dois atores favoritos ao prêmio não estariam presentes na cerimônia (Anthony Hopkins e Chadwick Boseman — este último por razões óbvias), o que seria garantia de que a festa terminaria numa nota inconclusiva, frustrante, ainda mais na ausência de um anfitrião.

Steven Soderbergh, que foi produtor da cerimônia, disse que a festa deste ano iria se parecer com a experiência de assistir a um filme... Ele só esqueceu de avisar que seria um filme horrível, como os que a Academia tem premiado ultimamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Foi um fracasso tremendo de audiência, pelas notícias que vi.
No fim de semana vi um canal que estava passando o Oscar, mas não tive interesse nenhum de sintonizar.
Ironicamente, essas mudanças parecem se basear na premissa de que o Oscar tenha uma grande influência no público. Mas há anos que o Oscar não influencia mais quase ninguém. A premiação há muito ficou desmoralizada como politicagem e ação entre amigos.

Frances McDormand foi aquela que recebeu o Oscar de melhor atriz por Fargo, não é? Confesso que esse é um daqueles filmes que minha inteligência é curta demais para entender porque todo mundo elogia e acha que devia ter levado o Oscar de melhor filme. Não tenho a aversão a O Paciente Inglês que todo mundo costuma ter. Não é nenhuma obra-prima, é só um típico "filme de Oscar". Não acho que acho que seja a porcaria que muita gente diz que seja, ou que tenha "comprado" o Oscar. Aliás, o engraçado é que se todo mundo acha que a Miramax "comprava" Oscars, então porque não comprou um para Pulp Fiction, que tantos por aí queriam que vencesse como melhor filme, mas para os que supostamente não deveriam vencer, como O Paciente Inglês ou Shakespeare Apaixonado?

Pedro.

Caio Amaral disse...

A influência acho que se dá mais pela ausência dos valores positivos.. Por exemplo: uma pessoa de 13, 14 anos hoje não vai ter a experiência de assistir ao Oscar e de repente se sentir inspirada.. ter seu senso de ambição despertado pela primeira vez.. Lembre-se que a possibilidade de ganhar um Oscar é um grande motivador pra muito artista.. mesmo que você julgue isso uma motivação superficial. Pense no clichê da pessoa no chuveiro, fingindo aceitar o Oscar com o shampoo.. e como sonhos do tipo muitas vezes são o que impulsiona alguém a se tornar um ator ou atriz... Pense também como a agenda de estreias dos filmes é totalmente moldada de acordo com as datas dos Oscar. Então acho que a influência não é que necessariamente as pessoas vão abraçar as causas da esquerda que eles estão promovendo.. Mas ao destruir uma das maiores fontes de inspiração de todo o universo cultural, eles certamente causam um estrago.

Frances McDormand é a do Fargo sim.. Eu também nunca entendi o hype ao redor do filme e nunca vi muita graça.. O Paciente Inglês acho apenas chato.. tem uma certa pseudo-sofisticação.. mas não acho que tenha comprado o Oscar, ainda mais num ano com concorrentes tão fracos. Na época ele se enquadrava muito bem no perfil da Academia.. muito mais que Fargo.. abs!