Já apontei em dezenas de críticas nos últimos anos que o entretenimento hoje está dominado por valores como coletivismo, auto-sacrifício, renúncia, abnegação, e demonstra um desprezo cada vez maior por virtude, habilidade, sucesso, alegria, etc.
Como discuto no meu livro, existem 2 tipos básicos de espectadores: "aqueles que enxergam a arte como uma fonte de inspiração (que se sentem estimulados diante da projeção de valores positivos; diante de beleza, virtude, felicidade — diante da visão do ideal) e aqueles que buscam na arte primeiramente um conforto, um remédio contra as frustrações da vida, e que se sentem desmotivados pela visão do ideal." E existem também os 2 tipos de filmes correspondentes: "filmes que buscam inspirar o espectador vs. filmes que buscam confortá-lo. Enquanto o primeiro tipo é motivado pelo desejo de tornar a vida mais rica, interessante e prazerosa, o segundo é produzido para torná-la menos dolorosa. Enquanto um tipo pressupõe que o espectador está num estado positivo de consciência, querendo desfrutar a vida, o outro pressupõe que o espectador está num estado de fragilidade, inadequação, negação, tristeza, buscando algum tipo de consolo, escape ou racionalização. Enquanto um é como um banquete oferecido aos fortes, o outro é como um remédio ou analgésico oferecido aos fracos."
O mundo foi dominado pelo segundo tipo de espectador e de filme. E o problema é que quando esses espectadores saem do cinema, eles continuam operando sob o mesmo conjunto de valores em suas vidas pessoais. A pandemia (ou melhor: a reação mundial ao coronavírus) é o grande clímax disso tudo, e a prova de que as más ideias que vemos no entretenimento têm consequências graves no mundo real.
Pra mim já era nítido desde o início que muito da reação ao vírus — os lockdowns, a paralisação da economia, as máscaras, o fechamento dos cinemas, restaurantes, festas, os "cancelamentos" nas redes sociais — tinha a ver menos com a gravidade da pandemia do que com questões ideológicas e pressões sociais. Mesmo antes de termos grandes informações sobre o vírus, já havia uma predisposição e até um desejo de parar com tudo, de fechar empresas, trancar as pessoas em casa, impedir todos de continuarem com suas rotinas.
Não estou dizendo que acho o vírus inofensivo — apenas que a atitude das pessoas e do governo teria sido completamente diferente caso os valores predominantes fossem outros: caso houvesse um respeito maior por liberdade, direitos individuais, pelo trabalho, pela economia, pela felicidade, como havia algumas décadas atrás.
O vírus virou um pretexto para impor uma ética mundial de renúncia, de auto-sacrifício, e uma ferramenta pra controlar e reprimir aqueles que não queriam se sacrificar (as mensagens nos filmes não podiam fazer o serviço completo afinal; elas podiam apenas preparar o terreno, mas não parar o mundo sozinhas — seria sempre necessária uma mãozinha do governo).
Foi curioso observar que, mesmo depois que as pessoas já tinham parado de ir pro trabalho, de ir a restaurantes, cinemas, e estavam trancadas em casa, a campanha de repressão criava formas de persistir. Em determinado momento, lembro que se tornou politicamente incorreto pedir comida por delivery, pois você estaria colocando a saúde do entregador em risco. Chamar 2 ou 3 amigos em casa pra beber então, nem pensar. Em outro momento, veio o rodízio mais intenso de carros (você só podia sair dia sim, dia não de carro em São Paulo), e algum político explicou que isso era pra melhorar a qualidade do ar, o que ajudaria as pessoas com dificuldades respiratórias (!).
Teve uma semana que sempre que eu acordava, eu abria o celular pra já checar qual seria a proibição do dia. Quais daquelas poucas coisas que ainda restavam da minha rotina seriam consideradas condenáveis pelos "colegas" das redes sociais. E eles são muito criativos. Havia, acima de tudo, um desejo de impedir as pessoas de fazerem coisas prazerosas. Às vezes nem precisava estar relacionado à pandemia. Durante os protestos do George Floyd, teve um dia que me peguei com medo de postar uma simples foto no Instagram, pois o código era que você só deveria postar algo caso fosse um quadrado preto. Exibir seu rosto (o ato de assertividade mais básico do mundo) seria considerado "egoísta", "insensível", e atrairia olhares condenatórios não só no Instagram, mas também nas ruas, caso tirasse a máscara.
O importante nesses atos não é que seja algo racional, prático. O importante é o "simbolismo". É demonstrar que você está renunciando algo, tendo algum tipo de desprazer pessoal em nome do "bem coletivo". Fazer algo do jeito habitual é insensível, então qualquer mudança pra pior vale, mesmo que não faça sentido. Quando você vai ao Burger King e pede um sorvete de casquinha, por exemplo, eles avisam agora que irão virar a casquinha dentro de um copo de plástico. Por que? Pra te proteger? Não — pra estragar um pouquinho da experiência. A explicação oficial é que o funcionário não pode ter contato físico com o cliente, e como a casquinha não pode ser apoiada no balcão pro cliente pegar (se não ela tomba), sem o copinho plástico o funcionário teria que entregá-la diretamente na mão do cliente. Mas a funcionária já não pegou na casquinha pra colocar o sorvete dentro? Já não tocou no guardanapo que irá envolver a casquinha? E além disso, ela já não está de luva? Máscara? Capacete? Se um pedacinho da luva encostar momentaneamente na mão do cliente na hora de pegar a casquinha, que diferença isso fará? Por que, em vez de virar o sorvete no copinho, não aproveitar 1 desses copinhos, cortar o fundo, colocá-lo virado pra baixo no balcão, e criar um suporte temporário onde a casquinha possa ser encaixada pro cliente pegar? Ninguém nem tenta imaginar esse tipo de solução, pois isso tiraria toda a "graça" dos pequenos atos de abnegação. (Lembrando que o cupom fiscal eles te entregam na mão sem nenhum problema.)
No Natal e no Ano Novo, São Paulo voltou pra fase vermelha da pandemia, o que impediu o funcionamento normal de praticamente todo o comércio. Por que não impedir apenas as grandes festas de fim de ano, já que o problema é a aglomeração? (Não que eu seja a favor do governo proibir isso também). Que grande aglomeração ocorre em restaurantes ou cinemas durante esses dias, que necessite fechá-los? Eles já não estavam com capacidade reduzida, medidas de distanciamento, ordem de fechar mais cedo? Por que fechar totalmente? Não há uma boa razão. É só o ato "simbólico" de arruinar esse período marcado por alegria e diversão: ninguém deve ser feliz enquanto existem alguns sofrendo.
Tudo que simboliza prazer, diversão, liberdade, individualismo, se torna um alvo fácil hoje em dia. Bem antes da pandemia, lembrem como os canudos plásticos se tornaram um vilão na sociedade. O canudo não é uma coisa absolutamente vital, mas facilita a vida, é divertido, está muitas vezes associado a drinks, refrigerantes, milk-shakes, infância, momentos de alegria. É por isso que ele é vilanizado, enquanto outras coisas feitas de plástico (como luvas descartáveis) jamais serão da mesma forma. Luvas descartáveis nós associamos a doenças, médicos. Há algo de "altruísta" numa luva descartável que não há num canudo, por isso ela ganha um passe livre, moralmente falando. O problema não é o quanto algo objetivamente faz mal, e sim o que aquilo "representa". O carro é individualista, "elitista", então deve ser impedido, mesmo que gere menos aglomeração que um ônibus. Uma "aglomeração" de 10 amigos num apartamento causa indignação geral. Mas uma manifestação com centenas de pessoas nas ruas não necessariamente, desde que seja por uma causa de esquerda: assim como o problema do canudo não é de fato a poluição, o problema das festas particulares também não é exatamente a saúde pública. Se a mesma quantidade de plástico, ou a mesma quantidade de pessoas estivesse reunida mas em nome de algo emocionalmente associado a renúncia, a altruísmo, aos mais fracos (etc., etc., etc.) isso passaria batido.
Tudo isso já era previsível anos atrás — bastava observar as mensagens por trás dos principais filmes dos últimos anos, tanto dos grandes sucessos de público quanto dos de crítica. Os 2 grandes lançamentos do fim de 2020 foram Mulher-Maravilha 1984 e Soul, e ambos reforçam a ideia de que perseguir seus desejos é algo ruim, destrutivo para o mundo (mesmo quando se trata de algo inofensivo como querer ser um músico de jazz bem sucedido), e que renunciar suas vontades, seu trabalho, seus sonhos, em nome do "bem coletivo", é algo nobre e superior. Lembrem que esses filmes não foram desenvolvidos agora na pandemia. Eles já tinham sido concebidos meses e meses antes. A cultura já estava preparada e ansiosa por um lockdown anos antes de surgir qualquer vírus. E o perigo é que, como não é o vírus que está provocando essa mobilização sem precedentes, e sim as ideias e os valores predominantes na cultura, o clima de medo e proibição poderá continuar por muito tempo mesmo após a chegada da vacina.
Altruísmo/auto-sacrifício são "virtudes" morais aceitas tanto pela esquerda quanto pela direita, por isso pouquíssimas pessoas são capazes de se opor a essas medidas relacionadas ao vírus com convicção emocional e intelectual. E como são códigos morais irracionais e impraticáveis, todos que os aceitam acabam virando hipócritas — como o governador João Dória, que no fim do ano declarou fase vermelha em São Paulo, e no dia seguinte pegou um voo pra Miami pra curtir as férias com a família. Claro que depois ele voltou arrependido. Códigos morais que condenam o prazer, o auto-interesse, a felicidade, no fim sempre geram uma população de pessoas hipócritas, culpadas, inconsistentes, invejosas, que estão sempre "pecando" e se arrependendo no minuto seguinte — um mundo de Felipes Netos e Carlinhos Maias, sempre errando, se desculpando, e depois apontando o dedo pra mostrar que o outro errou mais.
Outro dia andando por São Paulo notei várias farmácias novas, algumas bem grandes, sendo abertas em locais privilegiados. Ao mesmo tempo lembrei dos cinemas fechados, da crise na indústria do entretenimento. Com isso me veio à mente a imagem de um futuro distópico curioso, onde grandes palácios agora são construídos para acomodar farmácias, onde tapetes vermelhos estão associados a inaugurações de hospitais e postos de saúde, onde toda a mídia está reservada para notícias relacionadas a medicamentos, testes de vacinas — e enquanto isso, as pessoas assistem a spin-offs enlatados de Star Wars no celular como melhor opção de entretenimento.
21 comentários:
Bom post. Tenho sentimentos similares a respeito da situação atual. Parece que hoje a ênfase em preservar a vida biológica das pessoas chegou a um ponto que se exclui em nome disso as possibilidades de fruí-la ou dar sentido a ela. Nos meses iniciais do bloqueio cheguei a lembrar de uma fala do filme Wall-e da Pixar, dita pelo chefe da estação espacial: "Eu não quero sobreviver, quero viver". Parece que nem o pessoal da Pixar lembra muito disso. A ironia é que Wall-e foi considerado na época um filme muito esquerdista.
https://www.youtube.com/watch?v=gwN5Km_1X9E
O Doria desistiu de sua viagem à Miami - sendo que a Flórida não tem restrições sanitárias e está numa situação terrível, segundo o noticiário internacional - por conta da repercussão negativa e do fato de seu vice ter contraído covid.
https://diariodopoder.com.br/brasil-e-regioes/doria-decreta-restricoes-para-paulistas-e-viaja-para-fim-de-ano-em-miami
Sei que você não se interessa por política. Mas, francamente, espero que o Doria nunca chegue à presidência.
Pedro.
Olá, Caio. Mais uma vez, excelente texto. Também agradeço por tê-lo escrito em especial, pois existe uma peculiaridade que torna incapaz a mera derivação dedutiva por qualquer pessoa. Somente o mindset do "espectador idealista", preparado para conceituar os simbolismos a partir das vivências, seria capaz de elaborar algo parecido. Uma pena que o teu público seja pequeno, pois teu conteúdo é extremamente valioso. (quais são as suas referências para ter estas idéias? Quero ler tudo o que tu leu).
O compartilhamento de suas experiências pessoais induziu a uma reflexão de uma leitura particular minha. A de que muitos dos vícios altruístas podem ser psicopatológicos e o prazer pela destruição dos valores alheios está associada a distúrbios psiquiátricos variados. Mesmo que alguns doutores já tenham categorizado os excessos políticos e pressões sociais como substratos de doenças mentais de ordem mais grave, a quantidade de pessoas doentes com este sintoma é tão numerosa que os conselhos de saúde debatem se é ético rotular como “sintoma” alguém incapaz de sustentar valores na medida em que os destrói. O que é algo assustador, pois mostra que a exceção pode superar a regra muito em breve.
Conversei com pessoas que afirmam sentirem grande realização emocional quando observam atos de abnegação, como ajudar um mendigo, adotar um animal doente ou bater em um estuprador. Ditas pessoas também relatam incapacidade do sentimento de realização e de orgulho ao concluírem um trabalho ou projeto – a consequência última é a autoestima corrompida. Duvido muito que a resposta emocional destes casos seja oriunda da escolha deliberada e arbitrária de valores em algum ponto após a infância. Pelo contrário, algo anterior ao período púbere deve causar uma resposta aguda de repulsão contrária aos símbolos de felicidade, liberdade e individualismo. Talvez a importância do prazer, da felicidade e dos direitos só possa ser compreendida por aqueles que a conhecem tanto em um milk shake de canudinho quanto na contemplação de um arranha-céu. Sem a experiência empírica, sustento que é próximo do impossível que somente a defesa de uma filosofia coerente pelas pessoas mais esclarecidas seja capaz de mudar os valores na sociedade. É muito mais difícil argumentar sobre a importância da liberdade contra aqueles que respondem não terem sido afetados pelo lockdown, pois já não possuiriam uma vida social ou uma rotina de pequenos prazeres.
Sua sugestão de um futuro distópico dominado pela apreciação da doença e pela rejeição da felicidade e de emoções intensas é muito mais cirúrgica do que aquelas ficções de uma sociedade dominada pela tecnologia. É incalculável a quantidade de adolescentes que assumem como uma qualidade positiva terem depressão, ansiedade, distúrbios alimentares. Não sou velho o suficiente para avaliar a geração de adultos anterior à minha, mas gosto de refletir se o desejo de ter transtornos psiquiátricos é algo recente e que tipo de sociedade se formará sob pessoas tão mórbidas e suscetíveis às emoções e sensibilidade ferida. Enfim, tenho uma atração particular, uma curiosidade antropológica, por distopias, cultos e seitas. Gostaria muito de ver uma história assim. Se um dia eu chegar a escrever uma ficção, vou “emprestar” os seus conceitos sem creditá-lo rsrsrs.
A respeito de seu livro, ainda não chegou. Aguardo ansioso.
Pedro, eu acho bem importante enfatizar esse ponto.. de que a felicidade (ou a liberdade para buscá-la) é tão indispensável quanto a sobrevivência biológica. Eu não lembro tanto do WALL-E nessas questões ideológicas.. me parecia haver junto de tudo uma certa crítica ao "consumismo", à tecnologia.. eu achei bom na época, mas me parecia um desses casos de filmes com mensagens ambíguas.
Tenho interesse em política sim.. só que de maneira mais filosófica.. quando ocorrem grandes eventos.. não tenho muita paciência pra ficar acompanhando a política do dia a dia, etc. abs!!
Oi Leonardo! Antes de mais nada, quanto ao livro.. já houve uma tentativa de entrega no dia 29, mas no rastreamento do correio diz que foi mal sucedida. Não diz por que, se não tinha ninguém, só diz: “Tentativa de entrega não efetuada. Entrega prevista para o próximo dia útil”. Fica de olho aí..!
Muito boas suas observações sobre o texto..! É uma discussão interessante essa.. O que leva umas pessoas a terem esses “impulsos altruístas” e outras não, o quanto disso já “vem” com a pessoa e o quanto é baseado em ideias, educação, questões de autoestima… Só consigo entender com mais clareza as consequências disso, e acho que sim, faz sentido a pessoa voltada pro sacrifício e pra abnegação não ter capacidade de usufruir das próprias conquistas, sentir orgulho sem culpa, etc.
A parte do texto onde sugiro que a solução é as pessoas mais esclarecidas ensinarem a filosofia correta é meu lado otimista forçando um pouquinho a barra pro texto não ficar tão pesado, rs. Não sei até que ponto acho possível mudar coisas tão enraizadas nas pessoas… muita coisa é estabelecida na infância/adolescência e acaba sendo difícil mudar depois só com bons argumentos. Mas não sou determinista a ponto de achar que essas coisas são imutáveis. Não acho necessário que a população inteira mude pra cultura melhorar… Só uma boa quantidade de líderes, pois a cultura é moldada meio que de “cima pra baixo”, me parece. As pessoas em geral apenas seguem o que é a tendência, o que é socialmente aceito, sem grandes questionamentos. Também não acho necessário que a pessoa mude toda sua epistemologia, o jeito dela enxergar a realidade, pra causar mudanças positivas… Isso seria esperar demais. Não sei se você acompanha o Yaron Brook, que é um dos maiores divulgadores do objetivismo… Ele sempre conta a história que antes de ler Atlas Shrugged ele era de esquerda, altruísta, totalmente comprometido com esses valores, e com o tempo mudou radicalmente. Eu acho isso sempre intrigante, pois pra mim desde criança, quando eu olhava pra uma figura como o Lula, eu já tinha uma percepção negativa imediata… Tipo a história do canudinho. Então não tinha a menor chance de eu tombar pra esses lados.. Mas acho que muitas pessoas funcionam num modo mais verbal/conceitual.. E pra essas, talvez seja decisivo um argumento, uma elaboração mais intelectual. E mesmo eu, sem uma Ayn Rand, talvez não tivesse criado convicção a ponto de expor essas opiniões publicamente… Então acho que vale considerar o lado otimista da questão. Você perguntou de referências, do que eu li pra ter essas ideias.. Acho que o único “kit” intelectual indispensável foi ler Ayn Rand mesmo.. e as coisas do Nathaniel Branden. Se quiser faço uma lista dos livros que me marcaram mais.. Mas o fato do meu interesse maior ter sempre sido arte acho que interfere também nesse ponto.. Gostar de ver como cineastas como Hitchcock “manipulavam” a plateia, o lance da comunicação não verbal, etc. Abs!
Olá, Caio. Eu trabalho em casa e teria escutado o carteiro, estranho que sinalizem falha na entrega. Continuo no aguardo.
Quanto a discussão do texto, admito que nos últimos dias meus pensamentos se voltaram em como um canudinho e uma casquinha estimularam a minha cognição. Até a canção “My Favorite Things” adquiriu novo significado. Sua forma de pensar é bastante única e com particularidades que me escapariam na leitura exclusiva de Ayn Rand - a qual percebo como filosófica demais para derivar a “psicologia da Cinderella”. Por isso perguntei de demais autores que tu lê.
Também discordo do inatismo e do determinismo, mas alguns relatos são incidentes demais para serem ignorados. Infelizmente não tenho os links dos estudos para compartilhar, mas vou citar alguns exemplos que lembro agora: um ativista da esquerda brasileira que nasceu em uma cela no final da ditadura militar, sem saber identificar ou explicar suas razões políticas, ele dizia que ‘sentia’ uma reação de repulsa ao ver os filmes O Que É Isso, Companheiro? e Pra Frente, Brasil. Como se suas idéias viessem do ventre e suas motivações fossem respostas aos estímulos sensoriais.
Pessoalmente conheci pessoas que sugeriam idéias inatas sem qualquer explicação. Um rapaz que desgostava de pessoas de olhos azuis, mas não verdes, desenvolveu antipatia e racionalizações contra personagens louros de olhos claros. Outro rapaz tinha o mesmo comportamento, mas por pessoas com a região torácica queimada do sol – se fosse o corpo todo a ‘sensação’ desaparecia. Um senhor nunca soube explicar o ódio que sentia por japoneses e chineses, os quais chamava de “asiáticos”. Quando informado que Cazaquistão e Rússia também ficam na Ásia, em choque, vomitou em uma reação imediata quase alérgica. Há casos de pessoas com histórico familiar religioso supranaturalista que quando crescidos são incapazes de entender humor físico de inversão da lógica. Sentem medo em vez de rir e temem que a realidade subvertida na cena aconteça milagrosamente em suas vidas.
O que me leva a questionar a cisão entre educação filosófica e a mudança potencial na cultura. Algo que mais demonstra uma “pandemia de idéias maliciosas” está na diferença entre os manuais classificatórios da medicina geral e o da psiquiatria. O CID-10 tem umas 1.200 páginas para classificação de todas as doenças biológicas. O DSM-V é 1 de 6 volumes de 1.000 páginas para a classificação só dos transtornos mentais. Na medida em que o câncer, HIV e o Sars são relativamente universais, atemporais e adaptativos ao organismo, uma “reação alérgica” a um canudinho ou uma resposta “imunológica” do corpo a um objetivo egoísta só poderiam acontecer em contextos bem específicos. Curiosamente, um livro com tema bastante ligado à morbidade do assunto foi lançado recente: A Farmácia de Ayn Rand.
O Yaron Brook acompanho esporadicamente. Sua frequência de postagens é muito volumosa, então vejo os vídeos de meu maior interesse. Gosto mais do Peikoff, sou mais interessado em filosofia teórica e história da filosofia. Também me identifico com a mudança relatada pelo Brook, mas no meu caso conheci este blog antes de conhecer a Rand - um dos motivos pelos quais o livro Idealismo é tão importante pra mim.
Do The Ayn Rand Library só falta o The Voice of Reason para completar a minha coleção. Do restante eu tenho até algumas versões raras, como o Tempestade nos Corações. Do Branden eu tenho alguns livros soltos, mas acho confusa a identificação e tradução das publicações. Por exemplo, eu tenho uma versão de A Psicologia do Amor Romântico sob o título A Psicologia das Emoções incluída dentro de uma coletânea da psicanalista Melanie Klein. Embora eu nunca tenha encontrado qualquer registro de colaboração entre os dois. Também há alguns meses li um artigo em que Branden criticava em retrocesso seu próprio livro Who is Ayn Rand?. Então acho a biblioteca do Branden, sobretudo a traduzida, meio confusa. Caso seja possível, ficaria muito agradecido se fizesse a gentileza de relacionar os livros que mais lhe marcaram.
Abraços.
Oi Leonardo! The Sound of Music contém o segredo pra tudo hehe.. My Favorite Things é sobre focar nos positivos (algo que o próprio Branden diz ser crucial pra felicidade).. I Have Confidence é sobre autoestima… Climb Ev’ry Mountain sobre propósito etc.
Esses exemplos que você deu sobre pessoas que sentem aversão a coisas arbitrárias.. Tudo isso tem a ver com falta de objetividade, com colocar emoções acima da razão. Por isso a racionalidade/objetividade é a mais essencial de todas as virtudes no objetivismo e no Idealismo. Se a pessoa não sabe ou resiste funcionar com base na razão, daí realmente não há como ensinar qualquer coisa. Então antes de nos perguntarmos se é possível fazer uma pessoa altruísta mudar de valores, é mais importante nos perguntarmos se é possível fazer uma pessoa movida por emoções passar a usar a razão como seu principal guia.
Quando somos crianças, todos nós fazemos esse tipo de associação emocional arbitrária… Não gostar de determinada cor, determinado aspecto físico de alguém, etc. Mas com o tempo, se a pessoa desenvolve bons métodos de pensamento, ela é capaz de corrigir a maioria dessas associações falsas… checar se são “emoções irracionais”, ou se são baseadas em fatos relevantes. Quanto mais novos somos, mais “concrete-bound” é nossa mentalidade.. achamos que as emoções que sentimos vêm apenas de coisas físicas, palpáveis.. Lembro que antes de entender exatamente o que era o Naturalismo, qual visão do ser humano que esse tipo de arte projetava, eu costumava apenas sentir uma certa repulsa à fotografia desses filmes, principalmente à textura da pele, à aparência do corpo e do rosto dos atores nesse tipo de produção (em contraste com a aparência dos atores nos filmes de Hollywood mais tradicionais). Até atores bonitos na vida real pra mim ficavam repulsivos fisicamente nesse tipo de cinema. Como eu ainda não entendia o “big picture” toda minha aversão era canalizada pra algo concreto, visível.. Mas depois de entender melhor qual era o verdadeiro problema, eu passei a ver que a questão não era a fotografia.. ou melhor, não era APENAS a fotografia.. e sim toda a visão de mundo do filme. Agora, com isso mais esclarecido, eu consigo ver filmes com fotografias mais cruas/realistas e até ficar inspirado, quando eles transmitirem bons valores.. e também posso ver filmes com fotografias belíssimas mas que ainda me causam essa má impressão do Naturalismo, dependendo da abordagem. Não que as 2 coisas estejam desconectadas (o concreto e o abstrato). Idealmente, ainda mais na arte, as 2 coisas deveriam estar em harmonia — de fato acho que há algo de racional em sentir repulsa a um ser humano mal fotografado, desglamourizado num filme… Não era uma emoção totalmente irracional… mas era semi-racional, suas causas mais profundas ainda não tinham sido compreendidas. Já uma pessoa que sente repulsa a um olho azul, talvez esteja mais desconectada da realidade do que eu estava nesse exemplo.. pois não há nada num olho azul que possa ser objetivamente mais repulsivo do que num olho verde, castanho, etc. É uma associação totalmente subjetiva.. Não sei se você viu um vídeo meu chamado Como Diminuir Seus Preconceitos, no YouTube… Lá eu falo sobre esse processo de ir se livrando de emoções irracionais, e como preconceitos raciais e coisas do tipo muitas vezes estão ligados a maus métodos de pensamento. O desafio acho que é esse… como transicionar da mentalidade “concrete-bound” pra uma mais conceitual/abstrata.
Quanto aos livros.. os 2 da Ayn Rand que mais me ajudaram nessas questões sobre arte foram The Romantic Manifesto, claro, e também The Art of Fiction. The Art of Nonfiction tb achei interessante, mesmo não falando de ficção. As 20 palestras do Nathaniel Branden “The Basic Principles of Objectivism” acho indispensáveis.. e tem 2 que são só sobre Romantismo/Naturalismo. Ayn Rand Answers eu acho bem divertido e tem uns comentários legais sobre arte… assim como o Facets of Ayn Rand, escrito pela Mary Ann Sures, que é meio difícil de achar. As entrevistas dela no YouTube tb me marcaram bastante (no meu canal tem um vídeo só sobre Romantismo). Claro que é legal ler tudo o que te interessar, os romances, etc, afinal todos os assuntos (ética, política) no fim se relacionam à arte. Antes de conhecer Rand.. eu não era de ler muito. Os livros que me marcaram mais antes disso eram sobre ciência (coisas do Stephen Hawkings, Carl Sagan).. de psicologia.. ou esses livros essenciais sobre cinema.. como Hitchcock/Truffaut.. O Manual do Roteiro, do Syd Field. Mas eu não era um leitor voraz.
Ah, segundo os Correios.. hoje (dia 4) houve uma nova tentativa de entrega não efetuada do livro! Não sei qual pode ser o problema. Vou te passar o código de rastreamento só pra você ver aí: JN350404916BR
Abs!
Lendo esse texto, fico lembrando como fui crucificado nessa pandemia por querer seguir em frente, arcar com as consequências. Claro, tomando precauções.
E muitos dos que crucificavam, agora no fim do ano já estavam passando reveillon na praia. Era mais uma questão de timing e tendência parece, hehe. Não destoar muito do mainstream.
Olá, Caio. A respeito do livro, lhe mandei um e-mail em particular.
São incontáveis as vezes que eu assisti The Sound of Music. Insatisfeito apenas com o filme, tenho a trilha sonora em minha Playlist e as letras na ponta da língua. É uma daquelas anomalias inexplicáveis que parecem coexistir em uma outra realidade superior, melhor, ideal.
Em seu livro “Cérebro e Crença”, o psicólogo Michael Shermer (libertário e leitor de Rand na juventude) argumenta que a capacidade racional e o padrão epistemológico podem ser diretamente influenciados pela organização ao acaso de certas conexões neuronais. Brilhantes descobertas científicas foram realizadas acidentalmente por pessoas místicas e o oposto também é verdadeiro. Como exemplo o autor cita um grande cientista vencedor do Nobel de química e de mais algumas outras conquistas notáveis (não tenho o nome do cientista no momento). Cético, ateu e orientado pela razão, o sujeito andava solitário em uma estrada e ao [supostamente] observar uma cachoeira dividir-se em três, concluiu que era um sinal divino. Para espanto de seus colegas cientistas, abandonou o ceticismo e se converteu ao cristianismo.
A teoria é a de que na medida em que a filosofia estuda a relação do homem com a realidade pelos métodos da razão, então seu órgão de cognição, o encéfalo, pode influenciar certas associações. No mesmo livro Shermer apresenta alguns estudos em que o fanatismo, agressividade, não-valores e anti-valores apontam para psicopatologias em um caminho em que a educação é impossível.
Meu grande temor é o de que caso seja verdadeiro que a tendência da maioria da população é o desenvolvimento de distúrbios mentais, e a literatura psiquiátrica sustenta esta perspectiva, então um Planeta dos Macacos pode ser a parada final do trem desgovernado, que precisará de um novo Aristóteles para um eventual novo Dawn of Man.
Distanciar-me do “pensamento concreto” e aproximar-me do “pensamento abstrato” é a minha cruzada pessoal. Sim, vi o seu vídeo e concordo com o que dizes.
Obrigado pelas sugestões de livros. Desconhecia as 20 palestras do Branden e o Facets, vou tentar obter os dois. Li umas 4 vezes o The Art of Fiction e acabei por me interessar pela literatura mencionada. Acabei por ler a maioria dos livros pela Rand citados, como A Letra Escarlate, 7 Contos Góticos, Quo Vadis? E o Doutor Arrowsmith. Assisti todas as entrevistas legendadas da Rand – foi o meu primeiro contato “oficial” com o objetivismo. A respeito de Hitchcock/Truffaut eu localizei um livro de autoria do Truffaut a respeito do Hithcock, seria este a tua sugestão ou existe um material produzido pelos dois em colaboração? Syd Field eu acabei lendo depois dos dois do McKee.
Abraços.
Oi Leonardo, respondi seu e-mail lá!
Não conhecia esse livro Cérebro e Crença, nem o autor.. De quando ele é? Eu percebo que, culturalmente, a razão vem se tornando cada vez menos fundamental.. Hoje tudo é sobre emoções, sobre popularidade.. eleições parecem concursos de personalidade.. o subjetivismo/emocionalismo nos filmes reflete isso também.. Talvez o Planeta dos Macacos já esteja bem perto, hehe.. Se a Ayn Rand chegasse em 2021 e lesse as últimas notícias, acho que diria que já estamos vivendo nele.. Nós aqui de dentro somos como o sapo na panela quente.. Ainda assim não acho que as pessoas sejam determinadas. Mas certamente são muito influenciáveis pelo que é mainstream.. E como a cultura mainstream só incentiva subjetivismo, irracionalidade.. fica difícil algo mudar nesse sentido.
Olha.. se você se acha alguém com "pensamento concreto".. não sei o que seria abstrato então hehe. Sua cruzada pessoal talvez seja eliminar o que resta do pensamento concreto, mas não "chegar" no pensamento abstrato, pois você já está nele certamente, não é apenas seu endereço de e-mail, rs.
O livro no Brasil chama Hitchcock/Truffaut - Entrevistas... O título em inglês acho que é um pouco diferente... mas sim, é de autoria do Truffaut.. pois é o Truffaut entrevistando o Hitchcock ao longo de vários anos. Vale muito a pena.
Abraços!
Olá, Caio. Cérebro e Crença é de 2012. Outros psicólogos que citam a Ayn Rand como influência são o Steven Pinker e Theodore Dalrymple. O Pinker já foi bastante criticado pelos objetivistas e as razões são compreensíveis: em seus textos está implícita a noção de que ele tem a resposta para tudo e que todos os demais estão errados. Ainda assim, admiro muito o livro Tábula Rasa e o Como a Mente Funciona. O Dalrymple é o pseudônimo de um psiquiatra chamado Anthony Daniels. Suas citações à Rand são críticas ao senso de vida benevolente e o autor aparenta aceitar a decadência da cultura como um processo natural. Parece que o autor sempre viveu em uma chuvosa e melancólica Londres e nunca teve sua face iluminada pelos raios do sol de uma promessa americana.
Quanto ao tipo de pensamento, mesmo que eu seja relativamente habilidoso com teorias e conceitos, ainda está presente o pensamento concreto nas interações humanas. Interpretações literais de metáforas e analogias, incapacidade de identificar o que o interlocutor sente sem que este expresse em termos claros, visão biomédica de homem e niilismo nas instituições humanas são alguns dos exemplos do pensamento concreto que pretendo trabalhar ao longo da vida.
Eu vou atrás do livro do Truffaut assim que possível. Obrigado pela dica.
Abraços.
Oi Leonardo, vi apenas uns vídeos do Steven Pinker, mas não sei muito sobre ele.. A teatralidade do cabelo me espanta um pouco hehe. Sei que o Yaron Brook o respeita apesar de algumas incompatibilidades.. O Theodore eu nunca tinha ouvido falar. A essa altura, você provavelmente já tem bem mais referências do que eu nessa área.. Sou preguiçoso pra ler autores com quem discordo em grande parte.. principalmente quando o assunto é ética, política, etc. Pois nesses tópicos, os objetivistas pra mim já encerraram o principal debate. Não sei se teria paciência de ler o livro do Jordan Peterson, por exemplo.. Mas às vezes sinto falta desse repertório mais variado. Abs!
Talvez não seja tão somente altruísmo, mas um instinto de auto-preservação da parte das camadas dirigentes. Afinal, há outras doenças que matam milhões por ano, como a malária e a tuberculose, mas como atingem principalmente os pobres, não se julgou necessário parar o mundo para contê-las.
Além disso, há o fator de que hoje o isolamento social se tornou mais fácil, graças às novas tecnologias. Pelo menos para a parte da população que tem acesso a elas.
Pedro.
Esse foi um novo vírus que ninguém conhecia direito, para o qual não havia vacina, era de fácil contágio.. claro que chamaria muito mais atenção do que uma doença comum que é a mesma todos os anos. Pra essas campanhas de repressão "vingarem", precisa haver uma certa comoção mundial, a mídia toda estar falando do assunto.. Nem todo evento tem força o bastante pra servir os propósitos dos "altruístas". Como disse a Jane Fonda, Covid foi "um presente de Deus para a esquerda". Eles estão sempre procurando oportunidades do tipo.. uma crise econômica.. um desastre ambiental que capture a atenção..
Se prestou atenção no artigo, expliquei como esses valores já estavam em alta na cultura bem antes do vírus aparecer.. dei o exemplo dos filmes, do canudo plástico, do episódio do George Floyd no Instagram que nada tinha a ver com a pandemia. Os "altruístas" sempre existiram, claro, mas antes, como a cultura era dominada por ideias melhores, o poder deles sobre a população era menor. Hoje as pessoas abrem mão das liberdades com uma facilidade incrível em nome dessas causas.. justamente por causa das ideias que ganharam força nos últimos 10, 15 anos. Se os dirigentes viessem com essas medidas em décadas passadas, por causa de um vírus como esse, duvido que a população acharia natural e se submeteria da mesma forma. Abs.
Eu gostaria de narrar uma discussão que eu tive num fórum por aí. Na qual tinham soltado uma notícias de um político nacional estaria criando uma lei para proibir a vacina para a Covid 19.
Eu afirmei que seria um erro tanto impor leis para ser contra a vacina quanto alguém que te obrigue a vacinar.
Uma pessoa respondeu sobre a importância da vacina, mas usou palavras como sacrifício.
Eu retruquei que já começou errado com a palavra sacrifício, aliás que tem sido muito comum o uso dela nesses últimos períodos. E que as pessoas sempre vão buscar a cura e relacionando isto com a liberdade, porém não é justo usar leis ou decretos para forçar o indivíduo a fazer algo com alegação de um bem maior. E que o indivíduo por seu próprio instinto o fará de acordo com sua avaliação. Ninguém com mente sã recusa uma cura (segura) para uma doença.
Boa Dood.. repare que quando as pessoas falam de sacrifício, é quase sempre com a intenção de fazer os outros se sacrificarem também.. de justificar alguma ação do governo.. pois se alguém chega pra você e fala "pra mim, o auto-sacrifício é um valor importantíssimo" e você responde "ótimo, pratique ele diariamente, fico feliz por você ter encontrado um valor importante pra sua vida" — a pessoa vai te olhar indignada.. obviamente ela não quer se sacrificar sozinha enquanto os outros perseguem seus interesses próprios.. por isso corra quando vir um altruísta se aproximando, rs. abs.
O mais interessante é que quem proferiu tal comentário é uma pessoa cética e totalmente anti social em seu conceito filosófico o que na essência seria uma pessoa mais voltada para o individualismo, mas com o surgimento de um cenário pandêmico ela mudou totalmente seu conceito. Eu acredito por uma análise primário que o quesito medo foi o catalizador dessa postura difundido por certos canais de informação. Ou talvez ela não seja individualista como eu pensava.
Não sei se o elemento anti-social tem relação com individualismo, com não ser altruísta.. conheço individualistas sociáveis, e altruístas reclusos.. Mas de qq forma as pessoas podem ser bem inconsistentes né.. agirem de uma forma numa área, e em outra pensarem algo totalmente incompatível.
Bom texto. Fiquei pensando que ontem vi uma noticia de um homem na Austrália que foi preso por fazer Yoga em um parque. O crime dele foi fazer yoga com mais de uma pessoa. Nos comentários os australianos estão dizendo que a polícia de lá está muito autoritária e com carta branca pra fazer o que quiser por causa da pandemia. https://www.youtube.com/watch?v=QdGezRouzmQ
Nas redes sociais eu tenho visto mensagens de empresas que tentam ser conscientes, como “fique junto só do seu grupo”, “não se misture com grupos desconhecidos”, "só fale com quem você conhece". Numa lanchonete eu vi um grupo de 3 amigos serem impedidos de sentarem juntos e eles tiveram que escolher qual dos 3 sentaria em uma mesa sozinho. Eu fico imaginando essas mensagens e ações em um contexto de segregação racial ou na Alemanha pré-holocausto.
Sim, agora que muitos países já têm boa parte da população vacinada.. mas as restrições persistem por causa de possíveis variantes, etc.. fica cada vez mais evidente o autoritarismo... que isso tudo não ocorreu só por causa de uma emergência terrível sem precedentes. As pessoas acham que violações de direitos precisam ser sempre uma caricatura como se vê nos filmes.. Por isso não conseguem relacionar com o que está acontecendo agora. Mas imagino que pra quem viveu na época da escravidão.. ou na alemanha nazista.. o dia a dia não era um horror constante.. a maioria das pessoas devia aceitar a realidade como era, e tocar suas vidas como se nada de extremo estivesse acontecendo.
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