sábado, 26 de dezembro de 2020

Outros filmes vistos - Dezembro 2020

Hamilton (2020): 2.0

Versão filmada do musical da Broadway que conta a história de Alexander Hamilton. Já costumo ter problemas com musicais sung-through (inteiros cantados — um formato que realmente compromete a narrativa e a qualidade das músicas) mas quando se trata de um musical onde predomina o rap, minha boa vontade vai embora. A história existe sob uma justificativa histórica/educativa: a intenção é ilustrar rapidamente os eventos principais da vida de Hamilton, e não criar uma narrativa interessante e coerente para o espectador (o que teria exigido focar em 1 ou 2 eventos centrais). Há uma completa desintegração aqui entre narrativa e música — frequentemente melodias emocionantes ou performances explosivas ocorrem sem qualquer contexto ou conexão com a emoção da cena, e tudo sempre com a atitude cínica de querer "desconstruir" figuras importantes, tornar os pais fundadores meio ridículos, moralmente questionáveis. É o musical que os anos 2010 merecem.



Wolfwalkers (2020): 4.0

Dos mesmos criadores de A Canção do Oceano, o filme conta a história de uma menina na Irlanda no século 17 que cria uma conexão com lobos místicos da floresta e precisa protegê-los dos homens da cidade (e do próprio pai) que querem exterminá-los. É uma daquelas animações com um estilo mais europeu/rústico/Naturalista que sempre tem 1 vaga garantida no Oscar entre as animações mais mainstream. Menos parado que A Canção do Oceano, mas ainda um tédio sem fim. Indicado pra quem curtiu Kubo e as Cordas Mágicas, Link Perdido, etc.




First Cow (2019): 4.0

Um "western minimalista", o filme se passa nos EUA no século 19 e acompanha 2 homens que começam a ganhar dinheiro vendendo bolinhos deliciosos num mercado da região, mas que são feitos com leite roubado da vaca de um inglês rico. Se trata de (mais um) conto anticapitalista que está ganhando prêmios importantes da crítica, e que se propõe a mostrar a "brutalidade" e as "hipocrisias" do livre mercado. Pra quem curtiu filmes dos Irmãos Coen como A Balada de Buster Scruggs ou Onde os Fracos Não Têm Vez.




A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey's Black Bottom / 2020): 4.0

O filme se passa num estúdio musical em Chicago durante uma sessão de gravação com a "mãe do blues" Ma Rainey em 1927. Não há muita história — o filme tem um estilo mais de crônica e explora diversos dramas pessoais que são expostos nos bastidores da gravação, a maioria deles relacionados a racismo. Chadwick Boseman é considerado pela crítica um dos favoritos ao Oscar (póstumo) de melhor ator. Visualmente o filme é bem cuidado, mas em geral achei uma chatice.





Alguém Avisa? (Happiest Season / 2020): 7.0

Comédia sobre duas garotas que vão passar o Natal na casa da família de uma delas, mas não podem deixar ninguém descobrir que elas são um casal. O filme tem o mérito de abordar questões LGBT com sensibilidade (sem criar caricaturas ofensivas) mas ao mesmo tempo tentar criar uma ponte pra tornar a história interessante e divertida pra todo tipo de plateia — mais ou menos como fez Com Amor, Simon (2018).  





A Festa de Formatura (The Prom / 2020): 4.0

Baseado no musical da Broadway, o filme mostra um grupo de celebridades do teatro que viaja pra uma cidade conservadora do Indiana pra apoiar uma estudante lésbica que foi barrada do baile de formatura pela própria escola. A primeira parte do filme é ótima e expõe de forma divertida a hipocrisia de artistas que abraçam causas progressistas apenas como forma de se autopromoverem. Mas daí pra frente, o próprio filme resolve "militar", abandona o tom de sátira, e se torna um espetáculo constrangedor e piegas sobre diversidade e autoaceitação LGBT. Pra quem gostou de: Glee (2009) / O Rei do Show (2017). (ler: Idealismo Corrompido)



Freaky - No Corpo de um Assassino (Freaky / 2020): 6.5

Comédia de terror do diretor de A Morte Te Dá Parabéns sobre uma adolescente que tem seu corpo trocado com o de um serial killer e tem até 24 horas pra desfazer a maldição. Divertido, com boas mortes e um clima nostálgico de anos 80, infelizmente o humor é usado muitas vezes de forma destrutiva, criando aquela mistura frustrante de homenagem com paródia que é típica do entretenimento atual. (ler: Idealismo Corrompido)




O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky / 2020): 4.0

Cientista solitário no ártico (com uma doença terminal) tenta entrar em contato com um grupo de astronautas e avisar que eles não voltem para a Terra, que foi completamente devastada enquanto eles estavam fora. Ficção dessas mais "intimistas" e melancólicas tipo A Chegada ou Ad Astra (não espere a agitação de Gravidade). (ler: Idealismo Corrompido / Pseudo-Sofisticação / Pessimismo e Senso de Vida Malevolente)




Tudo Bem no Natal que Vem (2020): 5.0

Comédia da turma responsável por De Pernas pro Ar, O Candidato Honesto, Até que a Sorte nos Separe. Leandro Hassum acorda todos os dias no natal num passe de mágica estilo Click / Feitiço do Tempo. Após muitas confusões, vai aprendendo a valorizar mais a família, o tio do pavê, o conservadorismo em geral. (ler: Mentalidade Clichê / A Importância de Ideias e Inspiração)





O Som do Silêncio (Sound of Metal / 2019): 6.5

Drama Naturalista sobre um baterista que descobre que está ficando surdo e tem que lidar com as consequências disso para sua carreira, relacionamento e saúde mental. Destaque para o trabalho de som, que simula para o espectador diversos estágios entre a audição total e a surdez. Pra quem curtiu filmes como O Rei de Staten Island, Honey BoyOitava Série. (ler: Naturalismo / Pessimismo e Senso de Vida Malevolente)





5 comentários:

Anônimo disse...

Esse "Tudo Bem..." um "Feitiço do Tempo" tupiniquim?
Pedro.

Anônimo disse...

Filmes do tipo desse "Midnight Sky" ainda tem público? O argumento, conforme descrito aqui, soa tão próximo da realidade que vivemos que fica difícil acredita que haja muita gente disposta a assistir.
Pedro.

Caio Amaral disse...

É o que mais é feito! Tanto o gênero ficção-científica quanto o terror nos últimos anos foram caminhando pra essa direção.. em vez do foco ser o escapismo, a diversão, agora todos buscam uma releitura mais "artística", "gourmet" do gênero.. algo mais subjetivo, onde o foco é o universo emocional do protagonista.. onde a ciência e a aventura são apenas pano de fundo, e a história no fundo é sobre conexões humanas.. onde os monstros não são monstros literalmente, apenas uma representação simbólica das feridas emocionais do "herói" etc.

Korvoloco Aspicientis disse...

Sobre o filme "A Festa de Formatura'', não me considero um grande fã de musicais, mas adoro os filmes clássicos com essa temática, só que de uns tempos pra cá os filmes musicais viraram verdadeiras propagandas progressistas, e mesmo quando não tem nada disso, é algo sem brilho, sem aquela inocência dos bons clássicos que encantaram gerações.

Já "First Cow", parece batido o que vou dizer, mas acho engraçado a forma contraditória como usam filmes pra criticar o capitalismo ao mesmo tempo que os estúdios, que se encaixariam perfeitamente no grupo dos ''vilões'' nas tramas desses mesmo filmes, lucram milhões às suas custas.
É como ver uma prostituta pregando castidade pros seus clientes.

Caio Amaral disse...

Eu gosto muito de musicais, mas realmente, nos últimos 30 anos saíram pouquíssimos filmes decentes no gênero. O que é compreensível, afinal quando a cultura tende pro anti-idealismo, esse é o primeiro gênero a sumir.. os outros ainda resistem a certas adaptações.

É difícil alguém promover ideias anticapitalistas sem estar se contradizendo em vários níveis.. First Cow pelo menos é um filme mais "artístico", sem grande apelo comercial, feito por uma produtora independente.. então não é tão hipócrita quanto um Mulher-Maravilha que de fato representa os grandes estúdios. Mas outra questão é que hoje em dia poucos dizem querer se livrar do capitalismo 100%.. Eles querem apenas um capitalismo "modificado", mais "responsável".. querem reduzir a desigualdade, impactar menos o planeta.. mas não se livrar de tudo.. Essa inconsistência em termos de princípios acaba servindo de carta branca pra esse tipo de contradição. abs!