terça-feira, 22 de novembro de 2022

Efeito Vertigo 3D

Uma ideia que tive há mais de 15 anos e ainda não vi realizada em nenhum filme (se eu estiver errado, me corrijam), é a de uma espécie de Efeito Vertigo (o famoso Dolly Zoom que Hitchcock usou em Um Corpo que Cai) só que utilizando recursos ópticos do cinema 3D.

Uma das coisas que nos encantam no cinema é que ele nos permite ir além de nossas limitações fisiológicas e olhar para o mundo de uma maneira impossível, nova. Nossos olhos têm uma série de características que são imutáveis — nascemos com uma lente "fixa", não podemos trocar de uma 35mm pra uma teleobjetiva, dar zoom em algo, ver em preto e branco, por exemplo, nem mesmo fazer mudanças de foco suaves, "borrar" fundos como faz uma lente de cinema, etc. 

O Efeito Vertigo de Hitchcock usa apenas 1 recurso que é de fato impossível para a visão humana: o zoom (o olho humano não pode dar zoom pois nós nascemos com uma "lente fixa" que impede variações na distância focal). O outro elemento do Efeito Vertigo é apenas o ato de se aproximar ou se afastar de um objeto, algo que todos podemos fazer. Mas ao sincronizar os 2 movimentos, Hitchcock criou um efeito visual ainda mais estranho do que o simples zoom.

Uma outra característica que é fixa nos seres humanos, mas não em câmeras de cinema, é a distância entre o olho direito e o olho esquerdo, que é responsável pela nossa interpretação do tamanho e da distância de um objeto em relação a nós.

Da mesma forma que uma lente zoom pode criar um efeito "alienígena" mudando a distância focal e fazendo uma imagem ampliar ou diminuir na tela, alterar a distância entre o olho direito e o olho esquerdo poderia criar um efeito visual igualmente estranho em filmes 3D.

Pra ilustrar melhor a ideia, imagine uma esfera ocupando 80% do seu campo de visão. Mas imagine 2 cenários diferentes: um caso onde tal esfera é uma bola de basquete a 10 cm do seu rosto, e um caso onde a esfera é o planeta Terra, a milhares de quilômetros do seu rosto (imagine você em uma estação espacial). O tamanho relativo que as duas esferas ocupariam seria idêntico nos dois casos. Porém, no primeiro cenário, a impressão que você teria seria a de um objeto pequeno próximo a você, e no segundo cenário, a de um objeto gigantesco muito longe. Isso ocorre por causa da triangulação que nosso cérebro faz, comparando a imagem do olho esquerdo com a do olho direito, e calculando a distância e o tamanho aproximado do objeto.

Filmes 3D são gravados com 2 câmeras, cada uma gerando uma imagem para um olho. Porém a distância entre câmera A e câmera B normalmente é fixa, e busca simular a distância natural entre os olhos humanos. Se você afastasse demais as 2 câmeras, e filmasse um automóvel, por exemplo, você teria a impressão de que se trata de uma miniatura de um carro, em vez de um carro em tamanho normal.

Então imagine o que ocorreria se você fizesse um afastamento gradativo da câmera A e da câmera B, mantendo o foco e o enquadramento num mesmo objeto. Você veria subitamente um objeto grande se "transformando" em uma miniatura, ou uma miniatura se transformando num objeto grande, porém com seu tamanho relativo na tela permanecendo igual.

Se filmássemos, por exemplo, o planeta Terra do espaço com uma câmera 3D que tivesse essa capacidade de afastar as duas lentes, e fizéssemos as câmeras começarem a gravar o take próximas uma da outra (simulando a visão humana), mas irem se afastando até ficarem centenas de quilômetros distantes (o que seria mais simples de se fazer em animação 3D), o resultado seria que o espectador veria, ao longo de um único take, algo gigante como o planeta Terra, mudar de aspecto até parecer um miniplaneta do tamanho de uma bola de basquete.

Pelo que vi em imagens de bastidores do novo Avatar, o James Cameron desenvolveu câmeras 3D com maior capacidade de controle sobre essa distância entre olho direito / olho esquerdo, por isso tive o impulso de registrar minha "invenção" aqui — pois se alguém como o Cameron colocar essa ideia em prática primeiro, ninguém vai acreditar que eu tive ela anos antes, hehe.

Nenhum comentário: