Acho que existe um erro conceitual básico no filme. A única parte em que o humor fez sentido pra mim foi nos créditos finais, onde vemos montagens do verdadeiro Al Yankovic em situações absurdas, ao som de uma trilha dramática. Assim como no trailer falso criado pelo Funny or Die em 2013, é divertida a ideia de contar a história de alguém como Weird Al Yankovic com o tom pretensioso e melodramático que se contaria a história de um artista como Freddie Mercury ou Ray Charles. (Me lembra de quando eu era adolescente, que a gente brincava que se a Carla Perez morresse, iriam fazer uma versão lenta da "Melô do Tchan" pra algum artista respeitado cantar no funeral, como era comum na época.). O humor viria do choque entre o tom pomposo da narrativa, e o teor não-sério do artista. Só que o filme Weird não tem esse tom melodramático consistente que seria necessário pra torná-lo uma paródia. Ele começa com a mesma atitude que uma biografia honesta sobre a carreira de Weird Al teria — o tom é descontraído, irônico, mas ainda sério. Daí, no meio disso, tenta-se inserir piadas que só funcionariam no contexto de uma paródia completamente nonsense. Outro erro é tentar fazer graça exagerando as conquistas de Al... Mostrá-lo chegando no topo das paradas, vencendo Grammys, conhecendo celebridades como Madonna, tendo momentos de inspiração, como se isso em si fosse absurdo. Se Al fosse uma figura desprezível, tivesse sido totalmente insignificante no meio da música, sugerir esse tipo de sucesso poderia ter alguma graça. Mas Al de fato ganhou vários discos de platina, de fato venceu Grammys, teve sacadas criativas que resultaram em grandes hits... Onde está a piada, então? Será que o filme tem uma visão tão baixa da comédia que, pra ele, um comediante não poderia ser tema de uma história inspiradora de sucesso? Pra mim não funcionou nem como paródia, nem como biografia (até onde entendi, pouco do que acontece no filme reflete a história de Al).
Weird: The Al Yankovic Story / 2022 / Eric Appel
Satisfação: 4
Categoria: I- / IC
Filmes Parecidos: Meu Nome é Dolemite (2019) / Artista do Desastre (2017) / TV Pirada (1989) / O Mundo de Andy (1999) / Isto é Spinal Tap (1984)
2 comentários:
Olá, Caio.
Pior que pensei parecido. Eu esperava ver uma paródia de todas estas biografias "cash grabs" e "oscar baits" que saem sempre. E lá no fundo eu queria ver também uma versão modernizada sombria do Al, para parodiar a cultura atual. Como se no ponto baixo da carreira, quando o artista começa a se envolver com drogas e prostituição, ele também compusesse paródias sombrias das músicas dos artistas. Mas em 30s de filme, logo nas primeiras cenas (o Al a pedir um papel e lápis 2B e depois a interação com a mãe na infância), eu percebi um problema de tom e parecia que o filme não sabia ao certo qual o objeto da piada.
Mas pelo lado bom, valeu pelos cameos. Ri no comentário sobre a jaqueta do Michael Jackson. A cena da festa na piscina me fez questionar se boa parte dos artistas não seriam, na verdade, personagens usados apenas em público. Como a Divine, o Salvador Dali, que talvez secretamente fossem pessoas convencionais, tivessem vidas ordinárias. Acho que seria um bom objeto de piada também se o filme o tivesse explorado.
P.S.: Lembrei de uma esquete do Comédia MTV sobre um grupo de universitários em uma república. Entre eles, o Renato Russo. Um dos universitários compõe as músicas originais com base na aparência e no dia a dia dos outros colegas, e o Renato Russo faz paródias como se fossem suas: "Que Nariz é Esse?" vira "Que País é Esse?". A esquete revela que todo o sucesso de Renato Russo foi um plágio que ele fez de versões claramente inferiores das próprias músicas. E as versões originais que ficaram conhecidas como paródias entre o público.
Oi Leonardo..! A intenção acho que era a de fazer uma paródia mesmo.. dessas biografias oscar bait.. mas pra mim faltou clareza quanto a esse objeto do humor.. eu não sabia se era tudo uma farsa, se nada daquilo tinha acontecido com Al, ou se parte era verídico e parte era exagero (até porque muita coisa que acontece não é tão improvável assim, como ele ter um pai conservador que vai contra suas ambições artísticas, quebra seu acordeão.. isso só tem graça se vc tem certeza que o filme está parodiando clichês do gênero, e é algo que nunca aconteceu com Al).
Essa esquete da MTV não me lembro.. Mas realmente, o filme tem ideias pontuais interessantes.. mas como o conceito geral é meio confuso, muitas piadas acabam se perdendo.
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