O roteiro tem umas escolhas esquisitas que tornam a história menos memorável também. Começa sugerindo que o "felizes para sempre" da parte 1 não durou muito, e após uns anos, Giselle passou a ter uma vida frustrante, sem magia, como a da maioria das mães modernas. Porém, quando Amy Adams surge na tela pela primeira vez, ela parece quase tão encantada e vendo tudo em cor-de-rosa quanto antes. Não há contraste o suficiente pra justificar o "Desencantada" do título, e a necessidade de ir embora de Nova York. Mais pra frente, quando Giselle se vê frustrada também em Monroeville, ela usa uma magia pra transformar a cidade num lugar mágico como Andalasia — só que a mudança também não é tão radical a ponto de criar um conceito memorável... Pois antes mesmo da transformação, Monroeville já parecia um lugar cenográfico, utópico. Narrativamente, costuma ser muito mais interessante você ir de um extremo para o outro nesse tipo de situação, em vez de apresentar variações ambíguas de um ambiente ou personagem.
SPOILERS: Depois disso, a história basicamente se resume a Giselle tentando desfazer o feitiço, e se torna um desses enredos onde não esperamos nada realmente emocionante ou positivo no final, apenas a eliminação de um erro (e a "cura emocional" — o momento clichê onde alguém abraça alguém, derrama uma lágrima, e feixes mágicos resolvem tudo). A ideia basicamente é que o poder corrompe, e que a busca pela perfeição é perigosa (Giselle começa a ser seduzida pelo "lado negro da força" e a se tornar uma madrasta má — o que faz com que a sequência explore menos a personalidade ingênua de Giselle, que é onde Amy Adams brilha mais). Em vez de divertir, o filme vem com uma daquelas mensagens "responsáveis" sobre aceitar as adversidades da vida, ser comedido, não exagerar muito na busca pela felicidade. É uma história "super excitante" sobre uma família que vai de um padrão de vida nota 7 pra um padrão de vida nota 8.5. A vida em Nova York não parecia particularmente terrível, nem mesmo a vida em Monroeville antes da transformação. Nada do que ocorre parece necessário. E o conflito entre Giselle e a filha/enteada é tão vago que no fim nem entendemos direito qual foi a grande "cura", o que mudou fundamentalmente entre as duas que tornará tudo melhor agora.
Disenchanted / 2022 / Adam Shankman
Satisfação: 5
Categoria: I- / IC
Filmes Parecidos: Abracadabra 2 (2022) / Espelho, Espelho Meu (2012) / Frozen II (2019) / Cinderela (2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário