Não vi muitos filmes do James Gray, mas sempre tenho uma sensação parecida quando surge um filme dele: à primeira vista, parece um filme tradicional, acessível, do tipo que seria indicado a Oscars nos anos 80. Mas ao mesmo tempo, fica uma impressão estranha de que não se trata de um filme mainstream de fato... Pois se o filme fosse tudo aquilo que ele promete à primeira vista, não seria um filme pouco comentado, passando apenas em salas alternativas. Preciso ainda assistir Era uma Vez em Nova York, Z: A Cidade Perdida... Mas Armageddon Time me esclareceu um pouco essa questão: Gray parece ser desses cineastas mais interessados em política do que em arte/entretenimento de fato. Mas que, por algum motivo, não se permite assumir isso e abandonar suas pretensões de ser um cineasta comercial. Então externamente, ele finge que está fazendo um filme convencional, pro grande público, mas é tudo uma desculpa pra ele inserir no meio da história seus comentários sociais, suas críticas ao capitalismo, etc. E o problema pra mim não é nem tanto a presença desses comentários, e sim o fato dele não ser muito empenhado (ou bom) no lado artístico do filme. As atuações, a fotografia, a direção, os diálogos... é tudo bem mediano, preguiçoso, sem o encanto e o padrão de excelência de Hollywood (o garotinho principal não é nada gostável, a imagem é exageradamente escura, há escolhas bem esquisitas de música...). Quem esperar um drama familiar pra chorar, com personagens cativantes, atuações memoráveis, algo na linha Gente como a Gente (1980), sairá frustrado. No fundo, a energia toda do filme está na mensagem sobre racismo estrutural, em sugerir que o sucesso dos brancos se deve a certos privilégios enraizados na sociedade, que meritocracia é uma ilusão, que a era Reagan foi um grande pesadelo para os EUA (e que haveria paralelos entre Reagan e Trump), etc. Só que muito disso é apresentado de forma casual, como se fosse apenas um pano de fundo pra outra coisa mais importante (o filme usa aquela tática batida que mencionei na crítica de Marte Um, de mostrar uma TV na sala passando alguma notícia, achando que isso já é o suficiente pra dar um subtexto político ao filme), só que essa "outra coisa" (o drama familiar, a amizade entre os dois garotos) não é forte o bastante pra sustentar a história.
Satisfação: 4
Categoria: NI / AI
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