Como há vários paralelos entre minha visão de cinema (Idealismo) e a filosofia de literatura da Ayn Rand (Romantismo), já pensei várias em vezes em criar uma lista de filmes alinhados com o Romantismo para dar um senso melhor das semelhanças e diferenças entre as duas abordagens. Mas como Rand escrevia principalmente sobre literatura e não deu tantos exemplos assim de filmes Românticos, tal lista teria sempre um componente de subjetividade (quando fãs de Rand tentam adivinhar que tipo de arte ela aprovaria, o resultado normalmente é desastroso).
Então, para criar uma base para discussões futuras, vou reunir abaixo os principais filmes, séries de TV, cineastas e atores sobre os quais Ayn Rand deu alguma opinião, além de algumas de suas reflexões sobre o cinema em enquanto arte:
A VISÃO DE AYN RAND SOBRE O CINEMA
"Potencialmente, o cinema é uma grande arte, mas este potencial ainda não foi realizado, exceto em casos singulares e momentos aleatórios. Uma arte que requer a sincronização de tantos elementos estéticos e tantos talentos diferentes não pode se desenvolver em uma época de desintegração filosófica/cultural como a atual. Seu desenvolvimento requer a cooperação criativa de homens que estejam unidos, não necessariamente por convicções filosóficas formais, mas por uma visão fundamental do homem; por um Senso de Vida." — "Art and Cognition", 1971
"No que diz respeito aos seus aspectos ficcionais, cinema e televisão, por sua natureza, são mídias adequadas exclusivamente ao Romantismo (às abstrações, ao essencial e ao drama). Infelizmente, ambas as mídias chegaram tarde demais: o grande dia do Romantismo havia passado, e apenas seus últimos ecos alcançaram alguns filmes excepcionais. (Siegfried de Fritz Lang é o melhor entre eles.)" — "What Is Romanticism", 1969
"A música e/ou a literatura são a base das artes performáticas e das combinações em grande escala de todas as artes, como a ópera ou o cinema. No cinema ou na televisão, a literatura é a regente e a definidora de termos. Roteiros para cinema e televisão são subcategorias do drama e, nas artes dramáticas, "a peça é o que importa". A peça é aquilo que a torna arte; a peça fornece o objetivo, para o qual todo o resto é o meio." — "Art and Cognition", 1971
Este último ponto é relevante pois indica que muitos dos princípios que Ayn Rand estabeleceu para a literatura também valem para os filmes — por exemplo, a importância fundamental da trama — ainda que ela vá destacar também a importância da direção e da linguagem visual para o cinema.
PARTE 1: APROVADOS POR AYN RAND
O FILME FAVORITO
Até onde sei, este é o único filme que Rand afirmou ser uma grande obra de arte, e seu diretor, Fritz Lang, é também o único cineasta que ela exaltou como um grande artista.
"Como exemplo de direção cinematográfica no seu melhor, mencionarei Fritz Lang, particularmente em seus primeiros trabalhos; o seu filme mudo Siegfried é o mais próximo de uma grande obra de arte que o cinema já teve. Embora outros diretores captem isso ocasionalmente, Fritz Lang é o único que realmente compreendeu que a arte visual é uma parte muito mais fundamental do cinema do que a mera seleção de cenários e ângulos de câmera — que o cinema deve ser uma composição visual em movimento. Já foi dito que se parássemos a projeção de Siegfried e cortássemos um fotograma do filme ao acaso, a sua composição seria tão perfeita quanto a de uma grande pintura. Todas as ações, gestos e movimentos deste filme são calculados para conseguir esse efeito. Cada centímetro do filme é estilizado, ou seja, condensado naqueles elementos essenciais que transmitem a natureza e o espírito da história, dos seus acontecimentos, do seu local. Todo o filme foi filmado em interiores, incluindo as magníficas florestas lendárias cujos ramos são cenográficos (mas não o parecem na tela). Segundo consta, enquanto Lang estava filmando Siegfried, um cartaz ficava pendurado na parede do seu escritório: 'Nada neste filme é acidental'. Este é o lema da grande arte. Pouquíssimos artistas, em qualquer área, foram capazes de o cumprir. Fritz Lang foi. Há certas falhas em Siegfried, particularmente a natureza da história, que é uma lenda trágica, "universo malevolente" — mas esta é uma questão metafísica, não estética. Do ponto de vista do trabalho criativo do diretor, este filme é um exemplo do tipo de estilização visual que difere uma obra de arte de um noticiário glorificado." — "Art and Cognition", 1971
OUTROS FILMES QUE AYN RAND ELOGIOU
"Ao contrário das afirmações de alguns, não havia nada de irônico ('tongue-in-cheek') sobre o primeiro desses filmes, 007 Contra o Satânico Dr. No. Foi um exemplo brilhante de arte Romântica na tela — na produção, direção, roteiro, fotografia e, especialmente, na atuação de Sean Connery. Sua primeira aparição na tela foi uma joia de técnica dramática, elegância, inteligência e sutileza: quando, em resposta a uma pergunta sobre seu nome, vimos seu primeiro close-up e ele respondeu calmamente: 'Bond. James Bond' — a plateia, na noite em que assisti, explodiu em aplausos." — "Bootleg Romanticism", 1965
Ayn Rand tinha uma opinião mista sobre Ninotchka. Em 1958, em uma discussão sobre humor, ela citou o filme como um exemplo de humor benevolente. Porém, anos depois, ela apontou que o filme, apesar de excelente artisticamente, era problemático pois o comunismo, assim como o nazismo, era um assunto grave demais pra ser tratado com leveza.
"Ernst Lubitsch foi o único diretor de cinema famoso por comédias românticas. Ninotchka, o filme estrelado por Greta Garbo que ele dirigiu, é um bom exemplo: é comédia, mas também um romance elevado. O que é motivo de riso são os aspectos sórdidos e indesejáveis da vida — e o que transparece por meio do humor é o glamour, o romance e os aspectos positivos. No tipo benevolente de humor, sempre há algo de bom envolvido, como em Ninotchka, onde o herói e a heroína são bastante glamourosos. Eles não são engraçados — algumas de suas aventuras são; ou eles estão agindo de forma humorística em relação a certas coisas, mas não de uma maneira que subestime sua própria dignidade, valor ou autoestima." — The Art of Fiction, 1958
"Ninotchka é um excelente filme. É brilhantemente realizado, e ainda assim, quando o vi pela primeira vez, embora pudesse admirá-lo tecnicamente, ele me deprimiu enormemente. A razão é que o tema não é engraçado. Lembre-se de que quando Ninotchka retorna à Rússia de Paris e descreve seu lindo chapéu, sua colega de quarto pergunta: "Por que você não o trouxe?", e Ninotchka responde: "Eu teria vergonha de usá-lo aqui." A colega responde: "Era tão bonito assim?" A plateia ri, mas isso não é engraçado. É muito eloquente e típico da atmosfera russa. É uma frase boa e realista, e por isso não é assunto para humor. Além disso, suponho que o criador do filme seja anticomunista, porque ideologicamente o filme é anticomunista. No entanto, observe: ao tratar o assunto humoristicamente, ele deixa você com um elemento de simpatia — com a ideia de que o mal é irreal. Ninotchka foge da Rússia, assim como os três comissários engraçados. E num toque inteligente, o filme termina com um dos três iniciando confusão com os outros dois novamente. O que essa cena faz com a realidade dos males que eles devem simbolizar? Faz você sentir, "Ah, sim, Rússia; isso é Ninotchka" — uma desaprovação bem-humorada. Faz você sentir que esses russos são travessos quando na verdade são maus. Nesse sentido, Ninotchka é um filme moralmente inadequado. Artisticamente, Ninotchka é bem feito. Mas para apreciá-lo, você deve ignorar (pelo menos durante a duração do filme) a natureza de seu contexto. O mesmo seria verdadeiro se você transpusesse Ninotchka para a Alemanha nazista. Como você se sentiria sobre um filme que brincasse com os campos de concentração, e no qual algum guarda ou torturador bem-humorado de um campo finalmente escapasse da Alemanha. Não seria engraçado ou apropriado." — Ayn Rand Answers, 1969
O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker / 1962 / Arthur Penn)
Rand era uma grande admiradora da peça de William Gibson que, até onde ela sabia, era a única "peça epistemológica" já escrita: "Ela prende o espectador com um suspense tenso e crescente, não sobre uma perseguição ou um assalto a banco, mas sobre a questão de saber se uma mente humana irá ganhar vida". A avaliação que Rand faz é da peça, não do filme, mas como ela comenta no texto que Patty Duke teve um "desempenho superlativo" tanto no teatro quanto na versão para o cinema, sabemos que ela viu o filme, e podemos supor que gostava de ambas as versões. — "Kant Versus Sullivan", 1970
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Inferno na Torre (The Towering Inferno / 1974 / John Guillermin)
"Li o livro original 'No Calor da Noite', e era uma ficção leve e ruim. Tudo de bom sobre o filme — os toques sérios — foi adicionado a ele, e é por isso que gosto muito de Stirling Silliphant. Ele também foi o roteirista de alguns desses grandes filmes de terror, um dos quais vi outro dia na TV, Inferno na Torre, que foi muito bem feito para o que é. Mas No Calor da Noite é sua obra-prima. Ele nunca o igualou." — Ayn Rand Answers, 1980
"Muitos romances do século 19, como 'Quo Vadis' e 'A Letra Escarlate', são excessivamente escritos em narrativa direta. (Este é um defeito pequeno em comparação com os valores literários dessas duas obras.) Um aspecto positivo do antigo filme mudo A Letra Escarlate, estrelado por Lillian Gish, foi que ele dramatizou (na maioria dos casos muito bem) eventos importantes que no romance são apenas relatados." — The Art of Fiction, 1958
Rand citou o filme no contexto de uma discussão sobre fantasia na literatura:
"O filme Que Espere o Céu (1941) foi uma história psicológica fascinante sobre um pugilista falecido cuja alma retorna à Terra. Ele não deveria estar morto — houve algum erro na contabilidade celestial, então ele é enviado de volta no corpo de um milionário que acabou de morrer. Ao assumir a existência desse milionário, ele aprende um modo de vida diferente. Como havia uma questão humana racional envolvida, a história foi muito interessante." — The Art of Fiction, 1958
Dança: Musicais com Fred Astaire / Bill Robinson — Rand não citou filmes específicos, mas podemos supor que ela gostava de alguns musicais do Fred Astaire ou do Bill Robinson, pois escreveu em "Art and Cognition" que sapateado era sua forma de dança favorita, e que Astaire e Robinson eram seus maiores expoentes.
Além dos filmes que Rand comentou pessoalmente em seus textos e entrevistas, sabemos sobre alguns de seus favoritos através de biografias e depoimentos de amigos pessoais.
Na biografia "The Passion of Ayn Rand" e no documentário de 1996 Ayn Rand: A Sense of Life (indicado ao Oscar!), os seguintes filmes aparecem entre os favoritos da juventude de Rand na Rússia (juntos com Os Nibelungos - A Morte de Siegfried):
A Princesa das Ostras (The Oyster Princess / 1919 / Ernst Lubitsch)
The Indian Tomb (1921 / Joe May)
A Ilha dos Navios Perdidos (The Isle of Lost Ships / 1923 / Maurice Tourneur)
Sobre este último, Rand comentou em uma carta para Henry Blanke (produtor da versão para o cinema de The Fountainhead):
"Acredito que A Ilha dos Navios Perdidos, que pertence à Warner Bros., seja uma das melhores histórias para o cinema de todos os tempos, e quero encorajá-lo entusiasticamente a fazer uma versão moderna dela. Esta história tem um conflito central extremamente dramático — o tipo de ideia que contém todos os elementos de uma verdadeira trama." — Letters of Ayn Rand, 1949
Mary Ann Sures, que foi amiga de Rand por muitos anos, confirma no livro Facets of Ayn Rand que Os Nibelungos - A Morte de Siegfried era seu filme favorito, e lista alguns outros que ela gostava:
De acordo com Mary Ann Sures, Rand achava que Casablanca tinha uma ótima trama e "nenhuma palavra de diálogo desnecessário". Ela gostava da cena final, em que a câmera se afasta para revelar Rick e Louis caminhando no aeroporto à noite, "em direção ao futuro". Rand não achava inapropriado o final "triste", pois apesar do romance entre Rick e Ilsa ser um elemento grande da trama, o foco do filme estava no personagem do Rick e sua redenção. No começo do filme, Rick é um homem cínico, bêbado, amargurado, e ao longo da história, entendemos o motivo disso, e vemos ele se transformar em um homem decidido, pronto para lutar pela liberdade de novo.
Mary Ann Sures disse que Ayn Rand achava o filme "um romance encantador, com uma trama inventiva".
We The Living (Noi vivi / 1942 / Goffredo Alessandrini)
Durante a 2ª Guerra, o livro de Rand "We The Living" foi adaptado para o cinema na Itália sem seu conhecimento. Quando Rand finalmente viu uma cópia do filme em 1948 ela se surpreendeu positivamente com a produção, embora tenha reclamado do final e de algumas alterações no texto: "O filme é muito bom, e a performance da garota no papel principal [Alida Valli] é magnífica. Mas eles deturparam o final da história de forma que perdeu um pouco o fervor." — Letters of Ayn Rand, 1948
DIRETORES ELOGIADOS
Como já citado, Rand considerava Fritz Lang o melhor diretor de cinema:
"Fritz Lang é o único diretor que realmente compreendeu que a arte visual é uma parte muito mais fundamental do cinema do que a mera seleção de cenários e ângulos de câmera — que o cinema deve ser uma composição visual em movimento." — "Art and Cognition", 1971
Especialmente em sua juventude na Rússia, o diretor favorito de Ayn Rand era Cecil B. DeMille, com quem ela viria trabalhar mais tarde ao se mudar para Los Angeles:
"Ele fazia filmes com tramas, e a maioria deles eram glamourosos e românticos. Seus filmes religiosos não eram exibidos na Rússia, então eu não sabia sobre eles; mas ele era famoso na Rússia por glamour, sexo e aventura. Ele era meu ideal particular da tela americana. Meus parentes podiam ter me dado uma carta de recomendação para qualquer um dos estúdios, mas eu escolhi DeMille." — "The Passion of Ayn Rand"
Sobre Hitchcock, Rand expressou um misto de admiração e ressalvas:
"Alfred Hitchcock, o último cineasta que conseguiu preservar sua estatura e sua audiência, consegue se safar com Romantismo através de uma ênfase excessiva na malevolência ou no puro horror." — "What is Romanticism?", 1969
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PARTE 2: REPROVADOS POR AYN RAND
FILMES QUE AYN RAND CRITICOU
"Não houve muitos aplausos na noite em que vi o segundo filme, Moscou Contra 007. Aqui, Bond foi introduzido dando beijinhos escolares no rosto de uma garota insípida de maiô. A história era confusa, às vezes incompreensível. O suspense construído de forma habilidosa e dramática por Fleming foi substituído por coisas convencionais, como perseguições comuns envolvendo apenas perigo físico. Ainda irei assistir ao terceiro filme, 007 Contra Goldfinger, mas com sérias desconfianças." — "Bootleg Romanticism", 1965
"[Stirling Silliphant] também escreveu O Destino do Poseidon, que foi horrível e chato." — Ayn Rand Answers, 1980
Gênero: Terror e filmes do Boris Karloff — Embora em 1958, no curso The Art of Fiction, Rand tenha falado positivamente de livros como Frankenstein e O Médico e o Monstro, por serem histórias de fantasia com mensagens racionais, em 1969, no artigo "What Is Romanticism", ela caracterizou a literatura de horror como o "fim da linha" no processo de desintegração do Romantismo:
"A História de Terror, em qualquer variante, representa a projeção metafísica de uma única emoção humana: o terror cego, cru, primitivo. Aqueles que vivem nesse terror parecem encontrar um momento de alívio ou controle ao reproduzir aquilo que temem — assim como os selvagens encontram uma sensação de domínio sobre seus inimigos ao reproduzi-los na forma de bonecos. Em suas motivações básicas, essa escola pertence mais à psicopatologia do que à estética... O ancestral moderno desse fenômeno é Edgar Allan Poe; sua expressão estética arquetípica ou mais pura são os filmes de Boris Karloff." — "What Is Romanticism", 1969
Gênero: Musicais com Jeanette MacDonald e Nelson Eddy — Rand expressou certo desprezo pela dupla no artigo "Art and Cognition" quando disse: "Gosto de música de opereta de um certo tipo, mas eu preferiria ouvir uma marcha fúnebre ao 'Danúbio Azul' ou ao tipo de música de Nelson Eddy e Jeanette MacDonald."
"Este é um exemplo de história mística/sobrenatural que é totalmente injustificada. É uma fantasia sobre um homem no presente que se apaixona por uma mulher que morreu anos antes; daí o tempo é encurtado e ela volta para encontrá-lo em diferentes estágios de sua vida, tudo num intervalo de poucos meses — primeiro ele a encontra como uma menina de 12 anos, depois como uma adolescente, daí como uma jovem garota, tudo isso intercalado por discussões tolas sobre a natureza do tempo: "ah, nossas pobres mentes, não podemos compreender nada". Quando você se desconecta completamente da razão e brinca com o sobrenatural apenas pelo sobrenatural, daí vale tudo e você termina com esse tipo de filme. Pra dar crédito ao público, o filme foi um fracasso tremendo de bilheteria, como deveria ter sido, porque há muitos filmes ruins, mas este é pretensiosamente ruim." — The Art of Fiction (áudio), 1958
Embora ela não tenha avaliado o filme como um todo, quando lhe perguntaram se Matar ou Morrer tinha uma trama, Rand respondeu que não; que o filme dramatizava a psicologia do xerife, mas que não havia um real conflito entre ele e o vilão, nem uma progressão de eventos: "O xerife precisa enfrentar certos bandidos, o povo da cidade não se mostra disposto a ajudar, então ele os enfrenta sozinho. Onde está a trama?"
"Considere uma das melhores obras do Naturalismo moderno — Marty, de Paddy Chayefsky. É uma representação extremamente sensível, perspicaz e comovente de um homem humilde tentando se autoafirmar. Pode-se sentir simpatia por Marty e um prazer meio triste com seu sucesso final. Mas é altamente duvidoso que alguém — incluindo os milhares de Martys da vida real — se sentiria inspirado por seu exemplo. Ninguém poderia sentir: 'Eu quero ser como Marty.' Mas todos (exceto os mais corruptos) podem sentir: 'Eu quero ser como James Bond.'" — "Bootleg Romanticism", 1965
Segundo Mary Ann Sures, Ayn Rand (que gostava muito da Katharine Hepburn), reprovou os toques Naturalistas do filme, que pareciam desglamourizar os protagonistas desnecessariamente — durante a sessão, ela reagiu negativamente à cena do chá em que o estômago de Humphrey Bogart começa a roncar e gorgolejar, ao visual sujo e despenteado Bogart e à aparência simples de "solteirona" que deram para Hepburn.
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Canção da Rússia (Song of Russia / 1944 / Gregory Ratoff, Laslo Benedek)
Em 1947, Ayn Rand concordou em testemunhar contra estes dois filmes perante o Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas, que investigava a infiltração comunista em Hollywood. Inicialmente, Rand iria discutir ambos os filmes. No fim, ela só foi autorizada a falar sobre Canção da Rússia, que ela considerava um filme "desimportante e antigo". Ela achava mais urgente discutir a propaganda política embutida em filmes mais populares daquele momento, como Os Melhores Anos de Nossas Vidas. Como não foi Rand quem fez a seleção dos filmes, não dá pra saber se esses dois entrariam em sua lista dos piores da época em termos de ideologia. Mas sem dúvida, eram filmes com os quais ela não simpatizava no aspecto político.
Leonard Peikoff recomendou Fúria da Carne para Ayn Rand dizendo que era um grande filme (ele tinha se encantado com a personagem da Anna Magnani, que para Peikoff, lembrava muito a Ayn Rand em temperamento e aparência). Uns dias depois, Rand foi ver o filme, e na volta ligou para Leonard indignada: "Qual é o filme que você me indicou? Era esse mesmo sobre as ovelhas?!". O filme se passa em um ambiente rural e inclui uma cena em que uma ovelha dá à luz em frente às câmeras; foi provavelmente Naturalista demais para Ayn. — Centenary Reminiscences of Ayn Rand by Leonard Peikoff
Rand se orgulhava do roteiro que escreveu para o filme (adaptado de seu próprio livro), mas teve reações mistas ao resultado final. Inicialmente, a produção parecia um sonho: Gary Cooper era um dos atores favoritos de sua juventude, durante a pré-produção, ela chegou a dizer que King Vidor era um dos melhores diretores na indústria (Letters of Ayn Rand), e todos estavam comprometidos a filmar seu roteiro sem alterações. Porém, durante as filmagens, ela começou a ter diferenças criativas com Vidor, se frustrou com uma frase crucial que foi cortada do discurso final sem sua autorização, e achou a performance de Cooper engessada, sem a intensidade adequada. De acordo com a biografia "The Passion of Ayn Rand", ela teria dito ainda que King Vidor era "o pior homem que podiam ter encontrado para The Fountainhead. Ele era um Naturalista, então não tinha mente nem imaginação para o livro."
DIRETORES CRITICADOS:
"Deixe-me dizer enfaticamente que eu não sou uma admiradora de Ingmar Bergman, nem em seu papel como diretor, nem em relação aos temas que ele seleciona para seus filmes. Seu trabalho, para mim, é um exemplo de mediocridade pretensiosa, subjetivista e guiada por misticismo." — "The Moral Factor", 1976 (palestra)
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OUTROS
SÉRIES DE TV QUE AYN RAND GOSTAVA
Perry Mason (1957–1966)
As Panteras (Charlie's Angels / 1976—1981) — "É a única série de TV Romântica hoje. Ela não é realista. Não é sobre a sarjeta ou sobre crianças retardadas como as outras séries de hoje. É sobre três garotas atraentes fazendo coisas impossíveis. E o fato de serem impossíveis é o que a torna interessante. A série mostra três garotas que são melhores que a chamada 'vida real'". — entrevista com Phil Donahue, 1980
Os Intocáveis (The Untouchables / 1959—1963)
Além da Imaginação (The Twilight Zone / 1959–1964) — em particular o episódio "Eye of the Beholder"
Dragnet (1951–1959)
Kojak (1973–1978)
Raízes (Roots / 1977)
ATRIZES DAS QUAIS AYN RAND GOSTAVA: Greta Garbo, Marlene Dietrich, Katharine Hepburn (particularmente em seu primeiro filme, Vítimas do Divórcio), Marilyn Monroe, Barbara Stanwyck, Farrah Fawcett.
NBI — "THE ROMANTIC SCREEN"
Na segunda metade dos anos 60, o Nathaniel Branden Institute (NBI) começou a fazer exibições de filmes para estudantes do Objetivismo. Como tudo que o NBI fazia na época era aprovado por Ayn Rand, podemos assumir que os filmes exibidos tinham relevância para o Objetivismo, ainda que não saibamos o contexto exato (alguns filmes podem ter sido exibidos simplesmente por terem sido baseados em obras literárias que Rand admirava).
De acordo com Barbara Branden em "The Passion of Ayn Rand", entre os filmes exibidos no "The Romantic Screen" estavam:
Os Brutos Também Amam (Shane / 1953 / George Stevens)
Quo Vadis (1951 / Mervyn LeRoy, Anthony Mann)
Vitória Amarga (Dark Victory / 1939 / Edmund Goulding)
Quem souber de outros filmes avaliados por Rand, comente que posso ir acrescentando à lista no futuro.
4 comentários:
Olá, Caio.
Duas observações: Gostaria de saber a sua opinião pessoal mais elaborada dos filmes que a Rand citou, seria muito importante pra mim em um nível pessoal. E faltou também o The Miracle Worker (1962) que ela menciona como o único "filme epistemológico". Está no Philosophy - Who Needs It, Capítulo 9, Kant Versus Sullivan.
Valeu Leonardo, post atualizado já com The Miracle Worker! Eu lembrava dela gostar da história, mas não sabia ao certo onde tinha escrito, e se tinha chegado a falar do filme em si.. no texto Kant Versus Sullivan ela se refere basicamente à peça. E eu quis evitar nesse post comentar as peças que Rand gostava, pq aí viraria um livro.. Mas no texto ela faz um comentário sobre a performance da atriz na versão para o cinema, então há um link que já justifica a inclusão..!
Como são vários filmes (e alguns dos antigos eu nem vi) preciso pensar como seria uma forma boa de dar meus comentários..!
Verdade! era sobre a peça mesmo. Fazem alguns anos que li este livro e por alguma razão pensei este tempo todo que ela falou somente sobre o filme.
Atualização: comentário de Ayn Rand sobre O Retato de Jennie (1948) no trecho dos filmes REPROVADOS por ela.
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