quarta-feira, 31 de março de 2021

Março 2021 - outros filmes vistos

Bad Trip (2021): 6.0

Comédia que mistura ficção com pegadinhas "reais" estilo Sacha Baron Cohen. Embora eu não goste deste formato, comparando com Borat, Bad Trip tem um humor mais bem intencionado, não é motivado por política — eu particularmente gosto mais, dei algumas boas risadas (Eric André parece um cruzamento dos irmãos Wayans com Jackass) mas claro que eventualmente a falsidade de algumas das pegadinhas começou a arruinar a graça pra mim. Tentei me esforçar pra tirar o foco disso (agir como um espectador "normal") e no começo estava dando certo, pois acho que muita coisa de fato pode não ter sido combinada... Mas bastou 1 cena obviamente desonesta, como a que o carro capota e "explode" a poucos metros de "pedestres", pra eu desconfiar de todo o resto e achar que o filme estava me chamando de burro. Valeu por algumas piadas no entanto.



Professor Polvo (My Octopus Teacher / 2020): 4.0

Indicado ao Oscar 2021, o documentário acompanha um cineasta/mergulhador no sul da África que forma uma "amizade" com um polvo, que o ensina a ser mais "humano" e a ter mais apreço pela natureza. Achei o filme triste e perturbador... Eu realmente não tenho essa visão romântica da vida selvagem; onde o cineasta enxerga beleza, eu vejo apenas vazio, uma existência horrível, um animal com uma vida curta, que vive sozinho, num estado de medo constante, onde tudo é sobre matar ou ser morto, cuja biologia é toda voltada pra se esconder, se proteger, escapar da morte, nada positivo. Algumas das cenas de animais comendo outros animais são de embrulhar o estômago, sem falar que o polvo é uma das criaturas mais feias do planeta — ver o cineasta tentando retratá-lo de forma poética é como a experiência de ver uma cena de amor entre a Sigourney Weaver e o "Facehugger" de Alien. Craig Foster não tem carisma pra carregar o documentário sozinho, e suas reflexões não são tão ricas a ponto de tornar documentário interessante do ponto de vista psicológico/filosófico. É curioso pensar como seu estado emocional acaba provocando essa visão trágica da vida; como o Senso de Vida de uma pessoa e as coisas nas quais ela escolhe focar definem todo o tom da realidade física ao redor dela. Consigo imaginar um outro documentário sobre o fundo do mar que não me causasse o mesmo incômodo, se narrado e dirigido por outra pessoa. Mas Craig Foster era claramente uma pessoa deprimida em sua vida anterior na "civilização". Ele foi pro mar e se apegou ao animal numa tentativa de fugir da realidade, da depressão, mas em vez de se livrar dela, ele parece apenas ter trazido sua escuridão para um novo ambiente.



The United States vs. Billie Holiday (2021): 6.5

Estava curioso pra entender por que a crítica não tinha gostado tanto deste filme (exceto pela performance de Andra Day), mas adorado A Voz Suprema do Blues, por exemplo, e me parece que o motivo é o fato da bússola política/moral do filme ser um pouco ambígua e às vezes ir contra os ideais progressistas do momento, o que é uma grande desvantagem se seu objetivo é ganhar prêmios. O filme tem seus problemas; o roteiro é um pouco confuso, desestruturado, e eu pessoalmente não sou fã dessas biografias que focam na decadência dos artistas. Mas em geral achei um filme honesto, e a performance de Andra Day de fato é incrível, uma dessas estreias no cinema que de tão maduras e acertadas parecem inexplicáveis.



Cherry - Inocência Perdida (Cherry / 2021): 6.0

Tom Holland faz um estudante que vai pra guerra do Iraque nos anos 2000, volta com Transtorno do Estresse Pós-Traumático e começa a se afundar em drogas e crimes. É um desses filmes tipo Réquiem para um Sonho que parecem se orgulhar de serem "barra pesada", e concentram seus esforços criativos não em coisas positivas, mas em retratar o fundo do poço dos personagens de forma impactante e "cool". Temas como drogas, crime, guerra, prisão são ótimos pra esse tipo de "culto à dor", e esse filme dá um jeito de costurar isso tudo numa trama só. É certamente envolvente, bem produzido — mas bem mais clichê e juvenil do que provavelmente gostaria de ser. 



Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder's Justice League / 2021): 4.0

Não vi diferença alguma entre a primeira versão e esta em termos de qualidade cinematográfica — qualidade de história, direção, texto, performances, ação... Continua tudo tão vazio e enlatado quanto antes, apenas bem mais longo e pretensioso, o que na verdade torna o filme pior na minha visão — afinal, quando algo não é muito bom, o ideal é que seja o menos pretensioso possível (uma versão de 1h30 do filme talvez tivesse mais chances de subir no meu conceito do que esta de 4h, que apesar de ter todo o tempo do mundo, ainda não consegue criar uma experiência satisfatória, conclusiva, tendo que inserir vários ganchos no epílogo pra dar aquela sensação de que tudo não passou de um aperitivo e "o melhor ainda está por vir"). Me senti maratonando uma série de TV (coisa que não faço), como se algum seriado desses atuais tivesse se disfarçado de filme, empurrado o padrão estético da TV (e seus problemas) para o mundo do cinema, e conseguido me trapacear para consumi-lo.



The Mauritanian (2021): 7.5

História real de um prisioneiro de Guantánamo que ficou detido por anos sem provas concretas (por suspeita de envolvimento no 11/9), e uma advogada que lutou ao seu lado por justiça. É um daqueles filmes que parecem "estranhos" hoje em dia justamente por serem bons; por se parecerem com um filme de verdade, como se fazia antigamente... Há 20 anos talvez não fosse um grande destaque (não chega a ser tão bom quanto um Questão de Honra, que me parece a comparação mais óbvia), mas hoje merece reconhecimento por ter um roteiro sólido, ótimos atores, uma produção redonda, e por simplesmente ser decente em termos de valores... por conseguir contar uma história que fala de política, mas que não cai no discurso partidário vulgar, que nos lembra que racionalidade, justiça e liberdade estão acima de tudo, e são os únicos valores capazes de trazer pessoas de diferentes origens e crenças a algum acordo.



Raya e o Último Dragão (Raya and the Last Dragon / 2021): 6.0

Parece uma amálgama de Mulan, Moana e diversas produções recentes da Disney, tentando trazer uma mensagem de união, paz, ajudar a combater a polarização da sociedade atual, etc. A protagonista Raya é uma dessas "princesas" mais cínicas e modernas que me dão um pouco de preguiça, e o roteiro é extremamente clichê e familiar. Mas comparando com outras animações recentes, acabou me parecendo uma das menos negativas. A mensagem de união não chega a inspirar muito por ser bem fantasiosa e desconectada da realidade — em vez de sugerir que o bem pode vencer o mal, há uma noção meio mística aqui de que o mal nem existe no fundo, que se todos derem as mãos e confiarem uns nos outros, poderemos "voltar" a viver numa espécie de Jardim do Éden, etc. Há também a obsessão habitual por auto-sacrifício e uma série de toques duvidosos, mas na balança final acho que os pontos positivos compensam os negativos. Em termos de visual e de trilha sonora foi um dos filmes mais bonitos que vi no último ano.



Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America / 2021): 6.5

Sequência do sucesso de 1988, o filme tenta ser fiel à estética e ao espírito do original, e até que não se sai mal (os figurinos em particular continuam incríveis). O filme só não é tão engraçado quanto, em partes porque a história do primeiro era essencialmente mais cômica e divertida (a ideia de um príncipe africano disfarçado na América, animado pra viver como um pobre no Queens). No segundo, já existe um toque de correção política no coração da trama que estraga um pouco o humor e diminui o carisma de Eddie Murphy — sem falar que o rapaz que faz o filho dele foi um erro de casting grotesco, um dos personagens mais sem graça que já vi. Ainda assim, achei agradável e bem intencionado de modo geral.



Duas Tias Loucas de Férias (Barb and Star Go to Vista Del Mar / 2021): 5.0

Duas amigas inseparáveis que nunca viajaram resolvem ir de férias pra Flórida e viver uma grande aventura. Kristen Wiig e Annie Mumolo formam uma boa dupla e o começo é divertido (o humor é muito em cima da "cafonice" associada ao estado e a senhoras de classe média), mas como toda comédia atualmente, falta uma boa dose de seriedade no roteiro e principalmente uma curadoria melhor de piadas — as boas sacadas acabam sendo ofuscadas por outras que de tão péssimas te tiram a coragem de indicar o filme. Algo na linha de A Missy Errada (2020) ou Festival Eurovision da Canção (2020) - embora Eurovision ainda esteja uns pontinhos acima.



41 comentários:

Anônimo disse...

Num dos trailers de "Raya" no Youtube, vi um comentário em inglês que resumiu o filme assim: "Mulan encontra Avatar e aprende como treinar o seu dragão".

Pedro.

Caio Amaral disse...

É bem isso! rs. A trilha tem umas coisas meio africanas que lembra Avatar, embora o filme seja sobre a cultura oriental.. sei lá se lá também existe esse tipo de música.. ou se qualquer coisa que pareça meio "étnica" já vale, rs.

Anônimo disse...

Americanos tem uma tendência enorme pra confundir tudo quando olham pra fora de suas fronteiras. Nos filmes, quando falam da América Latina, misturam o Brasil com Argentina e México, confundem as culturas da China com a do Japão. Em geral, o cinema americano quando mostra o mundo exterior se interessa mais por "exotismo" muitas vezes nada verdadeiro. Dizem na internet que Spielberg não teria conseguido autorização para filmar cenas de "Indiana Jones e o Templo da Perdição", porque o governo indiano teria se indignado com cenas como a do banquete do menino marajá, cheio de pratos repugnantes.
https://www.youtube.com/watch?v=APyz8Ye0IxE
Pedro.

Caio Amaral disse...

Sim, isso é bem tradicional.. basta lembrar da Carmen Miranda, etc. Não sou contra o uso de estereótipos dependendo do tipo de filme, de quem é o "alvo", como é feito... Mas uma coisa é essa necessidade às vezes de se criar caricaturas (o que ocorre até com os próprios heróis), outra coisa é cometer erros que fazem o filme parecer burro.. como achar que no Brasil se fala espanhol, que samba é música da Espanha, etc.. isso é sempre indesejável.

Indiana Jones e o Templo da Perdição tem muitas coisas tiradas de Gunga Din (1939), inclusive os vilões indianos.. e Gunga Din também foi banido na India.. é bem interessante de assistir e ver as semelhanças..

Dood disse...

Quanto a esse lance de bem e mal subjetivos, geralmente o mal é descrito como uma entidade em algumas produções ocidentais que desvirtua o coração das pessoas. Mas tem o lado também dos vilões com motivações malignas.

Caio Amaral disse...

Oi Dood.. aqui os monstros são umas fumaças sem forma.. que nasceram da "discórdia humana".. é um conceito curioso até.. mas não deixa de refletir o subjetivismo/emocionalismo do cinema atual.. onde tudo é uma questão emocional, e os problemas físicos do mundo externo se dissolvem quando vc resolve conflitos/traumas subjetivos.. esse é o novo "príncipe encantado".. a solução mágica que resolve os problemas da mocinha e traz a felicidade eterna.. rs.

Anônimo disse...

Esses monstros, descritos assim, soam meio parecidos com o vilão Hexxus de Ferngully, uma animação australiana que algumas pessoas consideram um protótipo de Avatar. Só que o Hexxus ainda tinha alguma forma, voz e personalidade.
https://www.youtube.com/watch?v=l9Z3zcTSvh0

Pedro.

Caio Amaral disse...

Ahhh... no Raya é só uma fumaça mesmo sem personalidade humana! Uma emoção flutuante, desencarnada, rss.

Korvoloco Aspicientis disse...

Um Príncipe em Nova York 2 talvez fosse um dos filmes que eu mais esperei pra ser lançado esse ano justamente porque o primeiro é considerado por mim uma das melhores comédias dos anos 80, além do fator nostalgia, claro. Mas quando assisti a tão aguardada sequência, que decepção...
Aquela filha mais velha do Eddie Murphy, assim como o filho bastardo foram um erro. Eu acelerava o vídeo na maior parte das cenas que esses dois entravam, e eu quase nunca faço isso nos filmes que assisto, quase nuca, mesmo. Sem falar que o filme não podia ficar 10 minutos sem que houvesse alguma frase ou uma insinuação de ideais progressistas.
Tudo bem que mais pro final esses dois filhos do personagem do Eddie Murphy se redimem um pouquinho, mas nessa altura do campeonato a imagem deles já havia se desgastado.
Sem mencionar outros furos de roteiro que me incomodaram também. Tudo bem que é pra ser uma comédia, mas como um reino próspero como aquele permitiria um invasor entrar no palácio real com capangas armados com metralhadoras como se fosse uma casa qualquer? E ainda diante de um soberano? E é justamente nesses momentos é onde o filme tenta se levar mais a sério.

Anônimo disse...

"...como um reino próspero como aquele permitiria um invasor entrar no palácio real com capangas armados ..."?
Pode ser coincidência, mas o Mulan de 1998, onde o Eddie Muprhy havia dublado o dragão Mushu - cortado na versão live-action - fez coisa no final, onde a meia dúzia de bárbaros que sobreviveu à avalanche provocada por Mulan durante a guerra invade a Cidade Proibida e toma o imperador como refém, numa sequência pra lá de absurda que foi uma das muitas coisas que os chineses detestaram na animação da Disney.

https://www.youtube.com/watch?v=HTpZELFKH2w

Pedro.

Caio Amaral disse...

Korvoloco, eu lembrava muito pouco do primeiro.. até tive que rever ele antes do 2 estrear, e curti bastante.. mas não tinha aquela expectativa de quando somos fã de um filme desde pequeno.. talvez isso tenha amenizado a frustração hehe. Esses pesonagens mais jovens do filme são bem chatos mesmo.. acaba sendo uma boa ilustração de como a Hollywood atual e a nova geração de talentos está aquém do que deveria. Não acho que eles fizeram o filme com a intenção de corromper o original (o que é bem comum).. Tive a sensação que eles até quiseram homenagear e ser fieis ao original, tanto que os roteiristas são os mesmos, trouxeram muitos dos atores.. mas daí se sentiram na obrigação de dar uma "atualizada" nos temas pro público atual..

Isso do Wesley Snipes entrar e sair do palácio quando bem entende achei bem nada a ver tb (a cena de Mulan citada pelo Pedro eu não me lembro pra dizer se tem algo em comum). Como tava falando sobre "Duas Tias Loucas de Férias".. é raro comédias terem roteiros inteligentes.. vira meio que um vale tudo, onde o único propósito é colocar os atores em situações onde eles possam fazer palhaçadas.. e se não faz sentido tudo bem, pois eles acham que o espectador entende que "é só uma comédia".. abs!

Leonardo disse...

Olá, Caio.

Eu lia muito Orwell na minha juventude (por desconhecer Ayn Rand) e recentemente li tanto A Revolução dos Bichos quanto 1984 novamente. Concordo plenamente com tuas afirmações e acrescento que Orwell era socialista trotskista. Me escapa à memória o nome dos personagens da fábula, mas estes todos são uma contraparte das personalidades reais da revolução soviética e Orwell demonstra uma admiração muito grande pelos ideais leninistas-marxistas puros, não-corrompidos pelo Stalin.

A crítica de Orwell é a de que o socialismo foi corrompido por Stalin e se tornou tão opressor quanto os porcos capitalistas que eram os originais inimigos. Psicologicamente, Orwell tem pouca diferença daqueles socialistas modernos que dizem que a URSS, Venezuela, China ou Cuba “não foi socialismo de verdade”.

Já em 1984 é a qualidade literária como escritor que compromete a interpretação da obra. Como Orwell oculta suas “verdadeiras cores”, seus princípios, cada lado do espectro político usa 1984 como lhe for conveniente. Mais ou menos o que fazem com Jesus Cristo ao selecionar apenas elementos secundários, superficiais, de menor importância (como se opor ao governo de César ou ao comércio e aos ricos), e afirmar que Jesus seria de direita ou de esquerda. Mas assim como em Orwell, seus admiradores se esquecem que o essencial está na moralidade do altruísmo, da renúncia, na irracionalidade e no subjetivismo.

Abraços.

Caio Amaral disse...

Exatamente, Leonardo..! No A Revolução dos Bichos, o que se entende é que o socialismo só não deu 100% certo pois alguns porcos gananciosos corromperam o sistema.. se tornaram "capitalistas".. queriam dormir em camas confortáveis (veja que pecado).. mas antes estava tudo ótimo do ponto de vista do autor: todos iguais, fazendo serviço braçal, trabalhando de acordo com sua capacidade (que é algo genético/fisiológico — nada se fala da mente criativa de cada um), em prol do coletivo, sendo liderado pelo porco "central-planner".. Esse é o trecho mais feliz da história, onde tudo parece perfeito, onde o autor mostra o que ele considera o certo/ideal.. A mensagem que fica é que temos que preservar a pureza desse sistema inicial.. e não rejeitar o socialismo — quem interpreta isso não entendeu o "positivo" que foi apresentado. Abs!

Anônimo disse...

Muitos divulgadores de Orwell focaram mais nas críticas ao stalinismo e ao totalitarismo em geral, feitas em suas obras mais conhecidas, "Animal Farm" e "1984", que na ideologia do autor. Mas há quem ache que mesmo que esquerdismo teria interessado a alguns de seus divulgadores no ocidente. Um livro publicado há alguns anos, chamado "Quem Pagou a Conta? - A CIA na guerra fria da cultura" afirmou que o CIA teria conduzido um projeto visando divulgar uma série de escritores e artistas de linha esquerdista, mas críticos em algum grau do regime soviético, como George Orwell, Hannah Arendt, Ignazio Silone e Arthur Koestler (cujo livro "Darkness at Noon é considerado uma das fontes de inspiração para o "1984"), com o objetivo de dividir a esquerda, e reduzir a influência de Moscou nos movimentos socialistas.

Pedro.

Caio Amaral disse...

Pois é.. infelizmente a maioria das pessoas estão presas ao altruísmo.. então elas até conseguem criticar um aspecto do socialismo (como essa versão totalitária) mas são incapazes de rejeitá-lo na base.. na ética altruísta/coletivista.. e defender o individualismo que seria a alternativa.

Anônimo disse...

Essa versão de Liga da Justiça foi o “cenas deletadas” mais caro já feito.

Caio Amaral disse...

Bem isso.. rss.. e li que pretendem lançar agora uma versão em preto e branco.. o que seria outra tática superficial pra fazer o filme parecer mais "artístico" (o que chamo de pseudo-sofisticação), assim como a decisão de deixar a imagem no formato 4:3.

Dood disse...

O Zack Snyder é aquele tipo de diretor que todo mundo acha maduro por colocar tudo com cores desbotadas e em preto e branco, mas narrativamente é bem repetitivo. Os fãs do Universo Cinematográfico da DC ao menos conseguiram aquilo que queriam até porque eles pediram muito por isso, o que é bem raro hoje em dia. Apesar de ser uma vitória de um estilo que nem gosto, mas isso mostra uma certa postura que estão tomando. Assim como reclamaram do desing do Sonic do filme como foi apresentado, foram lá corrigiram para algo mais próximo aos jogos.

Caio Amaral disse...

Parte dessa estética dark parece ser influência do Christopher Nolan, que também está envolvido na produção né..?

Não sabia desses pedidos dos fãs... O filme original já me parecia feito com essa mentalidade de agradar fãs... atender o mercado... então seria mais autêntico uma versão do diretor que fosse contra isso.. e não apenas elevasse o fan service pra um novo patamar, hehe. abs!

Caio Amaral disse...

Talvez o dilema aqui não seja entre ser mais autoral vs. mais comercial... e sim entre agradar os fãs "normais" (2h de filme são o bastante) vs. agradar os fãs "hardcore" (4h de filme).. rs.

Anônimo disse...

Aparentemente o filme foi refeito porque não usaram a cor correta do uniforme do superman. Fanservice é um pouco mais complicado do que apenas fazer um filme de herói. O filme precisa reproduzir fielmente uma outra mídia tipo os quadrinhos em vez de ser original. A reclamação dos fans era a de que o Joss Whedon foi original demais, e a versão do diretor Zack Snyder na verdade é a menos criativa e com menos ideais originais. Isso sim agrada os fans.

Caio Amaral disse...

Ah sim imagino que deva ser um trabalho complexo e cheio de minúcias..! Nada contra agradar os fãs.. o problema pra mim é quando pra isso eles desrespeitam 2 princípios: 1) quando a obra deixa de ser uma expressão autêntica do autor e decisões passam a ser tomadas por executivos com objetivos puramente comerciais 2) quando o filme se torna uma experiência subjetiva; se comunica com os fãs através de referências internas, símbolos, nostalgia, e quer agradar com base nisso, não com base em uma história envolvente que funcione pra todos, etc.

Korvoloco Aspicientis disse...

Eu assisti Liga da Justiça e por mais que eu prefira o universo da DC, não achei o filme aquelas coisas também não. Não vou mentir, curti sim alguns momentos, mas não da maneira como deveria ser.
Que fixação é essa do Zack Snyder com câmera lenta? Se não tivesse tantas câmeras lentas talvez o filme tivesse 1 hora a menos de duração.
E as tais ''frases de efeito''? Como aquela em que quando o Lobo da Estepe está lutando contra a Mulher Maravilha e diz para seus capangas: ''Ela agora é minha'' e a mulher maravilha responde: ''Eu não sou de ninguém'', cadê a criatividade dessa gente? Essas falas idiotas fazem as frases de efeito de Velozes e Furiosos parecerem poesias.
Claro que não podia faltar a violência gratuita, com pessoas sendo desmembradas e sangue jorrando.
E qual o motivo do Superman usar o traje preto? Eu achei que o filme criaria uma situação inevitável pra isso, mas não, apenas porque o Zack Snyder achou que ficaria legal e quis assim. E se ao menos o filme tivesse terminado com aquele discurso do pai do Victor, teria fechado com um pouco de decência, mas aí cortam pra uma visão pós apocalíptica do Batman que só serviu pra encher linguiça, quebrando todo o clima da narrativa.
Pior que sábado eu revi o Superman clássico de 1978, com aquelas cores vivas, aquele otimismo gostoso que Hollywood tinha na época e tal, pra domingo ver esse Liga da Justiça e me lembrar de como Hollywood está ajudando a fazer desse mundo um lugar um pouco mais sombrio, menos otimista.
Sabe, nunca fui um desses saudosistas que adoram viver do passado, mas as circunstâncias atuais estão me obrigando a isso.

Caio Amaral disse...

Oi Korvoloco.. só pra mostrar pros leitores que eu não vejo esses filmes cego pra qualquer qualidade positiva, vou falar de 1 momento que eu gostei: quando o Batman joga aquele morcego de metal no Flash e ele desvia — achei legal pois com 1 única ação, o Batman descobre os poderes do Flash, e simultaneamente o Flash descobre a identidade/poderes do Bruce Wayne.. achei esperto, cinematográfico (avança a história visualmente).. A questão é que nos grandes filmes, vc encontra boas ideias como essa em toda cena praticamente, e não 1 a cada hora e meia, etc.

Engraçado, lembro que essa frase "Eu não sou de ninguém" me desconcentrou totalmente da ação.. tive que parar por alguns segundos pra refletir sobre a ruindade do diálogo. Outro ponto baixo do roteiro é aquela narração épica próxima do fim.. com umas frases genéricas do tipo "o Agora é você...", típicas de quem não tem nada pra dizer mas tem que preencher a página em branco..

Não sei se há uma razão pro traje preto do Superman levando em conta a mitologia, etc.. Mas pra mim parecia inevitável; uma evolução natural da "dessaturação" do uniforme que já tinha começado em 2006 no filme do Brandon Routh. O filme de 1978 parece realmente de um universo distante.. Tenho curiosidade de ver se a história vai se repetir, e se depois desse "fundo do poço" que estamos culturalmente vai surgir uma onda mais otimista em reação. Pois se vc pensar, no início dos anos 70 a cultura ainda não estava nada no clima pra um blockbuster como Superman. abs!

Dood disse...

O fato é que os fãs não gostaram muito do outro liga, que tinha começado a ser feito pelo Snyder e o Joss Weldon terminou ele. Até porque o pessoal fã da DC sempre se gaba de ser mais maduro mais sério que o fã da Marvel, por causa do humor de não ter uma trama pesada, que o Snyder passa pra essa gente. Lembro de um podcast que eu ouvi sobre Snyder que o Snyder que seus filmes parecem coisas de adolescente revoltado que passa imagem de adulto. Isso até remete um texto seu que tem em seu livro sobre as pessoas se apegaram a valores não ou anti idealistas como se fosse algo para demonstrar maturidade.

Caio Amaral disse...

Verdade Dood.. a "pseudo-sofisticação" que já citei aqui.. realmente tem mais disso nesses filmes da DC do que nos filmes da Marvel.. esses dias o Yaron Brook fez uma live no YouTube com o Bradley Thompson sobre os jovens da "nova direita" nos EUA.. e eles descrevem um perfil que associo mais e esse universo estético do Snyder.. a Marvel já costuma flertar mais com a esquerda, embora não haja muita regra ou consistência (Mulher Maravilha 1984 por exemplo foi super "progressista"). abs!

y. disse...

Olá Caio, então a questão da liga da justiça foi a seguinte (resumindo):
Logo após batman v superman, o Snyder começou a trabalhar em liga da justiça, porém sua filha Autumn se suicidou e ele teve q sair do projeto. A warner ent chamou o Whedon pra continuar o filme, e ele colocou algumas piadinhas e mudou mta coisa do original q o Zack tinha filmado, os fãs deram um rage e desde 2017 existe a #ReleaseTheSnyderCut. Sobre o traje preto do Clark, é uma referencia a hq 'a morte do superman'.

Não assisti esse liga da justiça do Snyder ainda, porém eu amo Watchmen e Batman v Superman q ele dirigiu (talvez pelo fato de eu ser adolescente ainda).

Dood disse...

Bom Caio o finado Stan Lee era do movimento New Left pelo que andei lendo, mas dentro da sua editora tinha divesas cabeças: Jack Kirby (um cara mais conservador), Steve Ditko (que pelo que li em sua bio era um cara simpatizante do Objetivismo tanto que seu personagem Questão que ele criou na DC comics).

Eles fundaram muito do que é o universo Marvel hoje, então há uma variedade de histórias no universo HQ.

DC temos o Alan Moore, que suas histórias costumam ter uma visão mais de esquerda e ele puxa muito na desconstrução do arquétipo de herói deixando mais "humano". Ele é um habilidoso roteirista, mas ele é bem anti idealista em suas histórias. Watchmen a HQ é dele, depois que virou filme.

Não sei te dizer se quem curte Marvel é mais para esquerda nem quem curte DC é mais para a direita do espectro político, até porque conheço exceções pontuais de fãs. Eu diria que muitos que são fãs da DC que são de esquerda são por conta de muita coisa que o Moore fez.

Sem contar que nos últimos tempos o Alan Moore tava atacando os fãs de HQ por conta da eleição do Trump.

Caio Amaral disse...

Oi Y., como falei, no fim não vi uma grande diferença em termos de qualidade cinematográfica.. mas do ponto de vista dos fãs, a diferença sem dúvida será maior, pois esses detalhes como a cor do uniforme acabam tendo grande relevância. Pelo que você disse, acho que irá curtir a nova versão..!

Dood, realmente.. esses filmes feitos pras grandes massas costumam ser uma sopa de valores contraditórios.. dificilmente refletem uma visão política consistente, então cada um enxerga o que quiser ali.. Vejo mais uma diferença de tom.. A Marvel no cinema parece ter uma atitude mais anti-heroica, gosta de usar aquele "humor" que sempre critico pra diminuir a estatura dos personagens.. tem uma queda por underdogs, etc. É uma postura mais compatível com a da esquerda, mas nada que chegue a definir a posição política do espectador.. hehe. abs!

Dood disse...

Um ponto onde se pode frisar é que o Universo Cinematográfico da Marvel e DC é uma coisa, outras mídias (HQ e desenhos) são outra. Principalmente a fonte que são as Hqs mais antigas, porque as histórias atuais se recheiam desses valores de anti heróis e similaridades. Tanto que agora os filmes pautam as Hqs, isso é explicitamente visto em muitas publicações da Marvel atual.

Caio Amaral disse...

Exato.. cada filme é uma obra independente.. e não diz nada necessariamente a respeito do que veio antes.. tento julgar sempre isoladamente, embora eu ache útil saber de onde o filme está vindo, pois isso ajuda a identificar a intenção do diretor.. tipo: se a obra original era mais romântica e a continuação/adaptação acrescenta vários toques de cinismo.. isso te diz algo sobre o autor.

Dood disse...

Sim, é porque é um misto de característica daquele universo que o diretor e o roteirista aproveita para atender certos requisitos. Um caso desses é o Pantera Negra: ele foi lançado com uma proposta de criar todo um engajamento social para o movimento negro. Só que a origem original do personagem é que ele era um vilão do Quarteto Fantástico tanto, que ele chega a fornecer o vibranium para o Doutor Destino - um vilão com comportamento ditatorial que é governa um país fictício chamado Latvéria, sendo que ele passa por um período de redenção e se alia aos mocinhos. Outra que tem a origem omitida é a Capitã Marvel cujo é um título passado para sucessores. E o primeiro Capitão Marvel foi um homem que lutou contra Thanos e morreu de câncer acho que por conta do poderes.

Você só saberá isso se acompanhar o Gibi, só que essa geração de novos nerds tem repaldo dos filmes e muitos desconhecem isso.

Caio Amaral disse...

Em geral os filmes dizem mais sobre os tempos atuais do que sobre suas origens criativas né.. vai tudo sendo moldado pra atender uma demanda atual.. por isso hoje eu não me empolgo nem um pouco quando anunciam uma sequência/remake de algum filme antigo que eu gosto.. quase lamento..

Korvoloco Aspicientis disse...

Eu também fico incomodado com esse papo de que ''podemos aprender mais com os animais'', como se animais tivessem alguma noção do que é o bem e o mal. Esses dias eu revi Patch Adams, com Robin Williams, e numa cena em que ele estava emocionalmente abalado depois do assassinato da namorada, disse para o colega que ''os humanos são os únicos animais que matam membros da sua própria espécie'' (ou algo parecido, não lembro ao certo agora), e aí as pessoas ouvem uma coisa dessa e concordam plenamente, como se os próprios animais não vivem se matando constantemente por disputa de território, alimento, fêmeas no cio e etc. Inclusive tenho uma vizinha que tem uma cadela que comeu seus filhotinhos assim que nasceram.
E pra piorar, tem imbecis que falam que os humanos são maus por causarem tantas desgraças no mundo e com a própria espécie e logo depois falam também que a raça humana deveria ser extinta... Nem mesmo os maiores genocidas que viveram na face da Terra quiseram o fim total da humanidade, então para mim, quem diz uma asneira dessas tem uma mentalidade mais doentia que Hitler ou Stalin.
Outro exemplo que vi uma vez numa dessas páginas de Facebook que vive postando coisas de bichos, e numa publicação tinha um filhote de tigre dormindo abraçado com um porquinho e com os dizeres: ''A raça humana deveria aprender mais com os animais''. Tá, mas na natureza essas duas espécies jamais seriam ''amigas'' e se esses dois animais estão juntos, foi justamente por influência dos humanos que os cuidavam.
O problema que ando notando nessas últimas décadas é que as pessoas colocam tanta expectativa em seus relacionamentos, desde familiares, amorosos e em amizades, que acabam se decepcionando, aí a solução para eles é se apegar em um gato ou cachorrinho. Ou seja, esses animais são apenas uma forma de disfarças suas carências. E esse documentário, mesmo eu não tendo assistido, mas lendo suas crítica, me pareceu que foi feito para um público que se auto-intitula ''pais de pet''.

Anônimo disse...

Sinceramente, um filme de super-heróis com quatro horas de duração me parece um exagero sem tamanho. Se fosse Guerra e Paz, Dom Quixote, a Odisséia, se justificaria um filme tão longo, mas histórias saídas de gibis, de gente fantasiada brigando com vilões absurdos e destruindo o que estiver no meio do caminho? Aí fica difícil duvidar da decadência cultural dos nossos tempos.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Korvoloco.. essa ideia é muito popular, de que a civilização tornou o homem alienado de sua própria natureza.. e isso quase sempre é um ataque à razão.. como se nossa inteligência e livre arbítrio fossem coisas artificiais, malignas, contrárias à natureza.. e pra "evoluir" teríamos na verdade que voltar pra um estágio mais primitivo de consciência.

Esse exemplo do tigre com o porco é típico.. hehe.. Outro que costumo achar engraçado é quando as pessoas falam da pureza e da benevolência dos cachorros, esquecendo que é um animal que foi totalmente moldado pelo ser humano pra se tornar amigável, "fofinho".. e não um bicho que já era assim 100.000 anos atrás.

Realmente, esse apego emocional extremo a pets costuma estar ligado a carência e especialmente a depressão.. assim como o apego extremo à religião pode ser uma consequência de algum sofrimento muito profundo, de uma visão trágica da vida.. e aquilo se torna uma tábua na qual a pessoa se agarra pra não afundar. Até já comentei aqui no blog que filmes religiosos e filmes sobre animais de estimação têm muito em comum.

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Pedro, verdade.. Alguns clássicos têm substância, histórias ricas, complexas, que justificam uma duração do tipo. Mas não um filme desses... Talvez seja apenas mais um sintoma da "pseudo-sofisticação".. pois um filme com mais de 2h30 automaticamente ganha um ar de importância, de ser um épico digno de aclamação, etc. Mas não sei se não pode ter algo a ver também com aquele exemplo negativo de escapismo que comento meu texto sobre Fantasia — pessoas que mergulham em certas atividades não necessariamente pelo entretenimento ou pelo que aquilo traz de enriquecedor, mas mais pra tirar o foco da vida real.. como quem fica vendo TV o dia todo meio fora de foco.. ou esses casos mais extremos de pessoas que ficam tranquilamente jogando um jogo por 6, 7, 8 horas consecutivas..

Dood disse...

Gibis nunca vão ser como literatura clássica, apesar de ter boas histórias quanto as ditas. O negócio e que quem adapta faz o que quer. Veja o Snyder, aliás não sei como as pessoas conseguem gostar tanto. Eu vi só Watchmen, que era adaptacao dos quadrinhos do Alan Moore, no cinema e achei bem desgastante na época. Minha namorada dormiu na sessão.

Dood disse...

Só um adendo: boas histórias vpro nível que um Gibi apresenta.

Caio Amaral disse...

Acho que quadrinhos podem ter ótimas histórias sim.. mesmo sem a riqueza de detalhes da literatura.. são experiências diferentes. Mas como não tenho conhecimento, não sei dizer o que existe de bom.. e esses que são adaptados pro cinema não costumam me atrair.

Dood disse...

As adaptações das Hqs são muito aquém as histórias de fato, as séries animadas da Warner e as da Marvel dos anos 90 são as que mais se aproximam do material impresso.

Salvo exceções como 300 e Watchmen que se aproximam mais do material idealizado por seus criadores: Frank Miller e Alan Moore respectivamente. Até porque, como citei anteriormente, Snyder consegue transmitir a cosmovisão destes tanto que existem pessoas que dizem que o Batman de Affleck tem um quê da versão do Frank Miller, este oriundo da saga Cavaleiro das Trevas sendo que os filmes tem pouco a ver com a proposta da HQ de Miller também.

Caio Amaral disse...

Pois é.. no fim a responsabilidade é sempre dos roteiristas, dos diretores.. se eles forem bons, vão conseguir criar um bom filme a partir de qualquer material, e se forem ruins, vão arruinar até o maior clássico da literatura hehe. abs!