terça-feira, 26 de março de 2013

Anna Karenina

Foi indicado a 4 Oscars (e ganhou o de figurino, merecidamente) essa adaptação do clássico literário de Liev Tolstói roteirizada por Tom Stoppard e dirigida por Joe Wright (Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação). O filme mostra a tragédia da aristocrata russa Anna Karenina (Keira Knightley) que é casada, prestigiada e aparentemente leva uma vida ideal, mas põe tudo em risco pra viver um romance com um oficial sedutor chamado Vronsky.

O filme combina um conteúdo trágico com um estilo exuberante e extremamente sofisticado. Por um lado, a história nos leva a um mundo cruel onde a razão é impotente, sua aparência física e seus impulsos sexuais determinam o curso da sua vida, sua felicidade pessoal depende de você ser aceito pela sociedade, etc. É uma visão negativa de mundo ("universo malevolente" como diria Ayn Rand - que detestava o livro) mas por outro lado tudo é apresentado com uma beleza cinematográfica espetacular. Os cenários, a fotografia, o figurino, a direção - a produção toda é um exercício em perfeccionismo e bom gosto (esse contraste entre o conteúdo pessimista e o estilo suntuoso lembra trabalhos do Kubrick, David Lean e da dupla Michael Powell e Emeric Pressburger).


Wright fez a escolha ousada de situar quase todo o filme dentro de um teatro, dando um toque experimental pra produção (lembrando a gente até de Dogville). Foi isso o que mais dividiu a crítica em relação ao filme, e muitos acusaram o diretor de colocar estilo acima de conteúdo. Realmente falta uma justificativa boa pro filme ser contado dessa forma. Wright disse que queria fazer algo diferente e focar na essência da história - e pensou num teatro pois segundo ele a sociedade russa da época vivia e se vestia "como se estivesse num palco". Mas como é que o público vai chegar a essa mesma metáfora? Pra gente soa algo aleatório; apenas o diretor querendo ser original a qualquer custo. Mas até certo ponto me diverti com a abordagem, pois gosto de fantasia e de tudo que foge do comum e vai pro lado da imaginação, da criatividade (há momentos em que o filme se torna quase um musical, com tudo muito estilizado e coreografado). Claro que não daria pra ser tão tolerante se isso prejudicasse o roteiro e o andamento da história de maneira séria.


Tenho certas implicâncias com a história - a gente nunca sabe por exemplo se o romance entre Anna e Vronsky é baseado num sentimento mais sério, ou se se trata apenas de atração sexual. Isso não justificaria a traição, mas mudaria o sentido da história. Também não sabemos direito por que o relacionamento deles entra em crise. De uma cena pra outra Karenina aparece neurótica, ciumenta, sendo que antes era uma pessoa madura e controlada... Ele deu motivos pra ela agir assim? Ou ela está enlouquecendo? Isso tudo torna difícil de julgar a história moralmente, pois ela pode ter várias leituras diferentes.

Mas não deixa de ser um drama envolvente, atemporal, e cheio de observações ricas a respeito dos relacionamentos e do comportamento humano (ou pelo menos do comportamento humano em seus momentos menos admiráveis). E a produção por si só já faz valer o ingresso.

Anna Karenina (Reino Unido / 2012 / 129 min / Joe Wright)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Desejo e Reparação, Orgulho e Preconceito, A Duquesa, Barry Lyndon, A Filha de Ryan, etc.

NOTA: 8.0

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