sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Aquarius
(Esta crítica está no formato de anotações - os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)
ANOTAÇÕES:
- Legal a maneira do filme apresentar a história do apartamento (o que será importante depois pra justificar o apego da personagem ao lugar). O apartamento realmente ganha vida, parece fazer parte da história dessas pessoas. Até os móveis têm personalidade (chocado com as lembranças que a avó tem da cômoda enquanto os netos fazem a homenagem - a classificação 18 anos não tinha sido um exagero não!).
- Bizarro esse exercício de respiração na praia, todos deitados um em cima do outro. O cineasta tem estilo e retrata as coisas de maneira diferente, o que torna o filme mais interessante do que obras Naturalistas em geral.
- Me irrita um pouco que tudo no filme tenha um subtexto político. Vários detalhes são inseridos de maneira meio forçada só pra mostrar que a Sonia Braga (apesar de ter dinheiro) é uma mulher "do povo", que trata bem os empregados, se mistura com os pobres, aceita o filho gay, etc. E quando surge o Diego (o "vilão" da construtora - o coxinha, capitalista, etc), nós sabemos que ele está ali só pra representar tudo o que o cineasta odeia na sociedade. Não há nada de errado com a avaliação que o filme faz desses personagens em particular (a Sonia Braga realmente parece uma mulher admirável e o cara da construtora é de fato odioso), mas fica a sensação de que o filme é motivado primeiramente por ódio, e não pelo desejo de criar algo positivo pra plateia. Ele quer incitar ódio não apenas contra esse vilão em particular, mas contra "burgueses" em geral. Por exemplo, mostrando ricos como traficantes de droga na praia (o que é meio contraditório - a própria Sonia Braga não é uma mulher rica que fuma maconha?).
- A Sonia Braga está muito bem. É daquelas performances onde a atriz parece estar interpretando a si mesma, mas não deixa de ter o seu mérito. Há momentos de muita sutileza e autenticidade. E a personagem está certíssima em não querer vender seu apartamento. É direito dela, ela faz o que quiser com sua propriedade.
- Surreal a cena em que a personagem está dançando e a rede do prédio ao lado passa pela janela. O cineasta às vezes coloca estilo acima de conteúdo, mas não deixa de ser curioso.
- Naturalismo. Há muitas cenas irrelevantes, que servem só pra explorar a caracterização da personagem (ela indo ao baile com as amigas, ouvindo música, tocando piano, indo ao cemitério, etc). E daí, só a cada 10 ou 20 minutos acontece algum evento que realmente progride a "trama". É o que o Robert McKee chama de "minimalismo" ou "mini-plot". Mas o filme não chega a ficar totalmente chato, afinal a protagonista é interessante e o estilo do cineasta também ajuda.
- Mais ódio: a filha da Sonia Braga consegue ser um personagem quase tão detestável quanto o do vilão.
- SPOILER: Chocante a orgia no andar de cima. Ou mesmo a cena em que a Sonia Braga transa com o garoto de programa. O filme é cheio de imagens chocantes, o que não torna o filme necessariamente melhor, mas pelo menos o impede de se tornar monótono (o casal fazendo sexo na grama, ou até a fralda suja do bebê, etc).
- Quando há o grande bate boca entre a Sonia Braga e o Diego no estacionamento, ela se mostra pela primeira vez meio tola e preconceituosa. No fundo ela parece estar falando tudo o que o cineasta gostaria de falar pra essa "gente". A cena acaba tirando um pouco da nobreza e maturidade da protagonista, pois ela generaliza e condena não apenas o comportamento do Diego, mas de toda a "raça" dele.
- Só nos últimos 20 minutos a história começa a ganhar mais ritmo (ela resolve ir atrás dos papéis pra se defender contra a construtora, etc).
- SPOILER: Como reviravolta de roteiro, é interessante a ideia do cupim (mas existe mesmo um cupim capaz de demolir prédios?!?!). O final na construtora também é vagamente satisfatório.
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CONCLUSÃO: Não sou fã do Naturalismo, não gosto do sentimento de ódio que permeia a história, mas ainda assim é um filme respeitável, com uma performance marcante da Sonia Braga e uma direção cheia de personalidade.
Aquarius / Brasil, França / 2016 / Kleber Mendonça Filho
FILMES PARECIDOS: Boi Neon / O Lobo Atrás da Porta / O Som ao Redor
NOTA: 6.0
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11 comentários:
Sim, existem cupins que desenvolveram uma mutação e podem comer cimento.
Uau.. coisa de ficção-científica msm hehe.
Quem foi que escreveu este texto? Alguém do governo, que ajudou a proibir que o filme fosse indicado ao Oscar?
O olhar politizado é todo de quem escreveu. Péssima resenha.
Que olhar raso.
Segunda "crítica" q recebo hj..
Pronto, resolvido: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564x/1c/8d/56/1c8d568d0b2fa28c132477627b72444b.jpg
q isso gente.. um olhar não-raso? kk.
Não tenho opinião sobre o filme, que não vi, mas acho meio ridículo essa história de que tenha sido perseguido pelo governo. Que eu saiba, Aquarius estava entre vários filmes apresentados a um comitê para escolher o indicado, então em princípio qualquer um poderia ser escolhido. Mesmo que a escolha do outro filme seja injusta, injustiças ocorrem aos montes nessas seleções e no próprio Oscar. Ou o fato deles protestarem contra o impeachment da Dilma tornaria obrigatória a indicação do filme?
É que normalmente tem sempre 1 filme nacional no ano que se destaca muito mais que os outros entre crítica ou público.. e esse ano foi o Aquarius.. então o povo acha que deveria ter sido a escolha natural pro Oscar.. como ele não foi indicado, indicaram um filme pior e conservador, e teve a polêmica de Cannes.. o povo ligou os pontos e concluiu: perseguição do governo! Mas não acho q tenha sido isso necessariamente.. o comitê deve saber que o Oscar tb é conservador em alguns aspectos, e dificilmente dá prêmios pra filmes com sexo explícito.. coisas subversivas meio Lars von Trier, etc..
Acabei de assistir esse filme, não achei grande coisa, mas não concordo com a critica feita nesse texto. Primeiro que é assim mesmo que são feitos negócios no capitalismo. Não é respeitada a propriedade privada ( a da Clara não foi respeitada ). É uma visão realista, portanto. Sobre a questão das drogas, o tráfico não tem a ver com a liberação. A liberação acabaria com o tráfico, se a esquerda defende a liberação, ainda assim pode criticar o tráfico, que não entra em contradição. Mas o que é criticado nessa cena não é nem o tráfico, e sim a hipocrisia de já ter uma certa tolerancia ao tráfico para pessoas ricas, o que indica uma corrupção do sistema proporcionada pelo dinheiro.
Entendi e achei válida a dua resenha, afinal foi simplesmente o registro das suaa impressões sobre esse filme. Senti falta de referências à trilha sonora e aos outros momentos em que há uma certa interação entre pensamentos e sonhos com a realidade. Gostei muito desse filme. Mais do que de Bacural, diga-se por oportuno.
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