NOTAS DA SESSÃO:
- A ambientação em Coney Island nos anos 50 é bem interessante, mas a história em si começa um pouco morna, com personagens pouco atraentes, uma situação não especialmente empolgante (a chegada da filha não transforma a vida do casal pra algo mais interessante; não é criado um verdadeiro suspense em cima dos gângsters, a relação entre a filha e o casal é meio desagradável, etc).
- A fotografia do Vittorio Storaro é bem chamativa e tem momentos lindos, mas é de novo o que falei em Café Society: a história não parece pedir um visual tão exuberante assim (não há nada de tão glamouroso a respeito desses personagens e dessa situação pra justificar o estilo, então o visual às vezes parece não casar direito com o conteúdo).
- Me incomoda um pouco ver a Kate Winslet nesse papel. Não acho que ela fica bem interpretando essa mulher comum, imperfeita, mal humorada. É como se o papel a reduzisse, em vez de fazê-la brilhar. Ela pra mim é tipo uma Julie Andrews, uma Julia Roberts... Sua aparência transmite uma nobreza, uma pureza de espírito tão grande que se torna frustrante vê-la menor que isso. Curiosamente, acho que esse é o primeiro filme do Woody Allen em mais de 40 anos sem a participação de sua diretora de casting "oficial", Juliet Taylor, o que talvez explique essa escolha duvidosa.
- O caso entre ela e o Justin Timberlake também não convence direito, os 2 não têm química alguma. E não há uma mensagem interessante a respeito de fidelidade, casamento, etc. É apenas Woody expondo sua visão trágica de relacionamentos mais uma vez. Depois pra piorar há a reviravolta chata do Justin se interessar pela enteada da Kate. É a velha ideia de que não adianta ter qualquer tipo de virtude, pois no fim os homens sempre serão dominados por seus instintos primitivos e irão escolher ficar com a novinha fútil e sexy.
- O monólogo da Kate Winslet embaixo do píer na primeira cena de sexo tem uns momentos bonitos.
- Mais Pessimismo: em vez da Kate perceber que essa aventura com o Justin foi um erro desde o início e tomar responsabilidade pela situação, ela vai ficando cada vez mais desequilibrada e ciumenta, e sua vida vai virando cada vez mais um inferno (em cima disso ainda tem o filho colocando fogo nas coisas - algo que não tem muito propósito na história exceto criar uma espécie de simbolismo pra destruição). Não é como em Blue Jasmine, onde podíamos rir da neurose da Cate Blanchett e encarar a decadência dela de maneira não-séria.
- Essa visão pessimista da natureza humana às vezes me soa como uma tentativa de justificar as escolhas erradas das pessoas: afinal, se você se convence que a condição humana é mentir pra si mesmo pra poder sobreviver, que razão e emoção estão sempre em conflito (você admira uma pessoa, mas sente atração por outra) então se você trai seu marido, por exemplo, isso é apenas "natureza humana", não é sua responsabilidade totalmente.
- Achei difícil de acreditar que a Kate Winslet roubaria o dinheiro do marido pra comprar um relógio de ouro pro Justin. Toda essa transformação dela de uma mulher normal pra uma maluca completa não convence direito. Se ela fosse desequilibrada desde o começo, uma figura caricata, menos humanizada, daí seria mais fácil de aceitar.
- SPOILER: A ideia pro assassinato da Carolina é boa. Os filmes mais modernos do Woody Allen quase sempre têm essas reviravoltas inteligentes onde 2 ou 3 elementos da história se unem de maneira engenhosa e irônica.
- SPOILER: O final é apenas mais uma afirmação de que a vida é trágica. A Kate continua no casamento infeliz, trabalhando como garçonete, e a confusão toda não serviu pra nada. A imagem final do filho observando a fogueira é só pra dizer que há algo de niilista na natureza humana - que temos certo fascínio pela destruição em si, etc.
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CONCLUSÃO: Inteligente e bem realizado como se espera de um filme do Woody Allen, mas a história e os personagens dessa vez não são dos mais envolventes.
Wonder Wheel / EUA / 2017 / Woody Allen
FILMES PARECIDOS: Café Society (2016) / Magia ao Luar (2014)
NOTA: 6.0
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