NOTAS DA SESSÃO:
- Filmes de sequestro costumam já ter uma premissa minimamente envolvente, e nesse caso, pela vítima ser o neto do homem mais rico do mundo, a situação é ainda mais interessante.
- Muito boa a apresentação do personagem do J. Paul Getty. A maneira como ele fez sua fortuna com petróleo, os diálogos no início sobre tudo ter um preço (o que nos faz pensar na atitude dele no futuro diante do sequestro). Christopher Plummer está ótimo. E é divertida a maneira como ele se recusa a pagar o resgate. O filme não o mostra como alguém detestável, um vilão, e sim como um homem consciente, não emotivo, que simplesmente entende que não é uma boa ideia negociar com criminosos. Tanto que depois ele contrata o Mark Wahlberg pra ajudar no resgate.
- O fato da Michelle Williams ser distante do Getty, brigada com o ex-marido, torna a situação dela ainda mais complicada (ter que pedir uma fortuna pro ex-sogro que não dá a mínima pra ela).
- Divertidíssimo o Getty e suas mesquinharias (instalar um telefone público em casa para as visitas, etc). Outro ótimo momento é quando ele fala do problema das liberdades que o dinheiro traz e dos parasitas que vivem ao redor dele.
- A suspeita de que o neto possa ter armado o próprio sequestro cria uma reviravolta interessante no meio.
- SPOILER: Ótimo o trecho onde achamos que os bandidos executaram o garoto (por ter visto o rosto dos sequestradores), há toda a sequência do reconhecimento do corpo, e no fim não era o menino. O roteiro é realmente bom. Consegue criar diversas surpresas e variações em cima de uma situação que poderia ser monótona, apenas o garoto sequestrado e a família tentando achá-lo. Logo depois disso há a cena em que a polícia invade o cativeiro, mas daí o garoto já foi vendido, etc.
- Divertida a cena em que achamos que o Getty está negociando o resgate, mas daí ele está apenas comprando um quadro. O filme está sempre brincando com nossas percepções.
- SPOILER: Por que os bandidos querem que o garoto coma bife, fique forte? Cria certa intriga... Legal a tentativa do menino de escapar, provocar o incêndio. Ele não é uma vítima passiva e chata que não faz nada o filme inteiro. E a relação "positiva" que ele forma com um dos sequestradores traz uma leveza pra situação que funciona.
- Um pouco forçado a Michelle Williams lembrar do minotauro que o filho ganhou do avô. Ninguém simplesmente se lembra que tem milhões de dólares guardados no armário por acaso (ainda mais ela não sendo rica). Mas é uma tentativa interessante do roteiro de criar um pequeno twist dentro da história maior, principalmente pelo que isso revela a respeito da personalidade do Getty.
- SPOILER: Forte a cena da orelha! Não sou fã de violência explícita, mas nesse caso não é algo gratuito - é a única cena violenta no filme, e considerando o tema da história, é aceitável (as cenas que vêm depois disso são ótimas também: a secretária recebendo a orelha pela correspondência, depois a Michelle Williams mandando milhares de jornais pro Getty, etc).
- SPOILER: Muito filho da puta o Getty decidir pagar o resgate, mas exigir em troca a guarda dos filhos. Agora sim o filme começa a mostrá-lo como vilão, mau caráter. Pra piorar, em vez de pagar os 4 milhões, ele paga apenas uma parte... Não faz sentido, pois até então, ele estava se recusando pagar o resgate por uma questão de princípios, não de falta de dinheiro. Mas decidir pagar, e não dar o valor cheio, é apenas maldade da parte dele.
- O discurso do Mark Wahlberg no fim reforça essa atitude anti-ricos, anti-dinheiro, que não era a essência da história na minha visão. O conflito principal era mais entre razão e emoção. A mãe (emoção) desesperada, disposta a fazer qualquer coisa que os bandidos pedissem, mesmo que isso tivesse consequências ruins, e o Getty sendo mais frio, tentando manter a objetividade e pensando a longo prazo. No fim o filme consegue fazer o sequestrador parecer mais humano e bondoso do que o Getty!
- Legal a entrega do dinheiro: o carro na estrada seguindo as pistas, etc.
- SPOILER: Não parece muito realista a ação final onde a mãe e os bandidos estão caçando o garoto na cidadezinha... Por outro lado eu gosto dessas liberdades que o filme toma pra tornar a narrativa mais dramática (em vez de ficar preso à história verídica). Getty morrer e a Michelle Williams assumir tudo também parece meio improvável (o timing perfeito), mas é um desfecho irônico pra história (embora faça falta um encontro final entre o Getty, o neto e a mãe pra gerar um senso de conclusão).
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CONCLUSÃO: Há certamente um elemento anti-dinheiro na história que é questionável, mas fora isso é uma trama envolvente, com um roteiro dinâmico, cheio de cenas interessantes, e uma ótima atuação de Christopher Plummer.
All the Money in the World / EUA / 2017 / Ridley Scott
FILMES PARECIDOS: Os Suspeitos (2013) / A Negociação (2012)
NOTA: 7.5
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