O filme começa dando a impressão que será uma aventura tradicional de "capa e espada", ou algo na linha Tubarão / Moby Dick, mas quando você começa a ver o navio de caça cheio de mulheres, figuras andróginas, uma garotinha negra como protagonista, você já sabe que ele tem uma outra agenda. E logo ele te informa que você estava totalmente equivocado de esperar uma aventura naqueles moldes; que essas histórias no fim foram todas escritas por homens brancos do passado pra controlar e oprimir a população, reforçando certas construções sociais que os favorecem, certos estereótipos de gênero, distorcendo fatos históricos pra fazer o homem "civilizado" parecer o herói, quando na verdade ele que é o monstro. (SPOILERS) A fera do mar (que pode simbolizar povos indígenas, a natureza, até o socialismo — a criatura é apelidada de Red) na verdade é do bem. São os imperialistas (que vivem no Castelo White Rock) que fabricaram toda a ameaça pra justificar seus atos bárbaros, sua exploração cruel da natureza, que no fim é motivada por pura ganância. Mas nossa pequena heroína (um mix de Greta Thunberg com alguém que você veria num encerramento do Criança Esperança) irá colocar os opressores no lugar, e salvar o mundo libertando a fera vermelha.
Até daria pra elogiar o filme pela ótima qualidade da animação, pela narrativa/direção bem mais racionais que de costume, mas todo o capricho na execução é minado por uma história insatisfatória, mais interessada em dar lição de moral do que em entreter (eles enfiam uns mascotes fofinhos na trama pra tentar deixar o clima descontraído, mas os toques de humor nunca combinam com a intenção pesada da história). No centro da ação, temos protagonistas que não formam laços convincentes (até pela representatividade forçada), uma fera que nunca parece amigável (perto dela, a orca de Free Willy parece um bicho caloroso) — algo que só funciona realmente se você comprar a agenda woke do filme.
The Sea Beast / 2022 / Chris Williams
Satisfação: 3
Categoria: C/F
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