quinta-feira, 7 de julho de 2022

Thor: Amor e Trovão | Crítica

Thor Amor e Trovão crítica poster
Se alguém tinha dúvida que a Marvel no fundo tem aversão a heróis, e que toda a popularidade desses filmes de super-heróis modernos depende não da projeção bem sucedida de heroísmo, mas da capacidade do filme de corromper, diminuir e esvaziar os personagens de qualquer traço inspirador, Thor: Amor e Trovão é o filme pra encerrar a discussão. Nem vou gastar tempo com uma análise detalhada da história, pois eu estaria levando o filme mais a sério que os próprios produtores. Mas além dos problemas habituais do gênero — a narrativa irracional, a falta de inteligência do roteiro, o festival de ideias tolas, o altruísmo/coletivismo que se revela nas entrelinhas — a principal coisa a destacar aqui é que a chacota e o uso de humor pra "desconstruir" o herói (e a aventura) são elevados a um novo patamar (A Invasão Anti-Idealista). Claro, Deadpool já chutou o balde faz tempo, mas era uma franquia mais fácil do público confundir com uma comédia. Já Thor não tem desculpa alguma pra ser ridículo. Mais que um super-herói, ele é supostamente um deus. Ainda assim, ele ganha o mesmo verniz irônico, e agora quase não há mais uma tentativa de equilibrar a bagaceira com toques de seriedade. Está tudo já posicionado pra virar um filme do Didi Mocó ou um Zorra Total... Só que se você trouxesse o Didi pra estrelar o filme de fato, o público provavelmente não acharia graça, pois não haveria mais a corrupção. O "legal" mesmo é pegar figuras sérias como Chris Hemsworth e Russell Crowe pra daí colocá-los em posições ridículas. A intenção não é nem explorar o lado cômico dos atores, fazê-los brilhar como humoristas. Hemsworth pode ser muito engraçado, como mostrou no Caça-Fantasmas de 2016, que era uma comédia assumida e todo mundo detestou. Mas aqui, a ideia não é fazer ninguém brilhar, não é explorar habilidade cômica alguma — é apenas diminuir, ridicularizar, fazer com os "deuses" do cinema o mesmo que é feito com Zeus no filme.

Pra não dizer que nada é levado a sério, há toda a doença da Natalie Portman, além do drama pessoal do personagem do Christian Bale. O filme vai da palhaçada total nos momentos alegres, pra falar de quimioterapia e câncer terminal nos instantes onde quer ser sério — o que parece contraditório, mas que é totalmente coerente, e revela o senso de vida malevolente do filme: como ele não acredita em virtude, aventura, conquistas, a parte "divertida" da história precisa parecer ridícula, já os trechinhos que falam de morte, sofrimento e sacrifícios são os únicos que ele consegue tratar com alguma reverência.

Thor: Love and Thunder / 2022 / Taika Waititi

Satisfação: 1

Categoria: F

Filmes Parecidos: Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017) / Deadpool 2 (2018) / Esquadrão Suicida (2016)

2 comentários:

Dood disse...

Nem mesmo a crítica normie gostou do filme, disseram que o tom foi totalmente equivocado.

Caio Amaral disse...

Sim.. vi algumas críticas na linha: "Ragnarok foi ótimo, mas aqui não fizeram tão bem". Ou seja, em princípio, as pessoas não são contra ridicularizar os heróis.. só querem uma dosagem mais "equilibrada".