Grande acerto de Baz Luhrmann, diretor do qual nunca fui particularmente fã. Seu estilo intenso e extravagante de direção se encaixa perfeitamente na biografia de um artista como Elvis Presley, e é usado de forma inteligente pra tornar certos momentos mais dramáticos, acentuar ideias importantes na narrativa — como a de Elvis estar caindo numa armadilha quando assina a residência em Las Vegas, ou a ideia de situar um diálogo sob as ruínas do Hollywood Sign, justo num ponto baixo de sua carreira (e num momento onde todo o entretenimento passava por uma crise nos anos 60, com o avanço da contracultura).
O filme podia ter se desequilibrado pra vários lados: corria o risco de forçar demais a ideia de Elvis como ativista político, e fazer do impacto social o maior trunfo de sua carreira; podia ter transformado os abusos do empresário (Tom Hanks) no foco principal e virado um discurso raivoso contra a indústria; podia ter mostrado a fase final de Elvis de forma indigna como a maioria das biografias fazem; mas o filme não passa do ponto e nunca se perde de sua intenção básica, que é retratar Elvis como um dos maiores ícones da música popular americana, o que ele faz muito bem (mesmo sem se aprofundar em todos os momentos relevantes de sua carreira).
Filmes Parecidos: Bohemian Rhapsody (2018) / Nasce uma Estrela (2018)
Mas acima de tudo, pra mim um dos grandes prazeres do cinema é testemunhar um ator pouco conhecido como Austin Butler acertando em cheio num "star making role". Vê-lo tão bem no papel, e saber que ele será catapultado para a fama por causa deste filme, acaba tornando o próprio filme melhor, pois torna a ascensão de Elvis muito mais vibrante e convincente na tela (é daqueles fenômenos que discuto no livro, quando uma façanha que diz respeito à produção potencializa o efeito dramático da história: como os efeitos revolucionários de Jurassic Park, que colocam o espectador numa situação de encantamento análoga à dos personagens — o "efeito especial" neste caso seria Butler, que torna a euforia do público muito mais crível para quem está acompanhando a história).
É um bom filme para se refletir sobre a importância do diretor-autor. Pois embora a história de Elvis tenha um potencial incrível, nas mãos de um cineasta menos interessante, podia facilmente ter virado uma dessas biografias esquecíveis com estrutura de "ascensão e queda" que saem todo ano sobre ícones do passado (Marilyn Monroe, Judy Garland, Lady Di, etc.). Ou seja, não é a história apenas, mas as ousadias de Luhrmann na maneira de apresentá-la que tornaram o filme memorável.
Elvis / 2022 / Baz Luhrmann
Satisfação: 9
Categoria: A
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