sexta-feira, 1 de julho de 2022

Beavis and Butt-Head Do the Universe | Crítica

Beavis and Butt-Head Do the Universe crítica
Até gosto de comédias sobre duplas idiotas, mas nunca vi tanta graça em Beavis e Butt-Head particularmente, pois além dos personagens não terem muitas qualidades redimíveis (são diferentes dos "heróis" de Quanto Mais Idiota Melhor ou Bill & Ted, por exemplo, que apesar de idiotas têm uma aura doce e inofensiva) eles são caricaturas tão unidimensionais e desconectadas da realidade que fica difícil construir uma narrativa interessante em torno deles. Independentemente de onde eles estão ou da pessoa com quem estão "dialogando", eles agem sempre como se estivessem sob o efeito de alucinógenos, totalmente removidos da situação, reagindo a tudo com os mesmos risinhos nervosos, o que torna os acontecimentos da trama meio irrelevantes. São personagens que parecem melhores pra sketches, tirinhas, episódios curtos, mas que talvez não sejam expressivos o bastante pra carregar um longa-metragem. Até porque no caso de Do the Universe, o roteiro explora mal a ideia de transportar os personagens para os dias de hoje. No longa de 1996, pelo que lembro, não só Beavis e Butt-Head eram alvo de piadas, mas a cultura americana também era um grande palco pro humor, assim como os coadjuvantes torpes com os quais eles trombavam pelo caminho, algo que ajudava a compensar a monotonia do humor envolvendo os dois apenas. Ao viajar no tempo pra 2022, o filme tinha a chance de colocar B&B numa sociedade ainda mais maluca que a dos anos 90, e podia ter usado dessa sátira cultural pra criar um outro ponto de interesse pro espectador — mas o filme opta por uma rota mais segura, evitando polêmicas. Até a cena onde eles criam confusão numa universidade durante uma aula de "Gender Studies" acaba parecendo tímida, como se apenas os protagonistas merecessem ser ridicularizados pelo filme, não a cultura atual e os estereótipos de hoje (as piadas envolvendo smartphones, por exemplo, enfatizam principalmente a dificuldade dos dois de se adaptarem aos novos tempos, não servem como uma crítica maior aos nossos hábitos — não retratam celulares como um instrumento de alienação da juventude, assim como era a TV no primeiro filme). Em 1996, a sociedade era liderada por conservadores antiquados, e B&B representavam uma rebeldia contra esse establishment. O humor dependia em grande parte desse contraste. Mas em 2022, a cultura já não é mais a mesma. E como a essência de Beavis e Butt-Head é a alienação, a rebeldia, a negação, sem um establishment bem definido pra servir de contraponto, eles perdem um pouco de suas funções.

Beavis and Butt-Head Do the Universe / 2022 / John Rice, Albert Calleros

Satisfação: 5

Categoria: B

Filmes Parecidos: Bill & Ted: Encare a Música (2020)

6 comentários:

Anônimo disse...

Achava mais interessante a série spin-off, Daria, onde a rebeldia e negação vinham de uma personagem que tinha cérebro. E, além disso, tinha um melhor traço. Beavis... parecia o tipo de coisa desenhada por alguém que não sabe desenhar de jeito nenhum. Entendo que era proposital, mas não era muito agradável de se ver.

Pedro.

Caio Amaral disse...

Oi Pedro, nunca vi um episódio de Daria, só lembro da imagem dela... Mas com personagens conscientes/inteligentes já dá pra construir uma história, mesmo que seja uma animação simples tipo South Park. Os Minions têm essa mesma limitação do Beavis e do Butt-Head como protagonistas.. na parte 2 agora vi que eles trouxeram o Gru, o que talvez ajude a contornar essa questão.

Dood disse...

Eu assisti aqui meio que forçado pro final, só lembro de Beavis e Butthead por conta dos jogos. Nunca peguei pra valer um desenho deles. Se for se guiar por esse filme, com razão foram esquecidos.

Caio Amaral disse...

Nem lembrava dos jogos.. mas realmente, não é um filme que irá gerar novos fãs e renovar o interesse na dupla.

Anônimo disse...

Provavelmente é feito mais visando a nostalgia dos antigos fãs, como tantos desses filmes baseados em seriados antigos, inclusive alguns que nem eram grande coisa em suas versões originais.

Pedro.


Caio Amaral disse...

Sim.. quando já não há mais o que explorar nas Propriedades Intelectuais grandes.. o jeito é tentar espremer algo das menores, hehe.