Oscar bait raso e clichê que acompanha soldados sem propósito, apavorados e despreparados no campo de batalha, mostra uma série de situações violentas, desagradáveis, que vão só piorando até que o filme acaba. Tudo isso lindamente fotografado, mostrado com um tom vago de "crítica", como se isso já fosse o bastante pra tornar o filme positivo e passar alguma mensagem relevante. É um 1917 menos imersivo e sem o espetáculo técnico que era o seu grande diferencial.
Satisfação: 4
Categoria: NI / IC
Filmes Parecidos: 1917 (2019) / Dunkirk (2017)
Satisfação: 7
Categoria: I-
Filmes Parecidos: Sorria (2022) / Vigiados (2020) / O Telefone Preto (2022)
O filme até que não é péssimo, se passa num ambiente agradável, mas te dá a impressão de estar vendo uma retrospectiva de clichês dos anos 2000. Tudo é extremamente previsível, familiar, não criativo, como se o diretor achasse que a graça do cinema viesse justamente de repetir essas convenções cegamente, sem usar a imaginação — dá mais ou menos a sensação de estar numa festa de casamento típica, dessas onde as pessoas acham que o que legitima o evento é o fato delas se aterem a todos aqueles rituais ridículos como jogar buquê, agachar na pista na hora do "Your Song", etc.
Satisfação: 5
Categoria: I-
Filmes Parecidos: Esposa de Mentirinha (2011) / Simplesmente Complicado (2009) / Seis Dias, Sete Noites (1998) / Comer, Rezar, Amar (2010) / Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo (2018)
Comecei a ver só pra matar a curiosidade, achando que desligaria a TV indignado em menos de 30 min (o filme está sendo bastante comentado e muita gente parece chocada com o nível de violência) mas achei tudo muito engraçado — é o tipo de horror que comparo com trem-fantasma de parquinho, onde a violência é tão exagerada e fantasiosa que acaba sendo mais inocente que a mostrada em suspenses corriqueiros. O baixo-orçamento acaba trabalhando a favor do filme, não só porque torna a violência menos realista e mais fácil de assistir, mas também porque dá ao filme uma estética totalmente diferente da do terror mainstream; em vez de um produto que parece seguro, esterilizado, passado pelos filtros do sistema hollywoodiano, temos a impressão de algo saído de algum mercado alternativo onde as leis são desconhecidas, e que qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento. A trama não tem pé nem cabeça, mas os set pieces de horror e os personagens carismáticos mantém a experiência interessante. O palhaço Art bebeu da fonte do It, mas é um dos poucos vilões recentes com potencial pra se tornar um novo ícone do gênero (e a garotinha fantasma também marca presença).
Satisfação: 7
Categoria: I-
Filmes Parecidos: Uma Noite Alucinante 2 (1987) / A Centopéia Humana (2009) / It - Uma Obra Prima do Medo (1990) / A Hora do Pesadelo (1984)
Argentina, 1985 (2022 / Santiago Mitre)
Uma das experiências mais tediosas que tive esse ano. É o tipo de filme que se sustenta totalmente na relevância histórica/política dos fatos que ele reconta, e que só faz sentido pra quem já tem um grande interesse neste episódio da história da Argentina, e espera só uma ilustração respeitável, mas não que o filme seja envolvente por si só. É o típico filme burocrático, "fotografias de pessoas conversando", totalmente vazio em emoção, suspense, ou mesmo em ideias (não há uma discussão moral/ideológica desafiadora que torne o julgamento estimulante intelectualmente). O filme passa o tempo todo denunciando os horrores que certos militares cometeram contra inocentes durante a ditadura, mas nunca vemos uma dramatização desses horrores, nunca conhecemos de fato as vítimas, e nem os próprios vilões (que são apenas figurantes distantes no tribunal, nenhum com uma presença marcante tipo Jack Nicholson em Questão de Honra). Ricardo Darín é o herói que consegue colocar os culpados na cadeia, mas não vemos ele fazendo nada de brilhante ou memorável o filme todo. Dá a impressão que ele sai vitorioso no fim não por ter apresentado alguma prova inesperada, fatos incontestáveis, mas simplesmente por ter feito um discurso emocionalmente eloquente.
Satisfação: 3
Categoria: NI
Filmes Parecidos: Os 7 de Chicago (2020) / Marighella (2021) / Getúlio (2014) / O Clã (2015) / No (2012)
A corrupção dos super-heróis já está tão normalizada que agora temos um filme onde os inimigos, durante a maior parte da história, são as pessoas que são a favor de justiça, enquanto o "herói" (que vive dizendo orgulhosamente que não se considera herói, mas é por quem o filme espera que a gente torça) é a favor de força bruta, adora matar pessoas jogando elas do alto feito um terrorista islâmico (o filme obviamente tenta agradar certos nichos da direita alternativa, desses que são anti-EUA). Roteiro enlatado, produção genérica, e até Dwayne Johnson está fora de sua zona de carisma tentando fazer cara de mau.
Satisfação: 3
Categoria: IC
Filmes Parecidos: O Esquadrão Suicida (2021) / Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016)
Lembro muito pouco do antigo pra poder comparar, mas apesar de alguns problemas (principalmente no ato final), achei um dos filmes de terror mais decentes de 2022. Percebe-se um cuidado extra na fotografia, há alguns atores coadjuvantes interessantes (como Hiam Abbass e Goran Visnjic) que dão um toque de seriedade pra produção, e a própria versão feminina do Pinhead achei que funcionou (embora os Cenobites às vezes pareçam meio ridículos). Outro diferencial é que os vilões têm aquela qualidade grandiosa que marcava o terror dos anos 80, e o filme mostra uma batalha entre bem e mal sem um pingo de deboche, o que é raro hoje (ainda que a mocinha não seja das mais admiráveis pra representar o bem).
Satisfação: 6
Categoria: I-
Filmes Parecidos: Halloween (2018) / Sorria (2022) / O Enigma do Horizonte (1997) / A Hora do Pesadelo (1984) / O Mistério de Candyman (1992)
Mais um desses filmes que pegam um gênero popular dos anos 80/90 e o "modernizam" eliminando tudo aquilo que tornava o gênero interessante. Já discuti como muito da graça dos slashers vinha do contexto de um grupo de amigos atraentes num lugar divertido, se deparando com um vilão "maior que a vida", e uma mocinha inteligente e moralmente superior lutando por sua vida. Aqui não existe um vilão praticamente, e em vez de jovens gostáveis num lugar divertido, temos um grupo de amigos tóxicos, niilistas, moralmente corruptos, tomando decisões burras; pessoas que já parecem capazes de se destruir sozinhas mesmo sem a ajuda de um mal externo.
Satisfação: 3
Categoria: AI
Filmes Parecidos: Rua do Medo: 1994 - Parte 1 (2021) / Freaky: No Corpo de um Assassino (2020)
Abracadabra 2 (Hocus Pocus 2 / 2022 / Anne Fletcher)
Diverte principalmente pela Bette Midler, que continua tão energética no papel quanto em 1993. A história deste é mais fraca (não que a do primeiro seja um grande exemplo de narrativa), pois as bruxas são ressuscitadas e acabam não fazendo nada em Salem — não colocam nenhum plano maléfico em prática, a população em geral nem fica sabendo do retorno delas, o que dá a impressão do filme acabar sem que algo importante tenha acontecido. Outra coisa que prejudica o filme pra mim é a antipatia da nova "mocinha" Becca, que é dessas jovens da geração Z que parecem sempre emburradas, com um ar de superioridade moral (os estúdios parecem achar que pra ter um elenco diverso, eles precisam também tornar os personagens cínicos e politicamente autoconsciente). A produção é mais sofisticada que a do primeiro em alguns aspectos visuais, mas os voos de vassoura, por exemplo, parecem mais pobres aqui do que no antigo, que eram efeitos práticos muito legais, sem muita interferência digital.
Satisfação: 6
Categoria: I-
Tentativa não muito bem-sucedida de aplicar a fórmula Judd Apatow ao universo gay. Eu já não sou muito fã da fórmula nem quando ela é bem aplicada (há sempre os personagens losers, os toques escatológicos, a visão cínica de amor e sexo, etc. — sou mais as comédias românticas da Nora Ephron). Mas nesse caso, em vez de comediantes consagrados, grandes talentos do SNL ajudando, temos um protagonista que é pouco engraçado/carismático (pelo menos nesse tipo de papel), um casal sem química que não parece nada provável, e piadas que erram o alvo muito mais do que acertam.
Satisfação: 4
Categoria: IC
Filmes Parecidos: Doentes de Amor (2017) / Descompensada (2015) / A Festa de Formatura (2020)
A trama é um pouco vaga e burocrática, não há um senso de urgência ou de pra onde o filme está caminhando tematicamente. Mas a trajetória em si não é chata — não só pelo elenco cheio de nomes famosos, mas porque o filme parte de um material sólido: o personagens centrais têm personalidades interessantes, os diálogos têm certa sofisticação, a guinada política no fim vem com ideias bem mais sãs que de costume... A violência e a ironia Tarantinesca são meio forçadas (a história não é fundamentalmente cômica, então as gracinhas parecem existir só pra dar um ar "cool" pra produção), mas pelo menos não é desses filmes onde o estilo é usado como substituto pra um roteiro vazio.
Satisfação: 7
Categoria: I-
Filmes Parecidos: Trapaça (2013) / O Lobo de Wall Street (2013) / A Grande Aposta (2015)
2 comentários:
Nunca assisti nenhuma adaptação para o cinema de "Nada de Novo no Front". Mas o livro é exatamente sobre isso mesmo, soldados despreparados e assustados sofrendo em campos de batalha sem sentido. O autor, Erich Maria Remarque (pseudônimo de Erich M. Kramer, que inverteu o sobrenome para assinar o livro), ex-combatente da I Grande Guerra, deliberadamente recusou apresentar qualquer visão heróica ou grandiosa da vida na guerra. Nisso a obra difere da maioria dos filmes americanos ditos anti-guerra que mostram soldados sofrendo em nome de valores nobres. O livro de E. M. Remarque foi alvo da ira dos nazistas, que o baniram e lançaram na sua tristemente célebre fogueira, junto com outras obras de autores judeus, comunistas e/ou pacifistas. Por outro lado, a versão cinematográfica americana do livro ganhadora do Oscar em 1930 também foi alvo da histeria patrioteira de muitos americanos ainda intoxicados pela propaganda anti-alemã do tempo da guerra, e que não admitiam uma visão que humanizasse o inimigo.
Pedro.
Pois é, eu já vi vários filmes anti-guerra muito bons, que não glamourizam o combate.. mas pelo menos trazem discussões éticas interessantes, extraem algo positivo da jornada pessoal dos personagens... Aqui a história só fica mostrando como tudo é horrível na guerra.. pulando de uma situação horrível para outra, sem oferecer nenhum contexto. Vc fica se perguntando se o autor é contra qualquer guerra, em qualquer circunstância.. ou apenas contra esta guerra em particular, contra o exército alemão, etc. Se os soldados ainda fossem contra a guerra e tivessem sido arrastados pra lá à força, seria mais fácil de entender o conflito moral.. mas como eles foram por vontade própria.. os soldados ficam parecendo uns burros por não terem imaginado que seria algo extremamente violento, que precisariam matar, ver conhecidos morrendo, etc. Em vez de "a guerra nunca deveria existir" ou "o serviço militar não deveria ser obrigatório" ou "a Alemanha estava errada na 1ª guerra", o problema da história fica parecendo a falta de preparo e de vocação dos soldados.
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