domingo, 25 de fevereiro de 2024

O Menino e a Garça

Na primeira meia hora, até achei que O Menino e a Garça pudesse se tornar uma fantasia pessimista tipo Sete Minutos Depois da Meia-Noite ou O Labirinto do Fauno, cuja história não me agradaria 100%, mas que eu ainda assistiria com certo interesse, apreciando o lado técnico, visual etc. Mas o filme se torna tão irracional, tão subjetivo e desconectado da realidade, que começa a parecer um cineasta tentando recriar a mentalidade de uma pessoa esquizofrênica através da animação. Em filmes como O Mágico de Oz ou Alice no País das Maravilhas, onde o protagonista também é transportado pra um universo paralelo regido por leis desconhecidas, você não perde o senso de objetividade pois tudo o que é insano está limitado a este outro mundo, e o protagonista se mantém sensato ao longo da narrativa, servindo como uma âncora pro espectador. Em O Menino e a Garça, as coisas só vão ficando mais e mais bizarras, mais e mais arbitrárias; o protagonista mergulha de cabeça nesse universo sem leis de forma que não sobra nada de racional pro espectador se agarrar.

Se tudo claramente simbolizasse uma tentativa do menino de se reconectar com a mãe que morreu, de lidar com a dor da perda, ainda daria pra integrar tudo ao redor deste tema. Mas no meio do filme você já não sabe mais se a história é sobre a mãe, sobre a madrasta, sobre a garça, se o menino ficou louco quando machucou a cabeça, e se existe um universo estável ainda pro qual a gente possa voltar. O resultado é uma experiência tediosa, uma obra auto-indulgente que só estava ganhando parte da minha simpatia na medida em que eu atribuía alguns desses problemas à idade avançada de Hayao Miyazaki (e ao misticismo oriental, quem sabe), não a uma má intenção. Mas essa boa vontade foi se esvaindo ao longo da projeção, e a maneira propositalmente anticlimática com que o filme acaba me fez anular qualquer desconto que eu ainda estava dando. Ninguém bem intencionado ou com um mínimo de respeito pelo espectador encerraria um filme desta forma.

The Boy and the Heron / 2023 / Hayao Miyazaki

Satisfação: 2

Categoria: Não Idealismo (Subjetivismo)

Filmes Parecidos: Vidas ao Vento (2013) / O Castelo Animado (2004) / Onde Vivem os Monstros (2003) / Kubo e as Cordas Mágicas (2016) / Alice Através do Espelho (2016)

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