domingo, 11 de fevereiro de 2024

Zona de Interesse

O filme pretende ilustrar a capacidade do homem de se cegar para o mal (ao seu redor ou dentro dele) e pega um cenário extremamente contrastante e didático pra fazer isso: uma casa idílica situada ao lado de um campo de concentração em Auschwitz, onde vive um oficial nazista com sua família rica. É uma ideia de impacto, o problema é que esse contraste é a única coisa que o filme tem a oferecer. Durante 1h40, vemos um registro monótono do dia a dia da família, onde não há história, conflitos relevantes, e a única coisa que prende a atenção e fornece algum tipo de estímulo à experiência são sons e imagens sutis do campo de concentração que pontualmente invadem o ambiente pacífico da casa para o horror do espectador, mas não dos moradores, que tratam aquilo como uma poluição urbana normal. 

Não há uma abordagem direta do tema, uma exploração da natureza do mal, da psicologia dos personagens etc. Como tudo que o filme quer comunicar é comunicado pelas entrelinhas, a narrativa se torna vazia. Todo o conteúdo poderia ser transmitido por uma simples pintura, por um único frame do filme onde vemos a casa de um lado do muro, e o campo de concentração do outro. É como se o filme inteiro fosse o "Clichê da TV de Fundo" (filmes Naturalistas que deixam TVs de fundo noticiando guerras, eleições, achando que isso já serve pra dar à história um subtexto político). Ele parte da noção ingênua que se comunicar indiretamente, escondendo suas mensagens por trás de símbolos, nas entrelinhas, torna seu conteúdo automaticamente profundo, inteligente, corajoso — sendo que dizer que nazistas foram monstros insensíveis é o comentário político mais clichê e não-ousado que você poderia fazer no cinema. Ter um subtexto surpreendente em uma história onde o "texto" em si já é rico e autossuficiente, pode tornar um filme mais interessante. Mas ter  o subtexto, sem o resto do filme, é como ver um quadro com apenas alguns rabiscos que talvez carreguem sinais de uma mensagem brilhante, do talento real do artista, mas que não os demonstram plenamente, e ainda te deixam na dúvida se aquilo não foi apenas fruto de preguiça.

O filme tem uma ou outra ideia interessante, como o uso de escuridão pra simbolizar o mal ignorado pelos personagens (o corredor escuro que assombra o comandante nazista, ou o próprio título de abertura, que inicialmente pode ser lido por completo, mas que vai aos poucos escurecendo nas bordas, deixando visíveis só algumas letras em uma "zona de interesse" aleatória do centro). Mas nada disso equipa o filme com real substância e com uma boa narrativa.

Se O Menino do Pijama Listrado já parecia um olhar minimalista sobre o holocausto em comparação com um A Lista de Schindler, Zona de Interesse parte desse minimalismo e dá um salto equivalente na direção do reducionismo total.

The Zone of Interest / 2023 / Jonathan Glazer

Satisfação: 4

Categoria: Não Idealismo (Naturalismo com elementos de Experimentalismo)

Filmes Parecidos: A Fita Branca (2009) / A Queda! As Últimas Horas de Hitler (2004) / Nada de Novo no Front (2022)

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