Um problema grande ainda é que os filmes continuam ficando cada vez mais simplórios esteticamente. As produções podem até ser impressionantes em produção, mas em termos de roteiro, direção, qualidades mais fundamentais, os filmes mais aclamados de hoje são filmes que provavelmente nem seriam indicados há 20 ou 30 anos.
Outra coisa que restringe meu otimismo é que o Idealismo Corrompido ainda parece ser o pré-requisito básico pra você ser aclamado pela crítica — filmes tematicamente mais alinhados com o Idealismo têm sido sistematicamente esnobados, e atores que interpretam personagens virtuosos também tendem a receber menos atenção que atores cujos personagens são corruptos, vítimas e servem pra expor os tais "males do homem branco".
Nesse aspecto, os esnobes pra Air e para A Cor Púrpura pra mim são os mais alarmantes e injustos da edição. Godzilla Minus One também merecia ter sido indicado em várias categorias, mas por se tratar de um filme de monstro, em língua não inglesa, é mais fácil de entender as omissões (até nos tempos áureos do Oscar esse tipo de filme não costumava ganhar muito destaque).
Vou discutir abaixo as categorias principais brevemente:
Melhor Filme: Ficção Americana é o que acho o melhor entre os indicados. Normalmente prefiro que o Oscar vá pra produções maiores, histórias mais românticas, mas na ausência de um filme esteticamente à altura, torceria pra ele mesmo. Vidas Passadas, Anatomia de uma Queda e Pobres Criaturas achei bons filmes também, mas como são parcialmente Não Idealistas, não os vejo como vencedores de Melhor Filme. Oppenheimer, Assassinos da Lua das Flores e Maestro não achei ruins e à distância eles têm "cara de Oscar". Porém de perto, analisando os filmes em si, não os acho bons o bastante pra levar o prêmio. Barbie e Zona de Interesse pra mim não deveriam estar entre os indicados. (Eu teria indicado Air, A Cor Púrpura, A Sociedade da Neve e Godzilla Minus One no lugar de alguns.)
Roteiro Adaptado: Ficção Americana pra mim é de longe o melhor. Pobres Criaturas tem um roteiro criativo, com muitas ideias e diálogos divertidos, mas tematicamente achei mal resolvido. Agora Oppenheimer e principalmente Barbie e Zona de Interesse pra mim nem deveriam estar na lista. (Teria considerado A Sociedade da Neve, Crescendo Juntas, Godzilla Minus One e até Indiana Jones e a Relíquia do Destino pra esta categoria.)
Roteiro Original: Anatomia de uma Queda acho o melhor. Gosto também de Vidas Passadas. O roteiro de Os Rejeitados eu não gosto como um todo, mas tem bons diálogos e caracterizações. Segredos de um Escândalo e Maestro já acho problemáticos nessa categoria. (Air pra mim tinha que estar indicado e vencer).
Ator Coadjuvante: Não há nenhum que eu desgoste, mas nenhum que ache claramente superior. Já vi e revi Oppenheimer, e ainda não entendi por que Robert Downey Jr. vem sendo tão consagrado. Sterling K. Brown está divertido, mas é um alívio cômico que não é tão necessário em Ficção. Gosto do Robert De Niro e do Mark Ruffalo. Mas talvez o que tenha mais me impressionado seja o Ryan Gosling em Barbie. Não gosto do filme, mas o que ele acrescenta ao personagem não é óbvio e pouquíssimas pessoas teriam sido capazes de fazer. (Teria indicado Chris Messina por Air e Colman Domingo por A Cor Púrpura).
Atriz Coadjuvante: Uma das maiores unanimidades do ano é a Da'Vine Joy Randolph por Os Rejeitados, que eu pessoalmente acho a mais fraca das 5. America Ferrera não está mal em Barbie, mas o motivo dela estar indicada (a cena horrível do discurso) me faz torcer contra. Emily Blunt também acho que só se destacou por causa da cena onde ela enfrenta o personagem do Robert Downey Jr., que não é tão memorável assim. Gosto da Jodie Foster em Nyad, mas minha favorita acho que seria a Danielle Brooks em A Cor Púrpura. (Teria indicado Julianne Moore por May December e daria o prêmio pra Viola Davis por Air).
Ator: Não tenho um grande favorito, mas nenhum acho ruim. Cillian Murphy acho que está adequado no papel, mas o roteiro não cria grandes cenas/diálogos pra ele realmente brilhar. Paul Giamatti e Colman Domingo interpretam com habilidade personagens um tanto desagradáveis — e pra mim grandes atuações deveriam conseguir deixar até personagens como esses prazerosos de assistir. Fico entre Jeffrey Wright e Bradley Cooper. (Teria indicado Matt Damon por Air.)
Atriz: Essa pra mim é a categoria mais forte do ano, pois Annette Bening, Carey Mulligan, Emma Stone e Sandra Hüller estão todas excelentes (minha favorita é Annette Bening). A que deve ganhar, Lily Gladstone, pra mim é a mais fraca de todas, não só por ser uma personagem coadjuvante no fundo, mas também por ser uma performance mais contida, onde suas feições naturais e o figurino/maquiagem é que causam a maior parte do impacto (na crítica do filme, menciono também como a personagem me pareceu inconsistente em caráter ao longo da narrativa). (Teria indicado Fantasia Barrino por A Cor Púrpura.)
Diretor: Pobres Criaturas acho merecedor, pois dar coesão a tantos elementos estéticos pouco convencionais, e fazer toda a mistura de tons e de gêneros parecer natural, é algo que requer um grande domínio de linguagem. Anatomia de uma Queda também achei uma direção forte, com um olhar original, apesar dos traços de Naturalismo/Experimentalismo. Oppenheimer apesar de ser um dos trabalhos mais honestos do Nolan, pra mim ainda tem muito do seu charlatanismo e da sua falta de objetividade, então ainda não acho digno de Oscar. Não gosto de algumas decisões de Scorsese em Assassinos (considerando que ele também interferiu no roteiro, no casting), mas pensando apenas na direção do filme, acho o trabalho dele talentoso como sempre (embora um pouco mais cru, sem firulas). Zona de Interesse acho o pior da categoria e nem teria indicado. (Teria indicado Air, Godzilla Minus One, A Cor Púrpura, e considerado A Sociedade da Neve, O Assassino e Ficção Americana aqui.)
Pra resumir, os pontos críticos deste ano pra mim serão esses: os prêmios que forem para Oppenheimer nas categorias principais (e também nas categorias de edição, trilha sonora e fotografia) eu verei como reflexos de Não-Objetividade, de subjetivismo no julgamento de qualidades estéticas, por conta de tudo que sempre critiquei no cinema do Nolan. O lado mais ou menos positivo de Oppenheimer vencer será o aspecto mais superficial de um filme grandioso e popular estar sendo premiado, em vez dos filmes "artísticos" que a Academia vinha priorizando na última década.
Fora isso, se Lily Gladstone e Da'Vine Joy Randolph vencerem, verei esses como prêmios de diversidade/inclusão, não baseados na real superioridade das performances.
Essas provavelmente serão minhas maiores objeções ao Oscar 2024. A premiação deste ano me parece menos niilista, menos política e menos explicitamente Anti-Idealista que as dos últimos anos, mas lamento ainda que o Idealismo Corrompido esteja tão estabelecido como o status quo.
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Meus filmes favoritos de 2023:
(ordem alfabética)
Melhores Filmes
Air - A História Por Trás do Logo
O Assassino
A Cor Púrpura
Ficção Americana
Godzilla Minus One
Indiana Jones e a Relíquia do Destino
A Sociedade da Neve
Destaques Não Idealistas
(ou Semi-Idealistas)
Anatomia de uma Queda
Crescendo Juntas
Monstro
Pobres Criaturas
Vidas Passadas
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