quarta-feira, 12 de abril de 2017

Eu, Daniel Blake

NOTAS DA SESSÃO:

- Naturalismo: o filme é um retrato superficial de pessoas comuns, "vítimas" da sociedade, que não têm objetivos ou vidas interessantes. O protagonista é simpático, mas o filme quer apenas conscientizar o espectador a respeito da situação de certa parte da população - coloca a função social / jornalística do filme acima de valores artísticos, acima da experiência cinematográfica.

- Não há uma história interessante e bem contada, é apenas um relato de como é complicado pra um senhor de idade conseguir seguro desemprego - uma denúncia da burocracia, do péssimo "atendimento", etc. Mas mesmo que você assuma que é dever do governo cuidar da população (o que eu discordo), ainda é uma história tediosa de assistir.

- Tudo o que pode dar de errado pro protagonista, dá errado (ele não sabe usar computador, quando aprende, o site dá erro, etc). A mentalidade por trás do filme é a mesma de pessoas que gostam de se fazer de vítimas: falar o tempo todo dos próprios problemas e dizer que a culpa é dos outros.

- O protagonista é tão azarado que não apenas não pode trabalhar, não tem dinheiro guardado, não tem parentes e amigos para socorrê-lo, como não tem habilidade o bastante pra conseguir ajuda do governo, pois o processo é muito burocrático. E isso é mostrado como se Daniel Blake fosse um cidadão comum, não uma trágica exceção, tudo pra reforçar a ideia de que o ser humano é incapaz, que o governo é imprescindível, precisa crescer e se responsabilizar por todos.

- O filme não mostra por que esses personagens chegaram a essa situação. Se foi uma tragédia realmente imprevisível e não-merecida, ou se foi por falta de planejamento, esforço, responsabilidade ao longo da vida, etc. Por mais triste que seja, ainda não é um argumento a favor do socialismo. O único ponto válido do filme é que, já que o protagonista pagou impostos a vida toda, agora seria justo ele ter direito a certos benefícios. Isso sim. Mas o filme seria mais interessante se fosse um alerta contra o governo, por mostrar que mesmo nos países mais ricos ele é ineficaz quando tenta se responsabilizar pela população - mas não, apesar de tudo, ele parece exigir mais e mais governo.

- O filme glamouriza o auto-sacrifício: acha virtuoso que o protagonista, apesar de idoso, doente e numa situação terrível, doe seu tempo e esforço pra ajudar uma família necessitada; ou então que a mãe deixe de comer seu jantar pra alimentar um desconhecido, etc. Os protagonistas são todos admiráveis por serem altruístas, e o "sistema" fica parecendo injusto por recompensar as pessoas de acordo com mérito, e não de acordo com generosidade e benevolência.

- 1 hora de filme e ele ainda está tentando preencher formulários pro seguro desemprego! Essa é certamente uma das histórias mais chatas que alguém poderia ter pensado. Não surpreende ser o grande vencedor do Festival de Cannes.

- SPOILER: No fim, tudo é culpa dos outros. Como o governo não sustenta a população direito, a vida dos personagens se torna uma desgraça: a filha começa a sofrer bullying na escola por usar roupas velhas, a mãe é forçada a se prostituir, o protagonista morre, etc. O filme tem uma narrativa ascendente "bem sucedida", mas o "valor" que é satisfeito ao longo da história é o da vitimização: conforme a história progride, mais e mais os protagonistas sofrem nas mãos do governo, chegando ao clímax que é a morte. Nesse sentido, é uma narrativa "satisfatória", mas apenas para aqueles que enxergam a vitimização como algo atraente.

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CONCLUSÃO: Propaganda esquerdista tediosa.

I, Daniel Blake / Reino Unido, França, Bélgica / 2016 / Ken Loach

FILMES PARECIDOS: Dois Dias, Uma Noite (2014)

NOTA: 4.0

2 comentários:

Dood disse...

Pior que teve um blogueiro elogiando esse filme e até fazendo aquela comparação oportunista com o lance da reforma da previdência e dizendo que cumpria melhor a cota de "crítica social" digamos assim que o Que Horas Ela Volta?

Pior que me parece tão descarado quanto em exaltação do vitimismo e culpa.

Caio Amaral disse...

Sim, foi um dos filmes mais aclamados do ano, o que é ridículo..

Que Horas Ela Volta? no caso eu acho um filme bem mais maligno, pois ele é uma expressão de ódio contra os bem sucedidos.. Daniel Blake se contenta com a vitimização, o que é mais inocente.. por isso o coloco na categoria "D" e não "F". Abs!