terça-feira, 17 de maio de 2022

De Volta ao Baile | Crítica

De Volta ao Baile poster crítica
Comédia da Netflix onde Rebel Wilson interpreta uma cheerleader que sonha em se tornar a rainha do baile (isso em 2002), mas sofre um acidente durante uma apresentação e entra em coma. Vinte anos depois, ela acorda e decide voltar pra finalizar o high school, porém se depara com uma cultura totalmente diferente, onde cheerleaders não são mais populares e ninguém mais elege rainhas do baile.

O filme zomba da cultura woke com uma naturalidade que eu não tinha visto ainda no cinema, e tem algumas sacadas ótimas, ao mostrar por exemplo a hipocrisia de muitos dos "progressistas" de hoje, que no fundo são as mesmas mean girls do passado, apenas escondidas por trás de uma roupagem "socialmente consciente" (ter o visual certo pra ganhar poder e status sempre foi o dom dessas pessoas, e não faria sentido elas ficarem pra trás agora!). Outro toque interessante é a diretora do colégio, que tinha estudado com a protagonista no passado, porém não era popular como ela, e cresceu traumatizada. Agora ela é quem está no comando do colégio (assim como muitos líderes da cultura de hoje fazem parte dessa geração), e promove conscientemente um ambiente sem competições, um sistema onde não há vencedores — pois sem vencedores, não há perdedores também!

O filme parte de uma ótima premissa e tinha uma oportunidade incrível nas mãos, mas que infelizmente é desperdiçada. Primeiro porque a qualidade do roteiro e do humor em geral é baixa, mesmo quando comparada a de besteiróis dos anos 90/2000 (outro dia estava passando Garota Veneno com o Rob Schneider na televisão, um filme que era considerado totalmente trash na época, e revendo eu fiquei meio surpreso com a eficácia do humor, do roteiro, com o talento dos atores, que acabam fazendo filmes como Senior Year parecerem amadores — o que não é surpresa, afinal bons comediantes desse gênero não têm como florescer em uma cultura como a atual).

Mas o maior problema é que, apesar do filme ironizar a cultura woke, há vários toques de wokismo presentes no próprio filme, e ele não tem coragem/consistência o suficiente pra levar a mensagem até o fim — no terceiro ato, acaba cedendo ao discurso progressista.

Isso ocorre em partes porque o filme não tem clareza sobre as ideias/valores com os quais está lidando. Acaba caracterizando o passado (anos 90/2000) como uma época de pessoas promíscuas, irresponsáveis, que só pensavam em sexo e falavam coisas ofensivas, e os tempos atuais como tempos puritanos, onde as pessoas são mais limitadas, regradas, porém mais respeitosas e inclusivas. Ao entender o conflito desta forma superficial e equivocada, não há como o filme criticar a coisa certa, nem ter uma mensagem de impacto (daí a importância de uma base intelectual sólida).

Se De Volta ao Baile tivesse sido um filme do nível de um As Patricinhas de Beverly Hills ou de um Meninas Malvadas, e trazendo uma crítica consistente à cultura atual, teria sido um verdadeiro marco. Não foi o que aconteceu, mas quem sabe ele não ajude a abrir portas para produções que virão no futuro.

Senior Year / 2022 / Alex Hardcastle

Satisfação: 5

Categoria B/C: Idealismo mal realizado; toques Anti-Idealistas

Filmes Parecidos: Megarrromântico (2019) / A Festa de Formatura (2020) / Fora de Série (2019)

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