domingo, 22 de maio de 2022

Top Gun: Maverick | Crítica

Top Gun: Maverick - Crítica
Tom Cruise mais uma vez se prova um herói não só dentro como fora das telas — nem tanto pelos stunts que ele faz sem dublês e CGI, mas por ser uma das únicas figuras do entretenimento que sobreviveram às últimas 2 décadas sem se deixar contaminar pelas influências culturais e tendências estéticas que vieram corroendo o Idealismo do cinema americano.

No começo do filme, há uma cena em que Maverick entra num restaurante aleatório após um acidente aéreo, vestido como um astronauta, e pergunta onde está. "Na Terra", responde um garotinho. A piada pode parecer um pouco forçada, mas é totalmente apropriada, pois Cruise de certa forma vive em outro planeta. E que bom pra nós que ele não pertence à Terra de hoje, e pode nos mostrar esse universo paralelo onde heróis ainda existem, onde habilidade e conquistas são celebradas, não ressentidas, onde diferenças de sexo, cor de pele e idade não são problematizadas, e as pessoas se tratam com base em caráter, desempenho; um universo onde até a bandeira americana ainda pode ser ostentada com orgulho.

Na minha crítica do primeiro filme, apontei alguns elementos que me incomodavam na produção, e é interessante ver como a sequência melhora cada um desses pontos. Falei como o primeiro não caminhava pra um objetivo claro, e a missão final surgia acidentalmente, desconectada do resto da história. Aqui, a missão é estabelecida desde o começo, e todo o filme é uma construção em direção a ela. Falei como as cenas de ação eram confusas, e como nunca víamos claramente o que Cruise tinha feito de tão impressionante. Aqui é tudo muito mais visível, há diversas manobras e voos memoráveis (como a sequência de abertura, ou a cena onde Cruise rouba um avião pra provar pros alunos que sua estratégia é possível) e o filme está sempre usando relógios, gráficos, mapas, simulações 3D, pra situar o espectador e fazê-lo entender o que está acontecendo — quando chega na hora da missão, temos uma noção muito clara do que os pilotos devem fazer, quais serão os obstáculos, os momentos críticos, o que representará uma vitória ou situação de perigo etc.

Não é um filme de grandes ousadias, ideias originais. Em vez de um inovador, Cruise é mais como um artesão dedicado, que vem aperfeiçoando uma mesma linha de produtos ao longo de décadas, e que agora entrega a versão suprema deste produto, com toda a bagagem e experiência que adquiriu ao longo do caminho (em alguns aspectos, o filme lembra mais Missão: Impossível - Efeito Fallout do que o Top Gun antigo).

Maverick também melhorou como personagem. Em vez do garoto imaturo, preocupado demais em superar os outros, ele surge aqui com a serenidade de alguém que já não questiona mais as próprias habilidades, e não precisa mais se vangloriar na frente de ninguém. E embora ele já comece o filme como o melhor piloto e não tenha muitos obstáculos nesta esfera, sua missão agora é ser um professor/mentor que precisa ganhar a confiança e inspirar alunos a superarem os próprios limites, e é deste arco que vem a satisfação emocional da história.

O filme é 100% fiel ao espírito do original, e sem parecer um desses remakes/sequências em alta agora, que se sustentam apenas com base em nostalgia. Alguém que nunca viu o original e não tem nenhuma memória afetiva associada ao filme, deve ter uma sessão empolgante, satisfatória, e sair até sentindo que entendeu o que se passou no filme de 86 — ao contrário de muitas franquias atuais, que te deixam confusos mesmo lançando novos filmes a cada 2 anos.

Top Gun: Maverick / 2022 / Joseph Kosinski

Satisfação: 10

Categoria: A

Filmes Parecidos: Missão: Impossível - Efeito Fallout (2018) / 007 - Operação Skyfall (2012)

4 comentários:

Korvoloco Aspicientis disse...

Nota 10???? Caramba! Se antes eu estava animado com o filme agora estou mais animado ainda.

Caio Amaral disse...

Não é todo dia (ou ano) né, hehe.. não perca mesmo!

Rodrigo disse...

Recentemente eu estava numa conversa online mais informal onde a gente "ice breaker" de início pra deixar o pessoal mais a vontade de conversar, e o tema era "herói favorito de filme/livro", e chegando na minha vez eu falei "Maverick". O filme ainda estava muito fresco na minha cabeca, haha.

Impecável! Acho que a última vez que me senti tão envolvido assistindo um filme no cinema foi com Rush (2013).

Caio Amaral disse...

É, se fosse considerar apenas o 1º filme, talvez ele ainda não conquistasse esse status.. mas suspeito que agora ele começará a surgir em muitas listas do tipo..!