segunda-feira, 16 de maio de 2022

Top Gun: Ases Indomáveis | Crítica

Top Gun Ases Indomáveis Crítica Poster
(Os comentários a seguir foram baseados nas notas feitas durante a sessão.)

- As imagens iniciais no porta-aviões junto com a trilha sonora criam um dos momentos mais marcantes do filme. Há uma estética de videoclipe/propaganda que tem muito a ver com a tendência da época de diretores da publicidade (como Tony Scott, e seu irmão Ridley) migrarem para o cinema, levando junto esse visual mais estiloso e caprichado de comerciais, que davam a impressão de cada tomada ser um packshot cuidadosamente planejado.

- A ação inicial é um pouco confusa. Não sabemos direito quem são esses inimigos nos MiG-28, qual o propósito dessa batalha... Também não fica tão claro por que o Cougar passou mal, e por que o Tom Cruise (Maverick) voltar e simplesmente voar ao lado dele era a coisa necessária a ser feita.

- Maverick é um tipo de protagonista que vemos pouco hoje em dia. Ele é retratado como o melhor no que faz, é confiante, ambicioso, alegre, além de ser interpretado por um astro à altura do papel. Mas como discuto na postagem O Que Torna um Personagem Gostável?, é preciso que haja um certo equilíbrio entre virtudes/forças, e vulnerabilidades, características humanas que tornem o personagem real, dificuldades que ele precise superar (até pra trama ser interessante, não ser tudo muito fácil). No cinema de hoje, os heróis pecam sempre por não terem virtudes o suficiente, pelo foco ser todo nas fraquezas, etc. Já no caso de Top Gun, vejo um desequilíbrio pro outro lado: o personagem é tão bom em tudo, tão imbatível e convencido disso, que se torna uma figura distante, um ideal platônico.

- A cantada de Maverick pra Kelly McGillis (Charlie) no bar eu acho meio "cringe", em partes pelo excesso de confiança que discuti acima, mas também porque as falas são meio tolas.

- É divertida a reviravolta da Charlie ser a instrutora, alguém acima dele. Há algo de Randiano em Maverick e no tipo de romance apresentado aqui (a atração por habilidade, virtude, que é algo positivo), mas há também uma qualidade que acho questionável: Maverick parece mais motivado por derrotar os outros do que por conquistar algo positivo; ele parece adorar ver os outros se curvando diante de sua superioridade, não só como piloto, mas também nas relações pessoais. Reparem como no começo, a atitude entre Maverick e McGillis não é de atração/admiração mútua, e sim de rivalidade, como se um estivesse competindo pra ver quem é o mais poderoso, quem irá fazer o outro "ceder" primeiro; como se o primeiro a admitir algum sentimento no contexto romântico fosse o derrotado, e o outro fosse o vencedor.

- As cenas de ação são meio confusas. Raramente entendemos onde os aviões estão em relação aos outros, o que cada um está tentando fazer... O que vemos em geral são closes nos rostos dos pilotos (que estão semi-cobertos por máscaras de oxigênio, dificultando a identificação) intercalados por imagens dos aviões fazendo manobras, que apesar de bem filmadas, não criam sequências lógicas e contínuas de ação. Ficamos só com uma noção vaga e imprecisa do que está acontecendo.

- Essa falta de objetividade prejudica inclusive o herói, pois quase nunca vemos Maverick fazendo algo de fato impressionante. Só sabemos que ele é o melhor pois depois dos voos alguém sempre comenta: "esta foi a melhor manobra que já vi!" ou coisa do tipo.

- Alguns dos pontos fracos do filme têm muito a ver com essa influência da publicidade, que é uma mídia onde imagens contam mais que conteúdo, narrativa, etc. O roteiro de Top Gun foi baseado numa matéria de revista, e a trama é tão simples que poderia ser resumida num videoclipe. O filme se tornou icônico mais pelo visual, pela música, pela persona de Cruise, do que por ser um filme realmente incrível. Dá pra traçar alguns paralelos com Flashdance (também dirigido por um publicitário, com Giorgio Moroder na trilha, e algumas similaridades de trama). A diferença é que Flashdance tem sequências de música/dança realmente memoráveis, e num musical isso é o que realmente conta. Já Top Gun não tem o equivalente em termos de Set Pieces de ação.

- A cena do beijo é um dos pontos altos do filme (Charlie perseguindo Maverick de carro pelas ruas; depois a discussão ao som de "Take My Breath Away", que merecidamente levou o Oscar).

- Maverick tem poucos conflitos sérios no filme, o que torna a história menos envolvente. Desde o começo já sabemos que ele é o melhor; a única coisa que falta é o resto da equipe perceber e admitir isso. O maior drama que ele enfrenta é quando o amigo morre, e ele fica abalado emocionalmente por uns dias. Mas não é um desafio pessoal interessante, um grande conflito de valores.

- Outra questão de roteiro é que o treinamento todo dos pilotos no Top Gun não era um preparativo para alguma missão ou guerra importante no futuro que gerasse expectativa. A missão que surge no final vem do nada, como uma reviravolta totalmente acidental, desconectada do resto da história.

- Daí temos mais uma dessas sequências de ação vagas, confusas... Pra criar algum conflito, Maverick começa a ficar meio desacordado, sem muita explicação, e depois recupera a força olhando pra foto do amigo que morreu — um momento meio "Use the Force, Luke!" que mais uma vez não mostra direito uma real habilidade/superação da parte dele. A grande satisfação no fundo é depois no porta-aviões, quando o rival (Val Kilmer) dá o braço a torcer e aceita que Maverick é o melhor piloto.

CONCLUSÃO: Vale pela trilha sonora, pelo visual, e pra ver Cruise em plena forma, mas o filme em si não é tão sofisticado quanto outros sucessos deste período

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Top Gun / 1986 / Tony Scott

Satisfação: 7

Categoria A/B: Idealismo com roteiro regular e alguns detalhes questionáveis na caracterização do herói

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