domingo, 9 de setembro de 2018

A Freira


Tinha achado muito legal a figura da freira no Invocação do Mal 2, e me pareceu uma boa ideia criar um filme só pra ela, até porque não me lembro de uma outra freira maligna no cinema de horror que tenha feito sucesso. Infelizmente os acertos do filme não vão muito além dessa sacada inicial. A parte visual / física da produção é muito bem feita (como em todos os outros capítulos da franquia) o que dá certa ilusão de que o filme tem mais qualidade do que as estreias mais rotineiras do gênero. Mas naquilo que realmente importa - roteiro, direção, personagens - o filme representa o que há de mais pobre e inautêntico no entretenimento atual.

Os problemas aqui não são de valores, da intenção do filme... A intenção parece boa. O problema é a completa falta de noção dos cineastas do que é que constitui um filme, de como é que se conta uma história. Mais uma vez, é a falta de Objetividade que faz ruir toda a narrativa. Em vez de uma história onde os personagens têm motivações plausíveis, objetivos claros, agem de maneira convincente em um universo crível, o filme se parece mais com um pesadelo onde você nunca sabe direito se é dia ou se é noite, os acontecimentos parecem totalmente randômicos, irreais, coisas acontecem num minuto e no minuto seguinte deixam de existir, as pessoas agem de forma ilógica, seguem vultos em porões sinistros quando deveriam estar correndo deles, fazem cara de espanto quando veem algo sobrenatural, como se já não tivessem tido 200 provas antes de que o lugar é amaldiçoado... Se ao menos os Set Pieces isoladamente fossem bons, o filme teria certo valor de entretenimento. Mas as cenas de terror não têm a menor criatividade, são totalmente baseadas em clichês (não sei quantas vezes usam o recurso da câmera que gira pra um lado, daí quando volta revela um fantasma ao fundo que antes não estava lá), e a ambientação é fantasiosa demais pra gerar medo. É tudo muito óbvio: o cineasta acha que se ele colocar pessoas caminhando com lampiões num cemitério tenebroso, acrescentar névoa, teias de aranha, uma luz misteriosa, isso irá gerar mais medo... Quando na verdade é muito mais impactante ver um fantasma num ambiente que o espectador julgue familiar (se você está na selva amazônica e vê uma tarântula, o impacto é menor do que se ela saísse debaixo do seu travesseiro). 

Mas nenhum filme consegue flertar com o status de "trash" sem o auxílio de um personagem particularmente estúpido que tempere a experiência com atitudes e falas constrangedoras - função que o mocinho Frenchie cumpre brilhantemente com seus momentos "I'm french-canadian!" ou "The blood of Christ - holy shit!", por exemplo (quem achou que Jonas Bloquet com seu rosto de modelo da Abercrombie seria convincente como um aldeão do interior da Romênia em 1952, realmente precisa repensar seu futuro na área de casting).

Não-surpreendentemente, o filme faturou $131 milhões de dólares mundialmente nesse fim de semana (a segunda maior estreia de terror da história) provando que, se os cineastas estão cada vez mais incompetentes e despreparados, os marketeiros estão se tornando os verdadeiros gênios desse ramo.

The Nun / EUA / 2018 / Corin Hardy

NOTA: 3.0

2 comentários:

Dood disse...

Nunca tinha visto Invocação do Mal, mas ao ver o primeiro Anabelle me afastou o interesse. E olha que achava bem executado em cenários e a retratação de uma época, mas na execução os clichês que me remetiam a outras produções como o primeiro Exorcista o meu favorito do gênero... Não quis mais saber desse universo.

A crítica deste filme me passa como algo pior que Anabelle - o primeiro filme no caso.

Caio Amaral disse...

Ah sim Dood.. esse é bem mais fraco que o primeiro Annabelle.. Filmes de terror em geral são muito precários né, então essa franquia Invocação do Mal inicialmente chamou atenção por terem produções mais sofisticadas.. além do dedo do James Wan que é bom diretor.. mas o nível tem caído cada vez mais..