Baseado numa minissérie britânica de 2009, o filme conta a história de uma ex-presidiária (Sandra Bullock) tentando reencontrar sua irmã mais nova e se reintegrar à sociedade após cumprir uma pena de 20 anos por ter matado um policial (o tal do ato "imperdoável"). É preciso entender o estigma envolvendo matar policiais em países como os EUA (especialmente entre conservadores) pra história fazer mais sentido. Aqui no Brasil, a população sente mais medo do que respeito pela polícia, então um crime do tipo dificilmente causaria a mesma comoção. Mas mesmo pro contexto americano, eu achei forçada a hostilidade da comunidade em relação à personagem. É nítido pra qualquer espectador que Ruth não é uma assassina perversa, e que seu crime ocorreu num contexto muito peculiar, então nos perguntamos por que os personagens na tela não enxergam a mesma coisa. Ela passa o filme todo sendo ameaçada, atacada, espancada por estranhos, como se fosse uma serial-killer pedófila (sofrendo um ódio que talvez fosse mais convincente pro público atual se a situação fosse inversa — se o protagonista fosse um policial estigmatizado por ter matado um cidadão inocente, um caso na linha do George Floyd). E a maioria das punições Ruth aceita de cabeça baixa, sem se defender, mesmo sabendo que está sendo injustiçada, como se fosse Jesus carregando a cruz. Parece uma tática manipulativa do filme pra vitimizar Ruth e gerar empatia pela personagem, mas feita sem sutileza ou realismo comportamental. Algumas atitudes de Ruth foram me irritando ao longo do filme (especialmente quando ela começa a agir de forma destrutiva) até porque não há muitas qualidades positivas pra admirar na personagem (a não ser que você considere sofrimento e sacrifício coisas positivas). Em
Mare of Easttown, Kate Winslet também fazia uma personagem difícil de gostar inicialmente, que passava boa parte da história sofrendo, com uma cara emburrada, só que ela tinha um lado mais doce que escapava pelas entrelinhas, e nos dava uma visão da mulher gostável por trás daquele estado deprimido, algo que não ocorre tão bem aqui. O filme funciona mais ou menos como uma novela; algo sem muita profundidade ou pretensão artística, mas que por lidar com eventos dramáticos de apelo universal (crimes, traumas familiares) e ter reviravoltas bem posicionadas ao longo da trama, se torna um programa razoável.
The Unforgivable / 2021 / Nora Fingscheidt
Nível de Satisfação: 5
Categoria C: Entretenimento com Senso de Vida trágico
Filmes Parecidos: O Diabo de Cada Dia (2020) / Mare of Easttown (2021) / Monster: Desejo Assassino (2003) / Tudo por Justiça (2013) / O Lenhador (2004)
2 comentários:
Mesmo para os Estados Unidos, a história, como descrita aqui, soa exagerada. As polícias americanas tem um longo histórico de abuso de poder e de violência, e os americanos sempre tiveram a tendência de olhar com desconfiança tudo que é ligado ao governo. Na Grã-Bretanha faria talvez mais sentido, porque lá existe uma tradição de respeito pela polícia. Ou existia, porque mesmo lá isso parece já dar sinais de crise, por conta de notícias recentes de abusos policiais, alguns muito chocantes, como o caso de um policial londrino, Wayne Couzens, que estuprou e assassinou uma mulher de nome Sarah Everard, depois de prendê-la sob alegação de uma infração qualquer das normas da COVID-19.
Pedro.
Pois é, no mundo inteiro cresceu essa atitude anti-polícia.. Quando a série saiu em 2009, no Reino Unido, talvez ninguém tenha estranhado nada. Mas em 12 anos muita coisa mudou..
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