Rand só se sentia no comando no mundo dos conceitos, dos princípios filosóficos. Isso a levava a tratar com desprezo ou suspeita qualquer coisa que sua lógica e seu domínio sobre ideias abstratas não fossem suficientes pra lhe garantir uma posição de controle. Disso surge uma forte tendência no Objetivismo de menosprezar tudo aquilo que foge do campo das habilidades de Rand. Se não é racional, epistemológico, praticamente não existe. Se não pode ser dominado a partir de decisões conscientes e premissas filosóficas, é subjetivo, arbitrário.
Até quando Rand se permitia apreciar coisas que não estavam diretamente ligadas a habilidades racionais, ela costumava dar um jeito de tornar aquilo “objetivista”. Ela adorava seu gato, por exemplo, e o chamava de “professor de epistemologia”, pois pra ela, o gato confirmava suas teorias sobre cognição. Seu marido tinha que ser um reflexo das virtudes incorporadas por seus heróis, quando ele claramente era muito diferente de um John Galt. Quando ela ficou impressionada com uma performance de Patrecia (futura esposa de Branden) no teatro, ela a elogiou nos bastidores dizendo “o mais incrível é que você pegou a filosofia do Objetivismo e a aplicou à arte de atuar”! Rand tinha dificuldade de aceitar qualquer virtude ou forma de existência que não envolvesse o pensamento racional, focado, volicional, sobre o qual ela tinha domínio.
Isso dá origem a algumas das distorções mais problemáticas no Objetivismo, e a uma que talvez seja a mais prejudicial para o alcance da filosofia: a atitude antissocial e a aversão a qualquer coisa que requeira habilidades sociais, aprovação de outras pessoas, sucesso com seres humanos, etc.
Rand não tinha controle nessa área, e como discuti na introdução, é justamente a partir desse desconforto social que ela parece ter desenvolvido sua personalidade dura, crítica, e que sua filosofia ganhou essa característica de "escudo".
Rand precisava provar, portanto, que a aprovação dos outros é totalmente irrelevante para a vida humana, para a autoestima, para o sucesso. Que desejar aprovação é vergonhoso, uma prova inconfundível de fraqueza (há xingamentos específicos para isso no Objetivismo, como “second-hander” e “metafísico social”). Que uma pessoa deveria ser capaz de atingir plena felicidade e autoestima com base apenas em sua avaliação de si mesma, e de seu domínio sobre a natureza.
Essa ideia é bastante atraente pra pessoas que se sentem excluídas socialmente — Rand e seus personagens de ficção se tornam fascinantes para pessoas assim, por suas capacidades de não darem a mínima para o que ninguém pensa. Rand projeta um mundo ideal, onde a única coisa que importa é dizer a verdade, ser honesto, objetivo, e se alguém reclamar, isso prova que a pessoa é irracional e que você não precisa lidar com ela. Ser brutalmente honesto, sem sensibilidade alguma para o contexto dos outros, para estilo de comunicação, é elevado a uma virtude.
Rand até aceita que aprovação externa pode ser um “extra” bem-vindo, mas apenas quando vem de pessoas virtuosas, que têm os mesmos valores que os seus (ou seja, de outros objetivistas ou quase-objetivistas, não de pessoas fora da “bolha”).
Em entrevistas, perguntaram algumas vezes a Rand por que ela escrevia livros para o público, já que ela era tão autossuficiente. Ela costumava responder que escrevia pois era do interesse egoísta dela viver numa sociedade mais racional, ou porque ela tinha prazer no processo de concretizar seus heróis — e, pra fazer isso, ela tinha que usar uma linguagem objetiva, compreensível não só pra ela, mas para os outros também. Há uma clara resistência em suas respostas à ideia de que fazer sucesso com o público, agradar leitores, ser reconhecida, obter prestígio, trariam qualquer satisfação pra ela. Nada poderia depender do outro.
Virtudes como racionalidade, autoestima, propósito, são tidos como fundamentais no Objetivismo. Rand acredita que um homem não pode ser feliz sem valores como esses. Ela só pode ter chegado a essas conclusões observando a realidade, a natureza humana, e abstraindo que seres humanos que não têm esses valores se tornam infelizes. Não vou dizer que estatísticas provam algo sobre a natureza humana, mas observando a origem de muitos dos problemas emocionais das pessoas, das ansiedades, dos sentimentos de insatisfação com a vida (mesmo entre pessoas bem-sucedidas), é difícil não considerar que um senso básico de aceitação, conexão, validação externa e de harmonia com o resto do mundo, não seja um componente indispensável para a felicidade.
Mas Rand costumava ignorar até a necessidade prática de habilidades sociais para a carreira, para o sucesso profissional. Claro, se você é um gênio criando algo crucial pra humanidade sozinho num laboratório, talvez você possa ser uma pessoa intragável, que ninguém gosta de estar perto, e ainda assim ser incrivelmente bem sucedido. Mas pra vasta maioria das carreiras, suas habilidades sociais e o quanto você é querido pelas pessoas ao seu redor tem um enorme impacto no seu futuro, na sua capacidade de ser um bom líder, de crescer, de atrair investimentos e pessoas habilidosas pra colaborarem contigo, clientes, etc. Sim, profissionais e empresas buscam resultados, pessoas competentes. Mas elas também querem um ambiente de trabalho agradável, relações positivas — o que também afeta a qualidade dos resultados.
No Objetivismo, não só não existe um incentivo para que esse tipo de habilidade seja desenvolvida, como existe um incentivo contrário: uma glamourização do indivíduo antissocial, do “gênio incompreendido”, que é brilhante, heroico, mas detestado por todas as pessoas convencionais, pela sociedade irracional ao seu redor. Rand frequentemente exalta grandes inventores, cientistas como Galileu, que criaram coisas magníficas desafiando os valores de seu tempo, correndo até risco de serem executados. Ela pinta empresários e pessoas de sucesso frequentemente como figuras altamente odiadas, uma minoria perseguida — mas não reconhece que, apesar de às vezes serem alvos de críticas, esses empresários de sucesso são normalmente excelentes líderes, têm milhares de pessoas que os admiram, que querem colaborar com eles. Essa é uma daquelas racionalizações que tornam o Objetivismo atraente para pessoas mal-sucedidas no “mundo prático”, que agora podem achar que seus fracassos na verdade são sinais de virtude. Sim, alguns inovadores costumam atrair críticas. Mas é muito diferente você ser um Steve Jobs, alguém bem-sucedido, admirado por milhões, causando um impacto real no mundo, e que ao mesmo tempo é alvo de algumas críticas — de você ser uma pessoa anônima, com produtos e serviços que ninguém quer, sem 1 único admirador, e que além disso recebe críticas por todos os lados.
Em A Nascente, Howard Roark (arquiteto) constrói casas supostamente belíssimas de acordo com os critérios do livro, mas as obras são frequentemente ridicularizadas por pedestres, jornalistas, por todos exceto Roark e uns poucos conhecidos. Nunca consegui entender como casas como as descritas em A Nascente (muito bem integradas ao ambiente natural, feitas de pedra, metal, vidro, elementos sóbrios, de aparente bom gosto, sem adornos desnecessários) pudessem gerar reações tão negativas como aquelas. Uma casa ou prédio, pra ser tão controverso, precisaria ser realmente bizarro. Mas esse é o tipo de toque artificial que reforça a ideia de que se você é incompreendido, se ninguém entende suas criações, se você é constantemente humilhado, rejeitado, isso pode ser sinal de que você é brilhante demais para este mundo.
Ignorar ou reprimir esse desejo por conexão, aprovação, é algo que talvez seja possível pra uma minoria de pessoas pouco sensíveis a relacionamentos e ao olhar externo (e acho bom que existam pessoas "insensíveis" em diversas áreas — pessoas que não se incomodam com ostracismo social, assim como algumas não se incomodam com sangue, altura, perigo extremo, o que lhes permite exercer certas atividades especiais na sociedade). Mas pra maioria dos seres humanos, essa é uma ideia bastante prejudicial, que nunca poderá ser praticada com consistência, que irá gerar uma série de conflitos, sentimentos de culpa, e dificuldade cognitiva pra entender e explicar motivações humanas.
Acredito que a própria Rand não era do tipo insensível a relacionamentos, que não se incomodava com rejeição, impopularidade, ataques, desarmonia com o mundo. Seu conto The Simplest Thing in the World de certa forma é uma confissão de seus sentimentos conflitantes sobre este assunto. Mas o importante aqui não é a vida pessoal de Rand, e sim o fato de que este aspecto da filosofia pode incentivar pessoas a agirem de formas negativas, que as distanciam de uma vida satisfatória, do sucesso.
Diante dessa dicotomia, seus seguidores acabam sentindo que não há como eles serem eficazes no mundo de hoje. Intimamente, eles gostariam de fazer sucesso, de ter mais influência, público, reconhecimento, etc. — mas isso só parece possível depois que ocorrer uma espécie de revolução cultural, onde a psicologia humana será transformada, e as pessoas passarão a se guiar apenas com base nos princípios filosóficos defendidos por Rand. Só aí suas virtudes serão reconhecidas, e eles poderão começar a viver realmente — ter verdadeiros amigos, pares românticos, sucesso comercial, etc. Por isso a ânsia por transformar o mundo no Objetivismo vai muito além do simples desejo de ver uma sociedade com menos impostos, com mais oportunidades profissionais, melhor arte, etc.
12 comentários:
Olá, Caio.
Li com bastante interesse os textos. Mais adiante quero fazer alguns comentários mais elaborados e reflexivos (e muuuuito longos, como de costume kk). Também gostei dos comerciais da produtora de teu pai e quero comentar sobre eles mais adiante. Tomei este espaço para fazer uma observação menor antes que eu esqueça. Quando diz "Não vou dizer que estatísticas provam algo sobre a natureza humana". Pode dizer sem medo que provam sim kkkk. A Análise do Comportamento/Behaviorismo e a Aplicada (tecnologia do Behaviorismo), são basicamente "Psicologia Estatística". A psicologia mensurada por critérios matemático-estatísticos e objetivos sem qualquer inferência ou "psicologização" (ou não-objetividade).
Um exemplo: impossível saber os pensamentos de um autista não-verbal. De mesma forma, impossível atribuir intenção ao comportamento hipoativo não-responsível dele ("o meu filho está me ignorando de propósito, ele quer me provocar"). O que podemos observar e medir é que, nesta situação hipotética, a cada 10 vezes que alguém chama o nome da criança, ela olha somente 1 vez (o que não revela qualquer itenção sobre o comportamento da criança). Mas se ela obtém uma recompensa com pareamento social junto, a estatística mostra que ela pode passar a olhar 2, 3 e até todas as vezes quando chamada, pois o reforço social, dadas as condições adequadas, foi maior ao longo do tempo (e a curva estatística apresenta esta proporção). Logo, a criança que cujo comportamento não respondia a um estimulo social e a um reforço social, passa a responder sem a necessidade de um segundo reforço (um brinquedo, doce, etc). Para a Análise do Comportamento, o progresso é ideal quando todas as respostas podem ser reforçadas socialmente, sem a necessidade de um objeto adicional (elogiar a criança já ser o suficiente para que ela continue a realizar as tarefas, sem a necessidade de ter um brinquedo sempre envolvido).
O oposto também pode acontecer, e a curva estatística apresentar menor índice de resposta a estímulos e reforçadores sociais, pois eles se tornaram aversivos ou pouco-reforçadores. Uma pessoa que poderia em seu passado ter emitido comportamentos para obtenção de reforço social, ao não obtê-los ou obter punições sociais (críticas em vez de elogios), passou a extinguir seu comportamento, apresentar fuga-esquiva ou a reagir de forma mais agressiva/defensiva. Como é da natureza humana obter reforçadores, alguém sob contingências aversivas pode tentar controlar as variáveis do ambiente, como se cercar de reforçadores sociais artificiais, procurar racionalizações ou afastar pessoas específicas.
Contudo, as estatísticas apresentam que estimulos sociais só podem ter tamanha influência sobre o comportamento de alguém, seja punitivo ou reforçador, na medida em que aquele alguém também "dá importância" à esfera social. Sabemos que a curva estastistica de Rand sobre "estimulos e reforçadores sociais" não era reta, neutra. Logo, algum valor ela deu e alguma coisa aconteceu. Eu concordo com a hipótese de que ela tentou controlar as variáveis ambientais ao criar reforçadores artificiais.
*inclusive é justamente sobre esta abordagem psicológica que a Rand escreveu um texto crítico.
Oi Leonardo, que legal..! Embora eu já tenha feito muita terapia (como cliente/paciente), não tenho essa base acadêmica da psicologia.
Quando você diz que estímulos sociais só têm tamanha influência na medida em que a pessoa dá importância à esfera social, isso quer dizer que existem muitas pessoas que não dão importância alguma? Essa proporção que eu gostaria de saber.. Mas minha impressão é que a vasta maioria das pessoas não consegue deixar de dar importância.. e alguns dos motivos seriam:
- na infância/adolescência, como somos dependentes de adultos, ser ou não ser aprovado chega a ser uma questão de sobrevivência.. E quando nos tornamos maduros o bastante pra não dependermos de ninguém, já temos toda uma bagagem de vida, emoções enraizadas que são difíceis de serem eliminadas.
- mesmo na vida adulta, aprovação social continua tendo consequências práticas de "sobrevivência" ou quase (carreira, relacionanentos, etc.)
- um fator que me parece relevante também é a questão dos "pontos cegos".. sempre temos pontos cegos quanto ao nosso comportamento, às coisas que fazemos, etc. É mais fácil ser objetivo em relação a algo externo, que você observa de maneira neutra, do que em relação a nós mesmos.. E sabemos que existe uma diferença entre como nos vemos, e como somos vistos de fora (tipo o fenômeno de estranhar sua voz gravada). Então é muito difícil adquirir o tipo de autossuficiência onde você tem plena certeza que a maneira como vc está agindo, se comunicando, criando, está tendo o exato efeito que você gostaria, sem você precisar de feedback, reforços externos, etc.
Tu lembra qual a abordagem a que fazia terapia? Eu trabalho com Análise do Comportamento com autistas e Terapia Cognitivo Comportamental com crianças e adultos neurotípicos.
Sim, existem pessoas que não dão importância alguma à estímulos sociais, e a psicologia pode considerar isso uma patologia. Da mesma forma que alguns dão importância total à esfera social e são tão patológicas quanto. Como a psicologia também não trabalha com a noção médica de doença, deve-se considerar todas as variáveis possíveis para avaliar se existe prejuízo. Um exemplo: a medicina considera fumar prejudicial à saúde e ponto final. A psicologia, por sua vez, vai avaliar como o comportamento de fumar influencia na vida da pessoa, se ela gasta demais com cigarro, se ela deixa de comer, se o pensamento de fumar lhe impede de trabalhar, etc. As variações são inúmeras, das mais sutis às mais explícitas. Como um Asperger que pode ter uma conversa unilateral, sem se importar se o interlocutor entende o assunto, se interessa, se quer ir embora, etc. Ou um transtorno de personalidade antissocial, onde a pessoa pode causar prejuízo a si mesmo e aos outros intencionalmente.
Na Análise do comportamento, esta "importância" é avaliada como "reforçador" e medida em magnitude. Para uma pessoa em um deserto, um copo de água é "muito reforçador" e vai eliciar qualquer comportamento para obtenção da água. Ainda assim, a água só é reforçadora na medida do limite da sua sede e um galão de 20 litros não vai ser tão reforçador quanto um copo d’água depois de bebido. Da mesma forma, os reforçadores sociais só são reforçadores até certo limite proporcional àquele organismo, àquela pessoa. Por esta razão, é na história de vida e na cultura que o seu segundo ponto é avaliado, qual o “peso da bagagem”. Também depende do comportamento em questão, que é avaliado em sua unidade mínima, e não em sua totalidade. Por exemplo, para uma pessoa pode ser importante (reforçador) a esfera social para ir a um bar com amigos, mas quando ela volta à casa, para ela é reforçador ver um filme sozinha. O prejuízo acontece quando há generalização em todas as situações, da mesma forma em que uma pessoa é alegre e sorridente em uma festa e em um funeral. Note que a unidade mínima é menor ainda. Como o comportamento de “comer” que pode ser descrito em “apanhar o talher, levar ao prato, estabelecer contato com o alimento, levar à boca, mastigar, engolir”. A depender do cérebro, uma falha, uma verificação de “falso” nesta linha de comandos pode causar a rejeição do “comer” total. É o caso de autistas. Por isso sempre há o pareamento social, um elogio quando a criança recebe a recompensa, pois o organismo irá passar a dar mais importância à esfera social e a se reprogramar de forma mais saudável.
Sobre a questão dos "pontos cegos". Eu concordo. Eu gosto de imaginar os comportamentos da seguinte forma. Pra mim a analogia é clara, mas se ficar confusa, eu tento melhorar. Imagine uma tela preta de um monitor bem antigo. Há uma camada de poeira em que tu precisa esfregar para poder enxergar alguma coisa. É a interface visual de um hardware milenar. Tu aperta o botão para ligar e após algum tempo aparece uma linha de texto “iniciando” e em seguida “aguardando imput”. Tu começa a olhar com atenção e várias linhas de texto branco se escrevem sozinhas e se acumulam uma por cima da outra, como uma interface do MS-DOS. Estas linhas apresentam três informações: Pergunta, Resposta e Verificação verdadeiro-falso. Conforme tu anda pela sala, olha para as paredes, sente o cheiro, a temperatura do ambiente, e frases começam a se acumular na tela. Elas dizem “Pergunta: Onde estou?; Resposta: olhar para o chão; Verificação: desconhecido (falso); Pergunta: onde estou?; Resposta: olhar para janela; Verificação: em um prédio (verdadeiro)”. Estas três informações são análogas à tríplice contingência da análise do comportamento: Estímulo (ambiente), Resposta (comportamento) e consequência (reforço ou punição). Conforme as informações se acumulam na memória do computador, elas passam a montar estatísticas baseadas em acerto ou erro. Como se toda vez que uma pergunta é feita, a cada resposta idêntica houveram 10 verificações de “verdadeiro” e 0 de “falso”. Logo, a probabilidade da resposta 11 ser “verdadeiro” é maior. Porém, como o hardware é antigo, erros podem acontecer e a verificação estar incorreta - sendo a sua verificação com base na realidade objetiva. Também uma resposta equivocada à pergunta pode retornar um verdadeiro: “Pergunta: tenho sensação de fome; Resposta: vou comer um chiclete; Verificação: fome passou (verdadeiro)”. Então é necessário que um agente externo, um programador humano, corrija aquela resposta ou parâmetro.
Eu apresentei esta analogia acima a um conhecido que trabalha com treinamento de inteligência artificial deep-learning. Concluímos na conversa que a estatística e proporcionalidade da “pergunta-resposta-verificação” é real (uma IA apresenta resultados não em certezas absolutas, mas em probabilidades, assim como teoremas e teorias científicas, o problema da indução de Popper dos Cisnes Brancos, etc) e funciona de forma intercambiável com a explicação da psicologia do comportamento e aprendizado. Essas falhas nas certezas absolutas, as quais precisa do programador humano para corrigir, são os nossos pontos cegos.
*Mas cá entre nós, confesso que eu estou nesta categoria de pessoa que dá pouca ou nula importância à esfera social (eu já passei uns 4 meses sem ter qualquer contato, físico ou digital, com outro ser humano, então conheço o problema como um insider). Por isso também faço terapia. Sinto o prejuízo diariamente e muitas portas se fecharam para mim. Porém, essa "falta de importância" é paradoxal e aí pode estar a resposta à sua primeira pergunta. Eu reconheço claramente que a vida social é importante e necessária à sobrevivência, tal como escrevi tão ostensivamente nos comentários e tal como trabalho com meus pacientes. Mas não ajo para obtê-la, se obtenho, não ajo para mantê-la e não me preocupo se há prejuízo para mim ou aos outros se eu a perco. Eu nunca fui assim quando criança, eu era o exato oposto. Mas minha história de vida particular, tal como já discutimos anteriormente, fez com que tudo o que fosse da esfera social deixasse de ser “reforçador” e virasse “punitivo”. A moeda virou para o outro lado e é exatamente como o experimento Ludovico do Laranja Mecânica (incluindo as respostas-reflexo do corpo). É um exemplo de como experiências traumáticas ao longo do tempo alteram comportamentos da pessoa contra a vontade dela.
Uma resposta deste tamanho para algo que era só uma observação kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk desculpa.
Então, os 2 psicólogos que me atenderam por mais tempo foram desses que vc encontra via indicação de parentes.. não fui atrás considerando a abordagem. Hoje eu certamente seria mais criterioso nesse ponto. Mas minha última acho que fazia psicanálise, pois eu deitava no divã e tudo.
Realmente, você se empolgou na resposta! kkk. Mas é um assunto sempre interessante.. Não sei se vc leu uma observação que eu acrescentei após a publicação (desse post #7):
"e acho bom que existam pessoas 'insensíveis' em diversas áreas — pessoas que não se incomodam com ostracismo social, assim como algumas não se incomodam com sangue, altura, perigo extremo, o que lhes permite exercer certas atividades especiais".
Ou seja, até certo ponto, acho que as pessoas podem sim ser mais ou menos sensíveis a estímulos sociais sem que isso seja uma patologia.. ou algo que precise ser corrigido. A questão é que, pra mim, essa sensibilidade não é tão diretamente controlável quanto Rand gostaria.. Acho que cada pessoa tem uma sensibilidade própria, e que é importante respeitar esssa sensibilidade, a não ser que você conclua que é uma patologia de fato, algum trauma ou problema de autoestima corrigível. Rand acho que se forçava a ser mais insensível do que ela era de fato.. e pagava um preço. Já um político tipo Lula / Bolsonaro.. talvez durma em paz mesmo com metade do país querendo vê-lo crucificado, rs.
No seu caso, tem que ver até que ponto o "dom" de viver isolado te traz prejuízos reais.. ou se são prejuízos apenas se vc aceitar o que é o padrão dos outros.. Por exemplo, eu adoro comer pizza, tomar refrigerante.. e embora todos os médicos digam que são coisas horríveis.. eu pessoalmente nunca vi os prejuízos, rs. Já outros comportamentos eu percebo que trazem desafios reais.
Eu precebo com Objetivismo um problema de conexão, e isto fica claro no seu texto que o problema do Objetivismo não é estrutural, e sim como se aproximar das pessoas. Os Objetivistas serem em sua maioria isolados, e de atrair pessoas assim. Eu sou um pouco assim, tenho dificuldades de me socializar. Até ensaiei um Codex em vídeo de como solucionar esses problemas para auxiliar outras pessoas, digamos que o Objetivismo foi uma porta para um nova maneira de pensar que me faz bem, mas seu trabalho aqui em divulgar e colocar conceitos filosóficos os quais essa filosofia está ligada foi o método para eu ter conseguido criar um Codex para mim mesmo, e ter concluído o mesmo.
Oi Dood.. não sei se entendi o que é esse codex em vídeo que você fez, mas legal. Acho que o ideal é isso mesmo.. reconhecer e aproveitar tudo que o objetivismo traz de bom em termos de compreensão do mundo, organização de ideias, etc. MAS ter consciência desses possíveis problemas, e saber como contorná-los..!
Bom quando ensaiei todo aquele vídeo que você assistiu (e obrigado por isso) eu pensava nesse termo: gosto de dizer Codex (Códice) como um registro que temos de tudo, que pode ser descrito e identificado. Não vejo como uma biografia porque não é um relato, eu falo como ferramenta porque é uma biblioteca que cada um carrega consigo. É algo que pode ser codificado, exprimido . É forma de uso do conhecimento adquirido.
E no vídeo procuro trabalhar com essa dinâmica, os desafios do uso disto e os seus fins. Porque vejo que muitas mentes talentosas não se desenvolvem devido a falta de um mapeamento de si capaz de criar um Codex para trabalhar com relacionamento pessoal. Muito das inspirações vem de alguns textos e conceitos que você coloca aqui, queria trazer isso para uma prática no dia a dia, afim de ajudar outros a desenvolver esse mecanismo.
Ah legal..! Realmente, acho que nossas experiências pessoais e os desafios que passamos nos dão essa oportunidade de usar o aprendizado pra ajudar outros.. eu fiz uma formação em coaching esse ano onde o professor falava muito nisso, de que nossos insights e nossa capacidade de ajudar é maior em áreas onde nós mesmos já tivemos dificuldades e tivemos que trilhar um caminho, superar obstáculos etc.
Só para dizer que ainda não cheguei ao ponto que gostaria de ter chegado, mas até aonde eu cheguei já considero uma vitória. E repasso porque isso pode ser a ponta, um caminho para algo para que outros possam se desenvolver. Até porque não tenho todas as respostas a todos os cenários, mas trabalho com ferramentas de previsão que podem precisar ações em alguns momentos.
Eu me via como um cara nunca preparado para iniciar, mas vi o tempo passar e eu adiar por nunca estar preparado. Eu resolvi começar assim mesmo, vendo outros de outras áreas criando conhecimento, compartilhando eu pensei por que não agora?
Sim, o aprendizado é eterno né.. o psicólogo muitas vezes faz terapia.. o professor tem seus mestres, etc.. mas se a gente já superou alguns desafios em certas áreas, já é possível iluminar o caminho pra quem ainda não chegou no seu estágio né.. mesmo que você ainda esteja lidando com outras coisas. abs!
Sim, estou focando naquilo de deu certo e colhi alguns frutos, mas meu desafio maior eu tenho aqui. Tentando a cada dia.
Postar um comentário