Como a história é verídica e mostra uma situação de extremo perigo, o filme nunca se torna totalmente desinteressante. Mas o que faz o filme funcionar é a mesma coisa que faria um documentário sobre o assunto funcionar (ainda não vi o The Rescue da National Geographic que saiu ano passado e dizem ser ótimo). Criativamente, é uma produção sem sentido, que se propõe apenas a reconstituir de forma eficaz os eventos ocorridos, mantendo a estilização ao mínimo. Não há um protagonista claro, uma tentativa de criar personagens carismáticos, de se aprofundar em dramas individuais, de dar um sentido maior pro evento, olhar pra situação por um ângulo diferente, etc.
E como a fidelidade do roteiro é em relação aos fatos reais, não em relação à plateia, ele também não toma muitas liberdades pra tornar a narrativa mais dramática, satisfatória, o que é um problema aqui, pois nem todo desastre da vida real é tão "cinemático" quanto um 11 de Setembro ou um naufrágio do Titanic. A situação dos garotos presos na caverna não cria uma sequência de eventos naturalmente excitante, uma curva de Ascensão que escale em direção a um grand finale, boas possibilidades de ação etc. (nem o 11/9 geraria automaticamente um bom filme de desastre sem intervenção criativa — basta lembrar de As Torres Gêmeas do Oliver Stone). A principal parte do acidente (o momento em que a caverna inunda e os meninos se veem presos) nem é mostrada, até porque a água deve ter subido lentamente, e não num instante surpreendente que renderia uma boa cena. O resgate também não ocorre de uma vez; os garotos vão sendo retirados um a um, ao longo de dias, o que também não permite um bom clímax. A estruturação da história é tão estranha nesse aspecto que o filme tem 2 horas e meia, mas em 15 minutos os garotos já estão presos na gruta há 5 dias! O foco todo acaba ficando nos mergulhadores, na parte estratégica do resgate, e nas decisões ousadas que são tomadas pra salvar a vida dos meninos.
O lado bom é que o filme não tortura o público demais enfatizando o senso de claustrofobia (o que seria o impulso da maioria dos diretores num cenário desses), e também não pega muito pesado no altruísmo conservador, na romantização do autossacrifício (arriscar a própria vida pra cumprir seu "dever" e salvar estranhos é sinônimo de heroísmo pra muita gente). Ainda assim, é só por essa ótica que o filme faz algum sentido, e torna admiráveis tanto as ações dos mergulhadores, quanto sua própria abordagem — ao agir com base no princípio Não Idealista de que o retrato dos fatos reais é mais importante que o entretenimento do espectador, e mais importante que a expressão artística do cineasta, Ron Howard também se coloca como alguém "cumprindo seu dever" em nome das vítimas.
Filmes Parecidos: Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (2016) / Horas Decisivas (2016) / As Torres Gêmeas (2006)
Thirteen Lives / 2022 / Ron Howard
Satisfação: 6
Categoria: B
Filmes Parecidos: Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (2016) / Horas Decisivas (2016) / As Torres Gêmeas (2006)
2 comentários:
Eu tenho um fraco por filmes de tragédias com resgate, porque geralmente são produções que destacam o heroísmo e a bondade inspiradora dos personagens envolvidos de uma forma pura, mensagens estas que os filmes de super heróis da atualidade deveriam passar, ao invés de retratá-lo como idiotas, como os heróis da Marvel, por exemplo. E não vou negar, Treze Vidas me comoveu, gostei do elenco e tudo mais, mas poderia ter sido um pouco mais curto. Aquelas idas e vindas dos mergulhadores no túnel achei desnecessariamente longas em algumas partes e me tirou o ritmo, mas ainda assim achei o filme OK.
Entendo.. não consigo lembrar de um filme de resgate que esteja entre meus favoritos.. gosto de filmes de tragédia, mas quando focam no espetáculo, na aventura, também na sobrevivência, na engenhosidade das vítimas.. mas esses casos mais reais onde são vítimas anônimas indefesas.. e salvadores altruístas.. normalmente me passam uma ideia de universo malevolente, um framework religioso. Mas acho que filmes de resgate podem sim passar mensagens de benevolência, heroísmo.. só que depende do roteiro concretizar esses valores.. não é automático.. no caso do Treze Vidas, a gente supõe que essas sejam as motivações dos mergulhadores.. mas como o filme é meio frio/jornalístico, não se aprofunda muito nos personagens, a gente nunca sabe ao certo que tipo de pessoas eles são. Eles são especialistas em mergulhos perigosos, ganham a vida com resgates.. então podem muito bem estar no "piloto automático", fazendo isso por dinheiro, ou por serem dessas pessoas viciadas em adrenalina (tem muita gente que trabalha em UTI e ambientes de emergência não por serem bondosas, mas por terem uns parafusos a menos). Então sim.. o natural é você assumir bondade, coragem.. mas não há muitas cenas onde o filme realmente concretiza esses valores.. não há vínculo emocional algum entre os mergulhadores e as vítimas.. os garotos de fato parecem "pacotes" que precisam ser transportados de um ponto pro outro.. Talvez se o Colin Farrell ou o Viggo tivessem que superar alguma limitação pessoal pra realizar a missão.. ou se um deles criasse um vínculo pessoal convincente com algum dos garotos.. daí esses temas pudessem ser melhor desenvolvidos. Enfim, também achei comoventes alguns momentos do filme, pois independentemente das motivações, só de você imaginar o alívio de alguém sobreviver a uma situação dessas já é algo emocionante.. por isso digo que é um mérito mais da situação real do que da criatividade do Ron Howard. abs!
Postar um comentário