domingo, 14 de agosto de 2022

Problemas do Objetivismo #8 - Lutando por Ideias

Uma das formas que o Objetivismo leva as pessoas a se desconectarem da sociedade é através da maneira como ele as incentiva a lutar por ideias. Como disse na postagem #7, há um senso de urgência no Objetivismo para mudar o mundo e o pensamento dos outros, pois na sociedade atual, objetivistas sentem que não têm reais chances de sucesso. Só que Rand incentiva seus seguidores a agirem de forma que suas chances de sucesso diminuem ainda mais.

Primeiro, Rand diz que ideias filosóficas são o que move o mundo — ignorando outros fatores que citei na postagem #3. Depois, ela nos faz crer que o homem é “tabula rasa” e que basta você lhe oferecer a “programação” certa, que ele terá capacidade de agir de acordo. Assim, ela conclui que a melhor forma de mudar a sociedade é através da argumentação, da persuasão intelectual direta — simplesmente expondo o maior número de pessoas às ideias corretas.

Mesmo com os romances de Rand sendo best-sellers há mais de 50 anos, objetivistas ainda acham que o motivo da filosofia não ter uma adesão maior é o fato de não existirem intelectuais o suficiente divulgando as ideias pelo mundo. Eu não acho. Acho que se o Objetivismo tivesse potencial pra ser uma filosofia dominante na cultura, a quantidade de exposição que ele teve já teria sido mais que suficiente.

Imagine um empreendedor tentando emplacar um produto, e meio século depois do produto já estar disponível no mercado, ter sido provado por milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo, ele ainda acreditar que o produto só vende pouco por falhas no departamento de marketing. Um empreendedor inteligente provavelmente já teria considerado as seguintes hipóteses: 

1. O produto tem algum problema e precisa ser melhorado pra conquistar o grande público.

2. O produto já está perfeito, porém é um produto de nicho, algo sofisticado, pra ser consumido por uma “elite”, e ele nunca será mainstream.

Acho que o Objetivismo tem um pouco das duas coisas, mas ambas são ignoradas por Rand e por objetivistas em geral.

Eles não querem considerar que há problemas internos na filosofia, pois isso exigiria questionar Rand, então a primeira hipótese é automaticamente descartada.

A segunda também é descartada, pois isso exigiria que eles aceitassem que o mundo e a natureza humana nunca serão transformados como eles gostariam, e que apenas uma pequena minoria da população sempre será capaz de aceitar explicitamente as ideias de Rand. Isso parece terrível, pois, como discuti na postagem #7, o Objetivismo leva as pessoas a se sentirem incompatíveis com o mundo prático. Elas sentem que só poderão ter vidas plenas e satisfatórias depois da “revolução”, quando a sociedade e o homem comum se tornarem finalmente “racionais”.

É uma batalha perdida, pois eles querem manter o produto exatamente como está, e querem também que ele se torne mainstream.

Quando adultos estão falando com crianças, eles sabem que precisam levar em conta o contexto psicológico da criança — que devem ter filtros para sexo, para exposição à violência (e que isso não tem nada a ver com falta de integridade ou evasão). Mas Rand às vezes não entendia que suas ideias exigem um tipo de intelecto e de maturidade que a média da população simplesmente não tem. Que, filosoficamente, ela é como uma adulta se dirigindo a crianças. Ela era otimista demais em relação ao homem comum (isso às vezes, pois em certos momentos, ela dizia que virtude é algo raro na humanidade), o que a levava a crer que bastaria ela escancarar os fatos publicamente, que as pessoas teriam capacidade de aceitá-los.

Ela também ignorava o fato de que as pessoas aprendem muito mais através do exemplo, da experiência, das condições do ambiente, do que através da instrução verbal. (Vivo me perguntando — será que as pessoas que chegaram aos EUA nos séculos 18 e 19 eram muito mais racionais, corajosas e pró-liberdade que as de hoje? Ou será que o contexto de se chegar num “wild west”, num país recém-fundado, sem garantias, e ter que trabalhar em liberdade pela sobrevivência, naturalmente incentivava certos comportamentos e valores?) 

Então essa ideia de que a sociedade precisa ser transformada radicalmente, e que essa transformação ocorrerá através da persuasão intelectual direta, “convertendo” as pessoas uma a uma ao longo de décadas até que a filosofia se torne mainstream, é outra noção extremamente duvidosa que gera frustrações constantes no Objetivismo.

Objetivistas se veem o tempo todo na necessidade de militar a favor de ideias, debater política com amigos, parentes, desconhecidos na internet — o que apenas reforça o senso de isolamento e prejudica suas oportunidades na vida. Em vez de entender que na maior parte do tempo eles estão falando com “crianças” no sentido filosófico, e que é necessário se expressar de forma apropriada, eles querem poder ser "pornográficos" com crianças.

(Há também uma simples questão de personalidade e estilo de comunicação. O fato de INTJ's serem uma minoria na população e o Objetivismo ter um apelo especial para esse tipo de personalidade me parece dizer algo).

Rand também agia como se a condenação moral fosse uma boa forma de inspirar mudanças nos outros. E ela era tão magnética e divertida em debates, que isso faz muitos objetivistas quererem imitá-la. Eles acham que se forem realmente bons na arte do desprezo, na capacidade de destruir alguém numa discussão, que isso tornará o Objetivismo mais forte. Mas é o tipo de atitude que apenas reforça a impressão de que o Objetivismo é muito mais um “escudo psicológico”, uma ferramenta pra se enxergar como certo enquanto todos os outros estão errados, do que uma filosofia realmente interessada em impactar a cultura positivamente.

Se Rand incentivava esse tipo de comportamento, não era porque ela queria ver objetivistas eficazes, realmente melhorando o mundo — e sim porque ela queria companhia em sua "bolha". Como disse no último post, há um incentivo no Objetivismo para que você corte laços com a sociedade, com o mundo convencional, e se junte à "sociedade antissocial" alternativa de Rand. Um certo sacrifício social é esperado; se você acreditar nas ideias de Rand, mas não tornar isso público, isso é uma forma de traição — ainda mais se você for bem-sucedido no mundo convencional. Você precisa se tornar um "outcast" pra ser um objetivista autêntico; se comunicar com os outros de maneira agressiva, "pornográfica", destruindo racionalizações e chocando todos com a verdade (não estou dizendo que esta era uma exigência direta de Rand — apenas que é um fenômeno comum no Objetivismo, levando em conta tudo que ela escreveu e o que ela inspirava com seu comportamento.)

Sim, alguém precisa ser explícito, expor a verdade de forma direta, e há lugar pra intelectuais que queiram se dedicar a educar pessoas desta forma, ir atrás daquela pequena minoria que simpatizará com a filosofia, que queiram desmascarar ideias opostas, etc. Mas é preciso aceitar que isso virá com um preço: com antagonismo constante, com portas se fechando… E que sua expectativa não pode ser a de transformar as massas desta forma; fazer pessoas comuns abrirem mão de todas as suas racionalizações, etc. Você deve saber que está fazendo isso apenas pelo prazer de inspirar uma pequena minoria, pois este prazer supera as dificuldades, ou então por diversão — porque você tem um prazer pessoal em estar no papel de antagonista, de combater outras pessoas por esporte, como um jiu-jitsu intelectual, mesmo que isso não mude nada.

Finalizo com uma reflexão de Nathaniel Branden:

“Mesmo quando as pessoas fazem coisas absolutamente erradas, você não as torna melhores dizendo que elas são desprezíveis. Não se leva ninguém à virtude através do desprezo. Simplesmente não funciona. Não funciona quando a religião tenta, não funciona quando nossos pais tentam, e não funciona quando o Objetivismo tenta. Se uma pessoa fez algo tão horrível que você quer dizer que ela é uma filha da p***, vá em frente, divirta-se! Não nego que às vezes esta seja uma reação apropriada. O que eu nego é que seja uma estratégia eficaz para inspirar mudança ou evolução de caráter.”

11 comentários:

Leonardo disse...

Quando fiz o comentário anterior, eu ainda não tinha lido esta postagem. Pois quis fazer apenas uma anotação breve.

Mas aqui tu meio que torna explícito o problema apresentado na questão anterior. A de que a espécie humana aprende comportamentos pela modelagem do ambiente e pela aprendizagem social por observação de exemplos. Na clínica com autistas, sempre precisamos dar a alternativa ao comportamento negativo: "não risque a parede, risque o papel", daí pegar na mão da criança e riscar o papel. A função cerebral de pensar de forma abstrata em possíveis alternativas ao comportamento errado antes de executá-lo é nula, tanto em autistas quanto em crianças típicas. Por isso é importante a aprendizagem pelo modelo. Aprendizagem por instrução verbal é característica de cérebros mais amadurecidos e precisa ser ensinada e aprendida. O que é inato é a vivência em grupo e aprendizagem social, talvez até um senso de coletivismo e tribalismo. Não que eu considere isto o ideal ou mais correto, mas é o que a evolução da espécie proporcionou.

Quando em teu texto diz "(...)é difícil não considerar que um senso básico de aceitação, conexão, de harmonia com o resto do mundo, não seja um componente indispensável para a felicidade". Concordo e acrescento que são funções inatas, biológicas necessárias para a sobrevivência da espécie. A mesma realidade para a qual não cabe julgamento de valor, como um deserto sem água. Para o bem ou para o mal, somos criaturas sociais. Tenho dificuldade de lembrar de algum texto em que a Rand considere a evolução de organismos biológicos menos complexos para mais complexos como primários ao homem. Pelo texto do Branden, ela, na verdade, rejeitava esta idéia e tinha pouco conhecimento sobre psicologia da evolução. E em A Virtude do Egoísmo e Introduction To Objectivist Epistemology, a Rand fala de mecanismos dor-prazer mas ignora que estes mecanismos precisaram passar por milhões de anos de evolução. Se ela aceitar esta premissa, também precisa aceitar a de que alguns mecanismos sociais são inatos ao homem e necessários à felicidade tanto quanto as virtudes de Aristóteles.

Caio Amaral disse...

Sim, a Rand não parecia curtir muito a ideia de evolução.. e também demonstrava certo desprezo pelo ramo da psicologia como um todo. Talvez porque nos tempos dela, essas áreas fossem dominadas por pessoas com más filosofias, etc. Mas acho que ela também tinha medo de ter sua visão de "tabula rasa" questionada.. pois isso traria uma série de obstáculos pra suas ideias, como venho discutindo nos textos.

Dood disse...

"Primeiro, Rand diz que ideias filosóficas são o que move o mundo — ignorando outros fatores que citei na postagem #3. Depois, ela nos faz crer que o homem é “tabula rasa” e que basta você lhe oferecer a “programação” certa, que ele terá capacidade de agir de acordo. Assim, ela conclui que a melhor forma de mudar a sociedade é através da argumentação, da persuasão intelectual direta — simplesmente expondo o maior número de pessoas às ideias corretas."

Me lembrou a parte que eu estava explanando sobre "inserir ideias". Comentei sobre como a natureza humana deseja muito gente que concorde com ideias, ainda mais quando existe algo passional por elas. É um desafio mudar mentes e aceitação de que aquelas ideias estão erradas ou são questionáveis. Eu dizia que a primeiro momento, nunca devemos ser diretos com esse tipo de argumentação, que precisamos compreender ou usar a compreensão dos motivos que levam aquela pessoa a pensar assim. Desse ponto podemos partir para um tentativa de inserção ou de mudança de ideias, precisamos estabelecer conexão social antes, para chegar a esse ponto. Tem que ser orgânico e não panfletário. Naturalmente as melhores e mais saudáveis ideias tem mais chance de prevalecer.

"Quando adultos estão falando com crianças, eles sabem que precisam levar em conta o contexto psicológico da criança — que devem ter filtros para sexo, para exposição à violência (e que isso não tem nada a ver com falta de integridade ou evasão). Mas Rand às vezes não entendia que suas ideias exigem um tipo de intelecto e de maturidade que a média da população simplesmente não tem. Que, filosoficamente, ela é como uma adulta se dirigindo a crianças. Ela era otimista demais em relação ao homem comum (isso às vezes, pois em certos momentos, ela dizia que virtude é algo raro na humanidade), o que a levava a crer que bastaria ela escancarar os fatos publicamente, que as pessoas teriam capacidade de aceitá-los."

Esse ponto levantado é interessante: justamente complementa o que falei anteriormente: eu preciso saber com quem falo para saber como as ideias serão implantadas. E como vou desenvolver meu conteúdo para aquele público. Eu preciso conhecer o outro, eu preciso de uma abertura se eu quero que minha ideia funcione, eu preciso conhecer bem o público que vou aplicar a mesma.

Caio Amaral disse...

Sim, um ponto crucial que eu já discuti em outros lugares é esse do "ponto de partida" de cada um.. Objetivistas tendem a ser naturalmente éticos, responsáveis, "inofensivos" no sentido de não considerarem trapacear os outros, serem inconsequentes, etc. E muitas vezes são pessoas mais tímidas, que precisam aprender a ser mais assertivas, a dar ouvidos aos próprios desejos, etc. Então a ideia de "autointeresse" soa como uma dádiva pra alguém assim.. é isso que a pessoa precisa pra crescer na vida. Mas pense em alguém que vem de um outro ponto de partida.. alguém mais impulsivo e naturalmente "egoísta", inconsequente.. cujos traumas vêm mais de terem feito coisas antiéticas ao ir atrás dos próprios desejos.. Essa pessoa quando ouve da "virtude do egoísmo" tem uma reação negativa.. pois o que ela precisa é aprender a se regular, se livrar de certos impulsos que associa a autointeresse. No fim PODE SER que ambas estejam buscando o mesmo equilíbrio entre felicidade pessoal e ética.. mas dependendo de como se comunicam, de como enfatizam coisas opostas, elas podem soar mais incompatíveis e inimigas do que são na prática.

Leonardo disse...

Olá, Caio.

Excelente insight, o de que pessoas rígidas moralmente têm menor autointeresse e menor exploração dos desejos. Observo este fenômeno de forma empírica, mas não tinha formulado teoricamente ainda. Pacientes crianças e adolescentes que têm o esquema de Padrões Inflexíveis (ou Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva ou Anancástica), são extremamente rígidos eticamente, obedecem os pais e professores sem qualquer questionamento, são excelentes alunos na escola. Mas ao perguntar a razão pela qual agem desta forma, ou se elas possuem desejos pessoais, segredos, vontades "hedonistas" e até 'impulsos do corpo' (no caso de adolescentes), as respostas cumprem um padrão de variações de "não sei, não tenho, não penso, é meu dever e minha obrigação".

Evidentemente há forte sofrimento em um adolescente que acredita que a sua obrigação/dever é manter a casa limpa para os pais e tirar boas notas, mas que ao ir ao cinema com os amigos é um motivo de culpa (assim como fazer academia, deixar a louça suja um dia ou conversar com os amigos depois da escola). Neste ponto, tenho trabalhado a hierarquia de valores, de que tudo o que a pessoa já faz, ela faz por algum motivo OU que ela têm que descobrir um motivo (limpar a casa não porque os pais mandam, mas porque um ambiente limpo é um valor para ela. Notas boas não pq os professores mandam, mas pq ela vai ter melhores oportunidades no futuro). Uma vez descoberto este motivo, é o mesmo pricípio para descobrir seu autointeresse e desejos pessoais e motivar a pessoa à ação prática. Os resultados que tenho obtido são impressionantes até para mim kkkk.

Agora pensei em aplicar este insight na clínica com cristãos que passam pelas mesmas situações. Alguns pacientes praticam a ética do autossacrifício sem saber o motivo, e são extremamente rígidos com esta ética. A técnica chamada "Questionamento Socrático" tem funcionado para identificar o núcleo da ação (uma sequência ostensiva de perguntas "porque? e como voce sabe?"). Geralmente os pacientes choram quando chegam no "não sei porque faço, sempre fiz assim, gostaria de fazer diferente, mas não sei como". E então a partir daí trabalhamos a mudança de crenças e pensamentos disfuncionais (como aquela correção do programador do computador, que elimina falsas associações ou falsos positivos).

Mas enfim, boa observação.

Leonardo disse...

Ah sim, escrevi empolgado e esqueci de acrescentar uma observação sobre o segundo grupo.

Também é verdadeiro. Quando pacientes impulsivos, absolutamente hedonistas, que têm passagens pela polícia, falam o que gostariam de trabalhar na clínica - os termos do contrato. Eles falam que gostariam de maior segurança nas ações, ter maior clareza das consequências de seus atos, dimunuir a infelicidade (o hedonismo deste grupo geralmente tem trazido graves consequências de vida prática, o que os tornam infelizes. Não obstante, existe relatos de abuso de substâncias psicoativas para obtenção de prazer imediato).

O segundo grupo também expressa um erro na conceituação de autointeresse. Como comportamento de manada, reforço social para tudo, autodestruição a longo prazo para obtenção de prazer a curto prazo, falta de insights sobre si mesmo e desconhecimento das próprias emoções e sentimentos.

No primeiro grupo trabalho com a ativação comportamental. No segundo com a regulação comportamental. Ambos para obter o mesmo ponto de equilibrio.

Caio Amaral disse...

Legal Leonardo! Vc observa o mesmo padrão, mas com seu embasamento e experiência de campo, consegue linkar o fenômeno a outros conhecimentos científicos.. Sem dúvida é algo que pode ajudar a entender diversas situações que envolvem conflitos de valores, etc. abs!

Dood disse...

Excelentes as postagens do Leonardo, a sua vivência com terapias e casos descritos aqui posteriormente pesquisarei e irei inserir nos meus estudos.

Lembrando que faço isso de forma livre e quando gravo algo sobre eles falo dele ser uma ferramenta complementar, até porque o que levo em conta dentro do campo é experiência em observação na tomada de decisões.


Leonardo disse...

Olá, Dood.

Muito obrigado. Fico feliz que gostou e que ficou interessado (e eu acabo empolgado e falo mais do que o que devia kkk). Se não ficou meio óbvio ainda, eu sou psicólogo. Tenho por princípio pessoal o de que nenhum conhecimento científico ou informação deve ser ocultada do público, e isso inclui a psicologia. Muitas abordagens da psicologia são anti-científicas, não-científicas ou defendem que o conhecimento da ciência pertence ao terapeuta e que o paciente não pode obtê-lo. Então quero dar umas dicas de pesquisa, caso te ajude.

Como exemplo das anti-científicas eu posso citar algumas conferências do Jung, que mais tarde viraram livros. Jung afirmou que o método científico moderno é muito "americano" e que uma nova ciência precisa de um novo método. Particularmente, eu gosto da Psicologia Analítica de Jung para avaliação de arte, história e cultura - o que mais tarde cascateia no monomito e em Star Wars. Mas ela reprova em metodologia.

Entre as não-científicas estão algumas variações da psicanálise que reprovam, por exemplo, no falsificacionismo de Karl Popper e que apresentam evidências circulares.

O livro Explicando o Pós Modernismo do Hicks expôs um aspecto da psicologia que até meus professores esconderam propositalmente, e que também por isso entram na terceira categoria. A psicologia histórico-crítica ou psicologia social foi criada para investigar o fracasso do comunismo e para promovê-lo sutilmente na clínica (como eu fiquei em choque, mais tarde pude confirmar nos textos 'especiais' e com meus professores, e é verdadeiro). Aqui é mais um exemplo da noção dos filósofos-reis de platão, que retém conhecimento e autoridade sobre uma massa de pessoas, mas em vez de política ou economia, é a psicologia.

A Terapia Cognitivo Comportamental é a mais moderna e a que mais apresenta resultados positivos que passam por crivo de método e de revisão por pares. É a abordagem com a qual trabalho. A TCC também defende que o conhecimento da psicologia não pertence à academia ou a clínica somente e que o paciente deve ser psicoeducado para se tornar o próprio terapeuta sem precisar de apoio exterior. O paciente também deve entender que aquela prestação de serviço cumpre termos de contrato, de que ele observa resultados reais e de que ele entende todos os detalhes do processo passo a passo. Então talvez tu encontre muito mais material e textos muito mais acessíveis dentro da TCC.

Particularmente, percebo que a TCC pode coexistir com o Objetivismo em metafísica, epistemologia e ética. Para a TCC, e de forma beeeem resumida, pensamentos disfuncionais oriundos de crenças e de visão de mundo equivocadas (ou senso de vida), são antecessores de ações práticas que reforçam aquela crença de mundo ou que provocam prejuízo na vida da pessoa. Também criam "pacotes de idéias" (esqueci o termo que a Rand usou para definir esta mentalidade, mas está nos textos de epistemologia dela) que "sequestram" conceitos válidos e os substituem por crenças subjetivas e que vão influenciar todos os aspectos de alguém, da infância até a velhice. Trabalha-se, então, com a modificação de pensamentos automáticos e de crenças irreais, que devem ser justapostas e verificadas diretamente com a realidade objetiva. O paciente, ao obter o insight de que seu método epistemológico é falso, ele começa a "checar suas premissas" e a mudá-las.

Note que tudo da psicologia deve estar de acordo com a neurologia, pois é a ciência mais objetiva que trata do órgão pelo qual toda a psicologia é derivada. Eles devem ser harmoniosos e não conflituosos (dialéticos, como alguns autores podem chamar).

Por fim, o DSM-5 tem um volume de "discussão e estudo de casos". Se tu tem interesse em se aprofundar em psicopatologia e demais transtornos, mas não teve contato com a academia ou com a clínica, o livro é um material excelente.

Dood disse...

Leonardo obrigado. Como faço um estudo sobre anti-socialidade e observo comportamentos distintos referentes a isso, bem como observo também isso em mim. Como minha esposa me disse: é muito difícil buscar tratamento para isto, ainda mais vindo do SUS. Aqui luto para conseguir psiquiatria sem sucesso, tento até desistido. Eu tento lidar com isso da forma que tenho, já usei medicamentos de um neuro muito tempo atrás. Minha atração por filosofia e psicologia se intensificou um ano após a morte da minha mãe em 2016.

Leonardo disse...

Oi, Dood. Disponha. E lamento muito pelos acontecimentos recentes. Sempre é iportante procurar ajuda.

Dá uma olhada em Esquema de Isolamento Social, talvez te interesse (https://mamtra.com.br/esquema-de-isolamento-social/). Desconheço o site, mas a fonte é direta do livro.

(postei acima por acidente em uma conta que não uso mais e nem sabia que estava logado).