Michael Jackson uma vez disse: "a melhor educação do mundo é ver os mestres trabalhando", e acho que poucos registros em vídeo podem te dar uma visão tão memorável de "mestres trabalhando" quanto o making of de We Are The World. Já tinha visto muitos trechos dessa gravação, mas me surpreendi com as coisas que estão no documentário que eu nunca tinha visto antes. Pra mim essa produção é um dos eventos canônicos do Idealismo americano dos anos 70-90; é uma demonstração impressionante do profissionalismo dos artistas envolvidos, e um alinhamento de talentos que parece quase impossível de se repetir.
Há uma motivação altruísta por trás do projeto como um todo que eu não aprovo necessariamente, mas isso não afeta os méritos da música e dos artistas. Teoricamente falando, é um dos melhores exemplos de como uma mensagem semi-altruísta e uma função prática/social podem estar associadas a um trabalho artístico sem torná-lo Anti-Idealista. (Como discuto no texto A intenção de um filme, essas mensagens se tornam destrutivas só quando aparecem em oposição aos valores positivos — quando vão contra a intenção de entreter, de inspirar, demonstrar talento — algo que We Are the World não faz.)
Um relato pessoal interessante: uma das memórias mais remotas da minha infância, que talvez tenha sido a primeira vez que algo artístico me provocou um sentimento profundo, uma sensação indescritível pra mim na época (que futuramente eu viria a associar ao Idealismo) é a de ter ouvido We Are the World tocando no rádio do carro dos meus pais em algum ponto dos anos 80 (eu devia ter uns 5 anos, era noite, e o carro estava estacionado em um ambiente distante da cidade, onde acontecia uma festa junina). Eu não sabia as palavras que eles estavam cantando, nem quem eram aqueles artistas, mas só pelos elementos sonoros eu sabia que era algo grandioso; algo naquelas vozes e naquela melodia dava a sensação que algo incrivelmente importante estava acontecendo no mundo, e que aquelas eram pessoas especiais, vivendo numa realidade mais elevada que não era como aquela ao meu redor, quase como vozes vindo de um Monte Olimpo moderno através do rádio. Experiências como essa, que ficam como uma tatuagem na sua alma pra vida toda, é o que eu lamento que as pessoas talvez não tenham na juventude quando a cultura se torna cínica. Quando não há nada de realmente inspirador na cultura popular, eu me pergunto se esse espaço da alma permanece vazio (se a pessoa passa a vida sem nenhum "Monte Olimpo" servindo de inspiração) ou se o espaço acaba sendo ocupado por religião, ou por qualquer coisa que seja o "ápice" do momento, mesmo que seja algo menor em estatura ou de mensagem duvidosa (como uma Elsa cantando Let It Go).
Recomendo fortemente, um dos documentários mais inspiradores que vi desde Arremesso Final (2020).
The Greatest Night in Pop / 2024 / Bao Nguyen
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