sábado, 13 de novembro de 2021

O Culpado

Já tinha visto o original dinamarquês, que era suficientemente bem feito, então estava com preguiça de ver o remake americano, até porque se trata de um desses filmes que se passam praticamente em um único cenário, com poucos atores, então não esperava um grande upgrade em termos de produção.

Jake Gyllenhaal interpreta Joe, um policial que trabalha atendendo chamadas 911, quando é surpreendido por uma ligação de uma mulher no meio de um sequestro, e começa a tentar ajudá-la à distância. Um dos problemas aqui é que este é um "filme de serviço" — atender chamadas de emergência já é o trabalho de Joe, e embora esta chamada em particular seja mais dramática do que a média, não é algo tão inesperado ou extremo assim a ponto de criar um senso de aventura (um bom indício disso é que os outros operadores do call center seguem trabalhando normalmente — não é o tipo de caso que faz com que todos se reúnam ao redor da mesa de Jake). Sem falar que nada da vida pessoal do protagonista está de fato em jogo. Ele não tem responsabilidade alguma pelo sequestro, não está sendo ameaçado, não conhece nenhum dos envolvidos, então independentemente do resultado, no fim do expediente ele pode ir pra casa e continuar sua vida normalmente (eles até tentam criar um arco onde o protagonista passa por uma transformação interna ao longo do caso, mas é algo bem forçado, pois não há uma conexão clara entre os dramas pessoais de Joe e a situação do sequestro).

SPOILER: Outro problema é que todo o esforço de Jake é pra salvar uma mulher desequilibrada que acabou de esfaquear o próprio bebê, e não uma vítima inocente. Um detalhe estranho é que no começo da história, quando Jake acha que foi o pai que matou o bebê, ele fica totalmente indignado, diz que o pai deveria ser preso e executado pelo que fez. Mas assim que ele descobre que foi a mãe em vez do pai, sua postura muda totalmente... De repente ele quer ajudá-la, só demonstra empatia, compreende que ela fez aquilo por ter problemas mentais, não por ser má (o pai não poderia ter problemas mentais também?). Eu simplesmente achei difícil de me importar pela necessidade dele de salvar a mulher, então a história pra mim foi perdendo muito do interesse.

Das mudanças em relação ao original, a que talvez tenha me incomodado mais foi a caracterização dada ao protagonista. No dinamarquês, tínhamos um homem mais controlado, profissional... Aqui, já há uma ênfase enorme nas fragilidades de Joe; a necessidade de mostrá-lo como um homem de saúde frágil, com problemas familiares, que é impulsivo, agressivo, faz coisas estúpidas, chora o tempo todo, e não um herói inteligente, no domínio da situação.

Ou seja, o que parecia ser uma versão mais minimalista (e quem sabe melhorada) de Chamada de Emergência (2013), é na verdade um drama sobre pessoas falhas aprendendo a lidar com suas dores (uma policial chega a dizer a frase "pessoas quebradas salvam pessoas quebradas", que torna explícito o tema geral do filme).

The Guilty / 2021 / Antoine Fuqua

Nível de Satisfação: 3

Categoria C/F: Entretenimento com valores mistos / elementos Anti-Idealistas

Filmes Parecidos: Culpa (2018) / Oxigênio (2021) / Buscando... (2018) / Gravidade (2013) - mas sem ação e efeitos

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