segunda-feira, 10 de abril de 2023

Idealismo e a Teoria dos Arquétipos


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Tentando estabelecer os princípios por trás de personagens memoráveis do cinema e das histórias que inspiram o público, uma peça crucial do quebra-cabeça que sempre faltou e que até agora eu não tinha tentado encaixar na teoria Idealista tem a ver com o conceito de Arquétipos.

Textos como Os 4 Pilares do Idealismo, As 5 Histórias Idealistas, O que torna um personagem gostável?, estabelecem princípios que podem servir como guia pra quem quiser criar ou analisar obras no contexto do Idealismo, mas na hora de colocar esses princípios em prática, eles ainda podem parecer amplos demais. Se você quiser escrever um protagonista interessante, por exemplo, pensando apenas em termos de um equilíbrio entre virtudes, vulnerabilidades, o leque de possibilidades pode parecer amplo demais, e levar a incongruências de caracterização. É aqui que o conceito de Arquétipos (desenvolvido a partir dos estudos de Jung, Joseph Campbell, e usado muito no mundo do Marketing hoje em dia) pode ser uma ajuda indispensável. Arquétipos ajudam a dar um corpo, uma forma mais tangível e humana pra estes princípios abstratos.

Esta não é uma teoria minha, claro (e talvez pros meus estudos ela possa ser levemente adaptada; alguns nomes de Arquétipos ajustados etc.) mas é um conceito amplamente conhecido e muito usado no mundo do entretenimento, então acho importante tentar mostrar como a teoria dos Arquétipos se encaixa na macroestrutura da teoria Idealista (pra este texto, usei como referência o livro "What Stories Are You Living?" da Carol S. Pearson, co-autora de "O Herói e o Fora da Lei").

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A utilidade dos Arquétipos:

Na tradição do Formalismo, a arte busca reorganizar a realidade para servir às necessidades e interesses do espectador. O artista não apresenta a realidade crua, mas uma realidade adaptada à mente humana. E assim como certas combinações de notas musicais ou de cores são percebidas como mais harmoniosas pelos nossos sentidos e por nossas mentes, certas combinações de traços de personalidade também são mais atraentes do que outras para o observador (ainda que na natureza bruta todo tipo de desarmonia possa existir). Arquétipos seriam como acordes musicais ou esquemas de cor — uma combinação de traços de personalidade que ao longo dos séculos já se provaram atraentes e significativos para a experiência humana.

Qualquer personagem icônico do cinema que você possa lembrar será provavelmente uma representação bem sucedida de um Arquétipo (ou de sua Sombra), pois Arquétipos são baseados em personalidades e em necessidades humanas das mais universais (o desejo por conhecimento, por sucesso, por amor, por aventura, por poder, por diversão) então dificilmente algo que é atraente e importante pra muitas pessoas não estará vinculado às motivações de algum Arquétipo (lembrando que personagens não precisam se limitar a apenas 1 Arquétipo, e frequentemente fazem combinações de 2 ou mais). 

Arquétipos podem ser representados não apenas por figuras humanas, mas por qualquer coisa que projete valores a um observador: histórias, marcas, empresas, obras de arte, roupas, objetos, culturas, países — então o conceito tem inúmeras utilidades; Arquétipos podem te ajudar não só a escrever um personagem melhor, mas também a melhorar a comunicação visual de sua empresa, a preparar um discurso, a adotar um estilo pessoal que seja mais autêntico e coeso — afinal, a personalidade e os valores de cada um de nós também refletem Arquétipos (e há testes que você pode fazer pra te ajudar a descobrir quais Arquétipos são mais dominantes em sua personalidade neste momento — claro que ao longo de uma vida isso pode ir mudando).

Abaixo vou fazer uma descrição dos 12 Arquétipos (como definidos por Carol S. Pearson) e suas qualidades, motivações, necessidades. Não vou me alongar demais em cada Arquétipo pois é fácil encontrar descrições aprofundadas da própria autora e de outros experts (os Arquétipos têm várias outras necessidades, motivações, e Sombras que não terei espaço pra incluir aqui, e que podem ser as que trariam os insights mais importantes pra você pessoalmente).


Os 12 Arquétipos:

- O Idealista: Precisa se manter positivo, persistir, e se manter fiel aos seus valores pessoais e aspirações. Encontra significado na esperança em algo ou alguém. Procura notar o que é bom e virtuoso no mundo, e mantém viva a inocência da criança. (Também conhecido como: Inocente. Não confundir com o termo "Idealismo" que uso no contexto da teoria cinematográfica)

- O Realista: Precisa encarar fatos que muitos preferem não ver, e achar maneiras práticas de lidar com eles. Encontra significado realizando tarefas comuns e apreciando a vida como ela é. É resiliente, despretensioso, aceita que a vida é muitas vezes cruel e injusta. Dá apoio a pessoas que viveram suas dificuldades, e evita perder tempo com sonhos impossíveis. (Também conhecido como: Órfão / Cara Comum)

- O Guerreiro: Precisa ter coragem para defender seus valores e proteger os outros. Encontra significado tendo força para competir, vencer, persistir em busca de metas difíceis, resgatar e defender pessoas em perigo. Encara seus oponentes com habilidade e vigor, e supera seus medos e dores para ser vitorioso. (Também conhecido como: Herói)


- O Cuidador: Precisa cuidar dos outros mesmo quando isso exige colocar suas necessidades em segundo lugar. Encontra significado no serviço, na generosidade, em realizar as funções de cuidados que uma comunidade precisa para florescer. Tem sua compaixão e espírito caridoso despertados quando vê pobreza, sofrimento e outras dificuldades.

- O Explorador: Precisa deixar uma situação negativa ou entediante em busca de algo melhor. Encontra significado saindo atrás daquilo que lhe desperta o interesse, e na emoção da descoberta. É independente e se recusa a viver uma vida convencional. Deseja encontrar uma identidade autêntica e testar os limites do que é possível.

- O Amante: Precisa enfrentar o medo de ser vulnerável para atingir intimidade com os outros. Encontra significado no prazer da união e na interdependência. Enxerga na dedicação às coisas que ama — parceiros, amigos, atividades, animais, objetos e lugares belos — o caminho para uma vida plena e abundante.


- O Revolucionário: Precisa mudar radicalmente sua vida, crenças ou uma situação. Encontra significado rejeitando as coisas como elas eram em nome de algo novo e melhor. É um não-conformista que desafia as regras e o status-quo. É guiado por uma visão de um mundo melhor, que contrasta drasticamente com a visão da sociedade atual e das pessoas no poder. (Também conhecido como: Fora da Lei / Rebelde)

- O Criador: Precisa inovar, criar ou inventar algo novo. Encontra significado expressando uma visão pessoal em uma forma artística tangível que provoque inspiração. É imaginativo, faz conexões entre ideias que parecem contra-intuitivas, e enxerga a vida como um material bruto que deve ser transformado em algo maravilhoso.

- O Mago: Precisa transformar pessoas e situações. Faz sonhos se tornarem realidade acessando as leis menos conhecidas do universo. Acredita que tudo no mundo é interconectado, e que a mente tem o poder de transformar o ordinário em extraordinário.


- O Sábio: Precisa pensar profundamente e buscar respostas para enigmas difíceis. Encontra significado descobrindo e compartilhando verdades verificáveis através de algum processo de análise racional. É curioso, ama aprender, solucionar problemas, discutir seus conhecimentos com amigos, e instruir aqueles que sabem menos.


- O Governante: Precisa reivindicar sua autoridade e tomar controle sobre uma situação. Encontra significado servindo às pessoas através de sua liderança. Deseja estar no comando e exercitar seu poder, especialmente quando nota que as inaptidões dos outros podem levar uma situação ao caos.


- O Brincalhão: Precisa relaxar e aproveitar a vida ao máximo. Encontra significado alegrando os outros e ajudando pessoas a viverem o aqui e o agora, sem se preocuparem demais com o passado e o futuro. É livre, irreverente, gosta de provocar risos. Encontra possibilidades para o prazer em qualquer situação, e maneiras espertas de contornar problemas. (Também conhecido como: Bobo da Corte)


Cada um desses Arquétipos vem acompanhado não só de características estáticas, mas também de uma "trama" ou narrativa — uma história com começo, meio e fim baseada em suas necessidades fundamentais e suas dificuldades internas lógicas (no livro What Stories Are You Living?, Pearson detalha melhor cada um desses enredos). Todo Arquétipo tem sua própria "jornada do herói", onde ele parte de um estado mais imaturo, sai em busca de um desejo fundamental, enfrenta seus dragões, suas Sombras (todo arquétipo tem um lado negro potencial que precisa ser resistido), até que no fim ele encontra aquilo que buscava e passa para um estado mais evoluído do Arquétipo (ou é vencido pela Sombra, no caso de histórias trágicas).


As Sombras e os pontos fracos de cada Arquétipo:

- O Idealista: Ingenuidade quanto às dificuldades do mundo real. Visão simplista de como as coisas deveriam ser. Se tornar puritano, crítico, desiludido com o mundo e com os outros. Não ter empatia com aqueles vistos como maus.



- O Realista: Abandonar sonhos por medo de se decepcionar. Ignorar oportunidades que parecem boas demais para serem verdade, mas que seriam viáveis com um pouco mais de otimismo. Se tornar cínico, pessimista, reclamar constantemente, e se identificar como vítima.


- O Guerreiro: Enxergar tudo como uma batalha, o mundo como um lugar hostil, e todas as pessoas como adversários a serem derrotados. Se tornar impiedoso, insensível, arrogante, obcecado com sempre vencer, e adotar um estoicismo autodestrutivo.



- O Cuidador: Se martirizar / sacrificar pelos outros, levando ao "burnout" e a sentimentos de amargura e ressentimento. Viver culpado por pensar nas próprias necessidades, ou por não conseguir ajudar os outros o bastante. Se tornar co-dependente e controlador.


- O Explorador: Se tornar incapaz de assumir compromissos e criar vínculos. Vagar sem rumo apenas para fugir de papéis restritivos. Decepção crônica. Se sentir solitário, alienado da sociedade por se distanciar demais das convenções. Perder oportunidades de relacionamentos, trabalhos, por estar sempre indo atrás de algo novo e mantendo o horizonte livre.

- O Amante: Mergulhar de forma cega e descuidada em relações. Se desiludir quando suas expectativas românticas são frustradas. Se tornar viciado em romance e sexo. Seduzir e objetificar os outros. Sacrificar sua autenticidade e perder sua individualidade na tentativa de se fundir com o outro.


- O Revolucionário: Se tornar um rebelde sem causa. Agir de forma revoltada sem propósitos construtivos e estratégias de como melhorar a situação. Se tornar negativo, crítico em relação a tudo. Provocar caos e destruição.



- O Criador: Perfeccionismo improdutivo, autocrítica exagerada. Sacrificar originalidade e integridade artística em nome de pressões financeiras ou do desejo de agradar. Se tornar auto-indulgente, abandonar a ética e ceder ao estrelismo em busca de suas realizações.


- O Mago: Não saber distinguir realidade de imaginação. Acreditar em fantasias e ilusões. Assumir mais tarefas do que tem poder de lidar. Usar poderes para o mal. Se tornar manipulador, charlatão, ou adquirir comportamento de gurus e líderes de cultos.



- O Sábio: Se tornar dogmático, impraticável. Racionalismo que restringe a imaginação e cega para verdades mais profundas. Chegar a conclusões precipitadas por não saber lidar com incertezas. Perder empatia e se desconectar de sentimentos. 



- O Governante: Se tornar rígido, autoritário, obcecado por controle. Abuso de poder (para obter vantagens e eliminar adversários). Se tornar arrogante, elitista, se preocupar demais com imagem e status, e deixar de cumprir responsabilidades maiores. 



- O Brincalhão: Se tornar hedonista, irresponsável, preguiçoso. Não medir as consequências de suas diversões. Ceder aos vícios. Usar humor pra mascarar ansiedade e depressão. Ser debochado e cruel com suas piadas, gerando inimigos.



Os seres humanos estão sempre usando narrativas para dar sentido ao mundo ao seu redor. Se uma pessoa vê um acidente na estrada, por exemplo, ela tenderá a olhar para a cena até que a situação possa ser explicada por alguma causa e por uma narrativa Arquetípica — talvez, ao notar que se trata de um carro de luxo, ela conclua que a causa do acidente foi um "Governante" tomado pela arrogância; ou quem sabe um "Guerreiro" expressando sua hostilidade no volante (no caso de um carro possante), ou um "Idealista" despreparado para lidar com buracos na rodovia e as imperfeições do mundo real (talvez você note um adesivo do Mickey na janela). Poucas coisas nos dão mais a sensação de "Ah, agora eu saquei!" do que algo se enquadrar numa narrativa arquetípica (o que pode ser bastante perigoso, e levar a pré-julgamentos nocivos).

"Até que um personagem se torne uma personalidade, ele não parece crível. Sem personalidade, o personagem pode até fazer coisas engraçadas ou interessantes, mas a não ser que as pessoas possam se identificar com o personagem, suas ações parecerão irreais. E sem personalidade, uma história não soa verdadeira para a plateia." - Walt Disney

Quando Walt Disney fala em "personalidade" na frase acima, podemos substituir o termo por Arquétipos e suas jornadas também. Mickey Mouse é um arquétipo Idealista-Inocente, e plateias se identificavam com ele por ele ser uma "encarnação" bem-sucedida deste Arquétipo, e se envolver em uma série de situações/ações memoráveis que o concretizavam. Arquétipos podem ter nuances, e podem também se combinar com outros em contextos diferentes: Mickey Mouse, em algumas histórias, além do Idealista podia incorporar também O Amante, O Mago, O Brincalhão... Mas tente pensar em um personagem como o Mickey que não representasse nenhum dos 12 Arquétipos, e nenhuma das Sombras também. Teria ele criado conexão com o público? E pense agora num personagem que ainda não existe: uma Barata falante, por exemplo, e atribua a ela qualidades de algum Arquétipo — talvez ela seja uma Idealista também, e se mete em uma série de confusões por confiar em todos e não entender por que os humanos estão sempre querendo esmagá-la. Ou talvez ela seja uma Realista cínica, cuja autoconfiança foi atrofiada após uma vida inteira de rejeição das outras espécies — subitamente o personagem parece mais palpável.

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Arquétipos na teoria do Idealismo:

Ao longo do livro, há vários personagens do cinema que uso frequentemente como modelos, e todos eles se encaixam em um ou mais arquétipos. Indiana Jones é um Explorador, Sigourney Weaver em Aliens é uma Guerreira, Macaulay Culkin em Esqueceram de Mim é um Brincalhão, assim como Ferris Bueller em Curtindo a Vida Adoidado e Whoopi Goldberg em Mudança de Hábito. Maria de A Noviça Rebelde é uma Idealista e Cuidadora, Rose de Titanic é uma Amante. Já no caso de vilões ou protagonistas de histórias trágicas, vemos as Sombras dos Arquétipos. Ninfomaníaca mostra uma Amante consumida pelo vício em sexo. Norma Desmond de Crepúsculo dos Deuses é uma Criadora (arquétipo também conhecido como Artista) que caiu pra auto-indulgência, pro comportamento de "prima-dona". HAL-9000 de 2001 é um Sábio cujo racionalismo o desconectou da realidade e o tornou frio, sem empatia. Darth Vader de Star Wars é um Guerreiro / Governante consumido pela ira, sede de poder. Cidadão Kane mostra um Governante que se tornou arrogante, ganancioso. Em Dançando no Escuro vemos uma Idealista cujo otimismo é tão ingênuo que a deixou vulnerável e cega para os perigos da vida real (repare na esperteza do título e no fato da personagem se tornar literalmente cega, cantando canções de musicais americanos em ambientes altamente hostis).

Ou seja, no Idealismo, filmes buscam inspirar o espectador celebrando Arquétipos em suas versões saudáveis, positivas. Já as Sombras dos Arquétipos são usadas para vilões, tragédias, "cautionary tales", e exemplos a não serem seguidos — além de comédias (humor quase sempre surge de algum choque ou incongruência entre narrativas arquetípicas sendo vividas de forma absurda).

Arquétipos Complementares:

Como cito no livro, Contrastes muitas vezes precisam ser usados pra evitar que um traço positivo de caráter se torne excessivo e passe impressões negativas (por exemplo: uma vulnerabilidade pode ser incluída para que um herói não pareça desumano, arrogante). A maioria dos Arquétipos precisa ser "balanceado" por um arquétipo complementar para que ele se torne sustentável, evoluído, maduro. Sem este equilíbrio, não só o personagem pode se tornar uma caricatura unidimensional, desinteressante, como também o Arquétipo pode tender para o lado da Sombra:

- Idealista + Realista: A ingenuidade do Idealista pode ser balanceada com o pé no chão do Realista, enquanto o cinismo do Realista pode ser balanceado com o otimismo do Idealista.

- Guerreiro + Cuidador: A agressividade do Guerreiro pode ser balanceada com a bondade do Cuidador, enquanto a submissão do Cuidador às necessidades dos outros pode ser balanceada com a assertividade do Guerreiro.

- Explorador + Amante: A solidão e alienação do Explorador podem ser balanceadas com o comprometimento do Amante, enquanto a co-dependência do Amante pode ser balanceada com o senso de individualidade do Explorador.

- Revolucionário + Criador: O impulso destrutivo do Revolucionário pode ser balanceado com a intenção construtiva do Criador, enquanto as inseguranças criativas do Criador podem ser balanceadas com a ousadia do Revolucionário.

- Mago + Sábio: O pensamento ilusório do Mago pode ser balanceado pelo ceticismo e a racionalidade do Sábio, enquanto o raciocínio linear limitante do Sábio pode ser balanceado pela imaginação e intuição do Mago. 

- Governante + Brincalhão: A rigidez e seriedade do Governante pode ser balanceada pela leveza do Brincalhão, enquanto a irresponsabilidade do Brincalhão pode ser balanceada pelo senso de disciplina do Governante.

Reparem que a maioria dos personagens que usei de exemplo são expressões saudáveis de seus Arquétipos, e incluem uma dose de Arquétipos complementares: Indiana Jones é Explorador, independente, mas tem um lado comprometido que ele deixa emergir de vez em quando, quando mostra lealdade aos seus companheiros, a um trabalho estável como professor, ou quando decide se casar com Marion no 4º filme (assumindo um compromisso, mas sem abrir mão de seu chapéu e de sua essência aventureira). Brincalhões como Kevin de Esqueceram de Mim, Deloris de Mudança de Hábito, ou Ferris Bueller, curtem a vida e trazem diversão para os outros ao longo do filme, porém há uma dose de responsabilidade por trás de tudo que eles fazem: no final, Kevin protegeu sua casa, aprendeu a lavar roupas, fazer compras, Ferris trouxe amadurecimento emocional para o seu amigo, Deloris revitalizou a igreja e ganhou o respeito da Madre Superiora (faz as pazes com o "Governante" rígido, oponente natural do Brincalhão). Maria de A Noviça Rebelde é Idealista (além de Cuidadora), mas após enfrentar diversas dificuldades do mundo real (conflitos com a religião, conflitos de classe, dramas psicológicos, e até a perseguição de nazistas) ela fortalece um lado Realista, sem perder sua visão otimista de mundo. Rose de Titanic é uma Amante, mas que se prova capaz de viver sua própria jornada, cultivar um senso de independência (ela escolhe soprar o apito e chamar o barco salva-vidas, em vez de afundar unida a Jack; e as fotos dela montando cavalo no final ou com traje de aviador são um contraste Explorador bastante gratificante para o Amante).

A versão totalmente madura e equilibrada dos Arquétipos não costuma gerar muito entretenimento. É por isso que na mídia e na cultura popular, normalmente as pessoas mais sensatas não são as que têm mais audiência — o que se torna um perigo quando a população começa a enxergar tudo no mundo como entretenimento; inclusive a política, o jornalismo, a ciência, educação, onde você não deveria querer versões imaturas dos Arquétipos só pra tornar o espetáculo mais divertido (o que me lembra de uma frase que li do Jay-Z: "É difícil superar o valor de entretenimento de pessoas que deliberadamente compreendem mal o mundo, pessoas loucas para serem insultadas, procurando uma bala pra saltarem na frente.").

No cinema, o equilíbrio e o amadurecimento total do personagem normalmente só ocorrem no final das histórias. O que fisga o espectador é a Jornada: o personagem ainda não muito evoluído, lidando com seus excessos, suas Sombras, em busca de sua realização pessoal. Os personagens usados de exemplo só se tornaram icônicos pois eles viveram plenamente seus Arquétipos; ilustraram as versões máximas do Brincalhão, do Guerreiro, do Explorador, do Cuidador etc. Não começaram já totalmente equilibrados, e chegaram até a correr riscos, se aproximando perigosamente de suas Sombras. Mas o equilíbrio se faz necessário em algum grau para que eles permaneçam exemplares (lembrando que as principais teorias do Carisma indicam que admiração vem através de um equilíbrio entre Força e Bondade; Capacidade e Boas Intenções; "Strength + Warmth").

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Arquétipos e as 5 Histórias Idealistas:

Arquétipos podem ser usados na construção de personagens, mas também na construção da história e do filme como um todo. Geralmente o Arquétipo do filme é o mesmo que o Arquétipo do protagonista: Indiana Jones é um Explorador em um narrativa também Exploradora. Mas este nem sempre é o caso (em tragédias ou comédias, por exemplo, o filme pode promover um Arquétipo oposto ao incorporado pelo protagonista).

Olhando para as 5 Histórias Idealistas, podemos ver como os Arquétipos se organizam melhor dentro de cada uma delas:

As Histórias 1, 2 e 3 são sobre "viver os positivos" — personagens que começam em estados de insatisfação, incompletude, e embarcam numa jornada onde viverão ao máximo os valores que desejam: Benevolência (1), Autoestima (2) e Excitação (3):

A História 1, focada em Benevolência (uma busca por harmonia, paz, felicidade, esperança), é compatível com o Idealista, o Amante e o Cuidador, por exemplo.

A História 2, focada em Autoestima (uma busca por força, sucesso, respeito, poder), é compatível com o Guerreiro, o Criador, o Governante.

A História 3, focada em Excitação (uma busca por diversão, variedade, aventura, escapismo), é compatível com o Explorador, o Brincalhão, o Mago e também com o Sábio — uma observação sobre o caso do Sábio: histórias de ficção raramente são baseadas apenas em um desejo por conhecimento, no pilar da Objetividade, que é um valor mais epistemológico do que emocional; entretenimento requer emoções, portanto jornadas do Sábio — como filmes sobre descobertas científicas, investigações, mistérios — costumam estar associadas a um elemento de Excitação ou Autoestima, e Arquétipos ligados a esses valores mais emocionais). 


A História 4 é sobre "sobreviver aos negativos" — histórias que mostram situações de grande sofrimento, injustiça, e os personagens embarcam numa jornada para derrotar aquele mal e restaurar o bem. O Revolucionário e o Guerreiro são particularmente adequados para esta narrativa, mas outros Arquétipos também podem protagonizar esta história (como o Realista, o Idealista). Este tipo de história ("sobreviver aos negativos") se difere das 3 primeiras principalmente por focar mais no combate dos negativos do que no aproveitamento dos positivos. A História 4 poderia ser desmembrada em 3 categorias também, assim como as do primeiro grupo: histórias sobre personagens sobrevivendo à tristeza, desilusão, falta de esperança (4-1) / ou à rejeição, falta de respeito pessoal e poder (4-2) / ou à proibição, rigidez (4-3) — e Arquétipos como o Amante, o Cuidador, e outros, também seriam adequados para uma História do tipo 4, mais focada em resistir às dificuldades.

A História 5 é sobre "sucumbir aos negativos" — histórias trágicas que mostram personagens maus, falhos, cometendo atos condenáveis e sofrendo as consequências. Ou seja, a História 5 serve pra representar as Sombras dos Arquétipos, e qualquer um dos 12 Arquétipos em suas versões corrompidas podem ser usados aqui, em espírito de denúncia.

Nem todos os 12 Arquétipos positivos são compatíveis com o Idealismo no mesmo grau. O Realista, por exemplo, pode ser um arquétipo mais útil para o Não Idealismo ou para o Anti-Idealismo. O Revolucionário, por seu foco em derrubar um sistema falho, dificilmente protagonizará uma história Idealista pura sobre "viver os positivos". Assim como o Cuidador, quando está focado apenas em remediar dores (a não ser que ele também seja um Idealista, Brincalhão ou Mago como Mary Poppins). 

Arquétipos como o Explorador, o Criador, o Brincalhão e o Idealista têm uma compatibilidade mais natural com o Idealismo. Porém todos os 12 Arquétipos em suas versões positivas, saudáveis, são compatíveis com as 5 Histórias Idealistas, até mesmo o Realista, cuja resiliência e "pé no chão" (diante de uma sociedade insana, quem sabe) pode inspirar e divertir o espectador, especialmente se tiver equilibrado com o Arquétipo Idealista complementar, ou tiver uma pitada de Sábio, de Guerreiro, de Brincalhão, etc.

Ao combinar arquétipos, é preciso ficar atento para o fato de que algumas parcerias entre Arquétipos são mais bem sucedidas do que outras. Existem Arquétipos que são aliados naturais, e outros que criam dissonância quando sobrepostos. Os Arquétipos complementares usados para balancear personagens muitas vezes são opostos ao Arquétipo dominante, e só funcionam em doses pequenas. Dar um toque de Brincalhão para um Governante pode torná-lo bastante carismático (pense em como Morgan Freeman interpreta presidentes, ou até Deus), porém se você pega um rei, um juiz, um CEO poderoso, e o torna realmente um Brincalhão, ele pode perder seu carisma principal como Governante (o que funciona bem em comédias). Ou seja, alguns Arquétipos são aliados naturais (Mago + Sábio, Idealista + Explorador, Guerreiro + Revolucionário). Alguns não são aliados tão próximos, mas podem ser combinados pra tornar um personagem mais complexo, único. Por exemplo: o Governante e o Criador não andam sempre juntos, mas ao pensar num "chefão" da arte, da moda, você pode criar um personagem memorável como Meryl Streep em O Diabo Veste Prada. Lawrence, de Lawrence da Arábia, começa apresentando traços atraentes de um Explorador, porém quando sua Sombra fica evidente mais pro final do filme, nós não vemos a Sombra típica do Explorador, e sim uma que se assemelha mais às Sombras do Revolucionário e do Governante, o que o torna um personagem intrigante e não tão fácil de decifrar.

Já outros arquétipos costumam brigar entre si, e criam dissonância quando combinados; como o Idealista e o Revolucionário; o Cuidador e o Explorador; o Amante e o Mago, entre outros. Portanto, eles devem ser combinados com cautela se sua intenção for criar harmonia na mente do espectador.

Quando um Arquétipo apresentado como saudável deixa escapar traços de sua Sombra em uma história que não é um "cautionary tale" (ou seja, está tentando retratar positivamente o Arquétipo, e não assume ou tem conhecimento desta Sombra que apenas o observador está enxergando), isto é uma fórmula para criar um sentimento de indignação moral e desprezo.

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Arquétipos na Sociedade:

Indo além de personagens e histórias, Arquétipos podem nos ajudar também a entender nossa sociedade como um todo: os movimentos culturais que criam tendências políticas, comportamentais, e que interferem também na forma em que o entretenimento é produzido e como o público reage a ele a cada era.

Os 12 Arquétipos estão sempre vivos no inconsciente coletivo a todo momento. Mas a cada era, a "reputação" deles pode ir mudando, e relação da cultura com certos Arquétipos pode ir se transformando, assim como a relação que temos com velhos amigos ao longo da vida. Alguns Arquétipos podem se tornar os queridinhos de uma geração, ao mesmo tempo em que outros (que já brilharam em outras épocas) são colocados de "castigo" temporariamente.

Os Arquétipos do Idealista, do Brincalhão e do Explorador, por exemplo, foram grandes protagonistas no entretenimento dos anos 80 e 90, que era cheio de histórias sobre crianças arteiras, heróis individualistas, etc. Hoje, eles foram colocados na geladeira, e perfis como o Revolucionário, o Realista e o Cuidador se tornaram mais requisitados, levando todos a uma corrida para representá-lo (até quando não são os Arquétipos autênticos das pessoas; algo que sempre ocorre quando um Arquétipo se torna popular e traz prestígio social).

Uma das coisas que incomodam fãs de filmes dos anos 70/80/90 que ganham sequências e reboots hoje, é justamente a substituição de Arquétipos. Filmes que fizeram sucesso originalmente com base no Explorador, no Brincalhão ou no Idealista, ao surgirem com uma intenção política inesperada, ou ao mudarem a personalidade do protagonista, subitamente podem adquirir um Arquétipo Revolucionário ou Realista que não faziam parte de sua essência, e que corrompem o Arquétipo original.

Compensações são naturais quando os excessos (a Sombra) de um determinado Arquétipo "traumatiza" uma geração, porém não dá para interpretar o fenômeno do Anti-Idealismo moderno apenas como uma reação inocente às Sombras de Arquétipos que foram prejudiciais no passado. Especialmente quando existe uma rejeição até às expressões saudáveis dos mesmos. Na realidade, o que parece estar ocorrendo na cultura atual é uma rejeição às versões positivas de todos os Arquétipos, e uma simpatia cada vez maior pelas Sombras. Em vez de representar os Arquétipos em suas versões maduras, evoluídas, o entretenimento começou a se encantar mais pelas versões decaídas de cada Arquétipo. Nos casos mais extremos, ocorre uma inversão completa; uma tentativa de retratar a versão saudável dos Arquétipos como Sombras. Não vemos apenas uma ênfase menor em certos Arquétipos que foram usados em excesso no passado, em favor de Arquétipos complementares positivos (o que seria uma forma saudável de se equilibrar). O que vemos é uma campanha de difamação voltada contra certos Arquétipos, em favor das Sombras de outros.

Reparem como o padrão do humor hoje é fazer piadas ofensivas, até em eventos pomposos como o Oscar (Brincalhão-Sombra). Como lutar contra o sistema parece sempre exigir atos violentos e destrutivos (Revolucionário-Sombra). Como expressões de sensualidade na música pop precisam sempre sugerir vulgaridade, luxúria (Amante-Sombra). Como ajudar os necessitados e ser caridoso requer sacrifício e martírio para ser considerado nobre (Cuidador-Sombra). Como muitos heróis de ação são motivados por violência e por uma vingança sem ética (Guerreiro-Sombra). Como histórias sobre líderes, reis, CEOs bem-sucedidos, retratam abusos de poder como necessários para o sucesso; ou como o público adora celebridades que ostentam riqueza de forma abusada, vulgar (Governante-Sombra). Como os curandeiros da atualidade, disfarçados de intelectuais e "thought leaders" na internet, sobrevivem à base de distorções da realidade, conspirações insanas, fake news (Mago-Sombra), enquanto pensadores e cientistas fazem mais sucesso quando são dogmáticos, promovem ideias impraticáveis para proteger certas ideologias e agendas políticas (Sábio-Sombra). Como se vitimizar, falar de seus sofrimentos e desilusões com a vida (artistas que divulgam orgulhosamente suas dores, doenças crônicas, princesas Disney ou super-heróis dominados por traumas) empolga mais o público do que histórias positivas; enquanto projeções autênticas de heroísmo e otimismo são condenadas como fúteis e ingênuas (Realista-Sombra). Se você se sente indignado com a cultura de hoje, talvez seja porque você está enxergando a sociedade inteira vivendo dentro da Sombra e não admitindo, assim como um vilão desprezível que acredita estar vivendo um Arquétipo saudável.

Como sugeri com o exemplo do Mago-Sombra, é interessante notar essa questão dos disfarces: se um Arquétipo está vivendo sua Sombra, e em algum nível ele entende que isto é condenável, vergonhoso, ele tentará se camuflar e adotar uma imagem externa de um outro Arquétipo mais positivo e bem aceito pela sociedade. Revolucionários com um ímpeto de destruir, ou Governantes com sede de poder, por exemplo, podem disfarçar este impulso sob uma máscara de Cuidador, de uma preocupação com os mais fracos. Um Guerreiro motivado por agressividade e vingança pode se disfarçar de um Governante buscando apenas ordem e justiça, ou quem sabe de um Criador (um empreendedor querendo competir no mercado "apenas" para trazer um produto belo e útil para o mundo).

Um tipo mais infeliz de disfarce ocorre quando uma pessoa vive um Arquétipo saudável, mas usa uma máscara para não ser rejeitada por uma sociedade que está vivendo a Sombra (e que tem uma atitude hostil em relação ao Arquétipo que ela simboliza). Um Amante, por exemplo, pode reprimir a pureza de seu afeto e adotar um comportamento mais devasso e vulgar para não parecer antiquado. Um Idealista pode adotar um humor cínico e pessimista para não ser rotulado como imaturo. E disso surge as 2 motivações que resultam no Idealismo Corrompido / Anti-Idealismo — a pessoa que no fundo é melhor do que parece, e que está traindo seus valores pra se ajustar a uma sociedade inferior; vs. a pessoa que é pior do que parece, e que está se disfarçando de algo mais nobre para ocultar suas intenções perversas.

Ao lutar por mudanças culturais, muitas vezes nós focamos apenas em argumentos, ideias, problemas específicos, mas é interessante imaginar que o que você está combatendo na verdade é um Arquétipo-Sombra exercendo influência sobre a população; que os conflitos culturais na verdade refletem um conflito entre Arquétipos tentando dominar uma sociedade — como deuses gregos invisíveis, ou Godzillas e King Kongs, duelando no meio dos prédios ao seu redor.

6 comentários:

Leonardo disse...

Olá, Caio.

O que tu tem lido ultimamente? Tem feito cursos sobre arte? psicologia? discutido suas teorias com profissionais da área?

Não consigo imaginar todas estas idéias e teorias serem apenas dedução de alguns textos da Rand, do Mckee e de experiências pessoais.

Leonardo disse...

Quero dizer... sei que há várias referências à livros e autores durante toda a história do blog. Rand e McKee são os que eu realmente conheço a fundo. Mas é que tu produz tanto material interessante em tão pouco tempo que eu fico assustado. Não é o tipo de artigo como os escritos na academia, que levam meses para serem esboçados, referenciados, revisados e editados e o produto tanto é uma chatice para ler quanto os conceitos são sem sentido prático. O que tu escreve tenho usado nas minhas terapias com um sucesso maior do que aquele que obtive anteriormente com a própria teoria psicológica "pura".

Eu vou muito escrever uma tese de doutorado que aplica o Idealismo à Psicologia nos próximos anos. Por esta razão, também, me interessam os seus referenciais.

Caio Amaral disse...

Oi Leonardo! Eu já tinha lido "O Herói e o Fora da Lei" há mais de 10 anos e achava fascinante esse tema dos arquétipos (embora eu nunca tenha lido os estudos originais de Jung ou Campbell) e sabia que daria pra utilizar no contexto do cinema, mas eu não tinha ligado ainda todos esses pontos.. daí dia 21/3 eu estava estudando color wheels, harmonia de cores, pra chegar num padrão melhor de imagem pro YouTube, e veio esse estalo por lembrar desses gráficos parecidos que eles usam com arquétipos.. daí comprei o livro mais recente da Carol Pearson (What Stories are You Living) pra refletir mais sobre o tema, e o livro é realmente excelente.. daí lendo o livro, as peças todas foram se encaixando. As descrições dos arquétipos, das sombras, e a noção de arquétipos complementares, ela discute tudo no livro..! Daí adicionei observações minhas, mas se vc for pensar, não é nada tão diferente dos conceitos que já venho discutindo nos textos teóricos.. só que é tudo visto por um ângulo diferente, que abre possibilidade pra conexões novas.

Fora isso, o único livro relevante que li nos últimos meses foi "As Principais Teorias do Cinema".. que é um resumão do pensamento dos principais teóricos do cinema do século 20. Quis ler antes de fazer aquele vídeo resumindo o Idealismo no YouTube, só pra ver se eu não tava ignorando coisas de conhecimento geral, sendo redundante, ou usando termos confusos (nunca tive paciência pra ler os teóricos chatos).. e achei bem útil ler, embora tenha só confirmado o que eu já imaginava do pensamento por trás do realismo, do formalismo, etc. Rand continua sendo a melhor ajuda que já tive nessas discussões todas sobre arte hehe..!

Caio Amaral disse...

Esse mundo acadêmico acho que acaba restringindo mesmo e forçando todo mundo a ser meio chato. É mais fácil achar coisas interessantes na internet, YouTube, vida real, onde há menos regras hehe.

Leonardo disse...

Entendi, Caio. Já estão na minha lista de desejos kkk. Aquele sobre Habilidades Únicas também vou ler futuramente. Sempre que tu tiver uma leitura de livro, será bem vinda a sua recomendação.

Mesmo assim, eu acho tuas idéias e teus textos sempre impressionantes. Sem hipérbole. É que esta capacidade de integração com meios de lógica e racionalidade (diferentemente daquelas conexões abstratas absurdas dos textos de filosofia que tenho lido) é bastante incomum na população. Meus pacientes adultos ficam todos empolgados quando eu integro uma observação teórica à um problema prático, como se fosse um pensamento ousado, original, inovador. Retornam na semana seguinte com relatos de que conseguiram ser mais independentes, menos abnegados (me lembra demais daquele texto sobre a mentalidade anti-conceitual do Philosophy Who Needs It). Só que o que faço é meio que repetição. O que tu faz já está em outro nível de conceitos originais.

Inclusive identifiquei em mim um “Sábio” interrompido pela barreira do “Perfeccionismo Improdutivo”, mas que anseia desesperadamente por uma migalha de “O Brincalhão” - um dia baterá à minha porta uma aprendiz de freira que equilibrará a gangorra da morte. Até por esta razão que eu me rebelo contra o estilo formal de escrita dos textos acadêmicos. Meu orientador confirmou a hipótese de que a filosofia acadêmica deve ter caráter jornalístico, no sentido de relato passivo descritivo. Nada de metáforas poéticas, críticas à conceitos estabelecidos ou conexões com arte, cinema ou até novos autores. Usei o Romantismo e o Naturalismo no cinema como ilustração de estilo, e ele confirmou: tudo de Cannes, nada de Oscar.

Imaginei que Jung e Campbell ficassem excluídos destas listas de influência direta pelo excessivo teor místico e coletivista (daquela variante tribal, histórica, indígena) de suas obras. Mas imagino que tiveram uma influência ao menos indireta.

Ainda aguardo aquela tua análise idealista sobre a Coca-Cola que tu prometeu há alguns anos rsrsrs.

Por fim, eu vi em um dos seus antigos canais que tu ofertava serviços de coaching. Não entendi muito bem. Poderia falar mais um pouco sobre isto?

Caio Amaral disse...

Normalmente quando leio algo que me traz ideias importantes eu acabo fazendo um post por impulso natural, como foi com a Rand lá pra 2009/10, com o Story do McKee.. então nada de muito importante eu costumo guardar só pra mim hehe, mas posso citar coisas menores também quando for relevante.

Os Arquétipos podem trazer uns insights pessoais muito bons mesmo! Eu mesmo consegui entender melhor alguns impulsos e dificuldades que sempre tive. O Sábio costuma ser compatível com o meio acadêmico mesmo, pois ao contrário de um Mago ou Explorador, ele gosta de acumular conhecimentos comprovados, ser uma fonte de informações bem sólidas, confiáveis. Então vai ver você combina o Sábio com algum outro arquétipo que te distancia deste perfil extremamente acadêmico.

Ahh, eu tava pensando onde inserir uma "análise Idealista" da Coca-Cola pra fazer sentido.. teria que ser um post pra linkar os 4 Pilares a coisas mais concretas/sensoriais.. objetos, etc.. mas como não tenho planos ainda de um post assim, de repente posso fazer um post daqueles 'Extras' aqui só pra comentar da Coca hehe.

Ano passado eu fiz uma formação em coaching (online mesmo) pra ver se eu me interessava.. e no final segui a sugestão do instrutor de não ficar ensaiando muito e esperando o momento perfeito pra colocar em prática, mas já sair se oferecendo, pra melhorar com o tempo. Por isso fiz aquele post, e até rolaram umas sessões, mas depois não insisti muito no tema, pois não me enxerguei tanto no papel, ainda mais discutindo questões profissionais que nada tinham a ver com arte.. Faria sentido aplicar isso em nichos mais específicos, tipo trabalhando de script doctor, etc. Abs!