quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A Queda | Crítica

Devo ter uma leve acrofobia pois um dos meus pesadelos mais recorrentes no passado era um onde eu sonhava que estava no alto de uma torre ou antena extremamente estreita, sem ter direito onde me segurar, e dependendo totalmente do meu equilíbrio, de meu controle muscular, emocional, e da aderência das minhas mãos (que não podiam transpirar) pra não despencar. Esse filme foi o mais próximo que cheguei de viver aquele pesadelo fora da minha imaginação.

O filme conta a história de duas amigas que decidem escalar uma antena abandonada de mais de 600 metros de altura, e acabam se vendo presas lá em cima. A ideia delas pode parecer burra, mas no começo do filme é estabelecido que elas são alpinistas profissionais e habilidosas (e quem viu Free Solo sabe que existe gente ainda mais maluca que as duas) — portanto escalar uma antena onde há até uma escada de apoio não parece nada absurdo, ainda mais considerando o propósito pessoal de uma delas, que é superar um trauma vivido em sua última escalada.

O filme custou apenas 3 milhões de dólares, e eu tenho uma admiração especial por filmes que conseguem fazer muito com pouco. Thrillers de sobrevivência minimalistas, de baixo orçamento, normalmente buscam desertos (127 Horas / Ártico), o mar (Águas Rasas), ou lugares pequenos (Enterrado Vivo) como ambientação, mas usar uma torre de TV como esta foi uma das melhores ideias que já vi pra um suspense do gênero, não só pela tensão constante criada pela altura (diferente dos exemplos anteriores, que são perigos menos iminentes e viscerais) mas também pelas imagens espetaculares que o cenário permite (só o pôster incrível já me vendeu o filme).

Quando tiver vendo um desses filmes de super-heróis atuais onde as pessoas estão constantemente voando pelos ares, caindo de aviões, compare o efeito disso com um filme como A Queda, que se mantem razoavelmente realista do começo ao fim, e foi feito com 1/100 do orçamento desses filmes. Assim como Zemeckis em A Travessia, o diretor aqui tem uma ótima noção de como usar ângulos, lentes, enquadramentos e movimentos de câmera pra realçar o senso de vertigem, e dosar o nível da tensão a cada momento.

O drama psicológico e algumas soluções narrativas mais pro final não são 100% satisfatórias, mas o que o filme promete em termos de suspense "edge of the seat" ele cumpre muito bem.

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OBS: Achei que seria um desses lançamentos "indie" que iriam direto pro streaming ou demorariam anos pra chegar no Brasil, por isso acabei baixando o filme — mas me arrependi depois pois vi que ele deve estrear nos cinemas dia 29/09. Então, se eu não for vê-lo de novo, irei no mínimo comprar o ingresso, como tenho feito nesses casos. Mas pra quem curte o gênero, é uma boa dica pra ver na tela grande.

Fall / 2022 / Scott Mann

Satisfação: 8

Categoria: I-

Filmes Parecidos: Águas Rasas (2016) / Livre (2014) / Free Solo (2018) / A Travessia (2015) / Evereste (2015) / Passageiro Acidental (2021)

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