sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Pinóquio | Crítica

Mais um live-action decepcionante da Disney, que marca também mais um fracasso pra Robert Zemeckis no gênero família/fantasia. Zemeckis costuma lidar bem com temas adultos, com comédias sobre jovens rebeldes, mas nenhum de seus filmes que tentaram criar um senso de magia e inocência infantil funcionaram, e ele continua insistindo no tema. O grande problema de Pinóquio não é que a trama é mal estruturada, que a produção é ruim, que deturparam totalmente o espírito do clássico... É simplesmente a falta de tato de Zemeckis pra lidar com o material. Awkwardness ou esquisitice é o que destrói o filme; como se o conceito de "vale da estranheza" pudesse ir além de seu escopo habitual e provocar um incômodo sobre o filme como um todo. A intenção até que parecia boa, e tecnicamente o filme tem suas qualidades — a cada cena, Zemeckis tenta trazer algum toque especial, exercitar seu domínio sobre a imagem (embora haja alguns problemas de CGI que até eu, que não sou de obcecar por essas coisas, acabei notando). Mas num nível dramático, emocional, nada funciona: nem as cenas de magia (como a da aparição da fada), nem as tentativas de humor, nem as sequências musicais (há algumas canções novas péssimas, e até "When You Wish Upon a Star" conseguiram deixar feia), as cenas assustadoras do desenho de 1940 foram amenizadas e não causam grande impacto, a ambientação não atrai (o filme se passa num vilarejo charmoso da Itália no final do século 19, porém há uma série de toques modernos e referências à cultura pop atual que quebram constantemente a realidade do lugar). Mas o pior de tudo é que nem Pinóquio, nem Geppetto, nem o grilo e nem a fada são personagens carismáticos aqui, ou formam relacionamentos cativantes (por questões de design, atuação, dublagem, mas também de roteiro — quando Pinóquio diz pro Geppetto "Eu te amo também, pai" e eles se abraçam, não há 1 pixel da tela que pareça autêntico). Sim, algumas modificações feitas à trama foram infelizes (como o sumiço da fada após a primeira aparição, toques nonsense como a sequência de esqui barefoot, e o desfecho anticlimático, onde não temos o "dream come true" imaginado), mas o problema maior não é esse, pois mesmo que Zemeckis tivesse seguido à risca a narrativa do clássico, sua desconexão emocional com o material ainda o teria impedido de dar vida a esses personagens.

Pinocchio / 2022 / Robert Zemeckis

Satisfação: 3

Categoria: I-

Filmes Parecidos: Convenção das Bruxas (2020) / Dumbo (2019) / As Aventuras de Tintim (2011) / O Expresso Polar (2004) / Amor, Sublime Amor (2021)

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