sábado, 17 de setembro de 2022

Quebrando Mitos | Crítica

Documentário de Fernando Grostein Andrade (Quebrando o Tabu) que faz uma análise crítica de Bolsonaro e da direita atual sob o ponto de vista da masculinidade tóxica (ou "masculinidade catastrófica") — mostrando como ela seria responsável por muitos dos males do "capitalismo", desde a homofobia à destruição do meio-ambiente (Fernando, que é irmão do Luciano Huck, é gay e cresceu numa família rica onde o pai era o editor da Playboy no Brasil — ou seja, nem dá pra culpá-lo muito por ter feito uma associação entre capitalismo e masculinidade tóxica nesse contexto).

As mensagens anti-preconceito e anti-violência do documentário são válidas, e o filme não é tão raivoso e desonesto quanto alguns do gênero. Mas é equivocado quanto ao que é capitalismo, tem uma visão inconsistente e pouco profunda da política, reforçando apenas as crenças básicas da esquerda mainstream. Ele até tenta buscar uma postura equilibrada, menos extremista, mas não aponta soluções para nenhuma questão importante, sem as quais é impossível promover um real equilíbrio. Por exemplo: No fim do documentário, ele diz que direitos humanos não precisam ser inimigos do crescimento econômico. Ótimo! Concordo com ele. Por que então ele não é libertário ou algo do tipo? Assim ele poderia se dizer a favor das duas coisas. Mas as palavras soam vazias, pois durante o filme todo, ele sugeriu ser contra o livre-mercado, contra o impacto ambiental, retrata empreendedores, investidores, grandes empresas, arranha-céus, lucro, riqueza, como coisas nocivas, como se o progresso e a masculinidade tóxica fossem inseparáveis. Ele não consegue imaginar riqueza como fruto de inteligência, virtude, de pessoas promovendo suas vidas e felicidades naturalmente — há sempre algo freudiano e doentio por trás. E se ele deseja restringir todas essas coisas, de onde ele acha que virá o crescimento econômico?

Não fica clara também a ligação entre a personalidade e as falas preconceituosas de Bolsonaro, e a violência real que se vê no país, as reais políticas implementadas nos últimos anos. Houve um aumento de crimes contra minorias após a vitória de Bolsonaro em 2018? Leis que liberaram a crueldade? Essa é a impressão que o documentário passa — que votar em Bolsonaro é o mesmo que votar por mais violência nas ruas. Mas ao mesmo tempo, ele usa vídeos de Marielle em 2017 lutando contra os mesmos problemas que existem hoje. Não seria então uma questão mais ampla, que não poderia ser atribuída ao presidente? (É o que discuto no post Por que temo mais os "ditadores da matéria" que os "ditadores do espírito".)

Não sou expert na situação ambiental da Amazônia, mas essa é outra daquelas pautas que sempre me parecem amplamente exageradas pra servir de alavanca política. O filme mostra queimadas na Amazônia como se ela estivesse sendo devastada atualmente. Mas só como exercício, sem querer provar qualquer coisa, entre neste link do Google Earth e veja a floresta Amazônica do espaço em fotos tiradas em 2022. No estado do Amazonas (uma área tão vasta que é difícil de conceber) é raro você ver áreas que não pareçam tingidas de verde escuro. E quando você dá o zoom até enxergar as copas das árvores, você vê que isso não é uma ilusão de óptica. Tenho certeza que coisas destrutivas devem estar ocorrendo lá, mas o recorte que esse tipo de documentário faz não parece ter qualquer senso de proporção (imagine alguém te dizer que estão inundando o Saara, ou acabando com a areia em certas áreas do deserto, mas a imagem que se vê do alto é esta ao lado). Da mesma forma, ele nunca coloca na balança os supostos males do capitalismo (que não podem incluir estupro, genocídio e coisas que nada têm a ver com o sistema) com o enorme benefício que ele trouxe pra humanidade nos últimos dois séculos, na medida em que foi praticado.

Quebrando Mitos / 2022 / Fernando Grostein Andrade

2 comentários:

Anônimo disse...

Acaso alguma vez Fernando Grostein criticou o "sexismo capitalista" do irmão, que ascendeu ao estrelato televisivo botando mulheres peladas na frente das câmeras, na Band? Ele não parece ter feito esse tipo de crítica quando o Huck andou posando de candidato a presidente. Senão alguém poderia ter ligado os pontos.

Caio Amaral disse...

Até entendo ele não querer criar uma guerra familiar atacando o irmão.. Ele provavelmente deve ter críticas ao Luciano, mas não fala nada por questões de família.. Mas sim, esse povo vai ser sempre uma contradição ambulante.. Uma vez ele fez um post no Instagram criticando o capitalismo, ao mesmo tempo em que estava curtindo o fim de semana em Las Vegas.. então a pessoa está sempre numa corda bamba quando abre a boca pra criticar algo (isso é, quando ela ainda quer manter alguma coerência.. pois tem gente que já chuta o balde sem a menor culpa).