Documentário de Brett Morgen sobre David Bowie que vem sendo aclamado por público e crítica, e inclui imagens inéditas, além de ser o único documentário endossado pelo espólio de Bowie. O filme tem um ar experimental, não muito jornalístico; o único senso de estrutura vem da cronologia, mas o conteúdo está mais pra uma colagem abstrata de imagens, performances musicais, com a voz de Bowie ao fundo filosofando sobre a vida e sobre sua carreira. Eu nunca fui particularmente fã de Bowie, mas o respeito como estilista, artista visual, e admiro seu senso de individualidade. Em geral, o que me distancia do rock enquanto gênero é a agressividade, o apelo à malevolência, mas Bowie não era particularmente desagradável nesse sentido — ele expressava primeiramente uma obsessão pelo diferente, pelo estranho (socialmente), e pelo não-objetivo (intelectualmente). É aí que às vezes vejo aquela combinação de ingenuidade e pretensão que discuto no texto
Pseudo-Sofisticação — pra ele, a genialidade e as grandes respostas da vida estavam todas além deste plano, no campo do irracional, e sua vida parece ter sido uma eterna busca por esse tipo impossível de transcendência, o que dá um caráter meio vazio e melancólico pras suas indagações.
O momento que mais gostei do documentário foi o do final dos anos 70, começo dos anos 80, quando ele lança músicas como
Heroes,
Modern Love e
Let's Dance (
Heroes foi lançada em 1977, num período emblemático para o
Idealismo e para os heróis no entretenimento). Claro que para alguns críticos, nessa fase ele estava se "vendendo", cedendo ao comercialismo americano (o próprio Bowie se refere a algumas composições desta época como menores, por serem "óbvias" e reforçarem sentimentos positivos). Não acho que ele foi inautêntico, mas é interessante pensar até que ponto Bowie tinha uma visão artística sólida, inabalável, e até que ponto ele era apenas um camaleão, se transformado de acordo com as tendências de cada época (como a maioria dos músicos), e mantendo apenas a essência da sua persona: nos anos 60 ele tinha uma vibe meio Beatles, nos anos 70 ficou psicodélico e subversivo como muitos, nos anos 80 ficou dançante e alegre — todos esses estilos eram o que atraíam os jovens de cada momento; o fato da fase "alegre" ser a única vista como comercial/menos autêntica revela apenas um
bias Anti-Idealista comum na cultura.
Moonage Daydream / 2022 / Brett Morgen
Satisfação: 6
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