sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O Alfaiate | Crítica

Suspense sobre um alfaiate (ou "cortador", interpretado por Mark Rylance) em Chicago, nos anos 50, que tem mafiosos como seus principais clientes e em determinada noite acaba se vendo no meio de uma disputa perigosa entre gangues. O roteirista é Graham Moore, o mesmo de O Jogo da Imitação, que agora também assume o papel de diretor. O roteiro é a principal razão de se ver o filme, mas é dele também que vem seus pontos fracos. É daqueles suspenses que se passam em uma só locação, têm uma trama cheia de reviravoltas, surpresas, onde cada personagem está sempre um passo à frente do outro, e todos estão diversos passos à frente do espectador — como se o filme fosse um grande tabuleiro de xadrez armado pro diretor derrotar a plateia no final. Eu não sou muito fã desse tipo de história, nem mesmo quando o jogo é limpo. Mas quando os personagens começam a agir de forma artificial, têm poderes mentais tipo Sherlock Holmes, e as reviravoltas são muito improváveis, isso pra mim se torna tão "divertido" quanto perder no xadrez pra um oponente que pode pegar um peão e pular várias casas, fazer a torre andar na diagonal, etc. Ainda assim, é raro ver histórias com esse nível de atenção à trama, com bons diálogos, e que não sejam adaptações de peças ou livros, então ainda dou crédito ao filme.

Alguns "chamber dramas" famosos envolvem personagens que são escritores, e um paralelo costuma ser traçado entre a engenhosidade do escritor e a engenhosidade do filme em si. Aqui, como o personagem é um alfaiate, uma comparação parecida é feita, mas entre a trama e os ternos super bem cortados e bem costurados do protagonista. Concordo que, no caso do roteiro, as partes parecem amarradas com capricho, que há um senso de coesão, de harmonia interna — só não sei se a peça final serviu tão bem no cliente.

The Outfit / 2022 / Graham Moore

Satisfação: 6

Categoria: I-

Filmes Parecidos: O Jogo da Imitação (2014) / Ponte dos Espiões (2015) / Festim Diabólico (1948) / Armadilha Mortal (1982)

2 comentários:

Alexandre Marcello de Figueiredo disse...

Lembra um pouco aquelas tramas hitchcoquianas, reviravoltas com teor de mistério e alguma coisa no ar.

Caio Amaral disse...

Um pouco do estilo remete.. mas o Hitchcock era muito mais interessado em suspense do que em surpresa.. ele gostava de deixar o espectador mais informado que os personagens.. revelava pro público que há uma 'bomba embaixo da mesa'.. e os personagens não têm ideia.. e o ponteiro está avançando.. aí nós ficamos envolvidos. Ele não tinha personagens espertalhões estilo Sherlock Holmes, que estão vários passos à frente do público, e também não gostava de mistérios tipo da Agatha Christie, onde o público só quer adivinhar a resposta pro quebra-cabeça. Seus filmes parecem mais com aventuras do que com charadas. Abs!