quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Era Uma Vez um Gênio | Crítica

Filme de George Miller (diretor de Mad Max) que acabou gerando pouco interesse, talvez até por problemas de branding — quando você vê o trailer, não só já é difícil entender a proposta da história, enquadrá-la em algum gênero, como é difícil associar o estilo do filme à figura de Miller.

O filme tem um visual rico, é cheio de efeitos especiais, sequências fantasiosas — porém na prática, é apenas uma história intimista sobre um casal conversando num quarto de hotel, algo na linha de Boa Sorte, Leo Grande, só que em vez de Emma Thompson e um garoto de programa, temos Tilda Swinton e o gênio da lâmpada (Idris Elba). Quem for esperando um épico de fantasia, provavelmente se frustrará. E quem for esperando um drama psicológico sensível, também ficará meio perdido (me lembrou um pouco o caso de Bem-vindos a Marwen do Zemeckis, que também tinha uma proposta confusa). Todas as aventuras e fantasias que vemos são basicamente flashbacks, histórias contadas pelo gênio, mas que nada têm a ver com a personagem da Tilda ou com grandes propósitos narrativos (sem falar que tudo indica que o gênio não é real; é apenas fruto da imaginação dela, portanto nada do que ocorre no filme ou do que ele conta tem verdadeiro peso dramático — eu pessoalmente estava achando muito mais interessante o começo do filme, quando a personagem estava trabalhando como narratologista, dando palestras, do que tudo o que ocorreu depois quando surgiu o gênio). Sabe aqueles papos entediantes onde a pessoa começa a te contar casos e falar por horas sobre assuntos e gente que você nunca viu na vida, e você fica se perguntando: e qual o ponto disso tudo? É um pouco essa a sensação. O filme não deixa claro o conflito da protagonista, qual o seu desejo fundamental, e qual a função do gênio em sua jornada. Em Leo Grande, todos entendem que Emma Thompson é uma mulher frígida de meia-idade que precisa se liberar sexualmente, e sabemos exatamente qual a função do garoto de programa. Aqui, já não existe tanta clareza, por isso nunca sabemos pra onde a história está evoluindo, quais são os obstáculos, e o que teria que acontecer pra se criar um desfecho e um senso de conclusão.

Pelo pôster, parece que a equipe de marketing tentou usar a embalagem de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo pra tentar vender o filme de algum jeito, e até dá pra traçar alguns paralelos entre os filmes, mas o caos criativo de Tudo em Todo Lugar estava muito melhor ancorado em dramas pessoais e em mensagens que iriam gerar conexão com seu público-alvo. Aqui, parece que a criatividade é exercitada como um fim em si mesmo, como se o objetivo final fosse apenas apresentar algo diferente e curioso. Numa era onde muito se reclama da falta de originalidade em Hollywood, é como se Miller tivesse partido com tudo na direção oposta, determinado a fazer um filme "anti-falta-de-originalidade", mas esquecendo de alguns fundamentos narrativos no processo.

Three Thousand Years of Longing / 2022 / George Miller

Satisfação: 4

Categoria: I-

Filmes Parecidos: A Vida Secreta de Walter Mitty (2013) / Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (2009) / Bem-vindos a Marwen (2018) / As Aventuras de Pi (2012) / O Bom Gigante Amigo (2016)

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