quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Não Se Preocupe, Querida | Crítica

Não Se Preocupe Querida crítica poster
Drama sobre uma dona de casa americana nos anos 50 (Florence Pugh) vivendo numa comunidade experimental, que começa a suspeitar que há algo de errado com a realidade ao seu redor, e que a empresa na qual seu marido (Harry Styles) trabalha pode estar por trás de tudo.

Há um meme de Twitter que diz: "Imagina se eles fizessem um filme onde há uma cidadezinha suburbana que parece perfeita na superfície, mas daí descobrimos que há um segredo obscuro por trás!". A graça, pra quem não entendeu, é que a ideia é tão clichê que apenas um lunático pensaria ter dito algo interessante. Mas os roteiristas de Não Se Preocupe, Querida parecem ser exatamente essa pessoa.

Em vez de apresentar um conceito realmente criativo (como O Show de Truman), um mistério sólido, o filme fica apenas na superfície, repetindo cena após cena a mesma ideia de que a comunidade parece perfeita, mas "algo" sinistro se esconde por trás — sem se aprofundar nos personagens, sem ter uma crítica real ao American Way of Life. É o tipo de filme "interpretativo" que pra esconder a própria superficialidade e soar inteligente, deixa tudo vago, subjetivo, esperando que a substância venha toda das entrelinhas, não do que ele de fato apresentou.

Don't Worry Darling / 2022 / Olivia Wilde

Satisfação: 4

Categoria: IC

Filmes Parecidos: Corra! (2017) / Mãe! (2017) / Boa Noite, Mamãe! (2022) / Mulheres Perfeitas (2004) / Men (2022) / Foi Apenas um Sonho (2008) / A Origem (2010) / O Show de Truman (1998)

8 comentários:

yan disse...

Olá Caio, tudo bem? Não sei se você já comentou sobre ele alguma vez aqui, mas queria muito saber sua opinião sobre o cinema de Wong Kar Wai. Eu assisti recentemente Happy Together (1997) e Fallen Angels (1996) e fiquei apaixonado por toda a estética e construção que ele faz em seus filmes, é algo realmente muito único em minha opinião. Abraços!

Caio Amaral disse...

Oi Yan, eu não conheço muuito a filmografia dele; só vi In the Mood for Love, 2046, Dias Selvagens, Um Beijo Roubado.. mas há muito tempo; lembro pouco.. e os 2 que você citou eu não vi. Tenho curiosidade de ver o Amores Expressos também. Minha impressão geral é de que ele faz um cinema Naturalista, porém mais sofisticado, com certo estilo de direção, e não focado em questões sociais, temas pesados.. e sim em estudo de personagem, explorar sutilezas de relacionamentos, etc. Mas ainda me parece cair na categoria Não-Idealismo, se vc conhece as 3 divisões que faço aqui. Mas vou colocar na lista um desses pra assistir! abs!

Caio Amaral disse...

Se souber explicar, me diz o que enxerga de positivo nos filmes dele.. o que mais te atrai, etc.

yan disse...

Fiquei pensando no que eu mais me atraia no cinema dele e cheguei a conclusão que é a melancolia e as interações que seus personagens tem com aquele universo do filme. Eu não acho que ele tenta passar algum tipo de ''lição de moral'' nem ensinar o espectador alguma coisa, mas sim montar uma experiência (bem imersiva na minha opinião) em histórias de solidão, romance, melodrama, reviravoltas, etc. Eu gosto de como ele compõe suas cenas sempre com ângulos não muito convencionais, as luzes neon e a cidade de Hong Kong que é quase como um personagem a parte rs

Eu não sei dizer se há algo exatamente positivo, mas eu gosto daquele choque de tristeza e de reflexão que acontece quando vejo seus filmes, também é interessante de acompanhar como personagem X acaba indo do ponto A ao B de forma muitas vezes não planejada.

Enfim, no final acho que os filmes dele são tipo sensações, pra vc assistir e se emocionar assistindo eles.

Também assisti a alguns meses Requiem para um sonho (2000) e Y tu mamá también (2001) e pra mim eles funcionam nessa pegada parecida, mas acredito que vc não goste desses dois por serem bastante anti idealistas

yan disse...

Acredito que o Kar Wai e outros cineastas parecidos com eles tem um apelo mais adolescente (sendo proposital ou não), já que pelo letterbox vejo que só gente jovem assiste e está lá dando 5 estrelas pra esses tipos de filmes rsrs

Caio Amaral disse...

Pela sua descrição, me parece um pouco com a atração que muitas pessoas têm por filmes que retratam a pobreza, realidades mais difíceis (num nível social), por arte que pareça não-comercial, que busca mais confortar do que inspirar.. Nos textos sobre Idealismo eu dou várias possíveis explicações pra esse fenômeno.. afinal, não é óbvio o porquê de alguém se sentir atraído por coisas melancólicas — muitas vezes a pessoa (jovens especialmente) associa esse tipo de obra a coisas mais eruditas e intelectuais.. e se sente atraída justamente porque está querendo amadurecer, se distanciar das histórias mais fáceis de consumir que ela associou à "baixa cultura". Há alguns problemas nesse tipo de raciocínio... mas pode ser que a atração seja baseada em algo positivo também que não notei no filme. Por isso tenho curiosidade de saber os motivos de cada um.. abs!

yan disse...

Realmente sua análise faz bastante sentido, não havia pensado por esse lado. Também acredito que possa surgir por uma vontade de consumir algo ''não americano'', conhecer novas realidades e universos que são completamente fora da minha vivência (não que eu tenha uma vivência de americano, mas acho que você entendeu). Só pra vc ter ideia esses dias vi uma amiga minha que até então eu nem sabia que gostava de cinema, compartilhando cenas de um filme da Tchecoslováquia dos anos 60, além disso uns outros amigos que são fãs de animação começaram a se interessar bastante por animações soviéticas. No meu caso eu tenho me interessado cada vez mais por filmes europeus, mas de vez em quando da uma saudade de assistir a um bom blockbuster americano rs

Caio Amaral disse...

Legal, não sei qual a sua idade, mas eu acho inevitável esse tipo de atração pelo diferente em fases de amadurecimento.. Há um texto aqui no blog onde narro como foi essa minha fase ("Superando o Guilty Boredom"). A questão é que uma hora esse diferente deixa de ser novidade.. e o que sobra são os reais valores que aquilo te acrescenta. Não há mais a empolgação de estar descobrindo um mundo novo, que até então parecia inacessível pra vc.. Daí vc tem que fazer uma reavaliação, e entender quais são seus valores de fato. O que te inspira e te faz bem no dia a dia. É que nem a pessoa pobre que ganha dinheiro de repente.. e daí começa a gastar com um monte de coisa caríssima sem sentido, pois está agindo mais pra se distanciar da pobreza do que pra de fato ter riquezas, conforto, etc. O filme da Tchecoslováquia dos anos 60 pra uns pode ser o equivalente ao tênis Balenciaga esquisitão de 15 mil reais pra outros. Claro, tem muito filme europeu bom.. E não estou dizendo que todo mundo que se distancia do Idealismo está sendo inautêntico.. mas é importante ficar atento ao tipo de armadilha que discuto na postagem "Pseudo-sofisticação". abs!