Michael Jackson uma vez disse: "a melhor educação do mundo é ver os mestres trabalhando", e acho que poucos registros em vídeo podem te dar uma visão tão memorável de "mestres trabalhando" quanto o making of de We Are The World. Já tinha visto muitos trechos dessa gravação, mas me surpreendi com as coisas que estão no documentário que eu nunca tinha visto antes. Pra mim essa produção é um dos eventos canônicos do Idealismo americano dos anos 70-90; é uma demonstração impressionante do profissionalismo dos artistas envolvidos, e um alinhamento de talentos que parece quase impossível de se repetir. terça-feira, 30 de janeiro de 2024
A Noite que Mudou o Pop
Michael Jackson uma vez disse: "a melhor educação do mundo é ver os mestres trabalhando", e acho que poucos registros em vídeo podem te dar uma visão tão memorável de "mestres trabalhando" quanto o making of de We Are The World. Já tinha visto muitos trechos dessa gravação, mas me surpreendi com as coisas que estão no documentário que eu nunca tinha visto antes. Pra mim essa produção é um dos eventos canônicos do Idealismo americano dos anos 70-90; é uma demonstração impressionante do profissionalismo dos artistas envolvidos, e um alinhamento de talentos que parece quase impossível de se repetir. Anatomia de uma Queda
Por ter ganhado a Palma de Ouro, tinha me preparado para o pior, mas acabou sendo um dos exemplos mais respeitáveis de filme quase-Naturalista que vi nos últimos anos. "Quase" porque há uma história bem sólida aqui, um roteiro bem estruturado que ganha novos temas, novas dimensões a cada ato, e se transforma quase num suspense de tribunal à moda antiga. Mas Justine Triet aborda o gênero de maneira diferente, evitando o "sensacionalismo" e os contornos morais claros que haveria num filme hollywoodiano. A ênfase aqui está nas entrelinhas, nas sutilezas que tornam o caso ambíguo, complexo — o tipo de subjetivismo que crítico adora e que eu costumo condenar. Mas nesse caso, há na base de tudo um drama de relacionamento cheio de mistério, tensão, riqueza psicológica, que mantém o filme envolvente mesmo na ausência desses artifícios de thriller. Há uma racionalidade inesperada também na personagem da Sandra Hüller (que está excelente e merece todo o reconhecimento). O contraste entre o pensamento sutil e ponderado dela e a sensibilidade grosseira, enviesada e burocrática da justiça é uma fonte recorrente de satisfação ao longo da narrativa. Há algo de memorável também na própria ideia de se explorar um relacionamento íntimo no contexto de um tribunal de justiça; de levar pra um ambiente que exige fatos concretos, culpados e vítimas claras, um caso que depende de tantos elementos intangíveis. Já que a intenção do filme é argumentar que seres humanos são terrivelmente complexos, que nunca se pode conhecer alguém de fato em sua intimidade, fazer isso num tribunal de justiça torna a mensagem mais eloquente do que ela seria em qualquer outro lugar. Posso discordar da mensagem do filme e da atitude Não Idealista de querer complicar a realidade, em vez de torná-la mais clara pro espectador, mas admiro a forma inteligente e original que o filme explora o tema.
Anatomie d'une chute / 2023 / Justine Triet
Satisfação: 8
Categoria: Não Idealismo (Naturalismo) / Idealismo Diminuto
Filmes Parecidos: A Caça (2012) / A Separação (2011)
Meu Amigo Robô
Animação espanhola que não sei o que está fazendo entre as indicadas ao Oscar (até porque a "cota" de animações estrangeiras/indie já tinha sido preenchida). SPOILERS!!! A ideia do filme é contar uma história de amor/amizade por uma ótica Malevolente estilo La La Land, mostrando como eventos arbitrários da vida levam duas pessoas que se gostam a se distanciarem, até se tornarem estranhas completas e serem forçadas a olhar pro passado com aquele saudosismo melancólico de quem diz "nada é para sempre". Só que o filme constrói essa ideia em cima de uma história tediosa, sem pé nem cabeça — a separação entre o robô e o cachorro ocorre porque o robô sofre um acidente numa praia, e no pequeno espaço de tempo que o cachorro sai da praia pra buscar ajuda, a praia "fecha", o robô acidentado fica lá sozinho por diversos meses, forçando o cachorro a tocar sua vida até que a praia reabra no ano seguinte (!). É aquele caso do artista que quer que o universo seja malevolente, mas não é criativo o bastante pra bolar uma situação plausível pra sustentar seu pessimismo.
O próprio conceito da amizade entre um animal e um robô é mal elaborado. Não há discussões interessantes como em Ela (2013), que envolvam a natureza artificial do robô. Ele no fim acaba representando inocência, amor puro — o robô traz alegria pra vida do cachorro por saber olhar pra tudo com um olhar ingênuo, colorido, como uma criança (a música September do Earth, Wind & Fire é usada pra simbolizar essa alegria), mas o que essas coisas todas têm a ver com um robô? Se o cachorro criasse uma amizade com outro animal ou com um humano, o conflito básico da história permaneceria o mesmo.
Me pareceu algo que enganaria melhor se fosse um curta-metragem. Mas como longa, a pobreza do roteiro tem oportunidades demais pra se revelar (mesmo o filme não contendo diálogos!).
Robot Dreams / 2023 / Pablo Berger
Satisfação: 2
Categoria: Idealismo Corrompido / Anti-Idealismo
Filmes Parecidos: A Tartaruga Vermelha (2016) / Perdi Meu Corpo (2019)
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Segredos de um Escândalo
Indicação favorita do dia: Annette Bening https://t.co/yxEpk1se8U
— Caio Amaral (@caiocinefilo) January 23, 2024
domingo, 21 de janeiro de 2024
Meninas Malvadas (2024)
Mean Girls / 2024 / Samantha Jayne, Arturo Perez Jr.
Satisfação: 0
Categoria: Idealismo Corrompido / Anti-Idealismo
terça-feira, 16 de janeiro de 2024
Os Rejeitados
Assim como Folhas de Outono, Os Rejeitados tenta adquirir certo valor e se distanciar da mediocridade do cinema atual reproduzindo fielmente a estética do cinema de uma outra época (neste caso, estudos de personagem semi Naturalistas da Nova Hollywood dos anos 70/80). Mas é um caso mais bem-sucedido que Folhas, não só por se inspirar num tipo menos cru de Naturalismo, mas também por não parar só no estilo, e ter de fato personagens bem construídos, bons atores e diálogos inteligentes pra oferecer.sábado, 13 de janeiro de 2024
Folhas de Outono
Só que em vez de algo autêntico, com um mínimo de conteúdo e caracterizações convincentes, o filme é um exercício vazio de estilo que parece mais um cosplay de um filme de arte antigo, que está na dúvida se quer se fantasiar de algo da Nova Hollywood dos anos 70, ou de um filme europeu neorrealista dos anos 40/50. Parece algo feito por alguém que passou a vida toda lendo livros de história do cinema, desses que colocam cineastas como Bresson, Visconti, Godard e Ozu no topo da pirâmide, e agora está tentando capturar o espírito desses filmes puramente através da estética, criando uma série de imagens que remetam às ilustrações que aparecem nesses livros, que parecem sempre achar que há algo "poético" na imagem de um personagem de meia-idade, de aparência cansada, num local comum, olhando para o vazio.quinta-feira, 11 de janeiro de 2024
Analise Idealista da Coca-Cola
Vamos à requisitada análise Idealista da Coca-Cola!
Pra começar, vamos pegar como base uma bebida neutra que não provoque sentimentos positivos ou negativos na maioria das pessoas: a água em temperatura ambiente, talvez não tão perfeitamente limpa e purificada (pois a pureza absoluta poderia já levar a uma emoção positiva ligada à Benevolência).
Na Coca-Cola, assim como em todos os refrigerantes, o principal gerador de Benevolência é a doçura do açúcar ou do adoçante, que não existe na água.
Além de Benevolência, o Valor mais fundamental presente no refrigerante que precisa ser destacado é o da Excitação. Parte da Excitação está em coisas que vão além do líquido em si, mas que costumam fazer parte da experiência: o fato da Coca-Cola ser frequentemente servida gelada (extremos / emoções intensas), com gelo (que além de gelado, é um objeto "mágico" que passa por uma transformação de estado). Mas em termos de Excitação, a grande "estrela" do refrigerante é o gás e as bolhas criadas por ele. As esferas brilhantes, espelhadas, que parecem se materializar magicamente dentro do copo, ascender em uma direção contrária à gravidade, que às vezes grudam por razões desconhecidas na parede do copo, e depois estouram na superfície numa grande celebração, fazendo um chiado (água com efeitos sonoros!), provocando cócegas no nariz e fervilhando na boca... Tudo isso representa estímulo, movimento, brilho, surpresa — o que torna o gás do refrigerante um agente perfeito pro valor da Excitação.
A Coca-Cola enquanto marca reforça valores como Benevolência e Excitação através de suas propagandas, que têm sempre músicas alegres, jovens se divertindo, famílias reunidas no Natal, ursos fofos, crianças etc. O próprio nome "Coca-Cola" é feito de sons, rimas e ritmos que remetem a brincadeira, felicidade, inocência ("Jägermeister" não teria o mesmo efeito). E nesse nível a Coca-Cola tem uma grande vantagem sobre os outros refrigerantes por ser a marca número 1 do ramo; o refrigerante mais vendido, o mais bem sucedido, o mais clássico, o original, o que tem mais história, mais status etc. É aqui, mais até do que na bebida em si, que o valor da Autoestima se manifesta na experiência da Coca-Cola. Diante de uma geladeira onde há uma Coca-Cola e um refrigerante de Cola regional (vamos supor que este tenha um sabor similar e seja igualmente seguro de beber), a única coisa que faria uma pessoa escolher o refrigerante regional em vez da Coca-Cola seria algo no espírito da "padrãofobia"; um problema com o valor da Autoestima.
Entender como valores se manifestam nesses níveis "subverbais" pode ter grandes benefícios pra nossas vidas pessoais, pra apreciação da arte, e até pros negócios. O mundo do Branding, por exemplo, depende muito desse tipo de leitura. Se você entende os valores "ocultos" por trás das coisas, você pode se expressar e se comunicar muito melhor.quarta-feira, 10 de janeiro de 2024
A Sociedade da Neve
terça-feira, 9 de janeiro de 2024
Padrãofobia e Virtofobia
sexta-feira, 5 de janeiro de 2024
Wish: O Poder dos Desejos
2023 não foi o ano ideal pra Disney celebrar seu centenário, que tomou forma neste projeto medíocre que parece uma amálgama de todos os problemas que levaram o estúdio a perder seu prestígio na última década. É tudo um enorme clichê cheio de ideias de má qualidade, canções terríveis (mas que não são genéricas e esquecíveis; elas até têm mais personalidade do que o esperado, o que neste caso não sei se é uma vantagem). A trama não se manifesta através de ações físicas lógicas, envolventes, mas em uma luta direta entre abstrações: as emoções de um grupo versus as emoções do outro, representadas por raios mágicos e bolhas flutuantes. A "princesa" é uma típica Heroína Envergonhada, com a mesma personalidade da Rapunzel e de tantas outras protagonistas do gênero — a linguagem corporal desajeitada que transmite insegurança, humildade, neuroticismo (o constante "sorriso invertido" que ilustro no vídeo Idealismo Corrompido). O filme inclui frases do tipo "nunca confie em um rosto bonito" e uma cena em que a mocinha é perseguida por um "príncipe do cavalo branco" que agora deseja matá-la. Ao mesmo tempo em que Asha é modesta, desajeitada, ela é uma revolucionária corajosa, que luta contra um sistema opressor pra fazer o povo voltar a sonhar. Até tentei ler a história como uma possível crítica ao estatismo, mas no fim fica claro que não é liberdade e individualismo que ele defende, apenas uma forma mais "feminina" e "gentil" de opressão. E a noção de "sonho" do filme é representada por aquele ideal altruísta tedioso que vemos em filmes como Coco, que envolve um velhinho humilde, um vilarejo e um violão. segunda-feira, 1 de janeiro de 2024
Feriados e Datas Comemorativas
Eu sempre tive conflitos com datas comemorativas, aniversários, rituais como formaturas, casamentos, amigos secretos... Quando criança, lembro que todo Réveillon na hora dos fogos eu ficava mal-humorado e não entendia o porquê. Queria muito estar curtindo a noite como todo mundo, mas me parecia faltar um "chip" que todos os adultos tinham que permitia que eles ficassem magicamente felizes com o fato de números em relógios e calendários estarem prestes a mudar.




