Segundo filme da nova série Star Trek, que traz de volta J.J. Abrams na direção além de Chris Pine (Capitão Kirk) e Zachary Quinto (Spock) no elenco. O primeiro pra mim é um dos melhores filmes de ficção dos últimos anos e esse aqui não se afasta muito da fórmula, apostando de novo no que funcionou da primeira vez.
Os cartazes e o título Além da Escuridão davam a impressão de uma continuação mais sombria, mas no fim não há essa mudança de tom (o que eu acho bom - só sinto falta de novas ideias, variações, algo que desse um sabor diferente pra produção, pois quando o filme acaba a gente fica com a impressão de já ter visto algo parecido antes).
Ainda assim é um outro nível de entretenimento, feito por gente que sabe muito bem conduzir uma história e criar interesse pelos personagens. O centro emocional continua sendo a amizade entre Kirk e Spock - personalidades opostas mas que se complementam de alguma forma e criam uma dinâmica fascinante. Kirk é intuitivo, extrovertido, caloroso, Spock é completamente frio, lógico, diz que não tem sentimentos - mas o segredo é que Quinto o interpreta de uma forma que a gente nunca acredita completamente nisso. Nós não o vemos como um robô sem vida, mas como uma pessoa machucada, extremamente rígida consigo, que finge não sentir afeto, mas que no fundo é sensível e se importa profundamente pelo amigo (há um diálogo em que Spock admite que reprime seus sentimentos, e é o tipo de texto que não se encontra em filmes de ação comuns e adiciona toda uma dimensão pra história).
Os fãs deverão vibrar também com o vilão (feito pelo impressionante Benedict Cumberbatch) que é um personagem conhecido e que já apareceu antes na série de TV original e também em um dos longas.
Ou seja, os personagens são carismáticos, a história funciona, as cenas de ação são tensas... J.J. Abrams ainda não é um James Cameron ou Spielberg, mas da nova geração parece o mais competente pra comandar esse tipo de filme-evento (tanto que acabou sendo a escolha natural pra dirigir o próximo Star Wars).
Star Trek Into Darkness (EUA / 2013 / 132 min / J.J. Abrams)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Star Trek, 007 - Operação Skyfall, Prometheus, Homens de Preto 3.
NOTA: 8.0
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Velozes & Furiosos 6
É melhor que o último que se passava no Rio, principalmente porque a história aqui já começa mais envolvente: Letty (Michelle Rodriguez), ex-namorada de Toretto (Vin Diesel) que supostamente havia morrido, é descoberta viva e trabalhando para uma organização criminosa - justamente a que Diesel e sua turma terão que derrubar. A curiosidade do que aconteceu com ela já é o bastante pra fazer a gente embarcar na história. Outra melhora é que agora eles estão caçando os criminosos à serviço do governo - ou seja, dessa vez eles são de fato os mocinhos e não é como nos outros filmes onde era bandido contra bandido e você não tinha bons motivos pra torcer pra ninguém.
Mas o sucesso do filme se deve mesmo às sequências de ação, que estão cada vez mais exageradas e divertidas. A sequência final, que se passa num avião cargueiro prestes a decolar, ou é a cena mais forçada de todos os tempos, ou foi filmada num aeroporto de 50 km de comprimento, pois a ação rola solta por uns 15 minutos e nada da pista acabar (sem falar nos carros pendurados nas asas do avião e uma série de outras loucuras). Chega a ser admirável não só pela ousadia, mas também pelo fato da cena funcionar e deixar a gente preocupado mesmo assim.
O filme só não é um entretenimento melhor porque, assim como os outros da série, ele é extremamente materialista e se passa num mundo onde os grandes valores da vida são músculos rasgados, carros barulhentos, etc. Toretto é um herói apenas do mundo físico - se você valoriza inteligência, cultura, bons modos, senso de humor - qualquer coisa que não descreva um troglodita - você não vai se sentir extremamente representado na tela.
Fast & Furious 6 (EUA / 2013 / 130 min / Justin Lin)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou do último, Os Mercenários, Transporter, Triplo X, etc.
NOTA: 7.0
Mas o sucesso do filme se deve mesmo às sequências de ação, que estão cada vez mais exageradas e divertidas. A sequência final, que se passa num avião cargueiro prestes a decolar, ou é a cena mais forçada de todos os tempos, ou foi filmada num aeroporto de 50 km de comprimento, pois a ação rola solta por uns 15 minutos e nada da pista acabar (sem falar nos carros pendurados nas asas do avião e uma série de outras loucuras). Chega a ser admirável não só pela ousadia, mas também pelo fato da cena funcionar e deixar a gente preocupado mesmo assim.
O filme só não é um entretenimento melhor porque, assim como os outros da série, ele é extremamente materialista e se passa num mundo onde os grandes valores da vida são músculos rasgados, carros barulhentos, etc. Toretto é um herói apenas do mundo físico - se você valoriza inteligência, cultura, bons modos, senso de humor - qualquer coisa que não descreva um troglodita - você não vai se sentir extremamente representado na tela.
Fast & Furious 6 (EUA / 2013 / 130 min / Justin Lin)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou do último, Os Mercenários, Transporter, Triplo X, etc.
NOTA: 7.0
sábado, 25 de maio de 2013
Reino Escondido
Animação 3D da Blue Sky Studios (a mesma companhia de A Era do Gelo e Rio) sobre uma garota que vai visitar seu pai numa casa próxima a uma floresta (o pai é um cientista excêntrico que acredita que há pequenas fadas e guerreiros vivendo na floresta) quando acaba sendo magicamente encolhida e descobre que o mundo que seu pai estudava era real. Na floresta, ela se junta aos "homens-folha" numa batalha contra criaturas que ameaçam destruir toda a floresta (é mais uma daquelas tramas ecológicas que vêm na tendência de Avatar).
Se fosse pra resumir o filme em 1 frase eu diria: visual lindo, história medíocre. A animação é sofisticada, as paisagens são belíssimas (a produção tem uma atitude um pouco mais adulta que o normal do gênero), mas não há qualquer envolvimento com os personagens, a história é desinteressante, o casal não tem química, o vilão não impressiona... De "épico" só o título mesmo. O problema já está no ponto de partida: a menina não tem qualquer interesse nos estudos do pai, não liga pra fadas, não luta por causas ecológicas... A ideia de uma adolescente com esse perfil ir parar no "reino escondido" já não é nada empolgante (compare com Dorothy, que já sonhava com um mundo "acima do arco-íris" antes de ir pra Oz, ou com Jurassic Park, onde os protagonistas eram paleontólogos).
Chegando lá, ela embarca na aventura mas não por um interesse pessoal forte, mas forçada pelas circunstâncias; movida por um senso de dever. Nem o romance - que poderia dar um sentido pra história - acaba rolando direito. Sem falar que a missão é chata e cheia daquelas regras místicas nonsense do tipo "pra salvar o mundo, o botão da flor deve ser exposto à lua exatamente às X horas do dia tal", etc. O filme é bem intencionado, mas vai ser difícil manter as crianças sentadas depois da primeira meia-hora.
Epic (EUA / 2013 / 102 min / Chris Wedge)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de A Origem dos Guardiões, A Era do Gelo 4, Rio, 9, Horton e o Mundo dos Quem!.
NOTA: 5.5
Se fosse pra resumir o filme em 1 frase eu diria: visual lindo, história medíocre. A animação é sofisticada, as paisagens são belíssimas (a produção tem uma atitude um pouco mais adulta que o normal do gênero), mas não há qualquer envolvimento com os personagens, a história é desinteressante, o casal não tem química, o vilão não impressiona... De "épico" só o título mesmo. O problema já está no ponto de partida: a menina não tem qualquer interesse nos estudos do pai, não liga pra fadas, não luta por causas ecológicas... A ideia de uma adolescente com esse perfil ir parar no "reino escondido" já não é nada empolgante (compare com Dorothy, que já sonhava com um mundo "acima do arco-íris" antes de ir pra Oz, ou com Jurassic Park, onde os protagonistas eram paleontólogos).
Chegando lá, ela embarca na aventura mas não por um interesse pessoal forte, mas forçada pelas circunstâncias; movida por um senso de dever. Nem o romance - que poderia dar um sentido pra história - acaba rolando direito. Sem falar que a missão é chata e cheia daquelas regras místicas nonsense do tipo "pra salvar o mundo, o botão da flor deve ser exposto à lua exatamente às X horas do dia tal", etc. O filme é bem intencionado, mas vai ser difícil manter as crianças sentadas depois da primeira meia-hora.
Epic (EUA / 2013 / 102 min / Chris Wedge)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de A Origem dos Guardiões, A Era do Gelo 4, Rio, 9, Horton e o Mundo dos Quem!.
NOTA: 5.5
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Elena
Documentário brasileiro onde a diretora Petra Costa expõe suas lembranças de sua irmã mais velha Elena Andrade, que sonhava em ser atriz de cinema e se suicidou em Nova York nos anos 90 quando viu que seu sonho não se realizaria. O filme é todo narrado pela diretora e contém vários videos caseiros gravados nos anos 80 e 90, o que permite um verdadeiro mergulho da platéia nas memórias da família.
Há algo de extremamente poderoso e apelativo no conceito do documentário; o fato dela ter se matado, o fato de existirem tantos videos caseiros disponíveis, o fato de Elena ser uma menina linda, ambiciosa, aparentemente talentosa, com uma paixão absoluta pela arte - tudo isso torna o documentário fascinante, ainda mais se você pensar na ideia de que ele acaba tornando realidade o sonho de Elena, transformando-a finalmente numa estrela de cinema, agora que é tarde demais.
O que eu não gosto: há no filme uma atitude que eu costumo chamar de "culto à dor" - um certo fascínio pelo trágico, pelo melancólico (há um trecho interessante do filme que mostra uma tática que Petra usava quando criança pra chamar atenção: colocar um Band-Aid na testa pra fingir que estava machucada - é isso que muita gente continua fazendo depois de adulto; buscar admiração pelo fato de sofrer, de ser triste). A tragédia da menina não é mostrada como um erro terrível, mas como algo poético e belo de certa forma - como se fosse o destino natural de alguém com sonhos tão grandes. É o tipo de coisa que pode servir como um falso conforto para aqueles que abandonaram suas ambições, que ao verem uma história como essa poderão pensar: "viu só, é nisso que dá sonhar alto; eu estava certo em optar por uma vida mais modesta".
De qualquer forma, há positivos o bastante pra tornar o filme digno de ser visto. A admiração de Petra pela irmã é algo que comove, e sua narração é cheia de passagens brilhantes e de uma sensibilidade notável.
Elena (BRA / 2012 / 82 min / Petra Costa)
NOTA: 7.5
Há algo de extremamente poderoso e apelativo no conceito do documentário; o fato dela ter se matado, o fato de existirem tantos videos caseiros disponíveis, o fato de Elena ser uma menina linda, ambiciosa, aparentemente talentosa, com uma paixão absoluta pela arte - tudo isso torna o documentário fascinante, ainda mais se você pensar na ideia de que ele acaba tornando realidade o sonho de Elena, transformando-a finalmente numa estrela de cinema, agora que é tarde demais.
O que eu não gosto: há no filme uma atitude que eu costumo chamar de "culto à dor" - um certo fascínio pelo trágico, pelo melancólico (há um trecho interessante do filme que mostra uma tática que Petra usava quando criança pra chamar atenção: colocar um Band-Aid na testa pra fingir que estava machucada - é isso que muita gente continua fazendo depois de adulto; buscar admiração pelo fato de sofrer, de ser triste). A tragédia da menina não é mostrada como um erro terrível, mas como algo poético e belo de certa forma - como se fosse o destino natural de alguém com sonhos tão grandes. É o tipo de coisa que pode servir como um falso conforto para aqueles que abandonaram suas ambições, que ao verem uma história como essa poderão pensar: "viu só, é nisso que dá sonhar alto; eu estava certo em optar por uma vida mais modesta".
De qualquer forma, há positivos o bastante pra tornar o filme digno de ser visto. A admiração de Petra pela irmã é algo que comove, e sua narração é cheia de passagens brilhantes e de uma sensibilidade notável.
Elena (BRA / 2012 / 82 min / Petra Costa)
NOTA: 7.5
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Uma Ladra Sem Limites
Comédia do diretor de Quero Matar Meu Chefe sobre um executivo calmo e correto chamado Sandy (Jason Bateman) que tem sua identidade roubada (e cartões de crédito clonados) por uma mulher em Miami (Melissa McCarthy) e precisa viajar através do país pra trazê-la até Denver e provar sua inocência (a trama não é das mais convincentes e a gente fica se perguntando se isso tudo seria necessário, ou se um cara como Sandy faria algo tão drástico).
A intenção é a de ser uma dessas comédias onde um personagem excêntrico e divertido vem pra quebrar a normalidade da vida do protagonista, que no começo resiste mas acaba vivendo uma aventura inesquecível e no fim forma-se uma amizade.
O sucesso desse tipo de filme depende em grande parte da "gostabilidade" desse personagem cômico e da química entre ele e o protagonista. O problema aqui é que o filme parece não decidir se a Diana (McCarthy) é pra ser de fato gostável - um personagem que quebra certas normas mas no fundo é bom e inocente (como um personagem da Whoopi Goldberg por exemplo) - ou se é uma espécie de comédia de humor negro onde a protagonista é completamente imoral e a graça está na inversão exagerada de valores. É uma combinação insatisfatória, pois se você está tentando gostar e se importar por Diana (e acho que o filme pede isso), ela te decepciona quando age como criminosa ou faz coisas grotescas (como a cena de sexo no motel). Há uma diferença importante entre quebrar normas leves e agir de má fé.
Há uma cena que achei engraçada no trailer onde os dois estão no carro e Diana começa a fazer imitações das músicas no rádio, irritando Sandy. No trailer parecia divertido, pois a gente assume que os dois são aqueles personagens de personalidades opostas mas que no fundo se complementam e se gostam. Mas vendo a cena no contexto do filme, não há a menor graça, pois a mulher é de fato uma criminosa e ainda não há um laço entre eles - ela está apenas sendo inconveniente (em determinado momento do filme ela se sensibiliza e passa a se importar por Sandy, já o contrário demora demais pra acontecer - precisaria haver algum motivo que justificasse os crimes dela e a tornasse inocente aos olhos de Sandy - e do público).
A impressão que dá é que a história foi inspirada em filmes mais ingênuos com esse mesmo tipo de situação, mas depois foram acrescentados esses elementos grosseiros pra coisa ficar "atual" e seguir a tendência de Se Beber, Não Case, Operação Madrinha de Casamento, etc. É um tipo de comédia que eu gosto e Melissa McCarthy é perfeita pro papel, mas o caráter duvidoso de Diana e a amizade mal resolvida entre os dois acabam tirando parte do prazer.
Identity Thief (EUA / 2013 / 111 min / Seth Gordon)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Ted, Cada Um Tem a Gêmea que Merece, Quero Matar Meu Chefe, Missão Madrinha de Casamento, etc.
NOTA: 6.5
A intenção é a de ser uma dessas comédias onde um personagem excêntrico e divertido vem pra quebrar a normalidade da vida do protagonista, que no começo resiste mas acaba vivendo uma aventura inesquecível e no fim forma-se uma amizade.
O sucesso desse tipo de filme depende em grande parte da "gostabilidade" desse personagem cômico e da química entre ele e o protagonista. O problema aqui é que o filme parece não decidir se a Diana (McCarthy) é pra ser de fato gostável - um personagem que quebra certas normas mas no fundo é bom e inocente (como um personagem da Whoopi Goldberg por exemplo) - ou se é uma espécie de comédia de humor negro onde a protagonista é completamente imoral e a graça está na inversão exagerada de valores. É uma combinação insatisfatória, pois se você está tentando gostar e se importar por Diana (e acho que o filme pede isso), ela te decepciona quando age como criminosa ou faz coisas grotescas (como a cena de sexo no motel). Há uma diferença importante entre quebrar normas leves e agir de má fé.
Há uma cena que achei engraçada no trailer onde os dois estão no carro e Diana começa a fazer imitações das músicas no rádio, irritando Sandy. No trailer parecia divertido, pois a gente assume que os dois são aqueles personagens de personalidades opostas mas que no fundo se complementam e se gostam. Mas vendo a cena no contexto do filme, não há a menor graça, pois a mulher é de fato uma criminosa e ainda não há um laço entre eles - ela está apenas sendo inconveniente (em determinado momento do filme ela se sensibiliza e passa a se importar por Sandy, já o contrário demora demais pra acontecer - precisaria haver algum motivo que justificasse os crimes dela e a tornasse inocente aos olhos de Sandy - e do público).
A impressão que dá é que a história foi inspirada em filmes mais ingênuos com esse mesmo tipo de situação, mas depois foram acrescentados esses elementos grosseiros pra coisa ficar "atual" e seguir a tendência de Se Beber, Não Case, Operação Madrinha de Casamento, etc. É um tipo de comédia que eu gosto e Melissa McCarthy é perfeita pro papel, mas o caráter duvidoso de Diana e a amizade mal resolvida entre os dois acabam tirando parte do prazer.
Identity Thief (EUA / 2013 / 111 min / Seth Gordon)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Ted, Cada Um Tem a Gêmea que Merece, Quero Matar Meu Chefe, Missão Madrinha de Casamento, etc.
NOTA: 6.5
quinta-feira, 9 de maio de 2013
A Caça
Drama do dinamarquês Thomas Vinterberg (Festa de Família) sobre um professor de uma escola infantil que tem sua vida virada de cabeça pra baixo quando uma aluna de imaginação fértil diz ter visto suas partes íntimas, fazendo todo mundo imaginar um caso de abuso sexual.
É quase um filme de terror, desses que começam com um personagem honesto, feliz, querido por todos, e de repente surge algo pra destruir sua vida - só que em vez de um assassino ou um monstro, o vilão aqui é algo menos concreto, que pode visto como "a natureza má do ser humano" (se você concorda com essa visão, o filme será um prato cheio).
Num filme melhor intencionado, essa história seria sobre o protagonista enfrentando os obstáculos da melhor maneira possível e tentando provar sua inocência (e caso fosse derrotado no final, seu espírito permaneceria inabalável). Mas como a intenção aqui é provar que o homem tem má índole e que a convivência humana apresenta problemas insolúveis, o protagonista tem que sofrer e ser incapaz de se defender, o que acaba tornando ele e a história um pouco menos convincentes (aliás, a maioria dos filmes que tentam mostrar o homem como vítima tem que criar um contexto muito especial e fazer as pessoas agirem de maneira falsa pra poder dar certo).
A menina diz pelo menos 2 vezes que o cara não abusou dela mas ninguém dá ouvidos, dando a impressão que elas querem que ele seja culpado por algum motivo. E o protagonista nem menciona o desentendimento que houve entre ele e a garota no começo da história, o que poderia explicar em partes a atitude dela (voltando à comparação com os filmes de terror, é como aquela raiva que a gente sente quando um personagem não age de forma lógica - sobe as escadas em vez de fugir pela porta, se colocando ainda mais em perigo).
Há algo na Dinamarca que faz as pessoas adorarem histórias sobre pessoas generosas que são abusadas e destruídas pela comunidade (estou lembrando de Dogville e Dançando no Escuro), mas de qualquer forma isso não anula as qualidades do filme, que é intenso, inteligente, extremamente bem contado e interpretado. Tenho certas questões com a mensagem, mas é uma experiência forte que levanta questões éticas interessantes.
Jagten / The Hunt (Dinamarca / 2012 / 115 min / Thomas Vinterberg)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de A Separação, Dançando no Escuro.
NOTA: 8.0
É quase um filme de terror, desses que começam com um personagem honesto, feliz, querido por todos, e de repente surge algo pra destruir sua vida - só que em vez de um assassino ou um monstro, o vilão aqui é algo menos concreto, que pode visto como "a natureza má do ser humano" (se você concorda com essa visão, o filme será um prato cheio).
Num filme melhor intencionado, essa história seria sobre o protagonista enfrentando os obstáculos da melhor maneira possível e tentando provar sua inocência (e caso fosse derrotado no final, seu espírito permaneceria inabalável). Mas como a intenção aqui é provar que o homem tem má índole e que a convivência humana apresenta problemas insolúveis, o protagonista tem que sofrer e ser incapaz de se defender, o que acaba tornando ele e a história um pouco menos convincentes (aliás, a maioria dos filmes que tentam mostrar o homem como vítima tem que criar um contexto muito especial e fazer as pessoas agirem de maneira falsa pra poder dar certo).
A menina diz pelo menos 2 vezes que o cara não abusou dela mas ninguém dá ouvidos, dando a impressão que elas querem que ele seja culpado por algum motivo. E o protagonista nem menciona o desentendimento que houve entre ele e a garota no começo da história, o que poderia explicar em partes a atitude dela (voltando à comparação com os filmes de terror, é como aquela raiva que a gente sente quando um personagem não age de forma lógica - sobe as escadas em vez de fugir pela porta, se colocando ainda mais em perigo).
Há algo na Dinamarca que faz as pessoas adorarem histórias sobre pessoas generosas que são abusadas e destruídas pela comunidade (estou lembrando de Dogville e Dançando no Escuro), mas de qualquer forma isso não anula as qualidades do filme, que é intenso, inteligente, extremamente bem contado e interpretado. Tenho certas questões com a mensagem, mas é uma experiência forte que levanta questões éticas interessantes.
Jagten / The Hunt (Dinamarca / 2012 / 115 min / Thomas Vinterberg)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de A Separação, Dançando no Escuro.
NOTA: 8.0
sábado, 4 de maio de 2013
Somos Tão Jovens
Filme biográfico sobre Renato Russo que mostra sua trajetória desde a juventude (quando desenvolveu uma doença óssea rara chamada epifisiólise), até a formação da banda Legião Urbana no começo dos anos 80. O roteiro é bem previsível, sem muitas elaborações, e mostra em ordem cronológica os principais acontecimento da vida do cantor, focando em sua personalidade intensa e seu desenvolvimento artístico (o filme acaba quando a banda está prestes a estourar, então não se trata de uma biografia mais completa como foi Cazuza - O Tempo Não Para, por exemplo).
Tecnicamente não é dos mais bem acabados e demora um tempo até a gente se acostumar com as interpretações forçadas, os diálogos artificiais, a edição sem ritmo... O protagonista Thiago Mendonça (que fez o Luciano em 2 Filhos de Francisco) tem expressões exageradas, mas no fim consegue criar um personagem forte e convincente.
O problema de filmes sobre músicos (assim como políticos ou figuras religiosas) é que eles geralmente dependem do quanto você se identifica na vida real com a personalidade retratada - a não ser que haja um ótimo roteiro que supere isso tudo. Como aqui não é o caso, o quanto você vai gostar do filme vai depender muito do quanto você gosta de Renato Russo. No meu caso, acho ele um compositor talentoso, mas que expressa o oposto dos meus valores ou do meu "senso de vida". Apesar das qualidades, acho difícil de simpatizar com seu comportamento arrogante, destrutivo, "contra o sistema" (uma hora ele vai xingar um membro da plateia e chama ele de "burguesinho Coca-Cola" como se fosse a pior ofensa imaginável - como fã de dinheiro e de Coca-Cola eu logo vi que não era o público-alvo do filme).
Mas num certo nível, é possível curtir o filme como uma história de sucesso apenas. Independentemente das ideias dos personagens, é sempre interessante ver pessoas apaixonadas fazendo aquilo que amam e se tornando bem sucedidas.
Somos Tão Jovens (BRA / 2013 / 104 min / Antonio Carlos da Fontoura)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Gonzaga - De Pai para Filho, Na Estrada, Cazuza - O Tempo Não Para.
NOTA: 6.0
Tecnicamente não é dos mais bem acabados e demora um tempo até a gente se acostumar com as interpretações forçadas, os diálogos artificiais, a edição sem ritmo... O protagonista Thiago Mendonça (que fez o Luciano em 2 Filhos de Francisco) tem expressões exageradas, mas no fim consegue criar um personagem forte e convincente.
O problema de filmes sobre músicos (assim como políticos ou figuras religiosas) é que eles geralmente dependem do quanto você se identifica na vida real com a personalidade retratada - a não ser que haja um ótimo roteiro que supere isso tudo. Como aqui não é o caso, o quanto você vai gostar do filme vai depender muito do quanto você gosta de Renato Russo. No meu caso, acho ele um compositor talentoso, mas que expressa o oposto dos meus valores ou do meu "senso de vida". Apesar das qualidades, acho difícil de simpatizar com seu comportamento arrogante, destrutivo, "contra o sistema" (uma hora ele vai xingar um membro da plateia e chama ele de "burguesinho Coca-Cola" como se fosse a pior ofensa imaginável - como fã de dinheiro e de Coca-Cola eu logo vi que não era o público-alvo do filme).
Mas num certo nível, é possível curtir o filme como uma história de sucesso apenas. Independentemente das ideias dos personagens, é sempre interessante ver pessoas apaixonadas fazendo aquilo que amam e se tornando bem sucedidas.
Somos Tão Jovens (BRA / 2013 / 104 min / Antonio Carlos da Fontoura)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Gonzaga - De Pai para Filho, Na Estrada, Cazuza - O Tempo Não Para.
NOTA: 6.0
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