"Singelo", "sensível", "sutil" — meus filmes favoritos não costumam ser definidos por adjetivos como esses, mas são neles que
Ainda Estou Aqui aposta. Walter Salles dirige o filme como se sua regra número 1 na vida fosse "jamais ostentar". Assim como o título em Times New Roman no pôster, tudo em
Ainda Estou Aqui é simples, porém eficiente e de bom gosto. Claro que essa simplicidade muitas vezes é reflexo de um talento nada simples dos realizadores — e nos detalhes você pode ver aqui um tipo de sofisticação incomum no cinema brasileiro. Mas os virtuosismos da produção tendem a ficar nas entrelinhas, exceto no caso da Fernanda Torres, que mesmo na sutileza consegue ser excelente — ela passa boa parte do filme aguardando, mas sem se tornar uma personagem passiva; sofre, mas sem se fazer de vítima. Minha cena favorita do filme é apenas ela sentada em uma sorveteria observando as famílias "normais" ao seu redor. Sem dizer uma palavra, ela consegue fazer a ausência do marido ganhar uma dimensão nova que não existia até o instante anterior.
Não tenho muito a reclamar do filme, exceto das limitações inevitáveis da abordagem
Naturalista. Mas dentro disso, o filme é um exemplo bastante respeitável desse tipo de cinema. A mini história que ele conta é dramática o bastante pra prender a atenção, o estudo de personagem foca em personalidades gostáveis, em ambientes nostálgicos, a execução é caprichada (a direção de atores e a reconstituição de época são particularmente bem feitas). E a política, que poderia ter sido um problema, não contamina demais a experiência, pois assim como em
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), vemos a ditadura militar pelo ponto de vista de uma pessoa bastante alheia às atividades políticas dos desaparecidos. Isso também fica nas entrelinhas, mas nesse caso, para o bem do filme.
Ainda Estou Aqui / 2024 / Walter Salles
Satisfação: 7
Categoria: Naturalismo / Idealismo Moderado
Filmes Parecidos: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006) / Aquarius (2016) / Roma (2018) / Central do Brasil (1998) / Terra Estrangeira (1995)